domingo, 28 de fevereiro de 2010

Poesia se aprende?



COMENTÁRIO DE ANIZÃO

Respondendo o post "Sextilha anônima", o poeta //Anizão, frequentador assíduo deste MundoCordel fez o seu comentário em verso. Vale a pena conferir. Boa, //Anizão, seja sempre bem vindo!


Versos não sei ensinar

Como eu aprendi eu não sei

Mas sem querer ensinei

A muitos temas glosar

É como ensinar amar

Que não existe uma escola

E nas provas não tem cola

Mas o coração aprende

E o amor nos supreende

As vezes até extrapola.


//Anizio, 27/02/2010

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Pelo Mundo


OS VISITANTES ESTÃO VOLTANDO


Depois da tradicional queda de movimento do blog nos meses de dezembro e janeiro, o movimento começa a voltar à normalidade. Apesar de ainda estar longe dos quase trezentos acessos diários de setembro de 2009, já voltamos ao patamar de mais de 100 visitas por dia.

Apesar de esses números serem baixos em relação a muitos blogs, é muito legal saber que essas visitas vêm do mundo todo. Olha o mapa dos últimos doze meses aí em cima!




domingo, 21 de fevereiro de 2010

Sextilha Anônima

Achei essa imagem em http://ocantinhodaborboletaazul.blogspot.com/

PROCURA-SE UM(A) POETA


Semana passada alguém enviou um comentário em sextilha para a postagem "A técnica de fazer cordel":


Não se ensina a fazer verso
Se aprende no dia-dia
Prosiando com poeta
Se adquiri poesia
Os versos adentram n' alma
E no peito faz moradia


Uma Dézima em sextilha


Observem que a métrica e a rima são excelentes!

Mas o(a) inspirado(a) poeta não se identificou, assinando apenas como anônimo.

Então pergunto: de quem são esses versos?

O autor bem que podia se apresentar em verso, pra não deixar dúvida de que é ele mesmo.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Cordel e Cangaço



ARIEVALDO VIANA NO CENTENÁRIO DE MARIA BONITA

No dia 8 de março o poeta cearense ARIEVALDO VIANA estará em Salvador-BA, a convite de VERA FERREIRA, neta de Lampião e Maria Bonita, participando de uma palestra sobre MARIA BONITA NA LITERATURA DE CORDEL.

APRESENTAÇÃO

O Centenário de Maria Bonita é uma iniciativa da OSCIP Sociedade do Cangaço que conta com a parceria da UNEB e o apoio da Biblioteca Pública do Estado da Bahia. A finalidade é realizar uma série de ações comemorativas sobre Maria Bonita: exposição, mostra de cinema, ciclo de palestras, entre outras atividades que foram pensadas para romper com um histórico silencioso sobre a importância da mulher no movimento do Cangaço. Geralmente, eventos que trabalham o Cangaço não enfatizam temáticas que discutem gênero, como também não delimitam o papel social da mulher na estrutura política do movimento. Neste sentido, o Centenário torna oportuno a abertura da temática gênero no tempo e espaço do Cangaço.

Os interessados devem realizar pré-inscrição online durante o período de 22 de fevereiro à 4 de março de 2010. As inscrições serão efetivadas presencialmente no local do evento nos dias 04 e 05 de março, conforme lista a ser divulgada.

Maiores informações: www.fotolog.terra.com.br/acorda_cordel
www.fotolog.terra.com.br/miolodepote



As Vagas são limitadas!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Cordel em Prosa III




A HISTÓRIA DE ZÉ LUANDO,
O HOMEM QUE VIROU MULHER
Marcos Mairton
Parte III
(Clique para voltar para a Parte I ou Parte II)



Pois era Maria mesmo a mulher que ali estava, e, na praça, com seu filho, sob as árvores brincava. Luzinete, ao ver Maria e o filho naquele dia, quase não acreditava. Ficou entre o receio e a curiosidade de ir falar com Maria. Era grande a sua vontade, mas também sentia medo de revelar o segredo da sua nova identidade.



Entre o medo e a vontade, esta é que prevaleceu. Foi falar com Salomé para saber como viveu ela nos últimos anos. Funcionaram os seus planos: Maria não percebeu; nem notou que Luzinete era o mesmo Zé Luando. Então ficaram as duas lá na praça, conversando.


Sobre a vida de Maria, Luzinete, aos poucos, ia mais e mais se informando. Inventou que tinha vindo há pouco de Fortaleza, para abrir uma boutique ou um salão de beleza, e iria precisar de alguém para lhe ajudar nos trabalhos da empresa. Maria, interessada pela oportunidade, foi logo lhe orientando sobre as coisas da cidade, querendo lhe demonstrar que queria trabalhar e tinha capacidade.


Luzinete perguntou se o marido de Maria seria a favor ou contra que ela passasse o dia trabalhando em seu salão. Maria disse que não, que marido não havia. Que há mais de cinco anos o esposo tinha ido embora pra algum lugar que era incerto e não sabido, e que ela, desde então, tomara a decisão de não ter outro marido. Disse:


– Já gostei de homem, mas hoje não quero mais. Prefiro viver sozinha, levar minha vida em paz, trabalhando honestamente. Caminho sempre pra frente e evito olhar para trás.


Luzinete então falou:


– Sua história é parecida com o que tenho passado ao longo da minha vida. Eu também vivo sozinha. Toda esperança que eu tinha, para sempre está perdida.


Então Salomé lhe disse:


– Vou dizer para a senhora: eu poderia viver como já vivi outrora, se meu marido voltasse, e voltando me chamasse para ir daqui embora. Pois, embora Zé Luando também não fosse perfeito, ele era um homem bom, que me aceitava do meu jeito. Tratava-me com amor, me dava muito valor, e por mim tinha respeito. Se um dia foi embora, eu lhe dou toda razão, porque eu me aproveitei de sua boa intenção. Maldosamente menti, mas depois me arrependi daquela injusta traição. Mas, mudemos de assunto. Estou lhe incomodando, falando do meu passado e também de Zé Luando.


Então Maria olhou para Luzinete e notou que ela estava chorando. Maria disse:


– Senhora, o que está acontecendo? Me explique, por favor, o que a deixa assim, sofrendo? Eu fiz algo de errado? Mexi com o seu passado com o que estou dizendo?


– O homem de quem tu falas, hoje em dia não existe. Mas eu choro de emoção, não penses que estou triste. Fico feliz de te ver agora se arrepender de trair como traíste.


Luzinete disse isso olhando bem para Maria, que, olhando também pra ela, nessa hora percebia que estava conversando com o mesmo Zé Luando que foi seu marido um dia. Quando viu que Luzinete era o mesmo Zé Luando, Maria não se conteve, foi logo lhe abraçando e dizendo:


– Que saudade! Será, meu Deus, que é verdade, ou será que estou sonhando?


Luando disse baixinho:


– Não é sonho não, Maria. É apenas um momento de prazer e de alegria, que talvez lá no passado tenha sido programado para acontecer neste dia.


Prosseguiram na conversa, quando o abraço acabou, e Zé contou pra Maria muitas coisas que passou, desde quando ele partiu e pelo mundo saiu, até que um dia voltou. Falou-lhe do seu trabalho e da vida que vivia. Das coisas que aprendeu e dos lugares onde ia. Finalmente, ele contou que em mulher se tornou depois de uma cirurgia.


– É por isso que eu lhe disse que já não existe mais o homem que se casou com você tempos atrás. Eu acho que, hoje em dia, a Luzinete e a Maria são pessoas quase iguais. Mas tenho uma proposta, você topa se quiser. Como eu não quero mais homem, e você também não quer, peço que você me diga, se quer que eu seja sua amiga, ou então sua mulher. De um jeito ou de outro, uma coisa eu lhe digo: você me fará feliz, se vier morar comigo, e traga sua criança, pois tenho muita esperança, que ele seja meu amigo.


Maria ficou surpresa com a proposta formulada, mas a verdade é que ela ficou muito interessada. E disse:


– Eu nunca pensei em um dia virar gay, essa vida é engraçada. Mas, antes de lhe dizer qual a minha decisão, eu lhe peço que agora preste muita atenção, pois tenho algo a dizer. Também tenho que fazer a minha revelação. O menino que você está vendo ali, brincando, não é o mesmo menino que você está pensando. Não é filho do pastor, é fruto do nosso amor, é filho de Zé Luando. Não sei se você se lembra de todo o acontecido, quando me jogou na cama e ficou enfurecido, no dia que eu confessei o meu erro e revelei que havia lhe traído. Caso você não se lembre, eu vou lhe dizer agora, que seu lado masculino despertou naquela hora. Depois que me possuiu, você se virou, dormiu e de manhã foi embora. Aquele é o nosso filho, acredite se puder. Revelar isso pra ele, você só faz se quiser. Mas eu posso ensinar ele a lhe respeitar, seja você homem ou mulher.


Zé Luando, ouvindo isso, não continha a emoção. Olhou bem para Maria, segurou a sua mão, e disse:


– Pegue o menino. Aqui o nosso destino tomou outra direção! E quanto ao seu outro filho, vá buscar ele também. Viveremos todos juntos, uma família de bem. O que houver de diferente é problema só da gente, não interessa a ninguém.


Nesse ponto, a história começou a terminar. Luzinete e Maria foram para outro lugar levando as duas crianças, e com muitas esperanças de a vida recomeçar.


Pelo que fiquei sabendo, Luzinete e Maria são hoje muito felizes, vivendo em paz e harmonia. Os filhos estão criados, em breve estarão formados em Direito e Engenharia. Foi um deles, aliás, quem me contou tudo isso, e apenas pediu que eu assumisse o compromisso de colocar no papel, procurando ser fiel a tudo o que me contou.


E assim vou terminando a história de Zé Luando, que muito me impressionou.


POETA ARIEVALDO VIANA NO PROGRAMA "OUVIR DIZER"

Foto: Odilon Camargo e Arievaldo Viana (por Juliana Araújo)


"OUVIR DIZER" é um espetáculo de leituras dramatizadas de textos de autores da literatura brasileira e universal, apresentado pelo ator ODILON CAMARGO no Centro Cultural BNB - Fortaleza-CE.

O escritor/cordelista Arievaldo Viana é o destaque nesse mês de FEVEREIRO 2010. A apresentação do OUVIR DIZER será no dia 23, terça, de 15h30 às 16h30. A platéia apreciará a leitura dramatizada de trechos da obra do poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário Arievaldo Viana Lima, por Odilon Camargo. 60min.

MARQUE NA SUA AGENDA.

COMPAREÇA! PASSE ADIANTE!!!


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Cordel em Prosa II




A HISTÓRIA DE ZÉ LUANDO,
O HOMEM QUE VIROU MULHER
Marcos Mairton


Parte II
(para ver a Parte I, clique aqui)


O tempo ia passando, e o Zé daquele jeito. Com nada se agradava, já não falava direito, até que, um certo dia, ele disse pra Maria:




– Não estou nada satisfeito. Desde o dia em que você disse pra mim que estava com a barriga crescendo, pois um filho carregava, passei a imaginar, e até desconfiar, que você me enganava. Eu me casei com você por eu ter acreditado que do homossexualismo Deus havia me curado. E você vê como eu tento, mas o nosso casamento ainda não foi consumado. Já falei com o pastor, que me disse pra ter fé. Mas preciso que você me explique como é que esse menino nasceu. Pois, se ele não é meu, quem é o pai, Salomé?



Nessa hora, Salomé não teve como se opor à pergunta do marido, e disse:


– Seja o que for que agora você faça, já está feita a desgraça. Esse filho é do pastor!


Zé Luando, nessa hora, sofreu uma transformação. Rasgou a roupa que usava, ajoelhou-se no chão, levantou-se de um salto, deu um grito – um grito alto – ficou virado no cão. Jogou Maria na cama, arrancou-lhe o vestido, deu meia dúzia de tapas, na cara e no “pé-do-ouvido”, dizendo:


– Sua desgraçada! Você estava combinada com aquele cabra atrevido!


Você se casou comigo para esconder seu pecado. Era amante do pastor e dele tinha emprenhado. Casou só pra esconder que um filho ia ter daquele cabra safado!


Depois disso, não se sabe direito o que aconteceu. Se Luando desmaiou ou se ele adormeceu, mas, de cima de Maria, só saiu no outro dia, depois que amanheceu. Depois de se levantar, disse:


– Tenho que partir. Vou só botar uma roupa e em seguida vou sair.


Maria não entendeu quando ele escolheu um vestido pra vestir. Vestiu-se com a roupa dela, usou sua maquiagem, passou creme no cabelo, numa espécie de massagem, despediu-se de Maria. Disse que não voltaria e foi-se sem levar bagagem.


Maria ficou olhando enquanto Zé ia embora. Vestido com sua roupa, saiu pela rua afora. Então disse, bem baixinho:


– Deus clareie o caminho que você tomou agora.


Dizem que no mesmo dia Zé deixou sua cidade. Partiu para Fortaleza em busca da liberdade de viver como mulher, sem ninguém por a colher em sua sexualidade.


Mais uma vez a história poderia terminar. Começando outra vida, morando em outro lugar, selava-se o destino do Zé, que nasceu menino, para mulher se tornar. Mas, como já disse antes, nada disso eu invento. Apenas conto o que chega até meu conhecimento. É por isso que prossigo, pedindo ao leitor amigo que permaneça atento.


Cinco anos se passaram desde que aconteceu de Luando ir embora da cidade onde nasceu. O povo ainda comentava, às vezes se perguntava, se era vivo ou se morreu. Enquanto isso, Luando arranjou em Fortaleza emprego de manicure em um salão de beleza. Só andava maquiado, com o cabelo arrumado, parecia uma princesa. Ali, ninguém lhe chamava por seu nome original. Luzinete foi o nome que adotou na capital. Tinha até um namorado, servidor aposentado da Receita Federal.


Mas, apesar dessa vida que ele agora levava, uma parte do seu corpo ainda lhe incomodava. Pensava, então, consigo:


– Pra ser mulher, meu amigo, se pudesse, eu lhe cortava.


Comentava com as amigas que já guardava dinheiro, pois mesmo que precisasse viajar para o estrangeiro, um dia ainda faria a sonhada cirurgia pra ser mulher por inteiro. Acabou achando um médico pra fazer a cirurgia. Cortou de onde sobrava, fez furo onde não havia, com o serviço terminado, disse que foi transformado em mulher naquele dia.


O que ele não sabia, nem podia imaginar, era que o seu destino novamente ia mudar. O que houve, na sequência, até hoje a ciência não conseguiu explicar.


Depois de passar um tempo curtindo o resultado da sonhada operação que tinha realizado, Luzinete percebeu que em seguida aconteceu um fato inesperado. Pois se deu que Luzinete, que um dia foi Luando, do antigo namorado foi aos poucos desgostando. Ao invés de se entenderem e de em paz conviverem, estavam sempre brigando. Até que não deu mais certo e o namoro acabou. E Luzinete gostou quando tudo terminou. Alguns dias mais à frente, com a sua confidente, Luzinete comentou:


– Não sei o que aconteceu depois da operação. Eu fiquei toda feliz com minha transformação. Mas, depois que eu me virei em mulher, eu abusei a homem. Quero mais não! Você pode até achar que isso não faz sentido. Que meu juízo era pouco e agora está perdido, mas, comigo, até parece que quase tudo acontece ao contrário ou invertido. De uns dias para cá, o que me deu foi vontade de em algum feriado ir ver a minha cidade. Do jeito que estou agora, ando por lá e venho embora ocultando a identidade.


A amiga lhe falou que não fosse tão ousada. Que talvez essa viagem fosse muito arriscada. Se fosse reconhecida, bagunçava sua vida que estava tão arrumada.


Aconselhar Luzinete de nada adiantava. Quando queria uma coisa, ninguém mais lhe segurava. Em uma sexta imprensada, Luzinete, na estrada, pelo sertão viajava. Guiando seu automóvel, foi entrando na cidade e foi logo percebendo que estava com saudade do lugar onde nasceu, e também onde viveu um trecho da mocidade. Percorreu algumas ruas e parou para descansar na praça em frente à igreja, onde pôde observar as pessoas que passavam e ali se acomodavam ficando a conversar. Lembrou de tempos atrás, quando também lá esteve, e dos momentos felizes que ali um dia teve. Tomada de emoção, pôs a mão no coração, de chorar não se conteve.


Estava assim Luzinete, curtindo sua nostalgia, quando viu que ali chegava uma mulher, que sorria brincando com um menino. Então pensou:


– Mas que destino! Aquela não é Maria?