quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Cordel e atualidades

Foto: FolhaOnLine

DEPOIS DA PREFEITURA SEM PREFEITO, O MINISTRO SEM MINISTÉRIO


Vejam como são as coincidências da vida. Mal acabei de postar a poesia PREFEITURA SEM PREFEITO, de Patativa do Assaré, logo me aparece um ministro sem Ministério. O jeito foi transformar isso em verso:


MINISTRO SEM MINISTÉRIO

Patativa um dia viu,
Mas não ficou satisfeito,
Prefeitura sem prefeito,
E seu protesto emitiu.
Mas, hoje, em nosso Brasil,
Acontece outro mistério,
Que talvez seja mais sério,
Ou talvez até mais triste,
Descobri que agora existe
Ministro sem ministério.

“Por não ter literatura”,
Patativa já dizia,
Não saber se existia
Prefeito sem prefeitura.
Nem eu, com minha cultura,
E anos de magistério
Conheci tal despautério
Que agora fiquei sabendo,
De em Brasília estar havendo
Ministro sem ministério.

O Ministério, em verdade,
Era uma Secretaria
Mas o Senado iria,
Mudar a realidade:
Extinguiu a entidade
Mandou para o cemitério.
Como efeito deletério
Pro Secretário-Ministro
Esse título sinistro:
Ministro sem ministério.

Assim como Patativa
Não vou mais me admirar
Se acaso eu encontrar
Alguma defunta viva,
Uma boca sem gengiva,
Satanás num monastério,
Carnaval no necrotério,
Macaco guiando trem,
Pois no Brasil sei que tem
Ministro sem Ministério.

Patativa do Assaré



PATATIVA DO ASSARÉ NÃO ERA ANALFABETO

Há alguns posts passados, mencionei aqui que
o poeta Arievaldo Viana teria dito em entrevista que Patativa não era analfabeto. Hoje, trago trecho do livro CORDÉIS, de Patativa do Assaré, o qual é iniciado com um texto de Luiz Tavares Júnior – professor do Curso de Mestrado em Letras da Universidade Federal do Ceará – no qual o autor confirma essa afirmação de Arievaldo:

“Embora sua instrução formal tenha sido muito diminuta, seu contato com os livros foi constante e permanente, tendo convivido intensamente com a poesia de Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Castro Alves e a prosa de Coelho Neto, como afirma Luzanira Rego, a partir de uma visita à casa do poeta, ao se deparar com os livros desses escritores; e Rosemberg Cariry vai um pouco mais além, ao enunciar: ‘Patativa é homem que sabe ler, de muitas leituras e informações sobre o que acontece no mundo (...). Basta dizer que, mesmo quando Patativa era violeiro e encantava os sertões com o som de sua viola e a beleza de seus versos de repente, já estudava o tratado de versificação de Guimarães Passos e Olavo Bilac e lia Os Lusíadas’. Em face dessas afirmações e, se acrescentarmos que, de fato, estamos diante de uma pessoa de inteligência invulgar e espantosa memória, como sempre afirmam seus biógrafos, haveremos facilmente de compreender a grandiosidade de seu engenho e arte no manejo do verso e na criação de sua poesia, atestado por quantos se aproximam de sua obra, aqui, no Brasil, como no estrangeiro”.

Percebe-se, portanto, que Patativa agia deliberadamente quando escrevia na forma matuta presente em Aos Poetas Clássicos:

Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.

O fato é que Patativa foi realmente um fenômeno, desses que aparecem a cada século, quando muito. Basta fazer uma pesquisa com o nome “Patativa do Assaré” no Google para ver a imensa quantidade de páginas que se dedicam a ele. Eu, aliás, fiz isso hoje, e achei coisas interessantíssimas, como, por exemplo, o estudo
“Relações entre Estética, Hermenêutica, Religião e Arte”, de Cristiane Moreira Cobra.
Também encontrei o divertido poema da Prefeitura sem Prefeito:

PREFEITURA SEM PREFEITO
Nessa vida atroz e dura
Tudo pode acontecer
Muito breve há de se ver
Prefeito sem prefeitura;
Vejo que alguém me censura
E não fica satisfeito
Porém, eu ando sem jeito,
Sem esperança e sem fé,
Por ver no meu Assaré
Prefeitura sem prefeito.

Por não ter literatura,
Nunca pude discernir
Se poderá existir
Prefeito sem prefeitura.
Porém, mesmo sem leitura,
Sem nenhum curso ter feito,
Eu conheço do direito
E sem lição de ninguém
Descobri onde é que tem
Prefeitura sem prefeito.
Ainda que alguém me diga
Que viu um mudo falando
Um elefante dançando
No lombo de uma formiga,
Não me causará intriga,
Escutarei com respeito,
Não mentiu este sujeito.
Muito mais barbaridade
É haver numa cidade
Prefeitura sem prefeito.

Não vou teimar com quem diz
Que viu ferro dar azeite,
Um avestruz dando leite
E pedra criar raiz,
Ema apanhar de perdiz
Um rio fora do leito,
Um aleijão sem defeito
E um morto declarar guerra,
Porque vejo em minha terra
Prefeitura sem prefeito.

A sua morte, em 08 de julho de 2002, deixou órfãos todos os poetas populares do Brasil. O poeta cearense Dideus Sales, em seu livro Veredas de Sol, retrata bem esse sentimento, no poema:

O VÔO DO PATATIVA

O sertão está de luto,
Sem sinfonia a aurora,
Pois a ave que cantava
O povo, a fauna e a flora
Sem sequer nos dar adeus
Alçou vôo e foi embora.

Calejado pelos anos,
Com noventa e três de idade
Mas com plena lucidez,
Muita sensibilidade.
Sua ausência nos cobriu
Com o véu frio da saudade.

Deu voz a uma lçegião
De rurícolas sem clareza;
Até falando em desgraça,
Seu canto tinha beleza
Porque recebeu as aulas
Do Mestre da natureza.

Sua poesia jorrou
Na viola e no repente,
Cantou saudade e tristeza
Miséria, seca e enchente.
Sua obra o transformou
Num símbolo da nossa gente.

Puro e simples como a flor,
Um gênio da raça humana,
Viveu como lavrador,
Morando numa choupana
Plantando e colhendo versos
Lá na terra de Santana.

Mesmo sem ter estudado
Não se fez ignorante,
Nutria um amor telúrico
Por seu torrão escaldante
Onde fez Triste Partida
A saga do retirante.

Sempre lutou para o povo
Não ser massa de manobra,
Teve humildade em excesso
Teve inspiração de sobra.
Não há quem saiba estimar
O valor de sua obra.

Mais que um poeta-maior
Um vate fenomenal,
Poesia genuína,
Improviso natural
Fazia das rimas arma
Na defesa social.

Cantou nossa gente simples
Do sertão com maestria;
Defendendo as injustiças,
Protestando a covardia,
Sua arma era o verso,
Munição, a poesia.

Guardo viva a sua imagem
Fazendo versos com esmero,
Glosando com muita prática,
Rimando sem exagero
Que da poética matuta
Só ele tinha o tempero.

Sua mensagem profética
Encheu o sertão de amor,
Sua genialidade
Trouxe a lume o seu valor,
O sertão chora a saudade
Do seu eterno cantor.

Voa, Patativa, voa
Para o céu de Jeová.
Vou ficando por aqui
Poetizando o Ceará.
Você no céu, eu na terra,
Cante lá que eu canto cá.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Cordel e repente III


A OPINIÃO DE CRISPINIANO NETO

Ainda no tema “Cordel e Repente”, lembrei de uma entrevista que Crispiniano Neto deu à Revista Preá, em sua edição de março de 2004, número 5 da revista, e aborda, ainda que levemente a questão.

É interessante ver também a opinião dele acerca de Zé Luís e Ivanildo Vilanova, também citados no post anterior como grandes repentistas.

Quem quiser ver a entrevista inteira,
clique aqui e acesse a Revista Preá. Segue o trecho:

Preá – Quem são os grandes nomes do Nordeste em
cantoria de viola?
Crispiniano Neto – O nome mais completo da
cantoria nordestina é Ivanildo Vilanova. Eu acho que ele
continua imbatível. Ele não é o maior poeta, agora é o
maior cantador. Mas temos vários grandes nomes: Pedro
Bandeira, Otacílio...
Preá – E “Louro Branco”?
Crispiniano Neto – “Louro Branco” é o maior
repentista. Existem umas distinções sutis entre poeta,
cantador, repentista e violeiro. É tudo a mesma coisa, mas
tem suas diferenças. Quem são os cantadores poetas? É
Diniz Venturino, Manoel Xudu, Zé Luís, João Paraibano,
foi Severino Ferreira...
Preá – E Luís Sobrinho?
Crispiniano Neto - Luís foi um cantador bom, mas
não se enquadraria nos que citei acima. Cantoria tem um
problema sério. Seja Luís Sobrinho, eu, Apolônio Cardoso
- se você dividir com outra profi ssão, não progride. Ela
exige dedicação exclusiva e pós-doutorado. É uma
atividade intelectual extremamente exigente. Ivanildo
Vilanova passou no vestibular de Direito e optou por não
fazer a faculdade, porque achava que seria um advogado
fraco. Já meu irmão fez o contrário, acho até porque ele
levou uma “surra” de Ivanildo e fi cou meio frustrado. Mas
Ivanildo disse a mim e a ele que ou dava aquela “surra”, ou
apanhava e se acabava.

(Zé Luís e Ivanildo Vilanova, em Mossoró, junho de 2006, no lançamento de meu livro "Uma sentença, uma aventura e uma vergonha")

Preá – Tem um diálogo acerca de música clássica, que é
mais ou menos o seguinte: Quem foi Mozart? Mozart foi
o maior gênio da música clássica. Quem foi Beethoven?
Beethoven foi o maior compositor da música clássica.
Quem foi Bach? Bach foi a música. Há condições de se
fazer esse tipo de comparação com relação à cantoria de
viola?
Crispiniano Neto – Sim. Você pode dizer que Manoel
Xudu foi a poesia. Já Ivanildo é o mais técnico, canta
bem, não tem uma voz bonita, mas é uma voz afi nada,
é perfeito na rima e na métrica. É muito difícil Ivanildo
cometer uma desmetrifi cação e desenvolve bem qualquer
assunto de cantoria, que são mais de cinqüenta. Tanto faz
você pedir a Ivanildo para cantar uma sextilha, um mote,
um gabinete, um galope à beira mar; ele canta todos os
estilos.
Preá – No gabinete o cantador tem de dizer aquele verso
“quem não canta gabinete não é cantador”?
Crispiniano Neto – Tem. Porque alguns estilos têm
uma parte fixa. O “gabinete”, o “mourão voltado”, o
“perguntado”, o “Brasil caboco”.
Preá – Quais as diferenças existentes entre o violeiro, o
cordelista, o repentista e o poeta?
Crispiniano Neto – O cantador é aquele que é bom
em tudo. Toca bem, pelo menos para o consumo, como
é o caso de Ivanildo. Canta bem, afinado, tem uma boa
dicção, canta qualquer assunto, qualquer estilo. Você
tinha, por exemplo, um Lourival Batista, irmão de Dimas
e Otacílio, que era um grande poeta, mas não sabia sequer
afi nar a viola e a voz era insuportável. Não me comparo
com ele como poeta, mas do lado fraco dele, de voz ruim
e de não saber afi nar a viola eu era igual. Uma vez tive a
honra de cantar com ele. Eu terminei dizendo um verso,
que ele parou a viola para decorar. Eu disse: “Comigo e
com Lourival o destino foi perverso/Entre o verso e a voz
aconteceu o inverso/Dois urubus na toada/Dois Castro
Alves no verso”. Você tinha um Severino Ferreira, aqui
do Rio Grande do Norte, que era um grande cantador,
além de ser poeta, porque ele tinha a voz boa, tocava
bem, inclusive era um dos maiores violeiros. Certa vez
eu assisti Severino Ferreira cantando sobre “Cancão”,
um poeta de São José de Egito, que morreu. Quase vi o
cinema de Patos vir abaixo. Ele terminou dizendo: “Pra ele
eu rezo novena/Morreu um ‘Cancão’ sem pena/Deixando
pena pra nós”. Ainda como bom cantador, poderia citar
Oliveira de Panelas, João Paraibano, esse é o que coloca
mais poesia... Manoel Xudu, este era tão poeta... é muito
difícil fazer verso de louvação, elogiar quem pagou a você,
na bandeja, se fazer um verso bom. Mas uma vez o pai de
uma moça muito bonita mandou a moça botar o dinheiro
na bandeja e Manoel Xudu terminou, eu não lembro a
estrofe toda, mas ele terminou dizendo assim: “É tão linda
essa mulata/Que a morte vindo matá-la/Volta chorando e
não mata”. Das mulheres que cantam, Mocinha de Passira
é aquela que é mais poeta, enfrenta qualquer cantador em
pé de igualdade. Entre os violeiros citaria ainda Edísio
Calixto, Zé Maria, do Ceará.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Cordel e repente II


DE JUAZEIRO DO NORTE A BRASÍLIA, CORDEL E REPENTE SEMPRE ENCONTRAM SEU ESPAÇO, QUALQUER QUE SEJA A TECNOLOGIA


Volto ao tema “Cordel e Repente” para dizer que o que, dentre os aspectos comuns dos do cordel e do repente, observa-se é que cordelistas e repentistas utilizam-se das mesmas formas, ou seja, decassílabos, sextilhas, sétimas e outras formas (O site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC - relaciona as principais).


Além disso, assim como as cantorias, o cordel tem uma grande tradição oral, pois, em uma época na qual poucos tinham a habilidade da leitura, muitos decoravam os versos e repassavam declamando ou cantando, como testemunha o poeta Arievaldo Viana ao contar que a avó Alzira de Souza Lima costumava ler os folhetos em voz alta "para deleite de crianças e adultos" (Acorda Cordel, Editoras Tupinanquim e Queima Bucha, 2006, p. 15).


Leonardo Mota, em sua obra “Cantadores”, define estes como “poetas populares que perambulam pelos sertões, cantando versos próprios ou alheios; mormente os que não desdenham ou temem o desafio, peleja intelectual em que, perante o auditório ordinariamente numeroso, são postos em evidência os dotes de improvisação de dois ou mais vates matutos” (Cantadores, ABC Editora, 2002, 7ª Edição, p. 3).


De fato, o que se observa é que, mesmo os cantadores versados na arte da improvisação, costumam cantar versos “decorados”, ou seja, guardados na memória. Na medida em que esses versos são vertidos para o papel, nos já comentados folhetos, transformam-se em Literatura de Cordel.


Há quem diga, porém, que todo cordelista tem um pouco de repentista. O poeta Napoleão Maia Filho me disse isso certa vez, e não duvido, pois conheço cordelistas, como o já aqui citado Valdir Fernandes Soares, que, mesmo sem se declarar repentista, faz versos dos mais variados temas, em poucos minutos.


Eu mesmo, já tive algumas experiências bem interessantes, principalmente em abertura e encerramento de eventos, como na solenidade de Revitalização da Lira Nordestina, quando, ao receber a palavra, que me foi passada pelo amigo André Herzog, Reitor da Universidade Regional do Crato, me expressei assim:



É grande a alegria
Que me invade nesta hora,
Quando já se foi o dia
E a noite não fez demora.
Pois não fosse a poesia,
O que mais é que faria
Estarmos aqui, agora?

Porque os versos são mais
Que tinta sobre papel.
São emoções que abrandam
Todo esse mundo cruel.
Brilhando em nossa cultura,
Quem mais que a literatura,
Do nosso lindo cordel?

Por isso, caros amigos,
Aqui me faço presente,
Pra falar da emoção
Que todo poeta sente
Quando vê autoridades
Unirem suas vontades
Em favor da nossa gente.



Outra oportunidade interessante ocorreu em março de 2006, quando estive em Brasília, para participar de um programa de televisão. Chegando ao hotel onde iria ser gravada a entrevista, lá estava o ator cearense José Wilker, que estava na Capital Federal gravando a minissérie “JK”, na qual ele interpretava Presidente Juscelino. Ao vê-lo, a repórter Rafaela Vivas Cardoso, que me entrevistaria, perguntou se eu faria versos tendo o presidente como tema. Perguntei: “O presidente ou o ator?”; e ela respondeu: “Os dois”. Menos de uma hora depois que a entrevista terminou, estavam prontos os versos abaixo, os quais pus em um envelope e pedi ao rapaz de recepção que entregasse a José Wilker:



Eu estava em Brasília, outro dia,
Divulgando a poesia de cordel,
Quando, na recepção de um grande hotel,
Percebi que um artista ali havia,
Cuja arte não é bem a poesia,
Mas nos toca igualmente a emoção.
No teatro ou na televisão,
Era um grande ator que ali estava,
Sendo que, pelo seu jeito, aguardava
A equipe que faria a gravação.

Mas o fato que fez a situação
Se tornar ainda mais interessante
Foi sentir que, naquele mesmo instante,
Ocorreu-me a seguinte impressão:
Que, olhando para aquele cidadão,
Ao invés de ver apenas o artista,
Era como se eu pousasse a minha vista
Na pessoa desse grande personagem
Que o ator representa na filmagem
Para que, na TV, a gente assista.

De quem falo, já foi capa de revista,
Só novela já fez bem umas cinqüenta.
Hoje, numa minissérie, representa
Um mineiro que foi grande estadista;
Que na sua trajetória progressista
Nos mostrou como um homem competente
Fez o nosso Brasil andar pra frente,
Dirigiu o país com muito amor.
Olhei para José Wilker, o ator,
E enxerguei JK, o presidente.

Alguém tinha me falado, antigamente,
Que um grande ator é desse jeito.
Atuando de um modo assim perfeito,
Faz confusa dessa forma nossa mente.
Mesmo quando o ator, fisicamente,
Não parece tanto assim com o personagem,
Ele adota a postura e a linguagem
E mergulha na história com fervor.
Foi assim que José Wilker, o ator,
Se tornou de Juscelino a imagem.

Para ir finalizando essa homenagem
A Zé Wilker e também a Juscelino,
Eu aplaudo o sorriso de menino,
O sucesso, o trabalho e a coragem.
Quando eu iniciei essa viagem
Não pensei que estaria reservado
Um encontro assim, tão inusitado
Entre eu, o ator e o presidente.
José Wilker, parabéns pelo presente.
Juscelino, parabéns pelo passado.



Versos assim são feitos realmente em alta velocidade, mas nada que se compare aos repentes de Ivanildo Vilanova, Zé Luís (de Mossoró), ou dos Nonatos, que já fizeram repente até com o mote “O planeta movido à Internet/ É escravo da tecnologia”, criando maravilhas como:


O visor como tela de TV,
O teclado acessível como book
Pra maiúsculo ou minúsculo é Caps "Look" (Lock)
Pra mandar imprimir é Control P
Com o micro'' Sansung e LG
e os programas que a Apple financia
A indústria da datilografia
nunca mais vai fazer máquina Olivetti
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia



Quem se pluga em milésimo de segundo
E se conecta ao portal e seus asseclas
Basta apenas tocar numa das teclas
que o visor nos transporta a outros mundos
Desde a terra dos solos mais fecundos
Ao espaço onde o vácuo se inicia
Quem formata depois cola, copia
e prende o mundo na grade de um disquete
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

A indústria se auto-destruindo
Descartou o compacto e LP
Veio o surto da febre do CD
e DVD mal chegou e já está saindo
MD não há mais ninguém pedindo
Nu''a DAT gravar ninguém confia
Fita BASF tem pouca serventia
e ninguém quer mais nem ver videocassete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Brasil SAT é mais uma criação
que nos nossos vizinhos deu insônia
O Sivam espiona a Amazônia
evitando que haja outro espião
É por via satélite a transmissão
que não tem transmissão por outra via
Uma antena seqüestra a sintonia
pra DirecTV, Sky e Net
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Transatlânticos no mar fazem cruzeiros
E pelos micros das multinacionais
Hoje tem conferências virtuais
com os executivos estrangeiros
O email é correio sem carteiros,
tanto guarda mensagem como envia
Os robôs usam chip e bateria
e videogame é brinquedo de pivete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Cibernética na prática e no papel
deixa os seres online e ganham IBOPE
Com Word tem Palm e laptop
e ainda mais PowerPoint e Excel
É possível quem mora em Israel
pelo Messenger teclar com a Bahia
Se os autômatos ganharem rebeldia
tenho medo que a máquina nos delete
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Pra prever terremotos e tufões
os sismógrafos têm números numa escala
E o trem-bala é veloz como uma bala
numa linha arrastando dez vagões
No Japão e na China as construções
já suportam tremor e ventania
Torre, ponte, edifício, rodovia
são perfeitos do jeito da maquete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Nosso pouso na lua foi suave,
um robô foi a Marte e se deu bem
Estão querendo ir ao Sol, mas o Sol tem
de calor um problema muito grave
Mas a NASA não tem espaçonave
que suporte essa carga de energia,
Se for feita de fibra, se desfia,
e de alumínio o monstrengo se derrete
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Motorola trocou técnica e conselho,
Nokia e Siemens galgaram patamares
Já estão fora de moda os celulares
que têm câmera e visor infravermelho
Reduzindo o tamanho de aparelho,
a Pantech fez mais do que devia
Que a memória de um chip não podia
ser mais grossa que a lâmina de um Gillete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Hoje a Bombardier não fere as leis
e a Embraer mãe de Sênecas e Tucanos
Invísivel aos radares há dois anos,
já existe avião que a Sukhoi fez
É da Nasa o XA-43
que voando tem mais autonomia
Um piloto automático opera e guia
o Airbus e o 747
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Mapa de visitas ao Mundo Cordel


PRIMEIRO MÊS DO MUNDO CORDEL

No post anterior, anunciei que continuaria a tratar do tema “Cordel e Repente”. Farei isso no próximo, pois neste, quero registrar que Mundo Cordel está completando o seu primeiro mês de existência, com um surpreendente número de 603 visitas, feitas por 495 visitantes de sete países: Brasil, Bolívia, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal, Itália e Alemanha.

Tem sido realmente uma agradável surpresa perceber quanto gente se interessa pela poesia popular, especialmente pela literatura de cordel.

Segundo os dados do Google Analytics, das visitas acima, quase 70% vieram através de mecanismos de pesquisa, ou seja, de pessoas que navegavam na Internet pesquisando o assunto.


Muito obrigado a todos os visitantes. Aproveito para convidá-los para sugerir temas a serem tratados e motes para novas trovas. Basta enviar e-mail para marcos.mairton@uol.com.br.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Cordel e repente



O DESAFIO DA PACA CARA, DE CEGO ADERALDO

Outro dia alguém me perguntou a diferença entre cordel e repente. Respondi, sem pensar muito, que o cordel é a poesia popular que se caracterizou como tal pelo fato de ser publicada em folhetos, enquanto o repente é a poesia feita pelos cantadores, os quais geralmente recebem da platéia um tema, chamado MOTE, e o desenvolvem na hora. Também é muito comum os repentistas fazerem desafios, nos quais cada um exalta suas qualidades e depreciam o colega.

Um desafio famoso é aquele que teria ocorrido entre o Cego Aderaldo e Zé Pretinho, quando Aderaldo deixa difícil a situação de Zé Pretinho com o trava língua da “Paca Cara”. Vejamos um trecho:


Zé Pretinho (P.)

— Eu vou mudar de toada,

Pra uma que mete medo

— Nunca encontrei cantador

Que desmanchasse este enredo:

É um dedo, é um dado, é um dia,

É um dia, é um dado, é um dedo!


Cego Aderaldo (C.).

— Zé Preto, esse teu enredo

Te serve de zombaria!

Tu hoje cegas de raiva

E o Diabo será teu guia

— É um dia,é um dedo, é um dado,

É um dado, é um dedo, é um dia!

P.
— Cego, respondeste bem,

Como quem fosse estudado!

Eu também, da minha parte,

Canto versos aprumado

— É um dado, é um dia, é um dedo,

É um dedo, é um dia, é um dado!


C.
— Vamos lá, seu Zé Pretinho,

Porque eu já perdi o medo:

Sou bravo como um leão,

Sou forte como um penedo

É um dedo, é um dado, é um dia,

É um dia, é um dado, é um dedo!

P.
— Cego, agora puxa uma

Das tuas belas toadas,

Para ver se essas moças

Dão algumas gargalhadas

— Quase todo o povo ri,

Só as moças 'tão caladas!

C.
— Amigo José Pretinho,

Eu nem sei o que será

De você depois da luta

— Você vencido já está!

Quem a paca cara compra

Paca cara pagará!

P.
— Cego, eu estou apertado,

Que só um pinto no ovo!

Estás cantando aprumado

E satisfazendo o povo

— Mas esse tema da paca,

Por favor, diga de novo!

C.
— Disse uma vez, digo dez

— No cantar não tenho pompa!

Presentemente, não acho

Quem o meu mapa me rompa

— Paca cara pagará,

Quem a paca cara compra!

P.
— Cego, teu peito é de aço

— Foi bom ferreiro que fez

— Pensei que cego não tinha

No verso tal rapidez!

Cego, se não é maçada,

Repete a paca outra vez!

C.
— Arre! Que tanta pergunta

Desse preto capivara!

Não há quem cuspa pra cima,

Que não lhe caia na cara

— Quem a paca cara compra

Pagará a paca cara!

P.
— Agora, cego, me ouça:

Cantarei a paca já

— Tema assim é um borrego

No bico de um carcará!

Quem a caca cara compra,

Caca caca cacará!

Eis aí um desafio, feito no Repente, que, salvo engano, depois foi publicado em cordel.
O fato que as duas expressões da poesia popular - cordel e repente - têm muito em comum, usando muitas vezes as mesmas formas, com decassílabos ou sextilhas, e abordando toda espécie de assuntos. Sem contar que às vezes o cordel é feito em tal velocidade, que é quase um repente.

Voltarei ao tema no próximo post.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

MBA em Poder Judiciário e Versatilidade do Cordel



FORTALEZA, 15 DE SETEMBRO: ENCERRAMENTO DO MBA EM PODER JUDICIÁRIO


Não me canso de dizer o quanto o cordel é uma forma de expressão capaz de se adaptar a todo e qualquer tema. Com ele fazem-se desafios, saudações e homenagens. Narram-se aventuras e histórias de amor.


Sábado, por exemplo, era o último dia de aula de um MBA sobre Poder udiciário do qual participei, com a felicidade de ter como colega de classe o poeta VALDIR SOARES FERNANDO, que brevemente há de lançar um livro só de cordéis jurídicos, resultado de vários trabalhos que apresentou durante o Curso de Direito, sempre para a surpresa e admiração de colegas e professores.


No final da última aula do MBA, Valdir pediu a palavra e nos rpesenteou com o seguinte:


APRESENTAÇÃO

Valdir Soares Fernando
Eis o meu nome de pia...
Perdoem-me a cantoria
Como estou me apresentando;
Mas ora estou chegando
De Pernambuco, a Seção,
Que envolveu meu coração
Num pulsar de prata e ouro,
Mas pra vocês meu tesouro,
É esta simples canção!...

E a canção, de início, pequenina,
Em terras cearenses aportou,
Aqui novos amigos encontrou,
Foi deixando de ser uma menina...
Inspirada em lira tão Divina,
Ao crescer em minha mente e no papel,
Fez uma virgem de lábios só de mel
Transmudar-se na sombra de Iracema,
E assim foi surgindo este poema
Nesta hora cantado em cordel!


MBA EM PODER JUDICIÁRIO

A Deus ora eu agradeço
Por me dar esta benção,
Poder cantar esta loa
Dando a minha opinião,
Neste grupo de amigos
Que reunidos estão!

Mas que não se abra a mão
Pois se impõe nominar:
Margarida Cantarelli
Que fez tudo iniciar;
Uma mulher sonhadora,
Nobre desembargadora,
Devemos ora aclamar!

Em 22 de novembro,
2005 o ano,
Margarida Cantarelli
Na mesa pôs o seu plano,
E da apresentação
Esta capacitação
Começou sem desengano.

Margarida Cantarelli,
Da ESMAFE dirigente,
No Tribunal reuniu-se
Com o então Presidente,
E o Francisco Queiroz,
Assentiu com sua voz,
E o plano foi pra frente.

Logo convida, a ESMAFE,
Com sua mão atuante,
A Fundação Getúlio Vargas,
Que mandou representante,
Sendo que desse projeto,
Não havendo nenhum veto,
Deu seu passo adiante.

Assinado o Convênio
Veio a Escola de Direito
Lá do Rio de Janeiro
Demonstrar que leva jeito;
Pois neste pós-graduar,
Todos ficam a afirmar
Que não houve um defeito!

E na bela Fortaleza,
No ano 2006,
Iniciava em março,
Na data de dezesseis,
Esta especialização,
Primeira turma em ação,
Começava de uma vez.

Excelente acolhida
Da Seção do Ceará,
Que nos recebeu alegre
Durante todo o cursar;
Até a virgem Iracema
Vinha para a nossa cena
Com licença de Alencar!...

Margarida Cantarelli
Abre a aula inicial,
Professor Joaquim de Arruda
Do Conselho Nacional
De Justiça, é convidado
Para dar o seu recado
Em uma aula inaugural!

E quem é e o que pensa
Todo e qualquer magistrado,
Foi o tema da palestra
Do jurista renomado;
Refletiu sobre os problemas,
Do juiz trouxe os dilemas,
Como era esperado.

E começado o curso
Veio Administração,
Economia e Direito
Entraram na relação;
Posto tudo a preparar,
No contexto do julgar,
Pra uma melhor gestão.

De início, Antônio Carlos,
Com a Macroeconomia;
O pensador Zé Ricardo,
Pôs a Ética em dia;
Em Gestão e Orçamento
Armando Cunha fez tento,
Com a sua alegria.

O Roberto Bevilacqua
Também deu tal disciplina;
Pois Gestão e Orçamento
Há muito que ele ensina;
Mas para a Inovação
Jurisdicional a mão
Seguiu uma regência trina.

De um lado Carlos Affonso
De outro, o Sérgio Guerra,
Depois Leonardo Marques
Também pisou nesta terra;
Em seguida, a atenção
Dirigiu-se à gestão
Que a qualidade encerra.

Pra gestão da Qualidade
Veio Mauriti Maranhão;
E pra pôr Planejamento
Estratégico em ação,
Paulo Motta atuou,
Sobre a trinca bem falou:
Visão, valores e missão!

Reinou o Jean Menezes
Com a Metodologia;
Bem explanou Mello Serra,
A Gestão de Serventia;
Para um líder bem formar
Muito foi nos ensinar,
Paulo Motta em novo dia.

Para os estudos de caso
Com um novo praticar,
A Elisa Macieira
Também veio nos ensinar;
De tão empolgante o tema,
Inspirou até poema
Que fez a mestra chorar!

Tânia Almeida trouxe idéias
Sobre a Mediação,
No bojo desse estudo
Vimos Conciliação;
Por último, surge Yan,
Trazendo todo o afã
Da boa negociação.

Fazendo MBA
Ou então Eme Bi Ei,
MBA no Brasil,
Eme Bi Ei no inglês,
São quarenta e cinco alunos
5ª Região se fez.

Do total quarenta e cinco
Temos trinta magistrados,
Os demais são servidores
Vindo de vários estados,
Como colegas buscando
Novos e bons resultados.

Agora nome a nome
Eu vou depressa falar,
Começo com os colegas
Do Estado do Ceará;
De início, os juízes,
Os servidores vêm já!

Desculpem-me os juízes
Se não os chamo de doutor,
A minha pena atrevida
Da minha mão se soltou;
E ao escrever sozinha
Muita coisa aprontou!

Ó Danilo Fontenele
Ex-diretor da Seção;
Alcides Saldanha Lima
E Jorge Luiz Girão
Com a Karla de Almeida,
Todos titulares são!

Elise Avesque Frota,
Francisco Beto Machado,
Gisele Chaves Sampaio
Com André Dias ao lado;
O Júlio Rodrigues Coelho
Complementa este traçado.

Continuando a cantiga
Com Zé Parente Pinheiro,
Glêdison Marques Fernandes
Com o Ricardo Ribeiro;
Chegando Maria Júlia,
Cada qual é mais ligeiro!

Nagibe de Melo Jorge,
Marcus Vinícius Parente,
Leopoldo Fontenele,
Aguardem que tem mais gente;
O George Marmelstein
Com sua calma de sempre.

Sérgio Fiúza Tahim
No Juazeiro do Norte,
Com o Bruno Leonardo
A JF tem sorte,
Pois cada dia que nasce
Traz sol mais quente e mais forte.

Do Limoeiro do Norte
Chegou o Francisco Luiz,
O Zé Maximiliano
Fazendo Sobral feliz;
Essas foram as conclusões
Pela pesquisa que fiz!

Após listar os juízes,
Servidores vou listar,
Continuando os nomes
Da lista do Ceará;
Pois abram bem seus ouvidos
Que ora eu vou começar!

Agnor da Silva Carmo
Lotado na Capital;
E ora eu digo o nome
De Adriana Leal;
Tem a Maria Tereza
Na cidade de Sobral.

Tem Marianne Pacheco,
Luciana Barcelar,
A Francisca Cristiane
E Lauro Nogueira Sá;
Com Raquel Rolim Pereira
Finalizo o Ceará!

Do Rio Grande do Norte
Manuel Maia não está só,
Pois Mário Azevedo Jambo
Foi pra lá desatar nó;
Porém o Marcos Mairton
Tem versos de ouro em pó.

Integrando essa equipe
Veio a Diana Maria
Espelhando a 5.ª Vara
E sua Secretaria;
O Rio Grande do Norte
Eu fecho com alegria.

Raimundo Alves de Campos
Da Seção das Alagoas,
O Leonardo Resende
Com suas conversas boas;
Junto de Cíntia Menezes
Desculpem por estas loas.

César Arthur Cavalcanti
De Pernambuco, a Seção;
Aparecida Gonçalves
E Arthur Napoleão,
Da Vara de Petrolina
Que é um quente sertão.

Vem também de Pernambuco
O Valdir, que canta mal,
Veio também Marcus Vinícius
Da Vara só virtual;
Por último, Lúcia Amélia,
Bem-vinda, do Tribunal.

Agora eu digo os amigos
Da Justiça Sergipana;
O Ronivon de Aragão
Com sua grande pestana;
E a Valéria Vieira
Completou a caravana.

Do Estado de Sergipe
Houve uma desistência,
A Lidiane Vieira
Não pôde marcar presença;
Também temos Zé Donato:
Do Ceará, uma ausência.

Da Seção da Paraíba
Foi a Cristina Garcez,
Que hoje já não está
Estudando com vocês;
Por relevantes motivos
Teve que dar sua vez!

Da Seção Paraibana
Eu digo neste instante
Que o Marconi Pereira
É o seu representante;
Ele também é poeta
Que faz cordel empolgante.

E assim eu nominei
Toda essa gentil moçada,
Pois 45 alunos
Concluíram a jornada;
MBA em ação,
É a 5.ª Região
Sendo aqui representada!

O Poder Judiciário,
No modelo brasileiro,
É todo administrado
Por quem está no braseiro;
Este curso, então, garante
Que o juiz, ora em diante,
Possa atuar, por inteiro.

Pois multidisciplinar
Oferece formação,
Na jurídica seara
E também na de gestão;
Visando aperfeiçoamento,
Com grande aprofundamento
Do Tribunal é a visão!

A todos meus parabéns
Por esta iniciativa;
E agradeço aos amigos
Pela presença tão viva;
No trocar conhecimento,
Resplandece o sentimento
Que a todos emotiva!

E que nós não esqueçamos,
Ó colegas, ó professores,
Que o sucesso do curso
Também está nos bastidores;
Pra cada um nosso abraço,
Sabemos que cada passo
Traz em si os seus valores!...

Um voto de gratidão
De todo especial
Para a Gisele Peixoto
Com eficiência total;
Todo o curso acompanhou,
Com correção se portou:
Nosso abraço fraternal!

E neste encerramento,
O destino pôs sua Mão;
Com certeza o Bom Jesus
De novo dá Sua Benção,
Pois Dra. Margarida
Dá o ar de sua vida
Nesta última sessão!


Diante de tal manifestação poética, não podia eu permanecer inerte. E respondi ao colega de curso e de poesia com os seguintes decassílabos:


Meu amigo, Valdir, como é que pode?
De onde é que vem tanta inspiração?
Os teus versos transmitem emoção
Meu coração balança e se sacode.
Eu espero que ninguém se incomode
Se em versos também eu for falando,
Mas é que um poeta escutando
Tanta arte e tanta poesia
Sente logo uma carga de energia
Que os versos na boca vão brotando.

O Valdir, com a sua cantoria,
Já falou de alunos, professores
E também de quem lá dos bastidores
Tudo fez para a nossa alegria
De aqui reunidos, neste dia,
Nós dizermos, com a cabeça erguida
Para a Desembargadora Margarida,
Que aqui na Seção do Ceará
Terminamos o nosso MBA
Essa parte da missão está cumprida.

Outras partes virão, é bem verdade,
E a próxima é a monografia
Que, se fosse permitido, eu faria
Toda em versos, pois, na realidade,
Fazer versos não é dificuldade,
É um dom que Deus dá, e dá de graça
Mais difícil é ver um homem na praça
Com as mãos estendidas, esmolando,
e as pessoas ali que vão passando,
Passa gente, passa gente, passa e passa.

Não se pense que o homem que esmola
Nada tenha a ver com nosso tema
Pois sabemos que vivemos num sistema
Onde falta segurança e escola.
A Justiça também não se descola
Dos problemas sociais que o povo enfrenta
Nessa sociedade violenta
É preciso que a Justiça se imponha
Pra que a gente não morra de vergonha
Quando alguém vem e diz: - Ô coisa lenta!

É por isso que a parte principal
Que acontece neste nosso Eme Bi Ei
É levar, como um dia já falei,
Para as varas e para o tribunal
Tudo aquilo de mais fundamental
Que aqui nesses encontros aprendemos.
Pois se há uma missão que hoje temos
É lutar por uma Justiça eficiente
Não apenas por julgar rapidamente
Julgar bem, na verdade, é o que queremos.

Fecho, assim, minha participação
Já sentindo em meu peito a saudade
E usando essa oportunidade
Pra expressar toda minha gratidão
Aos que fazem a coordenação,
E aos que fazem o lanche e a limpeza.
E aos mestres que fizeram a gentileza
De enfrentar a aventura que é voar
No Brasil, atualmente, para dar
Nossas aulas aqui em Fortaleza.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

O Cordel na Expocom Nacional

Marcos Mairton e Gustavo Luz

O CORDEL QUE VIROU RADIONOVELA II


Na semana passada recebi e-mail do amigo Cláudio Neto, dando a notícia de que a adaptação para radionovela do meu cordel “O advogado, o diabo e a bengala encantada”, foi bastante elogiada e obteve o segundo lugar na Expocom Nacional. Fiquei feliz com resultado.

Parabéns a toda a equipe que trabalhou na elaboração e apresentação do trabalho, cujos nomes já relacionei no post O CORDEL QUE VIROU RADIONOVELA, mas que nunca é demais repetir: Professora: Ana Paula Farias; Monitora: Maria Isabel; Cláudio Neto: O Véi; Fábio Thé: Dr. Jorge; Clebiana Kate: Dona Jandira; Leonardo Capibaribe: Cão Homi; Ronaldo Pinto: Diretor, editor e produtor; Samara Passos: Cão Muié; Thiago Sampaio: Produtor e narrador; Vitória Costa: Lindinha; Yargo Gurjão: Deus; Operadores de som: Kiko Silva e Sergio Freitas.

Pelo menos, assim eu não cometo o erro que cometeu o jornal Diário do Nordeste ao dar a notícia, qual seja, o de citar apenas os nomes de Ronaldo Pinto e Cláudio Neto, sem qualquer referência aos demais participantes, e referindo-se ao autor da obra adaptada como "um juiz federal do Rio Grande do Norte".

Não que eu me ofenda com a referência ao fato de eu ser Juiz Federal. Sou, e com muito orgulho. Mas, se a matéria fazia referência à minha produção literária, era como autor literário que eu deveria ser tratado. Esperava, obviamente, a citação de meu nome, pois essa é a forma mais básica de reconhecimento que se pode fazer em relação a quem faz arte. Além do quê, quando os jornais publicam matérias sobre decisões minhas como juiz, nunca dizem - e nem ficaria bem dissessem - que "a sentença foi proferida por um poeta cearense...".

Bem, já disse tudo o que pretendia em carta que enviei dia 14 ao jornal. Até agora não responderam, mas chega desse assunto.

Vou preparar o posto de amanhã, que é muito mais interessante.

Pra fechar este, falta só escolher a imagem.

Já sei. Vai uma foto minha, em companhia do grande apoador da literatura de cordel no Brasil, Gustavo Luz, da Editora Queima Bucha.





sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O cordel e os clássicos da literatura


GLOSA E MOTE DE LUÍS DE CAMÕES


Depois de pedir a benção de Dante Alighieri, não posso deixar de render homenagens ao grande português, em cuja obra encontram-se motes, glosas, redondilhas, oitavas e tantas outras formas que até hoje influenciam a literatura de cordel e o repente.


Vejamos, por exemplo, o mote:
De vós quererdes meu mal
Me vem podê-lo sofrer.


Mote duplo, em sete sílabas, em cuja glosa observar-se-á que o glosador faz duas estrofes, a primeira fechando com o primeiro verso e a segunda com o segundo. Faço esse destaque porque, em nossa literatura de cordel, é mais comum encontrarmos o mote duplo ocupando as duas últimas linhas de cada estrofe. Vamos à glosa de CAMÕES:


De tantas penas cercado

Gozo de um bem que já tive

Que o que me é menos pesado

É ponderar que ainda vive

Um amor tão mal pagado,

A causa deste tormento,

Sem vós, me fora mortal;

Daqui vem que, em dano tal,

Só tenho o contentamento

De vós quererdes meu mal.


De vós quererdes meu mal

Vem o querer esta vida,

Porque a dor de tal ferida,

Posto que em si é mortal,

Fica assi[m] menos sentida.

Eu tenho a dor desta pena

Que me vós fazeis querer,

E, posto que me condena,

De ver que se me ordena

Me vem podê-la sofrer.


E, pra quem ainda não sabia, ele também criava em castelhano. Vejamos o mote:

Ojos, herido me habéis,

Acabad ya de matarme;

Mas, muerto volved a mirarme,

Por que me resucitéis.


Pues me diste[i]s tal herida

Con gana de darme muerte,

El morir me es dulce suerte,

Pues con morir me dáis vida.

Ojos, ?qué os detenéis?

Acabad ya de matarme;

Mas, muerto, volved a mirarme,

Por que me resucitéis.


La llaga, cierto, ya es mía,

Aunque, ojos, vos no queráis;

Mas si la muerte me dáis,

El morir me es alegría.

Y así digo que acabéis,

Ojos, ya de matarme;

Mas, muerto, volved a mirarme,

Por que me resucitéis.


Leio essas maravilhas e fico feliz de ver como é rico o nosso cordel. Como tem história, valor, poesia... É preciso que as pessoas conheçam melhor a poesia, para aprender a dar valor a essa arte tão forte em nossa cultura.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Visitantes de Mundo Cordel no exterior


ADMIRADORES DO CORDEL EM TODO O MUNDO

Depois que citei trecho de um site italiano no post anterior, nosso Mundo Cordel, que já havia recebido visitas dos Estados Unidos, Portugal, Inglaterra e Bolívia, foi visitado também por um internauta de Milão, o que me deixou muito feliz, pois não é de hoje o interesse que tenho pela Itália e pela língua italiana.

O interesse dos italianos pelo cordel, por outro lado, não me surpreende. Não deveríamos todos nós, que fazemos narrativas de aventuras e desventuras por meio da poesia popular, pedir a benção ao grande Dante Alighieri? Será que nosso martelo agalopado não tem em suas influências os decassílabos da Divina Comédia?

Vejamos um trecho do Canto III, quando Dante fala da sua chegada às portas do inferno:


Per me si va ne la città dolente,
per me si va ne l'etterno dolore,
per me si va tra la perduta gente.

Giustizia mosse il mio alto fattore:
fecemi la divina podestate,
la somma sapienza e 'l primo amore.

Dinanzi a me non fuor cose create
se non etterne, e io etterno duro.
Lasciate ogne speranza, voi ch'intrate".

Queste parole di colore oscuro
vid'io scritte al sommo d'una porta;
per ch'io: «Maestro, il senso lor m'è duro».


Ou, na tradução de José Pedro Xavier Pinheiro:


Por mim se vai das dores à morada,
Por mim se vai ao padecer eterno,
Por mim se vai à gente condenada.

“Moveu Justiça o autor meu sempiterno,
Formado fui por divinal possança
Sabedoria suma e amor supremo.

No existir, ser nenhum me alcança
Não sendo eterno, e eu eternal perduro:
Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!”

Estas palavras, em letreiro escuro,
Eu vi, por cima de uma porta escrito.
“Seu sentido” – disse eu – “Mestre me é duro”.


Decassílabos da melhor qualidade! Que poetas e admiradores da poesia nos visitem de todas as partes do mundo! Bevenuti amici italiani! Bienvenidos también los españoles! Bem vindos portugueses, ingleses, americanos y todos los nuestros hermanos latinoamericanos!

Sejam bem vindos os admiradores do cordel de todo o mundo!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Cordel e Xilogravura




100 ANOS DA PARCERIA XILOGRAVURA-CORDEL

Começa hoje em Juazeiro do Norte, Ceará, o seminário “100 anos da xilogravura ilustrando o cordel”. De fato, xilogravura e cordel tem andado há tanto tempo juntos que a imagem mais característica do cordel é sempre o folheto com a xilogravura impressa na capa, embora hoje já seja muito comum a utilização de outras técnicas, especialmente quando o cordel é impresso em livros, e não em folhetos.
Eu mesmo, apesar de sempre ter aplicado xilogravuras em meus folhetos, já usei desenhos a carvão, como no exemplo abaixo, feito pelo poeta e artista plástico Gilvan Lopes, de Assu, Rio Grande do Norte:


Ilustração do cordel "O viajante e o sábio" do Livro "Uma sentença, uma aventura e uma vergonha".

Segundo a matéria publicada no Diário do Nordeste:

100 anos depois, artistas-xilógrafos continuam sendo formados na arte de ilustrar o cordel. Juazeiro do Norte, o grande celeiro do Brasil. De hoje a sexta-feira, acontece, no município, o seminário ‘100 anos da xilogravura ilustrando o cordel”. Para quem decretou a morte desse ofício nos anos 60, no advento da indústria cultural dos frankfurtianos, não pensava no volume de pesquisas em torno do assunto a se lançar. Novas linguagens para traduzir o mundo e os seus encantos. Mas continua no papel jornal a linha da trova, desde os inícios, com a oralidade e também o rebuscamento da arte na matriz da umburana.O cordel ilustrado com uma xilogravura, escrito por Francisco das Chagas Batista, em 1907, com “A História de Antônio Silvino”, marca o centenário. A autoria da xilo é desconhecida, mas o professor da Universidade de Brasília (UnB), em Sociologia do Conhecimento, Geová Sobreira, destaca os traços primorosamente trabalhados, com finos detalhes de acabamento, riscos delicados e profundos (clique aqui para ler a íntegra).

O jornal destaca ainda o trabalho de José Lourenço, como um dos “nomes contemporâneos que marcam época e contribuem para a solidez de uma atividade morta e ressuscitada, a xilogravura” (
clique aqui para ler a íntegra). Tive a oportunidade de conhecer José Lourenço, pessoalmente, em Juazeiro do Norte, nas várias vezes em que estive na Lira Nordestina, um lugar mágico, onde se encontram artistas do cordel e da xilogravura de todos os cantos do mundo.




Neste post, vários exemplos de ilustrações de cordel feitas em xilogravura, com a curiosidade de que as encontrei em um site da Itália. Segundo o texto, os livretos de cordel se encontravam, e ainda se encontram, em todas as grandes feiras populares brasileiras. A banca de Apolonio Alves dos Santos permaneceu por anos na Praça do Paço Imperial, na Feira de São Cristóvão, onde havia declamação e venda dos folhetos.
Diz o texto original:

"I libretti de cordel si trovavano, e ancora si trovano, in tutte le grandi fiere popolari brasiliane. A Rio de Janeiro il banchetto di Apolonio Alves Do Santos ha stazionato per anni nella piazza del Pa?o Imperial e si era ritagliato un posto di riguardo alla Fiera nordestina di San Cristovao. A volte il venditore improvvisava il racconto, più spesso si limitava alla vendita dei folhetos. Come nella tradizione dei cantastorie di tutto il mondo, la fabulazione, orale, scritta, disegnata, riguardava e riguarda i grandi fatti che colpiscono la fantasia popolare, i delitti più trucidi e efferati, le calamità naturali più rovinose, le ingiustizie sociali. In più, nel nordeste del Brasile, c'era da raccontare l'epopea leggendaria dei cangaceiros."

"La literatura de cordel nasce nel sertao dove un latifondismo feudale aveva umiliato e oppresso per secoli i contadini poveri costretti a una vita aspra, al limite della sopportazione, da cui partirsi per andare a cercar fortuna lontano, nel sud del paese. Il sertao è la terra 'maledetta' che aveva visto le più dure lotte sociali del Brasile e dove il banditismo poteva essere letto, inevitabilmente, anche come momento di riscatto sociale. Per chi non ce la faceva a ribellarsi, il poter almeno ascoltare le gesta mirabolanti del bandito Lampiao e della sua Maria Bonita era motivo di orgoglio e speranza."






quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Literatura de cordel e educação


ARIEVALDO VIANA E O CORDEL NA SALA DE AULA

Li, semana passada, o cordel
“O Jumento Melindroso Desafiando a Ciência”, do poeta cearense Arielvaldo Viana. Bom demais!
Aliás, já faz um bocado de meses que não tenho contato Arievaldo. Cabra bom.
Pra quem não conhece ainda, sua minibiografia está no site da
Academia Brasileira de Literatura de Cordel, e diz o seguinte: “Poeta popular, radialista e publicitário, nasceu em Fazenda Ouro Preto, Quixeramobim-CE, aos 18 de setembro de 1967. Desde criança exercita sua verve poética, mas só começou a publicar seus folhetos em 1989, quando lançou, juntamente com o poeta Pedro Paulo Paulino, uma caixa com 10 títulos chamada Coleção Cancão de Fogo. É o criador do Projeto ACORDA CORDEL na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos. Em 2000, foi eleito membro da ABLC, na qual ocupa a cadeira de nº 40, patronímica de João Melchíades Ferreira. Tem cerca de 50 folhetos e dois livros públicados: O Baú da Gaiatice e São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel”.
Segundo Arievaldo, “Patativa não era analfabeto”, ao contrário, “tinha influências de Castro Alves, Gonçalves Dias, Camões e outros poetas eruditos, que sempre leu com freqüência” (
entrevista em janeiro deste ano para www.overmundo.com.br).
O projeto ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA é um exemplo fantástico da integração escola-cultura. Seguem as primeiras estrofes da “Introdução em Versos”:

NEM MATUTO, NEM ERUDITO
ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA

Para quem ama o cordel
Porém só vê poesia
Nessa linguagem matuta
Pru quê, pru mode, pru via,
Tendo o sertão como tema
Pode esquecer meu poema
Bater noutra freguesia.

Pois eu procuro escrever
Num correto português.
E se acaso eu errar
Duas palavras ou três
Não foi por querer errar,
Foi procurando acertar,
Isso eu garanto a vocês.

O cordel é um veículo
De grande penetração.
Nas camadas populares
Possui grande aceitação.
Se a métrica não quebra o pé,
Tem contribuído até
Para alfabetização.

Eu vejo grande beleza
Nos versos de Patativa,
De Zé da Luz, de Catulo...
É arte que me cativa,
Mas se usá-la na escola
A língua do aluno enrola
Do entendimento lhe priva.

Pois o cordel sendo usado
Para ALFABETIZAÇÃO
Deve respeito à linguagem
Corrente em nossa nação.
Não deve ensinar errado,
Nem pode ser embalado
Nas plumas da erudição.