terça-feira, 30 de março de 2010

Cordel sobre o dia da mentira

O SURGIMENTO DA MENTIRA NO BRASIL
Manoel Messias Belizario Neto
http://www.cordelparaiba.blogspot.com/


 
Leitor para ser um homem
Ou uma mulher de verdade
A criatura precisa
Ter no mínimo honestidade
Que é a mãe dos princípios
Morais de uma sociedade.


Hoje em dia é comum
Homem e mulher de mentira.
Nesse verso vou narrar
De onde isto surgira.
Trazer à tona a verdade.
Esta é a minha mira.

Toda a saga tem início
Nas plagas de Portugal
Ainda na construção
Da esquadra de Cabral.
A mentira se escondeu
No porão de uma nau.


Coitada quase morreu
De calor, fome e sede.
Porém aguentou calada,
Encostada na parede.
Pensando:’que bom seria
Se já existisse rede’!

Quando em 1500
Cabral chegou no Brasil
A mentira, de fininho,
Do seu recanto saiu.
Passou pelos tripulantes.
Pulou no mato e sumiu.

A verdade já morava
Nas terras de Pindorama.
Ninguém avisou a ela
Para apagar as chamas
Que a mentira acendia
Em favor de sua trama.

A mentira foi ganhando
Importância no reinado.
Disfarçada de verdade
Tinha todos do seu lado.
Portugueses e indígenas
Por ela foram enganados.

Já a verdade, coitada,
Caiu numa confusão.
Confundida com a mentira
Foi levada à inquisição.
Escapando da fogueira
Exilou-se no sertão.

Por isso que no sertão
Inda hoje tem sofrimento.
Porque a verdade quer
Eleger seu movimento.
Mas a mentira vem antes
E conquista o parlamento.

Com a verdade exilada
A mentira ganha fácil.
Vai abrindo filiais
No país sem embaraço.
Aonde hoje é Brasília
Ela constrói seu palácio.

Nos fundos deste palácio
Ela faz seu cemitério.
Quem foi enterrado lá?
Até hoje é um mistério.
No lugar hoje se encontra
O prédio dos ministérios.

Já em 1700
Com o mundo modernizado
A mentira deicidiu
Abandonar seu reinado.
Em pouco tempo o palácio
Estava arruinado.

Na década de 50,
Coitado de JK!
Inocente escolheu
O mesmíssimo lugar
Que a mentira habitou
Para a Brasília implantar.

Pou um tempo no país
Houve paz e harmonia.
Foram buscar a verdade.
Deram-lhe a anistia.
Pena que a tempestade
Vem depois da calmaria.

Porque a mentira estava
Na Europa passeando
Quando viu numa esquina
Um jornaleiro gritando
Que a capital brasileira
Estaria prosperando.

A mentira ao vir a foto
Conheceu na mesma hora.
Passou um desconhecido
E perguntou: ‘por que chora’?
A mentira disse:’eu
Estou muito triste agora’.

‘Há alguns anos atrás
E morei em um país.
Lá fiz amigos, riqueza,
Aprontei tudo o que quis.
Escolhi um lugar lindo
E ergui uma matriz.’

‘Por estar podre de rica
Resolvi abandonar
O país e me botei
Por este mundo a andar.
Curtir a vida e também
Outro povo atasanar.’

‘Vi agora no jornal
Que minha linda morada,
Construída com suor,
Dela não resta mais nada.
Fizeram uma cidade
Onde ficava a coitada.’

‘Sabe de uma coisa, amigo,
Farei a seguinte trilha:
Vou retornar ao Brasil,
À cidade de Brasilia.
O bom filha a casa torna,
Para rever a família’.

‘Quero de volta o palácio
Porque é meu de direito.
Se eu não for atendida
Levarei tudo no eito.
Dissemino a inverdade.
Todo o país desajeito.’

Ao dizer isto partiu
De trem, rumo aoceano.
Pegou o primeiro navio.
Tracou um único plano:
Ou tinha tudo de volta,
Ou espalharia dano.

Numa tarde de verão
Ela aporta na Bahia.
Vê um Brasil diferente
Daquele que conhecia.
Agradou-se do lugar,
Porém ficar não podia.

Quando chegou em Brasília
Ficou muito emocionada
Ao rever aquelas terras
Que fora sua morada
Cheia de gente vivendo
Em casas modernizadas.

Avistou a Esplanada
Dos Ministérios pomposa.
Disse: ‘não tenho o palácio,
Minha mansão fabulosa.
Mas tenho em seu lugar
Uma construção honrosa’.

'Sabe de uma coisa, amigo,
Não quero a morada antiga.
Vou ficar é nesta nova.
Besteira entrar em briga.
O chalé aqui é grande.
Qualquer quartinho me abriga.’

A mentira se instalou
No prédio da Esplanada
Do Ministérios e até
Hoje lá está plantada.
Vez em quando sai da toca
Pra tomar sol na calçada.

Às vezes ela percorre,
Em excursão, o Brasil.
Depois volta alegremente
Com um olhar infantil
À sua eterna morada.
Tem recepção gentil.

Por isso, caros leitores,
Que temos corrupção.
Não culpe a classe política.
Dê a ela seu perdão.
A culpa é dessa mentira
Em constante tentação.

Autor: Manoel Messias Belizario Neto
http://www.cordelparaiba.blogspot.com/

domingo, 28 de março de 2010

Promoção Novos Livros - Resultado


OLHA OS VENCEDORES AÍ, GENTE!

Caros leitores,

Aí está a lista dos ganhadores dos livros da PROMOÇÃO MUNDO CORDEL, do dia 18 de março de 2010. Se você enviou um pedido e seu nome não está na relação abaixo, entre em contato imediatamente comigo para que eu possa fazer a correção. Se já recebeu, seria legal por um comentário aqui confirmando o recebimento e, quem sabe, sobre o livro.

1. Arievaldo, Caucaia-CE: “O jumento que Jesus montou”

2. Edilson, Recife-PE: “A cartomante”

3. Gilbamar, Parnamirim-RN: “O jumento que Jesus montou”

4. Priscila, Camaçari-BA: “O jumento que Jesus montou”

5. Rafael, São Paulo-SP: “O advogado, o diabo e a bengala encantada”

6. Marcos, Brasília: Todos os livros

7. Porto Neto, Fortaleza-CE: “O jumento que Jesus montou”

8. Anabela, Agualva-Cacém, Portugal: “O viajante e o sábio”


9. Anizio, Campina Grande-PB: Todos os livros

10. Kydelmir, Mossoró-RN: Todos os livros [pedido feito via e-mail]

11. Eduardo, Natal-RN: “A cartomante” [pedido feito via e-mail]

12. Fábio, Mossoró-RN: “A cartomante”

13. Ana Luiza, Fortaleza-CE: "A cartomante"

14. Alexandre, Fortaleza-CE: Todos os livros [pedido feito via e-mail]

15. Rokatia, Apodi-RN: "O viajante e o sábio"

16. Vicente, Fortaleza-CE: "O viajante e o sábio"

17. Jânio, Fortaleza-CE: "O viajante e o sábio"

sexta-feira, 26 de março de 2010

Estudo sobre a literatura de cordel

Histórias de Poetas
(do livro "A literatura de cordel no Nordeste do Brasil", de Julie Cavignac. Tradução Nelson Patriota)

Literatura de cordel é o nome que se dá à literatura popular ibérica vendida nas ruas pendurada em barbantes (BAROJA, 1988). A lenda dos fascículos das edições Luzeiro faz referência explícita ao uso do barbante tanto em Portugal como no Brasil:

O nome literatura de cordel provém de Portugal e data do século XVII. Esse nome deve-se ao cordel ou barbante em que os folhetos ficavam pendurados, em exposição. No Nordeste brasileiro, mantiveram-se o costume e o nome, e os folhetos são expostos à venda pendurados e presos por pregadores de roupa, em barbantes esticados entre duas estacas, fixadas em caixotes.

Essa definição sumária e folclórica, que insiste na origem ibérica do folheto, não reflete em nada a realidade da literatura popular em verso ainda bastante viva e muito original, mas resume bem os traços caricaturais geralmente ressaltados para descrever o fenômeno aos turistas e aos curiosos.

A literatura de cordel do Nordeste brasileiro começou a aparecer sob sua forma atual no fim do século XIX (TERRA, 1983, P. 1-16). São relatos em versos difundidos sob a forma de livretos de oito, dezesseis ou trinta e duas páginas. Até 1917, Ruth Terra observa que os folhetos de dezesseis páginas dominam, e isso até 1930. Aparecem romances de trinta e duas e quarenta e oito páginas. Nesse caso, algumas histórias se dividem em vários volumes: os diferentes episódios podem ser reagrupados depois em um só livro – são as “histórias completas” (TERRA, 1983, P. 33-45)[1]. Distinguem-se, de fato, os folhetos, mais curtos, dos romances por seu número de páginas e pelo assunto tratado. Os folhetos que tratam de um problema particular são, antes de tudo, destinados a informar, por isso abordam de preferência temas da atualidade. Os romances, por sua vez, descrevem mundos maravilhosos onde os heróis vivem mil e uma aventuras, sofrem, amam, vingam-se, são traídos e são sempre recompensados no fim. A “história completa”, forma abandonada hoje, era publicada em vários volumes e podia comportar até sessenta e quatro páginas. Impressa em papel de má qualidade, a história é ilustrada por um desenho, uma fotografia ou ainda uma gravura sobre madeira, chamada xilogravura, técnica que experimentou um desenvolvimento autônomo, paralelamente à literatura de cordel. As vinhetas – desenhos destinados a ilustrar a capa ou, mais raramente, a história – dominam até 1930. As fotografias, que podem ser reproduções de artistas de cinema ou de cartões postais, aparecem por volta de 1914. Contrariamente ao que se poderia acreditar, no cordel e nas xilogravuras aparecem simultaneamente aos clichês, e esta técnica teria sido adotada para atender à escassez de fotografias em tempos de guerra. Com efeito, a primeira menção a uma xilografia data de 1935, e esse processo se desenvolveu nos anos quarenta. Os desenhos, por sua vez, aparecem principalmente nas capas dos folhetos recentes (SOBREIRA, 1948; SOUZA, 1981).

Como se trata de poesia, a versificação não pode faltar: sextilha, septilha ou décima são as formas mas correntes[2]. Esses relatos em verso são vendidos, declamados ou cantados nas feiras, nos centros de romarias e nos lugares públicos do Nordeste, tanto no interior quanto no litoral (DIEGUES JR., 1975; SOUZA, 1981). Eles são comercializados pelos próprios autores ou por revendedores que se deslocam de cidade em cidade. Os folheteiros, poetas intinerantes ou vendedores ambulantes, se distinguem dos poetas impressores. Estes últimos, que editam e publicam também prospectos eleitorais, calendários, cartões de felicitações, anúncios publicitários, conservam uma parte dos folhetos que produzem, a "conga", a fim de cobrir os custos de edição (ARANTES, 1982). Por exemplo, Francisco das Chagas Batista, proprietário da Tipografia Popular Editora, em João Pessoa, no começo do século XX, imprimia folhetos e "livros de prateleiras, faturas, envelopes, blocos para cartas comerciais, cartas, circulares, cartões comerciais, de visita, participação de boas festas" (TERRA, 1983, p. 27). O folheto aparece na feira geralmente no meio de outros objetos, à primeira vista sem relação com a atividade poética: revistas e livros de ocasião, coletânea de canções, almanaques, orações, rosários, pomadas milagrosas, raízes e plantas medicinais, brinquedos para crianças etc. Assim, se o poeta é artista, cantor, ele é antes de tudo comerciante e vendedor ambulante; seu microfone serve muitas vezes para fazer anúncios públicos na feira. Para anunciar, por exemplo, uma festa local. Ele recita, canta ou lê a última história que acaba de ser publicada, fazendo uma pausa antes do desfecho para que o leitor, curioso de conhecer o final, se apresse em comprar a inacreditável história da mula que fala (O jumento que falou no Nordeste), as facéias de João Grilo, as aventuras do célebre cangaceiro Lampião, o amor contrariado de Pedrinho e Juliana ou de Zezinho e Mariquinha, ou, enfim, a última profecia de Frei Damião, descrevendo em detalhes o apocalipse próximo[3].

Hoje, essa publicação artesanal é cada vez mais rara e a venda, no Nordeste, só está assegurada regularmente nos grandes centros urbanos e cidades do agreste (Recife, Fortaleza, João Pessoa, Natal, Caruaru, Campina Grande, Mossoró, Caicó etc.) e nas cidades-santuário - centros importantes de romaria que reúnem fiéis vindos de todos os estados do Nordeste e do país, como Juazeiro do Norte, Canindé ou Baturité, no Ceará. Encontram-se, irregularmente, folhetos nas feiras semanais das pequenas cidades do interior do Rio Grande do Norte, sendo que os folheteiros são atraídos pelos centros comerciais mais importantes. As tipografias artesanais são cada vez mais raras e os poetas recorrem com muita frequência à fotocópia para reduzir o custo elevado da impressão[4]. Os únicos folhetos que se encontram em grande difusão no Sul do país e, paradoxalmente, no Nordeste, são aqueles publicados pelas edições Luzeiro, de São Paulo, onde existe uma forte concentração de emigrantes nordestinos. Essa tendência, notada desde o começo dos anos 1980, principalmente por Antonio Arantes (1982) e Candace Slater (1984), confirma-se claramente dez anos depois, sem que se possa falar da morte do cordel, embora tantas vezes anunciada[5].

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NOTAS:

[1] O termo folheto será utilizado para designar tanto os romances impressos como os folhetos, a título de simplificação da exposição. É preciso também distinguir os romances publicados em folhetos dos romances cantados, que se encontram vivos na memória dos habitantes do litoral nordestino. O romanceiro do Rio Grande do Norte é conhecido através de Dona Militana, Militana Salustino do Nascimento, natural de São Gonçalo do Amarante, que canta dezenas de romances; é a mais famosa das romanceiras, por ter gravado um disco em 2002 intitulado Cantares (projeto Nação Potiguar) e ter recebido a medalha da Ordem do Mérito Cultural em 2005. São poemas octossilábicos cantados desde o século XV e XVI na Península Ibérica e que, no Brasil, encontram-se desde o século XVIII. No século XIX, foram coletados sistematicamente por Pereira da Costa, Celso Magalhães, Sílvio Romero, Gustavo Barroso, Câmara Cascudo e Jackson da Silva Lima (GURGEL, 1993; SANTOS, 1997).

[2] As sextilhas, septilhas ou décimas são estrofes de seis, sete e dez versos, com as seguintes estruturas: sextilha - ABABAB ou AABCCB; a septilha - ABCBDDB; a décima ou verso de dez linhas, obra de dez pés - ABBAACCDDC. Diz-se também cantar mote, pois o último ou os dois últimos versos é geralmente reservado ára servir de mote que, cantado pelos dois cantadores, serve de base para continuar a improvisação poética (Brasil caboclo, dez de queixo caído). Para mais detalhes, ver: Leite Filho, 1985; Linhares e Batista, 1982; Maxado, 1980; Romero, 1977; Santos, 1977.

[3] Cf. anexo para as referências dos folhetos.

[4] Cf. os folhetos de J. Dominsilva.

[5] Cf. A situação não se modificou substancialmente desde que o texto foi escrito: se não encontramos uma significativa renovação da produção, existem, porém, algumas tentativas de divulgação dos textos clássicos organizados em antologias, como na coleção Biblioteca de Cordel da editora Hedra, que já editou vários livros sobre a obra de poetas reconhecidos: Expedito Sebastião da Silva, Patativa do Assaré, Cuíca de Santo Amaro, Manoel Caboclo, Rodolfo Coelho Cavalcante, Zé Vicente, João Martins Athayde, Minelvino Francisco Silva, Oliveira de Panelas etc.

terça-feira, 23 de março de 2010

Cordel em Prosa



TOMÉ

Adauto Suannes


"Quando se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, junto do monte das Oliveiras, enviou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide àquela aldeia que está lá adiante e logo achareis uma jumentinha presa e com ela um jumentinho; desatai-a e trazei-mos"

(Mt 21, 1-2 )



Eu tinha um cavalo chamado Tomé. Comia da alfafa, do arroz e feijão. Bebia cerveja, também guaraná. As flores amava, os prados corria, o ar respirava, com muita alegria. Meu bom cavalinho, chamado Tomé, também galopava, na ponta do pé. Plect, plect, plect, plé.

O dia nascendo, o sol bocejando e o bravo Tomé de há muito trotando. Tomé trabalhava, trabalhava e trabalhava. Meu pai, um leiteiro, inda madrugadinha, saía p'las ruas, com disposição. Mortinho de sono, papai na boléia balança pra lá, balança pra cá, ao trote miúdo do meu cavalim. Sabido, ensinado, Tomé dispensava ordens e mandos. Casa da Eulália, da Vera ou Rosinha, parava o cavalo, bem junto ao portão. Meu pai acordava, descia bem presto, pegava a garrafa e cumpria a missão.

Vai dia, vem dia; sai mês, entra mês; os anos passando, meu pai mais Tomé seu leite entregando. A neve do tempo - se diz na poesia - pintava o cabelo do nosso leiteiro. Tal como se o leite quisesse marcá-lo de um modo especial pra que se lembrassem, agora e no sempre, o que de lembrar carecia mais não. Feliz ele era, ali se dizia, entrega seu leite com sastifação.

Um dia na vila aparece um pastor. Parece afobado, tarveis preocupado, buscando, indagando, quem sabe lá o quê? Encontra meu pai, conversam bastante. Pondera um de cá; insiste um de lá. E eu só na janela, de longe espiando, mirando lá fora, sem nada entender. O homem - parece - termina a conversa. A mão no chapéu, sorriso na boca, despede-se humilde.

Meu pai entra logo. Eu corro pra ele, me atiro em seus braços. Costume já velho, que a gente mantinha, quando ele voltava, saudade era eterna.

- Senta fio, mode proseá.

O ar era grave, a gente sentia. Olhava pra o chão, então pra parede. Meu peito sentindo o ar rarear.

- Coisa grave, pai?

- Pense não. Escute premero, adespois entristeça, se caso.

Cheguei-me e sentei, fiado na fala, no rosto, nos gestos do pai que eu amava, amigo que era, certeza eu só tinha que tudo, por certo, melhor sairia, possível devera, no modo de ser.

- Diz que a léguas, coisa longe, tem um homem, bom de fato, carecendo de um jumento, pra mode entrar na cidade, no cumprir de uma promessa. Campearam pelas vilas, procuraram nos atalhos, removeram céus e terras, e jumento não acharam. Tomé, seu cavalim ...

Mais não disse. Carecia. Mãos cruzadas, rosto baixo. Eu quis falar coisa alguma. Não saiu. Imagens ficaram bailando nos olhos, lágrimas soltas corriam na cara. Ficamos parados, ali dois amigos, sem falar nem saber que dizer.

- Se é promessa, pai, que se cumpra. Quem somos nós diante de Deus? Deus dá - louvado seja! - Deus leva - louvado seja! Tudo é dEle, nada é nosso. Não foi isso que o sor me ensinou nesses tempos todos? Então por que o choro?

Meu pai ergueu o rosto e uma luz vinha lá da cara dele. Os olhos pareciam duas pedras preciosas, turmalindas brilhando, brilhando. Trocamos abraço longo, sentido, sem dizer palavra. Nem não carecia. Dia seguinte, manhãzinha, veio o moço buscar o Tomé. Levou. - É promessa, menino.

- Que se cumpra!

Cumpriu-se. No dia marcado, fui assistir a entrada do forasteiro na cidade. Tomé vinha todo enfeitado com flores nos arrelhos. Trazia a cabeça altiva, empinada. A pelugem branca até brilhava de tão limpa. À sua passagem, as pessoas atiravam flores no chão, que ele pisava com raro garbo. Folhas de palmeiras eram acenadas pra o Tomé, que balançava a cabeça, agradecido. Dava gosto ver sua alegria. Até parecia que ele se havia preparado a vida toda praquele momento. Um momento de glória, de consagração.

Tomé foi-se com o moço da promessa.

Vez em quando, tardinha, no repousar do sol, olhando o céu, parece que as nuvens formam a cara do meu cavalinho. Ele me sorri satisfeito. Conversamos longamente, até o sol se pôr de fato.

Maluquice a minha. Então já se viu cavalo entrar no céu?


______
Do livro "Cristo, hoje", Editora Loyola (esgotado)
Fonte: Migalhas, 22 de dezembro de 2006 - Nº 1.563.
Agradecimento: Este texto me foi encaminhado gentilmente por Abílio Pereira Neto, a quem agradeço, como também ao autor, Adauto Suannes, por esta rica contribuição para MundoCordel.

quinta-feira, 18 de março de 2010

PROMOÇÃO MUNDO CORDEL


GANHE LIVROS E DESCONTOS!

Caros amigos,

Acabo de receber os exemplares que correspondem aos direitos autorais dos meus novos livros, lançados pela Ensinamento Editora. Só para lembrar, são eles:
1) A Cartomante (adaptação do conto de Machado de Assis);
2) O Advogado, o Diabo e a Bengala Encantada;
3) O Jumento que Jesus Montou;
4) O Viajante e o Sábio;
5) Os Dois Soldados;
6) A História de Zé Luando, o Homem que Virou Mulher.



O preço de venda dos livros é R$ 12,00 (doze reais), mas os leitores de MundoCordel terão prioridade e facilidade em obter alguns desses exemplares. E quem for rápido, ainda pode ganhar livros GRÁTIS!



Primeiro:
Os primeiros vinte leitores que fizerem o seguinte comentário a esta postagem: “Quero ganhar o livro...”, indicando o título do livro, receberão, totalmente grátis, com frete por minha conta, um exemplar do livro escolhido.



Segundo:
Dentre esses primeiros vinte leitores, se o comentário for “Quero todos esses livros”, um livro seguirá grátis, e os outros cinco custarão apenas R$ 10,00 (dez reais) cada, sem frete, totalizando R$ 50,00 (cinquenta reais) a serem depositados em conta que informarei aos interessados.



Terceiro:
Para quem enviar seu comentário neste mês de março de 2010, mas não conseguir chegar entre os vinte primeiros - e perder essa moleza, o que será fácil conferir no próprio blog – estou dispensando o frete. Se comprar três livros ou mais, mantenho o preço de R$ 10,00 (dez reais) por exemplar.




ATENÇÃO: Não deixe de informar seu e-mail no comentário. Enviarei um e-mail a cada interessado, para formalizarmos a remessa do prêmio ou a compra.



terça-feira, 16 de março de 2010

Desce mais uma!




CRÔNICA NO BLOG DO RAFAEL CASTELLAR
Uma das coisas boas dessa vida de blogueiro é fazer novos contatos, aprender coisas novas e colaborar com a divulgação das idéias e da arte das pessoas.
Hoje, por exemplo, estou tendo a oportunidade de ver uma de minhas crônicas publicadas em um blog que leio regularmente, e morria de vontade de ver um texto meu lá. O blog é o "
Desce mais uma!", do Rafael Castellar das Neves, e a crônica é a "Pequena tragédia narrada do final para o começo"
O meu muito obrigado ao Rafael pelo espaço. E, aos leitores de Mundo Cordel, meu convite para fazer uma visita ao "Desce mais uma!".
Aliás, um ótimo lugar para conhecer essa e outras histórias...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Poesia de //Anizão

ESTATUTO DO POETA
Antonio Anizio dos Santos

O Silas Correia Leite
Num rascunho descreveu
Um esboço do projeto
Muito bem esclareceu
Dos poetas o estatuto
Resgatando o que é justo
E quais os direitos seus.

O artigo um, relata
Os direitos dos poetas
Tem direito a ser feliz
Tendo alegria completa
Indo mesmo muito alem
Porque a eles convém
Fato que ninguém contesta.

Artigo dois dar direito
A dividir as loucuras
Tendo a sensibilidade
Paixão e muita ternura
Tendo Cítara na alma
Num prelúdio que acalma
Com amores nas alturas.

Parágrafo único esclarece
Não poderás ser traído
Um direito dos poetas
No texto bem definido
Só se for pra infeliz
Daquela que não lhe quis
Por todos seja esquecido.

Artigo três o poeta
Não poderá passar fome
Tristeza nem solidão
Pois este mal o consome
Tristeza é identidade
Solidão mal que lhe invade
Mas não lhe impede que ame.


E no seu artigo quarto
A mãe é o santuário
Que aos poetas ilumina
Sendo também estuário
Que faz jorrar poesia
Declama amor todo dia
Cumprindo seu calendário.

Nunca haverá fronteira
Na vida de um poeta
Sua bandeira é de luz
Sua justiça é correta
Luta pelo social
Pelos direitos iguais
Se errarem ele protesta.

Este foi o quinto artigo
Nenhum poeta será
Maior que o seu país
Divisa não haverá
O pão o vinho o maná
Tudo para alimentar
Aos que na vida passar.

Ao poeta será dado
A cerveja vinho e pão
Este é o sexto artigo
Dará amor e paixão
Sustentará mentalmente
Também fisiológicamente
Na crise ele entra em ação

Poeta não será preso
Saberá se defender
Fará legítima defesa
Tem o Dom de escrever
Em qualquer situação
Defendendo a legião
A que ele pertencer

O sétimo estar escrito
O oitavo é solidão
Que atrai todos poetas
Fala de amor e paixão
Que dos poetas presente
Poeta só é contente
Mexendo com emoção.

O poeta viajando
Não estando combinado
Toma licor de ausência
Não ficará planteado
Nem tulipas de néon
Nem os dentes de leão
Sem antes ser combinado.

Em seu sentido o poeta
Seu olho será radar
A mão é sensorial
Pra de longe capitar
É um sinzel esculpindo
A poesia fluindo
Lindos versos a declamar.

O nono e o décimo artigo
Terminei de declarar
Vou pra o décimo primeiro
De suas vestes falar
Poeta veste de tudo
Até blusão de veludo
Pra melhor se agasalhar.

Lutará contra a miséria
Este é seu cotidiano
Aos que roubam e lucra fácil
Acabar será seus planos
Só gosta do humanismo
Tem o seu idealismo
Traçado já em seus planos.

Poeta pode exercer
Toda e qualquer profissão
De ourives a jardineiro
Ou uma outra função
Não pode ser passional
Interesseiro amoral
Não é sua pretensão.

Décimo primeiro, e segundo;
Foi escrito e declarado
Poeta sabe criar
Escrevendo é amparado
No papel bota o que sente
Chora, mas vive contente
Por Deus é abençoado.

Décimo terceiro é claro
Sendo um poeta acusado
Por algo que fez errado
Na dúvida não é culpado
Se disser ser inocente
É livre completamente
Por todos é agraciado.

Pois os poetas não erram
Quem é poeta não mente
Pois traduz o impossível
Inventa o inexistente
Todo poeta é da paz
A violência jamais
Em um poeta é ausente.

As portas estão abertas
Pra o poeta receber
Caminhos com muitas flores
Na brisa ao amanhecer
Navegando em poesia
Cantando com maestria
Músicas que faz reviver.

Poeta não é moderno
Não tem classificação
Poesia não se vende
É dada de coração
Não tem o poeta clássico
Poeta não é um mágico
Poeta é da geração.

Concluindo este estatuto
Faço a simplificação
São vinte e cinco artigos
Dar quase uma coleção
Mostrando a todo poeta
Os direitos desse atleta
Com perfeita discrição.

O Silas Correia Leite
Este estatuto escreveu
Fiz só uma apologia
Seguindo o roteiro seu
Pra não ficar redundante
Mostrei pontos importantes
Que o autor descreveu.
 
Em resumo o poeta
Tem liberdade total
Não para fazer o mal
Mas pra ser universal
Levando com eloquência
Fruto da inteligência
Mostra que somos igual

A*aqui retratei em versos
N*nos artigos esclarecidos
T*todos por Silas escritos
O*onde tudo faz sentido
N*narrado com bem clareza
I*inovando com pureza
O*obra no texto contido.

A*aos poetas o meu abraço
N*nunca serás esquecidos
I*irais alegrando a todos
Z*zanga não é teu partido
I*irmanado no amor
O*onde fores és ouvido.

D*declamando teus poemas
O*ostentando as emoções
S*soar a música é teu lema.

S*saberás com palavras comover
A*afastando o ódio e o rancor
N*navegando em rimas e pensamentos
T*tuas trovas louvando ao amor
O*ostentando a bandeira iluminada
S*sacrilégio de um poeta sonhador.

//Anizio, 22/08/2006
htt://recantodasletras.uol.com.br/autores/anizaoaz-anizio-santos@ibest.com.br

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cordel em Galopes



Esta é de quando lancei meu primeiro livro: “Uma sentença, uma aventura e uma vergonha”. Todos os cordéis estavam reunidos e ordenados, mas senti que faltava um para fechar, então escrevi a

DESPEDIDA EM GALOPE E QUINTOS GALOPADOS À BEIRA-MAR

Cheguei finalmente
Ao que pretendia.
A minha poesia
Agora é decente.
Eu fico contente,
Pois vou publicar
Esse meu cantar,
Um livro formando.
E vou galopando
Na beira do mar.

Um livro é um filho que a gente cria,
Educa e prepara, com todo carinho,
Mas quando ele cresce, é que nem passarinho,
E voa pra longe, como eu fiz um dia.
Mas, sempre é motivo pra nossa alegria,
Saber que distante, em outro lugar,
O sucesso dele vem nos orgulhar.
Assim, não podendo voar o seu vôo,
Meu livro, meu filho, pra sempre abençôo,
Cantando galope na beira do mar.

Vai, filho querido,
Cumprir tua missão.
O meu coração
Não está ferido.
Estou convencido
Que tu vais brilhar.
Tu vais a voar,
Por ti fico orando,
E vou galopando
Na beira do mar.

Desejo, portanto, que cada leitor
Que lhe tenha lido ou então folheado,
Que nunca esqueça que um livro editado
É sempre um filho para seu autor.
Se não for possível tratar com amor
Que também não chegue a lhe maltratar.
E, se por acaso for lhe desprezar,
Me mande de volta que eu fico contente.
Recebo meu filho que estava ausente
Cantando galope na beira do mar.

Se bem satisfeito
Eu até ficaria
Tu não quereria
Voltar desse jeito.
Pois você foi feito
Pra o mundo girar.
Em todo lugar
Meus versos cantando,
E seguir galopando
Na beira do mar.

É com emoção e também com prazer
Que eu vou chegando ao fim desta obra,
Pois vejo que arte eu tenho de sobra
Pra cem outros livros assim escrever.
E, pensando nisso, o que vou fazer,
Antes do trabalho enfim terminar,
É, por um momento, erguer meu olhar,
Dizendo obrigado ao meu Criador,
Esse meu talento agradeço ao Senhor,
Cantando galope na beira do mar.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Dia Internacional da Mulher



FLOR MULHER

Manoel Messias Belizario Neto


O senhor da criação,
No auge de seu amor,
Visita o jardim terrestre
E cria a mais linda flor
Cuja beleza é sempre
Celebrada com louvor.

Refiro-me à flor mulher
Que em toda situação
(se ela nasce na relva
Ou nas brenhas do sertão)
O amor é a lei maior
Que rege seu coração.

Como mãe ela exala
Amor incondicional
Sendo ou não correspondida
Pelo lado filial.
Dá a vida pela prole
Num momento crucial.

Como esposa se entrega
De corpo e alma ao marido.
Renuncia muita coisa
Em função do seu querido.
Colore a vida dele
Dando a esta mais sentido.

Conduz a sua família
Com mão de sabedoria.
Organização é arte
Que sempre lhe auxilia.
O seu estandarte é
Uma constante alegria.

Pergunto-te flor mulher:
Onde achas tanta ternura?
Como tu consegues ser
A mais bela criatura?
O que seria do homem
Se faltasse esta figura?

Como manter uma estrela
No céu claro escondida?
A flor mulher se destaca
Em todo o jardim da vida.
É a bondade divina
Na humanidade esculpida.

Houvera tantas batalhas
À conquista do jardim
Em busca de igualdade
Em relação ao capim.
A flor mulher não desiste
Resiste até o fim.

E assim vai conquistando
Espaço na sociedade.
“Uma flor mais que escândalo”!
“Respeite por caridade”!
Esta flor há muito tempo
Batalha por igualdade.

Diz-me amigo por que
Alguns homens sem valor
Vem agir com desrespeito
Com a nossa linda flor?
Porque um jardim sem rosas
É um deserto de dor.

Como pode haver no mundo
Alguém com tanta frieza
Para maltratar o ser
Mais lindo da natureza.
Querer através do mal
Ofuscar sua beleza?

Homem honre esta mãe,
Esta esposa, esta amiga.
Seus conselhos são a voz
De Deus por isso os siga.
Ela sempre quer livrá-lo
De toda e qualquer intriga.

Homem respeite esta mãe
Esta esposa, esta mulher.
Ame-a com todas as forças,
Pois sabes que ela é
Aquele ser que fará
Por ti tudo o que puder.

terça-feira, 2 de março de 2010

Cordéis ilustrados



NOVOS LIVROS PUBLICADOS


Caros leitores de MundoCordel,

Hoje é um dia muito feliz. Qualquer escritor sabe a alegria que é quando cada novo livro fica pronto. Imaginem seis de uma vez! É isso mesmo. Ficaram prontos meus livros que estavam com a Ensinamento Editora para serem incluídos no Projeto Cesta Básica da Cultura e do Conhecimento.

Depois faço umas postagens falando um pouco de cada um. São eles:

"A cartomante" (adaptado do conto de Machado de Assis), "O advogado, o diabo e a bengala encantada", "O jumento que Jesus montou", "O viajante e o sábio", "Os dois soldados" e "A História de Zé Luando, o homem que virou mulher".
É um projeto muito bacana, que possibilita que livros sejam incluídos nas cestas básicas distribuídas por empresas aos seus empregados.
Bem, não vou me alongar muito. Deixo com vocês as palavras do editor, meu amigo Pádua, extraídas da contracapa dos livros:
A cultura e o conhecimento devem participar da cesta básica de alimentos do cidadão. A Cesta Básica da Cultura e do Conhecimento confere à cesta básica de alimentos o caráter abrangente da cidadania. Afinal, a melhoria da qualidade de vida do homem e a sua valorização exigem cultura e conhecimento. Estimulemos o hábito da leitura, que descortina os horizontes da pessoa. “Um país se faz com homens e livros” – nos orienta Monteiro Lobato.
LITERATURA DE CORDEL

A literatura de cordel entrou na cena cultural do país para não mais sair. Sertaneja e Imediatista, vinda de além-mar, aportou também na intelectualidade, e nela faz escola. Se antes era somente o jeito que os poetas tinham para cantar a pureza de uma Donzela Teodora, de um Pavão Mysteriozo... mesclando realidade e ficção, também registra fatos históricos e políticos, de interesse comum. De modo lúdico, vestiu-se de cores e hoje se alia à fantasia da literatura infanto-juvenil.
Cordel não é somente a crônica ou o registro de uma época; é também a fonte onde muitos poetas embriagam-se de poesia. Apesar do requinte editorial de diversos folhetos, ainda há muitos que trabalham com a xilogravura em pequenas tipografias de fundo de quintal...

Glosa de Maviael Melo

MAVIAEL MELO GLOSANDO O MOTE:
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão

Quando a noite acordou tava cansada
A Rainha chamou seu Malaquias
Ele veio depois de treze dias
E chegou já na alta madrugada
Vendo o Rei conduzindo uma boiada
Virgulino correu para o Capão
Na boleia de um velho caminhão
Vendedor de vassouras piaçava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão



Vi Orlando chamando a princesa
Disfarçada de jia na lagoa
E correndo voltou pra João Pessoa
Josemar tropeçou no pé da mesa
Uma luz se apagou, ficou acesa
Uma vela fingiu ser lampião
Pé de Serra só presta no São João
Com cachaça, feijão, mulher e fava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão


Já chegando quase em Serra Talhada
Eu comprei um jumento meio môco
Num desvio da estrada veio um louco
Me vendendo um prato de coalhada
Vomitado de uma vaca malhada
Três galinha, um guiné e um pavão
Faltou lenha, trás água pro fogão
Quando eu disse que tava, já num tava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão

João Batista um dia andou de trem
Quando ainda estudava na católica
Jubilou-se por causa de uma cólica
Que ganhou em prato de xerém
Na janela do velho armazém
Fez teatro imitando um azulão
Deu um salto e caiu de um mosquetão
De um menino zambeta que atirava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão

Meia noite a coruja de seu Bento
Que ainda nem Papa era formado
Acordou com o olho esbugalhado
E pediu um asilo num convento
Na poeira que trouxe o pé de vento
Papagaio era um velho capitão
Tomou duas bicadas no balcão
E uma muda pra ele insinuava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão

Comovido com a falta de vergonha
Porque Pedro negou a sua origem
Se trancou em quarto com uma virgem
E fumou quase um quilo de maconha
Doze meses depois uma cegonha
Tava a venda no mêi de um sacolão
Um pepino, uma cenoura e um pimentão
Enterrado numa velha que gritava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão

Quando Pedro segundo era o primeiro
Sua pernas corriam pra danar
Acordou com vontade de mijar
Deu a volta no Rio de Janeiro
Sua mãe, dona Helena o dia inteiro
Aprendia a dançar xote e baião
Foi donzela num meio de um salão
Quando alguém lhe pedia ela não dava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão

Jesus Cristo ainda era um menino
Quando viu a primeira gravidez
Três vez sete contando é vinte e três
Badaladas sem rimas de um sino
Na trombeta do tempo o destino
Guia as bestas cantando em procissão
São Miguel dedilhava o violão
E o padre João Paulo nem cantava
Eu pequeno meu pai já me ensinava
Zé Limeira era o Rei desse sertão.


Fonte: Jornal da Besta Fubana (http://www.luizberto.com/?p=105741)