domingo, 31 de março de 2013

Poesia de Otacílio Pires




Vi a proposta de Otacílio Pires no Jornal da Besta Fubana e não pensei duas vezes. Apoio a candidatura de Ariano Suassuna ao Prêmio Nobel de Literatura e já ajudo a espalhar a ideia. Quem sabe a coisa não ganha volume e acaba dando certo?

ARIANO, NOBEL DE LITERATURA
Otacílio Pires

O Cabra Mestre Ariano,
Grande figura impoluta!
A ideia, ninguém refuta,
Pois é um literata decano.
Merece o premio do ano:
O Nobel da literatura.
Pois muito fez pela cultura,
Do povo do meu nordeste.
Este cabra bom da peste,
Merece a candidatura!

No Movimento Armorial,
Ele quem deu fomento.
Com respeito e sentimento,
A cultura tradicional.
Fez dela um ideal,
Caboclo que tem postura!
Nordestino com bravura,
Que aqui ninguém conteste!
Este cabra bom da peste,
Merece a candidatura!

Este cordel só foi feito
Pra pedir sua atenção
E mostrar a intenção
Pra Ariano ser eleito
E divulgar a respeito
E formar uma estrutura
Merecida, honesta, segura
E de fato inconteste!
Este cabra bom da peste
Merece a candidatura!

O auto da compadecida
Compadeceu muita gente
Mostrou o mais urgente
Dessa região esquecida
A fé da gente sofrida
Tem amor e candura
Do criador pra criatura
Aqui do nosso nordeste
Este cabra bom da peste
Merece a candidatura!

Castelo de Sebastião.
Vista no Belo Monte,
Que essa historia conte,
Quem teve essa visão!
Entre pedras do sertão,
Surgirá a grande figura,
Que mostre a aventura
Do reinado à sua veste
Este cabra bom da peste,
Merece a candidatura!

quarta-feira, 27 de março de 2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

Cordel de Dideus Sales


Luiz Gonzaga
Muito Além de Um Sanfoneiro
Dideus Sales

Dia treze de dezembro
O mais extraordinário
Cantador e sanfoneiro
Que se tornara lendário
Por seu dom e sua saga,
O gênio Luiz Gonzaga,
Se tornara centenário.

Expoente da sanfona,
Arauto da alegria,
Mensageiro do Nordeste,
Apóstolo da melodia.
Nasceu o guri peralta
No dia em que se exalta
A virgem Santa Luzia.

Luiz Gonzaga nasceu
Na fazenda Caiçara
Em Exu, no Pernambuco,
De cor parda e mente clara,
Saiu de lá muito novo
Pra poder brindar o povo
Com sua criação rara.

Desde a infância mostrou
Para música vocação,
Aos oito anos fez sua
Primeira apresentação,
Com elegância e ternura
Mostrando desenvoltura
Pra futura profissão.

Na fazenda onde nasceu,
Na terra pernambucana,
Estreou feito um artista
Que se exibe e se ufana,
Perante muitos matutos
Sob os olhares argutos
De Januário e Santana.

Com brilhantismo tocou
E cantou a noite inteira,
Com permissão de Santana
Envaidecida e fagueira.
Vinte mil réis o cachê,
Suficiente pra que
Deixasse a mãe prazenteira.

E Luiz de Januário
Cada vez mais se apaixona
Pelo som da concertina
Confiando que a matrona
Conceda-lhe permissão
Pra fazer aquisição
Da tão sonhada sanfona.

O desenvolto Luiz
Gonzaga do Nascimento,
Com treze anos comprou
O seu primeiro instrumento,
E cheio de esperteza
Espalhou na redondeza
Seu carisma e seu talento.

No albor da adolescência
Peregrinou sem fadigas,
As cercanias do Exu
Levando suas cantigas
Adornadas de harmonia,
Derramando simpatia
Às camponesas amigas.

Por Nazarena Alencar
Gonzaga se enamora,
A família dela, contra,
Santana se apavora,
Dá em Luiz uma pisa,
E veloz que nem a brisa
Luiz decide ir embora.

Com decepção tamanha
Por essa paixão frustrada,
Com apenas dezessete
Anos pôs os pés na estrada.
Com pensamentos errantes,
Conquistou muitas amantes
E não quis mais namorada.

Mil novecentos e trinta,
Gonzaga sem avisar,
Deixa a casa dos seus pais
E a pé põe-se a viajar,
Vende o fole, com tristeza,
E se alista em Fortaleza
Pra o serviço militar.

Foi soldado por dez anos
Do Exército Brasileiro,
Chamado “Bico de Aço”
Por ser um bom corneteiro.
Serviu do Sul ao Pará,
Passou pelo Ceará,
Minas, Rio de Janeiro.

O soldado Nascimento
A liberdade proclama!
Planeja voltar pra casa,
Mas a vocação o chama
Pra da arte fazer parte,
E ganha através da arte
Prestígio, dinheiro e fama.

De volta à vida paisana
Decide então ser artista,
Toca em cabarés e bares,
Nesse tempo, instrumentista.
Quando resolve cantar
Aí começa a brilhar,
Logo sucesso conquista.

Entra no Rio tocando
Música internacional,
Usando terno e gravata,
Porém, com artesanal
Indumentária de couro,
Sanfona e gogó de ouro
Constroi fama nacional.

Pedro Raimundo lhe dera
Excelente sugestão:
Para usar seus paramentos
Simbolizando o sertão.
E o brilhante sanfoneiro,
Traja-se de cangaceiro,
Inspirado em Lampião.

Sofre muito antes da fama
Mas não desiste da luta,
Toca na Lapa e no Mangue
Pra boêmio e prostituta.
Só veio fama alcançar
Quando decidiu cantar
Autêntica canção matuta.

Após solar Vira e mexe,
Obra de sua autoria,
No programa Ary Barroso,
Com carisma e simpatia
Exibe talento inato,
Para gravar faz contrato
E o povo o reverencia.

E foi a RCA,
Gravadora conhecida,
Que ao nosso Luiz Gonzaga
Distinguiu e deu guarida.
E em retribuição,
Nela o Rei do Baião
Gravou quase toda a vida.

Apesar dos empecilhos
Gonzaga não desanima
E vai construindo o nome
Quando dele se aproxima
Um cidadão otimista,
O seu primeiro letrista,
Chamado de Miguel Lima.

No ano quarenta e cinco,
Dia onze de abril,
Gonzaga como cantor
Mostra voz forte e viril,
E foi Dança, Mariquinha!
Sua primeira modinha
Lançada para o Brasil.

Mulherengo incorrigível,
Luiz Lua não detinha
A libido, e vivia
Andando fora da linha.
Ao conhecer Odaleia,
Brotara-lhe a ideia
De ser pai do Gonzaguinha.

Pra bailarina Odaleia
Desenhara lindos planos,
Mas percebendo existir
Entre os dois muitos enganos
Entre atrito e dissabor,
Rompem o laço do amor
Ao completar cinco anos.

No ano quarenta e oito
Luiz um astro brilhante,
Com seus trinta e cinco anos,
Mais prudente e triunfante,
Já com fama nacional
Faz enlace conjugal
Com Helena Cavalcanti.

O sanfoneiro fiota
Gostava de fazer fita,
De despejar galanteios
Pra toda moça bonita.
Não resistindo o apelo,
Edelzuita Rabelo
Virou a sua “Zuíta”.

Com Odaleia viveu
Loucuras e fantasias,
Helena, porto seguro,
Deu-lhe algumas alegrias,
Com a doce Edelzuita,
Bem mais nova e mais bonita,
Viveu os seus últimos dias.

No ano quarenta e seis
A estrela se descerra,
Humberto e Luiz compõem
Xote No meu pé de serra,
Uma romântica mensagem
Rendendo bela homenagem
À sua querida terra.

A sorte se descortina,
Luiz desfralda a bandeira
Do baião, com um poeta
Chamado Humberto Teixeira,
Em ascensão muito franca,
Compuseram Asa branca,
Sucesso da vida inteira.

E Luiz não para mais
De cantar nosso sertão:
Hora do adeus, Maribondo,
Aí tem, Pássaro carão,
Xote ecológico, Pão duro,
Piriri, Forró no escuro,
Só xote e Faça isso não.

Apologia ao jumento
Do nosso Zé Clementino,
Fazenda Cacimba Nova,
Assum preto, Cantarino,
Sanfoneiro Zé Tatu,
Feira de Caruaru,
E Sangue de Nordestino.

Dezessete légua e meia,
Pau de arara, Sabiá,
Dezessete e setecentos,
Imbalança, Quero chá,
A letra I, Xanduzinha,
Juca, Beata Mocinha
Ovo azul e Boi bumbá.

Cantou Acácia amarela,
Adeus Rio de Janeiro,
Morena cor de canela,
A mulher do sanfoneiro,
Tropeiros da Borburema,
Mazurca, Adeus Iracema
E Vou te matar de cheiro.

Quer ir mais eu, Sou do banco,
O cheiro da Carolina,
Vem morena,Vira e mexe,
Lá vai pitomba, Juvina,
A Dança do Capilé,
Estrada de Canindé,
Xaxado e Cintura fina.

A Moda da mula preta,
Festa, Fole gemedor,
Baião Treze de dezembro
Compôs com muito fervor.
Forró no escuro solado,
Piauí, Feira de gado
E Xote machucador.

Cantou Xote das meninas,
Vaca estrela e boi fubá,
O Xote dos cabeludos,
Mamulengo, Macapá,
Minha fulô, Paraíba
Orélia, Mangaratiba
Cirandeiro e Mangangá.

Cantou Jesus sertanejo
De Janduhy Finizola,
Viu num campo imaginário
Dois Siri jogando bola,
E o baião foi criação
Inspirada no baião
Do cantador de viola.

As mazelas e encantos
Do Nordeste brasileiro
Luiz Gonzaga cantou
Em: A morte do vaqueiro,
Olha pro céu, Pé de serra,
Retratos de sua terra,
Paulo Afonso e Boiadeiro.

O seu repertório tem
Dos fãs, verdadeiro aprovo:
A vida do viajante,
Óia eu aqui de novo,
A noite é de São João,
A mulher do meu patrão,
Cantei e Canto do povo.

Manoelito cidadão,
Cabeça inchada, Café,
Aquarela nordestina,
Ai amor, Meu Chevrolet,
Conversa de boiadeiro,
De olho no candeeiro,
Xengo e Galo garnizé.

Não vendo nem troco, Nos
Cafundó de Bodocó,
Cortando pano, Juazeiro,
Caxangá, Qui nem jiló,
O Forró de cabo a rabo
Lá na casa do Zé Nabo,
Algodão e Siridó.

Légua tirana, Sangrando,
Fogueira de São João,
Sertão de aço, Vassouras
Erva rasteira, Erosão,
A Samarica parteira,
Sanfoninha choradeira
Pau de arara e Procissão.

Pra onde tu vai, baião?
Casamento improvisado,
Pra não morrer de tristeza,
Tambaú, Fole danado,
Flor do lírio, Acauã,
Menino de Braçanã,
Rosinha e Feira de gado.

Gravou xote Só se rindo
De Alvarenga e Ranchinho;
Clássico, Súplica cearense
De Gordurinha e Nelinho;
Do folclore, Boi bumbá,
E ainda Mané Gambá
Do grande Jorge de Altinho.

Seiscentas e vinte e cinco
Canções estão registradas,
Em compactos, LPs
E CDs todas gravadas
Com requintada harmonia,
Recheadas de poesia,
E muitas, bem divulgadas.

Luiz Gonzaga e Humberto
Teixeira fizeram escola.
Do baião, xote e xaxado
Foram propulsora mola.
Luiz em suas conquistas,
Deu vez a muitos artistas
Da sanfona e da viola.

Gonzaga ficou na história
Como o maior cantador,
Inigualável intérprete,
Excelente tocador,
Grande contador de histórias,
Músico que acumulou glórias,
Cantor e compositor.

Aos amigos, à família
E às origens foi fiel,
Gravou nossos cantadores
E poetas do cordel.
Por tudo mereceu louro,
Conquistou discos de ouro,
De platina e o prêmio Shell.

Da substantiva obra
Composta ao longo da vida,
Asa branca se tornara
Sua canção preferida,
E Respeita Januário
É do mesmo relicário
Junto d’ A triste partida.

Gonzaga foi um artista
Que sofreu, mas foi feliz,
Cantou no Brasil inteiro,
Fez shows também em Paris.
Com talento e competência,
Tornou-se uma referência
Musical deste país.

Um evento fulgurante
Desse artista tão fecundo,
E talvez, o que lhe tenha
Dado o prazer mais profundo,
Foi em oitenta, cantar,
Saudar e homenagear
O Papa João Paulo II.

Apesar da enorme fama,
Gonzaga guardou recato:
Zelava os colegas simples,
Não gostava de aparato.
Do Padre Cícero romeiro,
Ia sempre ao Juazeiro,
Mas gostava mais do Crato.

Luiz é um grande exemplo
De quem vai à luta e vence,
Tinha tática no percalço,
Sabia fazer suspense
E arquitetar todo plano.
Artista pernambucano
Do coração cearense.

Com sua sanfona branca
E a voz de espantar tristeza
Cantou da seca as agruras,
Do inverno a boniteza,
Cantou a fauna e a flora,
Por isso a menção aflora:
Cantador da natureza.

Na trajetória profícua
Desse artista nordestino,
Humberto Teixeira foi
Verdadeiro paladino;
Zé Dantas, de alto nível,
João Silva, imprescindível,
Fulgente, Zé Marcolino.

Zé Clementino sabia
Da poesia o segredo,
Muitos sucessos brotaram
Da inspiração desse aedo,
Patativa foi brilhante,
Onildo Almeida, importante,
Notável, Téo Azevedo.

Gravou Venâncio, Cecéu,
Julinho, Orlando Silveira,
Caymmi, Vandré, Caetano,
Luiz e Pedro Bandeira.
Luiz Ramalho, obra imensa...
Capiba, Nelson Valença,
Gil e Jurandir da Feira.

Grandes cantores famosos
Que fizeram gravação
Nos anos oitenta têm
Do Rei participação,
Fagner, um dos mais ariscos,
Único a gravar dois discos
Com nosso rei Gonzagão.

Em seu trajeto pisou
Muitas flores e espinhos,
Vários e grandes colegas
Adornaram seus caminhos
De emoções e alegrias,
Como Osvaldinho, Abdias
Marinez e Dominguinhos.

O grande Pedro Raimundo,
Zé Calixto, uma bandeira!
Dois ícones incontestáveis
Da sanfona brasileira.
Sivuca, Hermeto Paschoal,
Waldonys que é magistral,
Borghetti e Luiz Vieira.

Noca, Pedro Sertanejo,
Zé Ramalho, Gonzaguinha,
Anastácia, Alceu Valença,
Ary Lobo, Gordurinha,
Benito, Nelson Gonçalves,
Zé do X, Carmélia Alves,
Do baião nossa raínha.

Desde menino Luiz
Não foi covarde ou servil,
Com habilidade e arte
Conquistou todo o Brasil,
Dentre seus fãs de talento,
Elba, Milton Nascimento,
João Cláudio, Caetano e Gil.

Fora ídolo dos ídolos
Por sua grande expressão,
Semeador de concórdia,
Embaixador do sertão,
Músico de estro fecundo
Que deu mais beleza ao mundo
Com as cores do baião.

Em meio século de arte,
Só tendo sido prodígio,
Luiz fez algumas pausas
Mas nunca perdeu prestígio.
Em tantas léguas de glória,
Não se acha em sua história,
De mácula, menor vestígio.

Em Recife, dois de agosto
De oitenta e nove, o ano,
O nosso Luiz Gonzaga
Despediu-se deste plano,
E sem gibão nem chapéu
Foi cantar baião no céu
Na mansão do Soberano.

Soube ornamentar de glória
Sua vida e seu roteiro,
Com virtude e maestria,
Do baião foi pioneiro.
Pelo que deu ao País
Posso afirmar que Luiz
Foi além de um sanfoneiro.

quinta-feira, 21 de março de 2013

segunda-feira, 18 de março de 2013

Poesia de Marcos Mairton



SEMANA SANTA NO “DE UM TUDO”

Recebi por esses dias o almanaque “De um Tudo” de março, que, dentre outras coisas, fala de mártires, de heróis e da Semana Santa, como bem destaca Audifax Rios, no editorial. 

Neste último tema - Semana Santa - tive oportunidade de colaborar, dizendo em versos um pouco da importância de Judas Iscariotes na minha formação de cordelista. 

Os versos, que ora compartilho, estão na coluna “Repentinadas”, junto a essa bela ilustração de Ricardo Vieira:


COMO JUDAS ME AJUDOU A CORDELIZAR
Marcos Mairton

Para mim, Semana Santa,
bem mais que religião,
Foi sempre como um costume,
uma grande tradição.
Ir à missa e à vigília
era encontro de família,
nunca foi obrigação.

Na quinta-feira maior,
tinha missa e romaria,
a minha avó jejuava
nesse dia não comia.
À noite era o “Lava-pés”.
Mais tarde, depois das dez,
a vigília se inicia.

Já a Sexta-Feira Santa,
era um dia de recato,
sem menino jogar bola
e sem mulher lavar prato.
Acredite quem quiser,
o marido e a mulher
não tinham qualquer contato.

À noite, perto da igreja,
na hora da encenação
da peça “Paixão de Cristo”,
se ajuntava a multidão.
Ali os jovens atores,
apesar de amadores,
nos enchiam de emoção.

Mas o Sábado de Aleluia
era do que eu mais gostava,
e o testamento do Judas
com meus tios preparava.
desde os  dez anos de idade
Eu mostrava habilidade,
Nos versos que elaborava.

O testamento era todo
Rimado e metrificado,
E o patrimônio de Judas
Assim era destinado
A todos ali presentes
Que recebiam contentes
a herança do finado.

Para um ficava a corda,
Para outro o dinheiro,
Para alguém suas sandálias,
O manto para um terceiro.
O povo se divertia
Enquanto se dividia
O seu patrimônio inteiro.

E a gente ainda usava 
sempre aquela ocasião
para fazer com os vizinhos
uma grande gozação,
relembrando apelidos
e fatos acontecidos
com os amigos de então.

Para o homem preguiçoso,
o Judas deixava a rede.
Para a mocinha faceira
um espelho na parede.
Se o cabra era cachaceiro,
cachaça pro ano inteiro,
para não morrer de sede.

E foi nesses testamentos
De Judas que fui fazendo
Que da métrica e da rima
Mais e mais fui aprendendo
A popular poesia
Dos cordéis que, hoje em dia,
Sigo em frente escrevendo.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Crônica de Newton Silva


Estava lendo hoje o Jornal da Besta Fubana e encontrei este texto de Newton Silva. Não é em versos, mas é tão nordestino, tão cearense, tão oportuno nesses dias de seca, mudança de Papa e proximidade do Dia de São José (19 de março), que eu não poderia fazer outra coisa que não fosse trazê-lo para este Mundo Cordel.
Boa leitura!


PAPA JOSÉ
Newton Silva

Sentado na varanda, o velho sertanejo olhou para o curral e viu o pé de ipê todo amarelo, bonito, parado na paisagem seca. Não tinha um pé de vento. Sentiu só o mormaço vindo das coivaras e das capoeiras. Uma tristeza medonha lhe invadiu o coração, também seco, sem esperança. Bebeu um gole da água morna e barrenta, a mesma água que ele dividia com os bichos, afinal era tudo “fi de Deus”, como ele dizia. A mulher dele estava lá, ouvindo o radinho de pilha, acompanhando o conclave que iria eleger o novo papa.

- Êita seca desgraçada! – pensou. Os olhos secos nem chorava. Sofria só de ver os bichos morrendo um a um.
A mulher entrou eufórica. O papa tinha sido eleito. A fumacinha branca tava lá, saindo na chaminé, diziam no rádio. Ele nem se levantou da cadeira. Viu uma fumaça branca rodopiando no terreiro. Era a poeira ciscando no chão seco.

A mulher entrou outra vez, mais eufórica ainda. Já sabiam quem era o novo papa.

- Hôme, se alevanta daí e vem ouvir! O nome do novo papa é Francisco! São Francisco lá de Canindé! Graças a Deus! Deus seja louvado!

Ele se acomodou na cadeira e olhou para o serrote. Só galhos secos e pedras. Só estava florido mesmo o desgraçado do pé de ipê. Era um mau presságio. Quando o ipê flora é sinal de que o inverno não vai ser bom. Porém, havia uma última esperança para o sertanejo: Dezenove de março, o dia de São José já estava chagando.  Dia de São José sempre chove e aí o inverno pega de vez.

- Bem que eche papa podia se chamar José, de São José, Padroeiro do Ceará. Pru mode Nosso Sinhô olhar para essa terra véia ressequida e mandar chuva, pro sertão num morrer de vergonha e sede.

- Ôxente! Hôme de Deus! O que é que tu tá praguejando aí?

- Né nada não, muié. Ôxe! Tava só aqui pensano alto.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Poesia de Marconi Pereira de Araújo



MARÇO, 14, QUE DIA!
Marconi Pereira de Araújo

Vou falar de tudo um pouco
De vida, riqueza, magia
Planta, semente, esperança
De amor que contagia
De papa, pipa e papado
Até de tira tarado
Pra traduzir poesia

Vou viajar na palavra
Antes que seja tardia
A homenagem que faço
De tudo enfim falaria
De fenda, finta e de fonte
Vislumbrarei horizonte
Pra festejar este dia

Que dia maravilhoso
Você não sabe? Eu sabia
Ele é tão especial
Que eu jamais permitiria
Sabe o que? Vou ser bem franco
Que passasse assim em branco
O dia da poesia!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Poesia de Dalinha Catunda




SECA E FALTA DE VERGONHA
Dalinha Catunda
*
Estou esperando a chuva
Porém a chuva não vem
Meu açude já secou
E o meu riacho também
Sem chuva no meu sertão,
É triste a situação
Felicidade não tem.
*
A passarada sumiu
A jurema já murchou
Onde a água escorria
Hoje é só chão que rachou
Perante tanta quentura,
Acabou-se a fartura
Meu sertão esturricou.
*
E se Deus não der um jeito
Eu não sei o que será
Pois mais uma vez padece
O meu pobre Ceará
Agora só muita fé
E apelar pra São José
Que é padroeiro de lá.
*
O subsolo é bem rico
É só explorar o chão
O que falta é vergonha
Nos mandantes da nação
Estes seres abjetos
Que ignoram projetos
Para irrigar o sertão.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher: poesia de Marcos Mairton



A UMA MULHER
Marcos Mairton
Dedicado à minha mulher, Natália Guberev, em homenagem a todas as mulheres

No Dia Internacional
Às mulheres dedicado
Meu verso é direcionado
A uma em especial.
Uma mulher genial,
Esposa e mãe dedicada,
Minha amiga e namorada
E fonte de inspiração.
Natália, esses versos são
Para ti, ó minha amada!

Tu, que sempre estás comigo
Me apoiando em minhas lutas.
Que, com paciência escutas,
As bobagens que eu te digo,
Me alertarás do perigo,
Quando algum perigo houver.
Mas, se a batalha vier,
Enfrentarás sem receio,
Eu hoje te homenageio
Pelo Dia da Mulher!

Pois contigo quero estar
Nos lugares onde estejas,
Em paisagens sertanejas,
Ou na praia, olhando o mar.
Se quiseres viajar,
Deixaremos Fortaleza,
Visitaremos Veneza,
Outras cidades da Itália,
Se vens comigo, Natália,
Vai ser bom, tenho certeza.

Mas, se não puderes vir,
Até Paris perde a graça,
Não há monumento ou praça
Capaz de me distrair.
Sem razão para sorrir,
Vou-me embora irritado,
No quarto fico trancado,
E espero passar o dia,
Desprovido de alegria,
Sem ter você ao meu lado.

Hoje em dia, felizmente,
Ficar longe é raridade.
Pra minha felicidade,
Ficar junto é mais frequente.
E, ficando junto, a gente
Tem mais tempo pra se amar
Assim, sigo a desejar
Que haja, se Deus quiser,
Muitos Dias da Mulher
Para te homenagear.