sábado, 29 de outubro de 2011

Trovas de Nealdo Zaidan



TROVAS
Nealdo Zaidan

Quem chuleia coração,
alinhava uma maldade.
Pesponta sempre ilusão
e costura uma saudade!

Grande é a bondade de Deus.
Tão grande que em sua lida,
não nega aos próprios ateus
o maior bem que é a vida!

Quanto ao peixe, não sou crítico,
moqueca, ensopado ou posta.
Preferência de político?
- É Robalo! Eis a resposta.

Não falo por picardia,
mas é verdade no duro.
Mulher e fotografia:
só se revela no escuro...

Sutil e de fino trato,
mas aranha quando quer.
Não é tigre. Nem é gato.
- É simplesmente – mulher!


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Uma rima para mãe


A EXCLUSIVIDADE DE MÃE

Recebi do meu amigo Ricardo Piau essa preciosidade, do Poeta Mundim do Vale, que é irmão de Ricardo e tem belos poemas publicados neste Mundo Cordel:

Certo dia eu conversava com o poeta do Crato,José Hélder França ( Dedé de Zeba ) E o assunto como não podia deixar de ser, era sobre poesia. Ele falava da dificuldade de encontrar rimas para as palavras: Tempo e Alegre. Eu lembrei ao grande poeta que para a palavra mãe também não era fácil encontrar rima. HÉLDER FRANÇA baixou a cabeça, fechou os olhos e improvisou essa pérola de sextilha:

UMA MÃE É TÃO DIVINA,
QUE A PRÓPRIA RIMA ENSINA
QUE SÓ EXISTE UMA MÃE.
UMA MÃE RIMA NÃO TEM,
POIS A MÃE SÓ RIMA BEM
SE A RIMA FOR MÃE COM MÃE


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Um comovente poema de Pedro Pinto Monteiro




PORQUE DEIXEI DE CANTAR

Recebi mais de um poema
Fazendo interrogação
Por que eu da profissão
Mudei de rumo e sistema
Resolverei um problema
De não poder tolerar
Muita gente a perguntar
Ansiosa pra saber
Em verso vou responder
Por que deixei de cantar.


Deixei porque a idade
já está muito avançada
A lembrança está cansada
O som menos da metade
Perdi a facilidade
Que em moço possuía
Acabou-se a energia
Da máquina de fazer verso
Hoje eu vivo submerso
Num mar de melancolia.


Minha amiga e companheira
Eu embrulhei de molambo
Pego nela por um bambo
Para tirar-lhe a poeira
Hoje não tem mais quem queira
Ir num canto me escutar
Fazer verso e gaguejar
Topar no meio e no fim
Canto feio, pouco e ruim
Será melhor não cantar.


Não foi por uma pensão
Que o governo me deu
Por que o eu do meu eu
Não me dá mais produção
Cantor sem inspiração
Tem vontade e nada faz
Eu hoje sou um dos tais
Que ninguém quer assistir
Nem o povo quer ouvir
Nem eu também posso mais.


Ando gemendo e chorando
E vendo a hora cair
O povo de mim fugir
E a canalha mangando
E eu tremendo e tombando
Sem maleta e sem sacola
Hoje estou nesta bitola
Por não ter outro recurso
Carrego a bengala a pulso
Não posso andar com a viola.


Com a matéria abatida
Eu de muito longe venho
Com este espinhoso lenho
Tombando na minha vida
Tenho a lembrança esquecida
Uma rouquice ruim
A vida quase no fim
A cabeça meio tonta
Quem for moço tome conta
Cantar não é mais pra mim.


Já pelo peso de oitenta
E uma das primaveras
Dezesseis lustros, oito eras,
E a carga me atormenta
O corpo não se sustenta
Quando anda cambaleia
Cantador de cara feia
Se eu for lhe assistir
Por isso deixei de ir
Para cantoria alheia.


Estes oitenta e um graus
Que acabei de subir
Foi só para distinguir
Quais são os bons e os maus
Por cima de pedra e paus
Tive atos de bravura
Hoje só tenho amargura
Tormento dor e cansaço
Passando de passo a passo
Por cima da sepultura.


Existe uma corriola
De sujeito vagabundo
Que anda solta no mundo
Pelintra e muito gabola
Compra logo uma viola
Da frente toda enfeitada
Só canta coisa emprestada
Mentir, fazer propaganda
Dizendo por onde anda
Que topa toda parada.


E ver em certos meios
Gente cantando iê-iê-iê
Arranjar dois LP
Tudo com versos alheios
Estou de saco cheio
De não poder tolerar
A muita gente escutar
Dizer viva e bater palma
Isso me doeu na alma
Faz eu deixar de cantar.


Fiz viagem de avião
A pé, a burro, a cavalo
De navio, outras que falo
De automóvel e caminhão
Cantando em rico salão
Muito moço, gordo e forte
Passei rampa, curva e corte
Para findar num retiro
E dar o último suspiro
Na emboscada da morte.


Corrente, fivela, argola,
Picinez, óculos, anel,
Livro, revista, papel,
Arame, bordão, viola,
Mala, maleta, sacola,
Perfume, lenço, troféu,
Roupa, sapato, chapéu,
Eu não posso conduzir
Quando for para eu subir
Na santa escada do céu.


Nunca pensei num tesouro
Que estava pra mim guardado
Quando fui condecorado
Com uma viola de ouro
O riso tornou-se um choro
O armazém em bodega
A cara cheia de prega
Ando tombando e tremendo
E as matutas dizendo:
Menino o velho te pega.


Não posso atender pedido
Que a mim fez muita gente
Porque estou velho e doente
Fraco, cansado, abatido,
De mais a mais esquecido
Sem som, sem mentalidade,
Ficou somente a vontade
Mordendo como formiga
Nunca mais vou em cantiga
Pra não morrer de saudade.


Vaquejada, apartação,
Futebol e carnaval,
Véspera de ano e Natal
De São Pedro e São João
Dança, novela e leilão
E farra em botequim
Passear em um jardim
De braço com a querida
Neste restinho de vida
Não chega mais para mim.


Por não poder mais beber
Com meus colegas de arte
Das festas não fazer parte
Perdi da vida o prazer
Estou vivendo sem viver
Na maior fragilidade
Pelo peso da idade
Prazer pra mim não existe
Vou viver num canto triste
Até a finalidade.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Novo livro de Nezite Alencar



CORDEL DAS FESTAS E DANÇAS POPULARES

Recebi neste fim de semana a boa notícia da publicação de mais um livro da poeta Nezite Alencar.

É a Literatura de Cordel enriquecendo a cada dia a cultura deste Brasil. 

Os interessados devem procurar a loja Paulus mais próxima.

Sucesso, Nezite!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Poesia de Dalinha Catunda


ALÉM DA PRIMAVERA
Dalinha Catunda
*
De flores me vestirei
Seja em qualquer estação.
Não desistirei dos sonhos
Apostei nesta opção
Plantarei sempre alegria
Semear melancolia
Não tenho esta pretensão.
*
A primavera chegou
Sem o sol aparecer,
Mas flores de primavera
Bordaram o amanhecer
Debruçada na janela
Vejo quanto à vida é bela
Sinto seu resplandecer.
*
Amo as flores, amo a vida,
Independente de idade,
O plantio do passado
Colho na maturidade
E em qualquer estação
Bate bem meu coração
Buscando felicidade.

--
Dalinha Catunda
www.cantinhodadalinha.blogspot.com
www.cordeldesaia.blogspot.com

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Cordel de Marcos Mairton




O MISTÉRIO DOS MONÓLITOS DE QUIXADÁ
(Encontro de um poeta aventureiro com um menino sertanejo  que falava sobre discos voadores)

Essa história aconteceu
No sertão do Ceará
No município que tem
O nome de Quixadá.
É um caso interessante,
Uma história intrigante
Que eu mesmo pude viver.
Fatos que nunca esqueci
E por isso resolvi
Esse cordel escrever.


Quixadá é uma cidade
Onde o povo hospitaleiro
Tem o coração aberto
Pra acolher o estrangeiro.
Mas, em volta da cidade,
Há, em grande quantidade,
Pedras enormes, gigantes.
Onde, em noites muito escuras,
Aparecem criaturas
E seres impressionantes.


Dizem também que acontecem
Fatos por demais insólitos,
Nessas pedras conhecidas
Pelo nome de monólitos.
Grandes blocos de granito
Fazem o lugar bonito
Atraindo as atenções,
E quem passa ali por perto
Chega a ficar boquiaberto
Com aquelas formações.


Tem a “Cabeça da Cobra”
E a “Pedra da Caveira”,
A pedra “Galinha Choca”,
E a “Pedra Gemedeira”.
Verdadeiros monumentos
Açoitados pelos ventos
E pelo sol do sertão,
Mas, quem chega muito perto
Daquele lugar deserto
Pode ter outra visão.


No meio daquelas pedras
Tem onça e tem siriema,
Muita cobra cascavel,
Mas isso não é problema.
O problema mesmo sério
Na verdade é um mistério
De difícil solução:
Muito “cabra” destemido
Que vai lá, volta corrido.
Não quer ir de novo não.


E quando o povo pergunta
O que foi que o “cabra” viu,
Ele não sabe explicar.
Diz apenas que sentiu
Um cheiro de cão queimado,
Ouviu um grito abafado
E um gemido de agonia.
Teve um rapaz de Arneiroz
Que voltou de lá sem voz,
Não fala até hoje em dia.


Pois eu também fui pra lá
Procurar a explicação
Para existir tanta história
De encanto e assombração.
Meu pensamento era entrar
Pela mata e me embrenhar,
E ver o que acontecia,
Que tanto cabra valente
Regressava tão demente
Do meio da pedraria.


Ao chegar a Quixadá,
Instalei-me em um hotel
E pensei: “Aqui eu vou
Além de escrever cordel,
Praticar muito alpinismo.
Em tudo quanto é abismo,
Vou andar pela beirada,
E qualquer coisa medonha
Que por acaso se exponha,
Vou trazer engaiolada”.


Então, no dia seguinte,
Fui tomando informações
E assim fui começando
Minhas investigações.
Um rapaz logo mostrava
Uma estrada que levava
A um lugar onde diziam
Que se ouviam uns ruídos,
Uns barulhos, uns gemidos
Sem saber de onde partiam.


Então, sozinho em meu carro,
No meio da madrugada,
Peguei uma estradinha
Estreita, mas bem calçada,
E fui me distanciando,
Da cidade me afastando,
Atento a tudo o que havia
Mas, o tempo foi correndo
E logo fui percebendo
Que nada apareceria.


Achei tudo tão normal
Que fiquei desconfiado
Que por um qualquer motivo
Eu havia me enganado.
E, assim, meio contrafeito,
Segui o caminho estreito
Mas, procurando um lugar
Onde o carro eu manobrasse,
De novo me orientasse,
E pudesse retornar.


Foi então que eu avistei,
Bem do meu lado direito,
Uma capoeira aberta,
E pensei: “Está perfeito.
Entro nessa capoeira,
Depois giro a dianteira
Do meu carro para a estrada,
Volto assim para o hotel
Pois já foi pro beleléu
Essa minha empreitada”.


Mas, para a minha surpresa,
Quando entrei na capoeira,
O meu carro perdeu força,
Pediu segunda e primeira,
O motor foi apagando,
O carro já foi parando,
E, de repente, eu estava,
Naquele lugar deserto,
Sem uma casa por perto,
Pois ali ninguém morava.


Eram cinco da manhã,
O Sol nem tinha nascido.
Não estava muito escuro,
Mas não tinha amanhecido.
Então eu desembarquei
Do meu carro e procurei
Alguém pra pedir ajuda,
Mas, pensei, contrariado,
“Por aqui, é complicado
Achar alguém me acuda”.


Mas, quando eu imaginei
Que estava ali sozinho,
Ouvi sons que me diziam
Que alguém vinha a caminho.
Um chocalho balançando
E uma voz aboiando
Foram o suficiente
Para que eu, ao ouvir,
Pudesse já concluir
Que por ali vinha gente.


Então fiquei esperando
Que aparecesse um vaqueiro
Conduzindo seu rebanho
Ou algum boi mandingueiro,
Mas, quem da mata saiu
E em frente a mim surgiu
Foi apenas um menino
Em um jumento montado,
Com o cabelo assanhado,
E o corpo magro, franzino.


“Bom dia, meu camarada”,
Falou-me com simpatia,
Como se fosse um amigo
Que há muito me conhecia.
Respondi ao cumprimento
E ele disse: “No momento,
É preciso paciência.
O motor não tem defeito
Mas está sob o efeito
De uma forte interferência”.


Fiquei surpreso com o jeito
Como o menino falou,
Porque eu nem tinha dito
Que o meu carro apagou.
E, ao falar de “interferência”
Teria ele ciência
Do que estava a me dizer?
Pois o seu vocabulário
Certamente era precário,
Não tinha como não ser.


Então eu pensei comigo:
“Ele está de gozação.
Tinha que me aparecer
Um menino brincalhão?”
E ele, na mesma hora:
“Se quiser eu vou embora,
Mas não sou de brincadeira.
A interferência quem gera
É a nave que me espera
Lá na Pedra da Caveira”.


Fiquei muito impressionado
Ao ver tanta fantasia
Que aquela pobre criança
Em sua cabeça trazia.
Então resolvi deixar
Ele comigo brincar,
De que era um viajante
Que estava ali a passeio
E que em sua nave veio
De algum planeta distante.


Então perguntei a ele:
“O que o trouxe para cá?
E o que anda fazendo
Aqui pelo Quixadá?
Será alguma pesquisa
Que aqui se realiza
E nós não temos noção?
Será que estão planejando,
Talvez já se preparando
Para uma grande invasão?”.


Ele ouviu minhas perguntas
Com jeito sério e atento.
E só então apeou
De cima do seu jumento.
Aproximou-se de mim
E já foi dizendo assim:
“Esteja despreocupado.
Em invasão não pensamos
Pois daqui nos retiramos
Há muito tempo passado”.


“Há alguns milhões de anos –
De anos daqui, terrestres –
Neste planeta só tinha
Plantas e animais silvestres.
Mas, no meu mundo já havia
Muitas coisas que, hoje em dia,
Estão em suas cidades:
Ruas, carros e avenidas
Lojas, comércio e bebidas
E outras facilidades”.


“Mas também tinha ladrões,
Muita droga e violência.
Apesar do grande avanço
Que tivemos na ciência,
Ninguém aguentava mais
Os problemas sociais,
Era grande a comoção.
Foi quando a Terra encontramos
E aqui imaginamos
Ter achado a solução.”


“Pois aqui no seu planeta
Encontramos condições
Para abrigar os bandidos
Que havia em nossas prisões.
Eles vindo para cá
A gente ficava lá
Num lugar sem sofrimento.
E eles que se virassem
E aqui organizassem
O seu mundo violento.”


“Foram logo construídos
Locais para abrigar
Os bandidos que viessem
Por aqui se acomodar,
Pois não era intenção
Do governo de então
Que eles viessem morrer.
Mas, num mundo tão selvagem,
Era grande a desvantagem
Para alguém sobreviver.”


“E assim nosso planeta
Aos poucos fomos limpando,
Prendendo nossos bandidos
E para a Terra mandando.
E aqui eles moravam
Nos abrigos que estavam
No planeta construídos,
Mas o plano não vingou
e deles nada restou,
Foram todos destruídos.”


A essa altura da história
Eu ouvia muito atento,
Pois nunca vi um menino
Demonstrar tanto talento
Para criar um enredo.
Ainda era bem cedo,
E eu pedi: “Me conte mais,
O que houve com os bandidos?
Será que foram comidos
Aqui pelos animais?”


Ele disse: “Nada disso.
Eles aqui se espalharam,
Com um tipo de macaco
Milhares se acasalaram
E foi desse cruzamento
Que começou o tormento
Dos próprios prisioneiros,
Pois a espécie mestiça
Era muito irritadiça
E atacava os estrangeiros”.


“Essa espécie combinava,
Força com inteligência,
E tomava os abrigos
Esbanjando violência.
E as naves que aqui pousavam
Também muito se arriscavam
A terminar destruídas,
Ou, até pior, tomadas
E depois utilizadas
Contra nossas próprias vidas”.


“Foi em uma dessas naves
Que um grupo, certa vez,
Atacou outros planetas
E grande clamor se fez.
Você não tem nem noção
Do poder de destruição
De uma só dessas naves.
Mas, saiba que os resultados
Nos planetas atacados
Foram realmente graves”.


“Com tantas vidas perdidas
Nos planetas atacados,
Vieram os contra-ataques 
Sobre a Terra então lançados.
No final de tanta guerra
Só o que restou na Terra
Foi morte, destruição
E escombros fumegantes
Dos prédios, que tempos antes
Serviram de habitação”.


“Por isso é que estão aqui
Essas pedras diferentes.
Elas são o que restou
De construções existentes
Quando a Terra foi usada
Como prisão isolada
Há bem muito tempo atrás.
O fracasso foi total
Mas demonstra todo o mal
Que a violência nos traz”.


“Mas, você me perguntou
O que faço em Quixadá.
Então eu digo a razão
Que me trouxe para cá.
Venho só para estudar
E depois poder contar
Essa história ao meu povo,
Pra que a gente não cometa
O erro em outro planeta
E faça tudo de novo”.


Nessa hora percebi
Que a história terminou
E fiquei impressionado
Com tudo o que ele falou.
Mas, pra não ficar calado,
Eu achei apropriado
Mostrar minha simpatia.
Dizer que ele agradou
Com a história que contou
Tão cheia de fantasia.


Olhei para ele e disse:
“Quem te viu e quem te vê,
Pensei ter visto um menino
E encontrei com um E.T.
Um E.T. muito sabido,
Mas que é tão parecido
Com qualquer outra criança
Que eu jamais perceberia,
Por isso, não temeria
Pela minha segurança”.


“Foi por causa disso mesmo
Que eu lhe apareci assim.
Para você não ter medo”.
Foi o que ele disse a mim.
“Pois toda vez que eu esqueço
E para alguém apareço
Em minha forma real,
A pessoa assustada
Sai daqui desesperada,
Nem sei se volta ao normal”.


Eu disse: “Então é por isso,
Que tanto “cabra” valente
Entra nessa mata são
E quando sai é doente.
Mas o povo tem me dito
Que aqui se ouve um grito,
Um gemido de agonia.
E um cheiro de cão queimado
Se espalha por todo lado
No meio da pedraria”.


Ele disse: “Essa questão
É bem fácil de explicar.
É o reator da nave
Quando está a funcionar.
Pois pela parte de trás
Ele solta mesmo um gás
Que acaba parecendo
Couro de bode queimando,
E o som que vai formando
É igual a alguém gemendo”.


O menino era esperto,
Tive que reconhecer.
Pra tudo o que eu perguntava 
Ele tinha o que dizer.
Estendi-lhe a minha mão
E lhe disse: “Meu irmão,
Você é mesmo um artista.
Mesmo com tão pouca idade
Com tanta criatividade
Devia ser cordelista”.


Ele disse: “É uma pena
Você não acreditar
Que eu vim aqui, realmente,
Em uma nave a voar.
Não vou ficar chateado
Mas já estou atrasado
E preciso ir embora.
Seu carro vai funcionar
Quando a nave decolar
E for pelo espaço afora”.


O menino disse isso,
Deu dois passos para trás
E seu corpo se acendeu
Como um lampião de gás.
Foi descolando do chão
Parecia um balão
Quando é tempo de fogueira.
Até que saiu voando
E no ar se encaminhando
Para a “Pedra da Caveira”.


Mas, antes de ele ir embora,
Quando ele ainda estava,
Dois metros à minha frente,
E seu corpo levitava
Eu ainda lhe falei:
“Só agora acreditei.
Me desculpe, seu E.T.
Mas, se o senhor voltar
Quero muito lhe encontrar
E conversar com você”.


Ele então me respondeu
Com bastante educação:
“Com prazer eu estarei
À sua disposição.
Você pode me encontrar
Aqui, bem neste lugar,
Se não tiver outros planos.
Voltarei dentro de um mês,
Que, no tempo de vocês,
São noventa e sete anos”.