quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Poesia e Direito



SENTENÇA POÉTICA


Recebi esta do meu amigo Alexandre Goiana, advogado em Fortaleza-CE, grande apreciador daLiteratura de Cordel. O caso revela mais um desses casos jurídicos nos quais o Direito se encontra com a poesia:


RS - Magistrado profere decisão em forma de versoO Juiz de Direito Afif Jorge Simões Neto, da 2ª Turma Recursal Cível, doestado do Rio Grande do Sul, proferiu voto em forma de verso, em julgamentorealizado ontem, 21/1. A ação, que tramitou perante o Juizado Especial Cívelda Comarca de Santana do Livramento, trata de pedido de indenização por danomoral.

O autor da ação, patrão do CTG Presilha do Pago, afirmou ter sido ofendido em sua honra pessoal durante pronunciamento feito por Conselheiro Fiscal da18ª Região Tradicionalista durante o uso da tribuna livre da Câmara deVereadores. O ofensor teria dito que o Patrão não prestava conta das verbas públicas recebidas para a realização de eventos. Salientou que as afirmações foram publicadas também no jornal local A Platéia. O réu negou as ofensas.

A decisão no Juizado Especial Cível de Livramento condenou o Conselheiro ao pagamento de R$ 1,5 mil. Houve recurso à Turma Recursal. Para o relator, a ofensa não aconteceu. Os Juízes Eduardo Kraemer e a Leila Vani Pandolfo Machado acompanharam ovoto do relator, reformando a decisão de 1º Grau para negar o pedido de indenização.

Confira abaixo a sentença "poética" na íntegra.


Este é mais um processo
Daqueles de dano moral
O autor se diz ofendido
Na Câmara e no jornal.

Tem até CD nos autos
Que ouvi bem devagar
E não encontrei a calúnia
Nas palavras do Wilmar.

Numa festa sem fronteiras
Teve início a brigantina
Tudo porque não dançou
O Rincão da Carolina.
Já tinha visto falar
Do Grupo da Pitangueira
Dançam chula com a lança
Ou até cobra cruzeira.

Houve ato de repúdio
E o réu falou sem rabisco
Criticando da tribuna
O jeitão do Rui Francisco

Que o autor não presta conta
Nunca disse o demandado
Errou feio o jornalista
Ao inventar o fraseado.

Julgar briga de patrão
É coisa que não me apraza
O que me preocupa, isso sim
São as bombas lá em Gaza.

Ausente a prova do fato
Reformo a sentença guerreada
Rogando aos nobres colegas
Que me acompanhem na estrada.

Sem culpa no proceder
Não condeno um inocente
Pois todo o mal que se faz
Um dia volta pra gente.

E fica aqui um pedido
Lançado nos estertores
Que a paz volte ao seu trilho
Na terra do velho Flores.”


* Proc. nº 71001770171 -

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Cangaço


POESIA CANGACEIRA

Outra valiosa contribuição que recebi durante as férias foram as poesias de Sandro Kretus, que vieram em forma de comentário. Uma delas é essa:

CODINOME LAMPIÃO

O meu nome é Virgulino
O lagarto nordestino
Ouça bem o que lhe digo
O cangaço é meu quintal
Meu sobrenome é perigo
Vai logo me dando essas moedas
Vai logo rezando á padre Ciço

Foi com Antônio e Levino
Com meus irmãos eu aprendi
Que no cangaço o homem
Tem que ser macho
No cangaço o homem
Não pode dormir


Leão valente e cangaceiro
Macho de todas as maneiras
Foi assim que eu me apresentei
Na tropa do sinhô Pereira

Vendo o sofrimento de meu povo
Nas mãos do crime eu cai
Na casa da baronesa
De água branca eu bebi

Peguei o bicho pelo pescoço
Prendi Antônio Gurgel
Um frio na espinha desceu pelas costas
Me gelando a boca do céu

Numa agonia de dá dó
Foi dois de uma vez só
Perdi Colchete e Jararaca
Na invasão á Mossoró

O calango escondido
Não aceitou a derrota
Mas tive que esperar
Pois Pernambuco, Paraíba
E Ceará, estavam á me caçar

Atravessei o São Francisco
Com cinco cabras na mão
E foi lá na Bahia
Que eu me levantei do chão

Um certo dia escondido
Na fazenda de um coiteiro
Foi lá que eu encontrei
Meu amor verdadeiro

Só tinha um problema
Era a mulher do sapateiro

Fugiu comigo em nome desse amor
Enchendo meu coração de alegria
Maria Déia, cheia de idéia
Flor nordestina

Na caatinga
Debaixo de um umbuzeiro
Nasceu minha filha Expedita
Lindo anjo vindo do céu
Á iluminar minha vida

Com minhas roupas de Napoleão
Feitas pelas minhas mãos de artesão
Apresentei meu bando e minhas cartucheiras
Ás lentes de Abrão

O meu olho que vazava
Dr: Bragança arrancou
Confesso tive medo
Mas não senti nenhuma dor

Meu destino tava chegando
Senti meu peito sangrar
João Bezerra e Aniceto Rodrigues
Vieram me atocaia

Vi cai Quinta-feira
Vi cai Mergulhão
Vi cai Enedina
De joelho no chão

Vi Moeda e Alecrim
No rabo do foguete
Vi cai Macela
Vi cai Colchete

Antes de dar meu último suspiro
Pensei no meu amor
Onde tá Maria Bonita?
Minha amada
Minha flor

Fui Virgulino Ferreira da Silva
Codinome Lampião
Vivi, amei, e morri
Nos braços do Sertão.

Sandro Kretus
O andarilho da terra do fogo

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Poesia de Sávio Pinheiro



2009. VOLTA À ATIVIDADE

Finalmente, retomo as atividades blogueiras neste 2009. Felizmente, no período em que Mundo Cordel ficou sem publicar, recebi valiosas contribuições para o retorno. Aí vai uma, do poeta Sávio Pinheiro.

CONSOLO DE PERDEDOR
Autor: Sávio Pinheiro


Cidadão desesperado
Que perdeu a eleição
Procure se sossegar
Dentro da nova gestão,
Pois o que aconteceu
Não é pra desilusão.

Durante o pleito acontece
As intrigas de rotina,
Discussões desnecessárias
Que maltrata e desatina,
Já que a indústria de fuxicos
Surge por trás da cortina.

Um eleitor consciente
Quase a gente nunca vê.
O político prometendo
Aparece na TV
E organizando o curral
Vai manobrando você.

A população presente
Ouve aquela citação
E acredita que vai ter
Grande valorização
Confiando com vigor
Num discurso sem ação.

O cidadão derrotado
E humilhado a sofrer
Tem medo da represália
Que derrotará o ser
E sofrendo de dá pena
Sente até que vai morrer.

Todavia, meu amigo
Procure ficar ciente.
Vou dizer para você
A situação dolente:
Quanto o poder oferece
Para a nossa pobre gente.

A maior parte da grana,
A qual chega à prefeitura
Dá pra dois, no máximo três,
Detentores da fartura,
Pois o esquema organizado
Vem da velha ditadura.

Outro time que se acha
E não pisa sobre o chão
Tem uns trinta componentes
Com postura de barão:
Este, não perde um churrasco
E tem nome de babão.

Este grupo é que conduz
E valoriza a disputa
Já que está na dependência
Da sobra da trinca astuta,
Pois os trinta não ganhando
Vão penar em sua labuta.

Um carro terceirizado
Uma venda pro poder
Um cargo de nome longo
Um momento de lazer
E a prestação de serviços
O faz se submeter.

Este tem a obrigação
De bajular em voz alta:
- O churrasco tinha a carne
Mais gostosa da ribalta
E a mulher do deputado
Boniteza não lhe falta.

Para o grupo que perdeu
E que tinha a intenção
De fazer parte dos trinta,
Ser do segundo escalão,
Sobra só o bom consolo
De escapar de ser babão.

Resta agora analisar
Com bastante coerência
Pra onde irão os demais,
Que detêm a paciência
E que tentam adquirir
Um grau de benevolência?

A população carente
De afeto e de ação
Comporá o grande grupo
Sem direito a um quinhão:
Parte tendo de acatar
E aplaudir a falação.

Mas o grupo tem dois lados:
O que perdeu e o que ganhou.
O primeiro gritará
Que o seu prefeito roubou
E o segundo, coitadinho
Ficará sempre mansinho
Sem admitir, que sobrou.