* Nasci na terra da luz Pegando sol na moleira Tomando banho de açude Pulando da ribanceira Brincando de tibungar Nos rios do meu lugar Na meninice brejeira. * Em noite de lua cheia, Sob o luar do sertão Serenatas escutei Nos acordes da paixão Presente de namorados, Poéticos, apaixonados, Escravos do coração. * Feliz eu era e sabia Nas terras de Alencar No leque da carnaúba Ouvia o vento cantar Assobiando bonito No entre palmas um agito Formando um grácil bailar. * Nasce detrás de um serrote, O rei sol na minha terra, Mas na boquinha da noite Quanta beleza ele encerra Com a sua vermelhidão Tinge de rubro o sertão E se esconde atrás da serra. * No sertão do Ceará Eu nasci e me criei. Já andei por muitos reinos Mas lá sou filha do rei! No condado de Ipueiras Depois de romper barreiras Meu palacete montei.
Encontrado principalmente no Nordeste do país, o Cordel é um tipo de poesia popular impressa em folhetos ilustrados, que em sua maioria, retrata situações do cotidiano da população dessa região.
A arte que influenciou nomes da literatura brasileira como Ariano Suassuna e Guimarães Rosa, será tema de debate do 1º Fórum de Cordel, que será realizado em São Paulo, no dia 27 de agosto. O evento reunirá acadêmicos, pesquisadores e poetas, para debater a importância do ensino da literatura de cordel e do ensino dessa arte nas escolas.
Conforme o professor de sociologia Fernando Antônio Duarte dos Santos, o Nando Poeta, a literatura de cordel tem um papel fundamental na história do Brasil, mas esse gênero ainda é muito desconhecido.
Agora o Cidadão Repórter quer saber a sua opinião: Você concorda com o ensino de literatura de Cordel nas escolas? Comente e participe do nosso fórum!
Dani comentou: agosto 16th, 2011 at 17:44 Com certeza eu concordo com o ensino de tal arte nas escolas. Leitura, nunca é demais. E como esse tipo de literatura usa rima e ilustrações, acho que fica até mais fácil de prender a atenção dos alunos.
ARIEVALDO VIANA Says: agosto 17th, 2011 as 5:10 Sou o poeta popular ARIEVALDO VIANA, criador do projeto ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA, que há mais de dez anos vem trabalhando com o cordel nas escolas. Costumo dizer sempre em minhas apresentações que o cordel é uma excelente ferramenta de estímulo a leitura, mas não defendo que seja disciplina obrigatória no currículo escolar. É preciso que os professores e alunos conheçam o cordel, criem uma empatia com o tema, para depois trabalharem esses textos de forma didática. O melhor caminho é a formação de CORDELTECAS (Bibliotecas de Cordel) nas escolas. Ano passado, estive em Salvador na companhia dos poetas BULE-BULE e ANTONIO BARRETO, dois grandes poetas aí da Bahia e eles também são da mesma opinião.
Arievaldo Viana (poeta popular)
http://www.acordacordel.blogspot.com
Lúcio Ferreira comentou: agosto 17th, 2011 at 6:27 Sou professor e arte-educador. Venho trabalhando com o cordel há mais de três anos no município de Cabo-PE. A aceitação é formidável. As crianças têm demonstrado grande interesse pelo tema e os níveis de alfabetização melhoraram consideravelmente. O interesse pela leitura também. Desde que montamos nossa biblioteca de cordel, os alunos tem se interessado pela leitura e também pela produção de textos. Sou totalmente a favor.
José Edson Jr. Says: agosto 17th, 2011 as 6:46 Vejo positivamente o uso desta ferramenta de literatura nas escolas.
PEDRO PAULO PAULINO comentou: agosto 17th, 2011 at 6:47 Concordo com a adoção da Literatura de Cordel nas escolas de todo o Brasil. Cordel é fonte riquíssima de pesquisa e tb ajuda a formar opinião.
Marcos Mairton Says: agosto 17th, 2011 as 6:48 Concordo com o ensino da Literatura de Cordel nas escolas, não para que todo estudante se torne cordelista, mas que cada um conheça e saiba apreciar a Literatura de Cordel. Como se sabe, a gente só gosta do que conhece. Quanto mais pessoas conhecendo as grandes obras da Literatura de Cordel, mais pessoas irão gostar dela. Claro que isso fará com que surjam novos cordelistas, mas isso deve acontecer de acordo com o talento de cada um. As crianças não devem ser forçadas a escrever em cordel, mas a aprender a gostar dele. Só para finalizar: a Literatura de Cordel já está em muitas escolas, ajudando no aprendizado da leitura e de muitos outros temas. Seu sucesso nesse sentido já está provado.
MARIA GRACIENE comentou: agosto 17th, 2011 at 7:00 Respondendo a pergunta: Você concorda com o ensino de literatura de Cordel nas escolas? Concordo plenamente com o ensino da literatura de Cordel. É uma forma de incentivar a literatura de um modo geral. É um incentivo a leitura e a nossa cultura. Parabéns a todos pela iniciativa. Que continuem dando oportunidade a cordelistas e poetas de mostrarem o valor da poesia na vida das pessoas.
Marcus Paulo Saraiva Says: agosto 17th, 2011 as 11:45 Porque os comentários enviados não aparecem? Onde é que está o botão para votar?
Marcus Paulo Saraiva comentou: agosto 17th, 2011 at 11:58 Acho fantástica a idéia de divulgar o cordel através das escolas porque ao longo dos tempos foi uma grande ferramenta utilizada na alfabetização de milhares de Nordestinos. Hoje o cordel está presente em todo o Brasil e começa a conquistar o respeito nos meios acadêmicos. Parabéns para o CORDEL, legítima cultura do povo brasileiro!
Cecilia Ferreira Says: agosto 17th, 2011 as 12:34 Um absurdo completo! Vamos ensinar o que ha de mais dificil, e nao o que ha de mais simples. Vamos ensinar Suassuna e Guimaraes! Isso sim!
Dodó Félix comentou: agosto 17th, 2011 at 12:47 Minha concordência é total e absoluta.Já devia estar ocorrendo em todas as escolas brasileiras.
Marco Haurélio Says: agosto 17th, 2011 as 14:37 Cordel na sala de aula é uma realidade. Parabéns aos que divulgam, com gana, garra e vontade,[ a nossa literatura no sertão e na cidade.
CICERO LIMA comentou: agosto 17th, 2011 at 16:33 Claro que sim afinal se não me engano e uma cultura que surgiu no nordeste do brasil.
Josué Almeida Says: agosto 17th, 2011 as 16:47 Sou a favor, sim, desde que não fira as regras gramaticais oficiais. A poesia é uma forma muito gostosa de se ensinar e de se aprender.A informação flui e o ouvido se enche de prazer com as rimas.Acho uma arte a improvisação e acredito que seja para poucos.Ao mesmo tempo acredito que é possível aprendê-la, mas deve se levar muito tempo, já que teremos que combinar teoria com prática.Ao mesmo tempo o cordel é engraçado, devido às suas rimas inesperadas.
ems comentou: agosto 17th, 2011 at 17:24 Claro que concordo , é mais um jeito de reconhecer um tipo de literatura da nossa gente.
erick Says: agosto 18th, 2011 as 3:33 Sempre que posso compro para o meu filho de 7 anos, ele adora… Tem alguns específicos para crianças, e vc ler junto com ele é muito divertido.
O problema de inserir na escola, é o preparo e a boa vontade do professor sobre o tema… infelizmente em alguns locais do Nordeste, o tal “orgulho de ser nordestino” não existe, e ainda há nordestinos que preferem consumir o “way of life sudestino”, a valorizar o seu e o dos seus…
´Maria Angélica de Jesus Santos comentou: agosto 18th, 2011 at 3:43 `Não é só cordel… é preciso abrir a mente dessa juventude. Inserido nas escolas manifestações artísticas, para temos no futuro uma novo geração,conscientes em direitos e deveres com a nação!
Gel Santos ( Artista Plástica )
silvinha Says: agosto 18th, 2011 as 7:57 claro que sim, devemos resgatar a nossa cultura, a cultura nordestina. Sou professora de história e estou trabalhando o Projeto de Leitura:Viajando na literatura de Cordel onde todas as disciplinas trabalharam o seu conteúdo da unidade construindo cordéis junto com os alunos que tbm confeccionaram as capas referentes aos mesmos. foi um trabalho super prazeroso e cumprimos nossos objetivos.
Vera comentou: agosto 18th, 2011 at 8:00 Concordo plenamente. Há muita importância na Literatura de Cordel como expressão legítima da Literatura Brasileira qual ficou desconhecida por algumas pessoas, pelo fato exato de dificilmente ser encontrada em livros didáticos, não é erudita, mas prevalece como forma poética a poesia.Este tipo de Literatura no Brasil não morreu, apenas tem uma cultura indefinida que precisa ser resgatada principalmente nas escolas.
Vera Says: agosto 18th, 2011 as 8:23 Outra razão é o fato de pensar que é uma cultura que surgiu no Brasil. A Literatura de Cordel não é coisa nova, data da época dos povos conquistadores greco romanos, chegando a Península Ibérica com outros nomes “Pliegos Sueltos”,”Folhas Soltas”,”Volantes, logo com esta infuência chegou a Salvador, irradiando-se para os demais estados do Nordeste. Logo um ponto inconteste é sua importância e a certeza de que a maioria das pessoas tem alguém na família que de alguma forma se identifica com esta Literatura.
Manoel Belizario comentou: agosto 18th, 2011 at 10:01 Por que o romance a poesia e outros gêneros literários da chamada “literatua erudita” fazem parte da grade curricular do ensino público e o cordel não? A perspectiva de inserção do cordel no ensino público que defendo não é para que os professores ensinem a fazer cordel . Mas sim na perspectiva de se estudar a história, os textos e os autores. Estudar a relevância e representatividade cultural desta literatura para o nosso país.
JULIANA ARAUJO Says: agosto 18th, 2011 as 11:26 Concordo em parte com o Belizário, realmente a função do professor não é ensinar a fazer cordel. Entretanto já assisti algumas oficinas e o resultado é surpreendente. No meio de 40 ou 50 participantes sempre aparecem duas ou três pessoas que realmente têm o dom da poesia e acaba se descobrindo cordelistas. Entretanto, o papel do cordel na escola deve ser, antes de qualquer coisa, despertar o interesse pela leitura e mostrar que esses textos podem ser absorvidos por pessoas de qualquer faixa etária e de qualquer nível social.
ARIEVALDO VIANA comentou: agosto 18th, 2011 at 16:18 A leitora Cecilia Ferreira acha que cordel é “muito simples” e que as escolas deveriam ensinar a obra de Ariano Suassuna e Guimarães Rosas. Certamente que são dois autores estupendos, duas sumidades no campo das letras na pátria tupiniquim. Entretanto recomendo à dona Cecília ler um pouco da obra de Leandro Gomes de Barros, José Camelo de Melo, José Pacheco e outros mestres do cordel para saber melhor do que está falando. Cordel não é tão simples assim… Se fosse coisa de pouco valor não seria sobejamente pesquisado na Europa, Estados Unidos e até no Japão. Se fosse coisa sem importância no campo da Literatura, Carlos Drummond de Andrade não teria dito que um autor de Cordel (Leandro Gomes de Barros) foi um poeta maior do que OLAVO BILAC.
Pesquei no Jornal da Besta Fubana esta poesia de Onildo Barbosa, de Vitória da Conquista
Meu Sertão de minha vida. Caminhos por onde andei Casa velha onde nasci Açudes que me banhei. Estradas de chão batido Chapéu de couro curtido Lua cheia de verão, Cheiro de curral de gado São retratos do um passado Na minha imaginação.
Caminhos tortos, riacho, Porteira aberta, vazante. Gravatá brotando cacho Um sol se pondo distante Rastros de pássaros na areia, Sorriso de lua cheia, Cantiga de Azulão, Um rouxinol no telhado São retratos do passado Na minha imaginação.
Um corocoxó de sapos Brindando a água barrenta Cabritos dando sopapos Enquanto a cabra amamenta Lençol de saco estendido Um entardecer chovido Um pé de manjericão Num pote velho quebrado São retratos do passado Na minha imaginação.
Um ninho de patativa Feito de folha e raiz A plantação de maniva Um sertanejo feliz. Boi comendo na baixada, Uma viola afinada Um poeta, uma canção, Um martelo agalopado, São retratos do passado Na minha imaginação.
Uma jurema florida Numa manhã de neblina Uma cabana pendida, Uma cerca de faxina Uma briga de caçote, A jia dando pinote Na beira do cacimbão Um cururu escanchado São retratos do passado Na minha imaginação.
Uma rolinha cantando No galho da goiabeira Um jumento se coçando Nas estacas da porteira Uma fogueira queimando O cheiro do milho assando No braseiro do fogão, Rádio de pilha ligado São retratos do passado Na minha imaginação.
Um jumento relinxando Uma jumenta no cio A meninada brincando De peteca e currupio Umbuzeiro de estrada Uma algaroba copada Catagem de algodão, Um bizerro encurralado São retratos do passado Na minha imaginação.
Na forquilha da cozinha Um ninho de jão de barro Uma rã pequenininha, Escondida atras do jarro Num formsto de atilho 14 espigas de milho penduradas no oitão, um marimbondo arranchado são retratos do passado na minha imaginação.
Liguei a TV e deparei-me com a notícia de que um delegado havia feito um boletim de ocorrência em versos.
Na reportagem, o apresentador do telejornal dizia que o delegado havia se inspirado na Literatura de Cordel, tendo herdado do avô o dom de fazer versos.
Só para confirmar se o fato havia ganho espaço na mídia, entrei no Google e pesquisei as palavras “delegado”, “ocorrência”, “versos” e “cordel”. Como eu esperava, lá estavam inúmeros sites replicando a matéria, começando mais ou menos assim:
O delegado Reinaldo Lobo, da 29º Delegacia de Polícia de Riacho Fundo (DF), cidade a 18 km de Brasília, fez um boletim de ocorrência que chamou a atenção não pelo caso, de receptação de uma moto, mas pela redação. O texto foi escrito em forma de poesia. (R7 Notícias).
Diante da amplitude que o caso ganhou, aproveito minha condição de poeta-juiz (ou de juiz-poeta) para comentá-lo sob dois aspectos: do Direito e da Literatura de Cordel.
Do ponto de vista jurídico, a primeira coisa que percebi foi que não se tratava de um B.O. e sim do próprio Relatório, com o qual delegado encerra o inquérito para remeter ao Ministério Público, a fim de que este ofereça a denúncia.
É o caso de esclarecer, portanto, que no B.O. quem narra os fatos é a pessoa que o registra, cabendo à autoridade policial apenas transcrevê-los para o documento. Já no relatório, o texto é elaborado pelo delegado, sendo este o responsável por seu conteúdo. Ou seja, a partir do B.O. o delegado inicia o inquérito, com o Relatório o delegado o encerra.
Isso muda alguma coisa quanto a sua validade jurídica? Não, porque não existe nenhuma norma que proíba que atos administrativos e até judiciais sejam redigidos em versos. O que se exige é que eles sejam escritos na língua pátria – o português – e que contenham as informações previstas em lei, no caso do Relatório, coisas como a qualificação do ofendido, a qualificação ou descrição do suposto autor do crime e a narração do fato.
Eu mesmo já sentenciei dois casos em versos, um criminal (que virou folheto e está publicado neste Mundo Cordel) e outro cível, e as sentenças tiveram o mesmo valor jurídico que as outras que já proferi em prosa. E não poderia ser de outra forma, pois, se a sentença tem relatório (descrição dos fatos), fundamentação (razões que levaram ao resultado) e dispositivo (resultado), não faz diferença se foi escrita em prosa ou em verso.
Da mesma forma, o fato de ter sido escrito em versos jamais poderia ser motivo para invalidar o Relatório do Inquérito.
A partir daqui, passo a falar como cordelista, e o faço destacando o fato de o delegado Reinaldo Lobo ser capaz de fazer brotar sua vocação poética até em meio à dura realidade da atividade policial. É preciso ter um coração de poeta para agir assim.
Apenas quanto à forma, observo que o sistema de rimas e de métrica está muito irregular, o que afasta o texto dos padrões reconhecidos como característicos da tradicional Literatura de Cordel.
Assim, se fosse o caso de dizer algumas palavras ao poeta-delegado, diria o seguinte: “Colega poeta, a poesia é uma flor bela e delicada, mas que às vezes brota em lugares improváveis, entre pedras e espinhos. Se sua intenção é escrever em forma de Cordel, estude um pouco mais os sistemas de rimas e métricas da Literatura de Cordel, para dar um padrão mais definido aos seus versos. Independentemente disso, não desista da poesia, nem de tentar fazer do nosso país um lugar melhor para se viver”.
Segue, a íntegra do texto do BO:
Já era quase madrugada Neste querido Riacho Fundo Cidade muito amada Que arranca elogios de todo mundo
O plantão estava tranquilo Até que de longe se escuta um zunido E todos passam a esperar A chegada da Polícia Militar
Logo surge a viatura Desce um policial fardado Que sem nenhuma frescura Traz preso um sujeito folgado
Procura pela Autoridade Narra a ele a sua verdade Que o prendeu sem piedade Pois sem nenhuma autorização Pelas ruas ermas todo tranquilão Estava em uma motocicleta com restrição
A Autoridade desconfiada Já iniciou o seu sermão Mostrou ao preso a papelada Que a sua ficha era do cão Ia checar sua situação
O preso pediu desculpa Disse que não tinha culpa Pois só estava na garupa
Foi checada a situação Ele é mesmo sem noção Estava preso na domiciliar Não conseguiu mais se explicar A motocicleta era roubada A sua boa-fé era furada
Se na garupa ou no volante Sei que fiz esse flagrante Desse cara petulante Que no crime não é estreante
Foi lavrado o flagrante Pelo crime de receptação Pois só com a polícia atuante Protegeremos a população
A fiança foi fixada E claro não foi paga E enquanto não vier a cutucada Manteremos assim preso qualquer pessoa má afamada
Já hoje aqui esteve pra testemunhá A vítima, meu quase xará Cuja felicidade do seu gargalho Nos fez compensar todo o trabalho
As diligências foram concluídas O inquérito me vem pra relatar Mas como nesta satélite acabamos de chegar E não trouxemos os modelos pra usar Resta-nos apenas inovar
Resolvi fazê-lo em poesia Pois carrego no peito a magia De quem ama a fantasia De lutar pela Paz ou contra qualquer covardia
Assim seguimos em mais um plantão Esperando a próxima situação De terno, distintivo, pistola e caneta na mão No cumprimento da fé de nossa missão