terça-feira, 29 de outubro de 2013

Quixadá: Aniversário da AQL



No ultimo sábado, 26, a Academia Quixadaense de Letras (AQL), em sua sede própria na estação ferroviária de Quixadá, os imortais se reuniram para comemorar o primeiro ano da academia, vestidos a caráter, 15 dos 20 membros acompanhados de familiares e convidados. Convidados especiais sentaram ao lado presidente João Eudes Costa, O radialista Amadeu Filho, A vereadora de Quixeramobim Liduina Leite, o vice prefeito Wellington Queiroz, o Presidente da Fundação Cultural Rachel de Queiroz Blasco Monte e a articuladora cultural Maria Prima.

A noite também foi marcada pela posse do primeiro Imortal nascido noutra cidade, o escritor cronista Bruno Paulino, nascido em Quixeramobim. Até então todos os demais membros da AQL, são naturais ou tem cidadania quixadaense. Foi distri buído aos presentes um exemplar do livro  "Memórias e Louvações em prosa e verso" da imortal Maria Zenaide Costa. Apesar das formalidades na solenidade, cerimoniada pelo radialista e jornalista Wanderley Barbosa, um dos idealizadores da AQL, a festa foi descontraída.              


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Cordel de Eduardo Macedo


Acaba de ser lançado o Cordel a "Gesta do touro Corta-Chão". Editado pela Tupynanquim e ilustrado com xilogravuras autorais, o poema traz a peleja do barbatão Corta-Chão com seus algozes cavaleiros, em especial, o inclemente João Vaqueiro. 
Impresso em formato grande (15 cm x 21 cm), o folheto conta com pouco mais de 200 estrofes, divididas em "Cantorias" (capítulos), e traz apresentação do poeta, ilustrador e pesquisador Arievaldo Viana. Veja mais e adquira a obra em:

Quantos touros fugiram, enrascados,
Pelas brenhas de matas espinhentas?
Quantas pegas não findaram sangrentas,
Fatais a acossadores e acossados?
Quantos vaqueiros, bois e seus reinados,
Esvaíram-se sem deixar memória
E seus feitos de bravura e de glória
Não sumiram com suas curtas vidas?
Incontáveis gestas foram perdidas
Por entre as cegas lacunas da história.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Cordel no site de Cultura do RJ


Muito além do sertão
A ocupação do Morro do Alemão, capoeira, Super Mario e até o Direito: autores usam a literatura de cordel para falar de temas urbanos

Na sua época de menino, era mergulhando nos versos de folhetos de cordel que o cearense Marcos Maírton da Silva passava seu tempo livre. “Apesar de não terem as figuras das revistas em quadrinhos, a forma rimada e metrificada dava à leitura um ritmo bem gostoso”, lembra o atual juiz federal. Mais velho, buscou as memórias do fascínio que aquela literatura lhe provocava para escrever seu primeiro cordel. Na história, Marcos provocou o encontro de duas das mais tradicionais figuras dessa literatura – o Padre Cícero e o diabo – com um personagem tipicamente urbano: um advogado.

A experiência de colocar no foco da narrativa de seu cordel uma figura aparentemente tão deslocada desse universo foi a inspiração para o autor escrever Uma Visita Inesperada, em que ele, tendo passado toda sua vida na cidade, se pergunta como conseguiria escrever um cordel verdadeiro. Tendo crescido lendo relatos de grandes poetas sobre “as coisas lá do sertão”, Marcos coloca a questão: “como é que eu vou fazer/ poesia de cordel/ sem sequer eu conhecer/ uma casa de farinha/ o ninho d’uma rolinha/ uma jumenta amojada/ uma cabaça, uma tramela/ água de pote, gamela/ uma galinha deitada?”.

Pois essa mesma pergunta veio, nos últimos tempos, sendo feita por uma série de outros autores. E a maioria chega à mesma conclusão: a literatura de cordel tem uma riqueza que pode ser adaptada aos mais variados assuntos. O que define o cordel, explica Gonçalo Ferreira da Silva, presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), não é o tema, mas a atenção criteriosa à métrica e à rima, sempre em função de estabelecer um ritmo que lembra as cantorias orais, berço dessa linguagem. “Se não tiver um desses fundamentos, pode ser um texto muito bonito, mas não será cordel”, diz. 

“Hoje, além dos temas tradicionais, falamos também de romances, contos, lendas, folclore, ciências, política, enfim, o cordel pode abranger todas as áreas de conhecimento”, continua o poeta. E, em seus séculos de história, o cordel nunca se manteve estático: basta pensar que, nos seus primórdios, quando se popularizou em Portugal e Espanha no século XVI, era usado como forma de galanteio. “Os poetas saíam pelas ruas estreitas de Barcelona, de Madri, de Lisboa, acompanhados de um rapaz com um violão. E, quando chegavam na janela da garota mais bonita, declamavam as estrofes do cordel para ela”, conta o presidente.

“Na verdade, o cordel no Brasil sempre abordou temas variados, sendo possível destacar três grandes grupos: as histórias do cangaço; os contos de inspiração medieval, com reis, rainhas e fadas; e os contos de mistério, incluindo lendas, assombrações e um personagem frequente: o diabo. Mas, talvez por ser uma manifestação cultural que cresceu muito no Nordeste, no começo do século XX, essa temática do cangaço e do sertão ganhou mais projeção, até porque foi também no mesmo período e na mesma região que o cangaço fez sua história”, conta Marcos Maírton, que hoje divulga o trabalho de outros “cordelistas urbanos” no blog Mundo Cordel, e tem uma série de livros publicados. Um deles, A História de Zé Luando – O Homem Que Virou Mulher, conta a saga de um menino diferente, que deixa o sertão do Ceará “em busca da liberdade/ de viver como mulher / sem ninguém pôr a colher/ na sua sexualidade”.

Para a poetisa Maria Rosário Pinto, usar o cordel para falar de um tema como homossexualidade não tem nada de surpreendente. “Porque o poeta de cordel é essencialmente um observador. Nada lhe passa despercebido”, diz a maranhense, que conheceu cordel por intermédio do pai, um leitor voraz de literaturas populares. Rosário mantém o blog Cordel de Saia, em parceria com Dalinha Catunda, nascida no interior do Ceará. As nordestinas, que atualmente moram no Rio, compartilham no site suas impressões sobre seu dia-a-dia – coisa que, conta Dalinha, na verdade não tem nada de novo. “Durante muito tempo, o cordel foi o jornal do interior do Nordeste, transmitindo as mais importantes notícias do país. Abordar através da literatura de cordel os temas urbanos e contemporâneos é antes de tudo registrar os acontecimentos e repassar o fato de forma mais leve”, conta.

E é delicadeza que Dalinha transferiu ao episódio da tomada do Complexo do Alemão pelas Forças Armadas, em 2010. O tenso marco da história carioca recente foi a inspiração para esperançosas e delicadas rimas no cordel A Invasão no Alemão. “Fiquei ligada na televisão acompanhando a invasão, completamente envolvida com as notícias da ocupação. Ali mesmo foram brotando os versos, e quando me dei conta já tinha feito minha cobertura em cordel”, lembra. Já Rosário, em um de seus trabalhos, brinca com o “sabe-tudo” Google, figura onipresente da vida moderna. Em Sr. Google, a autora propõe ao buscador um duelo de poemas, ao que ele só responde depois de vasculhar a web: “buscando na Wikipédia/conheceu outros poetas/nesta grande enciclopédia/ aprendeu a fazer rima”.

Foi também no mundo virtual que o alagoano Cárlisson Galdino buscou a inspiração para seu primeiro cordel. Um ávido defensor do compartilhamento de conhecimento sem restrições, o artista escolheu usar essa linguagem tradicional, que conheceu ainda menino, para divulgar suas ideias no Cordel do Software Livre. “Acredito que o artista tenha um importante papel social e que não deve se limitar a fazer entretenimento. Seu entretenimento tem que trazer um algo mais que possa, ao menos um pouco, transformar a sociedade. Isso foi o que me motivou a escrever meu primeiro cordel, Cordel do Software Livre, e outros como o Cordel Quilombola e Piratas e Reis”. Seus manifestos em forma de cordel, que podem ser encontrados replicados em vários sites na internet, acabaram servindo a um duplo propósito, avalia o autor. “Além de divulgar o conteúdo (sobre o movimento social do Software Livre), os livretos terminaram também levando o cordel a quem pouco (ou, em alguns casos, nada) conhecia dessa riqueza cultural nordestina”.

Hoje, Cárlisson divulga sua produção em seu blog, onde pode-se encontrar também o divertido A Saga de Um Encanador, cujo protagonista é um ícone do mundo dos jogos eletrônicos. “Como Mario muito provavelmente ainda é o personagem mais forte da história dos videogames, ainda liderando a lista de franquias mais vendidas (e de jogo melhor avaliado pela crítica, o caso do Mario Galaxy), concluí que merecia uma homenagem em forma de cordel. A Saga de um Encanador relata a aventura do Mario em seu primeiro jogo, Mario Bros, com estrofes relatando o progresso do personagem através das fases”, conta o autor.

Se os cordelistas urbanos citados até agora tiveram a chance de estar em contato com o cordel desde pequenos, esse não foi o caso de Victor Alvim, conhecido como Lobisomem. “Meu interesse pela literatura de cordel surgiu quando comecei a pesquisar sobre capoeira”, diz o carioca, que esbarrou nessa linguagem nos acervos sobretudo do Museu do Folclore. Em seus primeiros trabalhos, Victor misturava suas experiências com a capoeira aos personagens tradicionais da literatura de cordel, como Lampião, Luiz Gonzaga, Padre Cícero e tantos outros. 

“Com o tempo, foi inevitável que a cultura e personagens cariocas também me inspirassem e me influenciassem, já que sou nascido e criado no Rio de Janeiro. Então comecei a escrever também homenageando Jorge Benjor, Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Arlindo Cruz, o bloco Cacique de Ramos, Tim Maia...”, conta o poeta. Um de seus cordéis, por exemplo, narra por versos o encontro de Zeca Pagodinho e São Cosme e Damião, enquanto outro, recém-lançado, imagina como foi a recepção do síndico Tim Maia no céu.

A maioria dos poetas entrevistados acha que, mesmo se visto com desconfiança no início, esses cordéis urbanos são hoje plenamente aceitos, e que sempre haverá espaço tanto para o tradicional quanto para o moderno. Dalinha Catunda, que enxerga o gênero como um “leque que comporta uma variedade de temas”, resume por quê. “O cordel está no rádio, na televisão, na internet. Este cordel de hoje, globalizado, não pode nem deve descartar nenhum assunto”. Sorte dos leitores. 

Colaboração de Marianna Salles Falcão
Fonte: http://www.cultura.rj.gov.br/materias/muito-alem-do-sertao

domingo, 20 de outubro de 2013

Geraldo Amancio: 50 anos de poesia


De 17 a 20 deste outubro de 2013, aconteceu a 1ª Semana Cultural do Cedro-CE, que marcou a comemoração pelos Cinquenta Anos de Poesia de Geraldo Amancio.

   
Ali se apresentaram vários repentistas, declamadores, grupos de dança folclórica e outros artistas. Uma festa grande e bonita na cidade do Cedro, onde nasceu o grande poeta, repentista, cordelista e apresentador de televisão.


A convite do poeta, estive por lá e ainda arrumei um lugarzinho no palco pra cantar alguma coisa de minha autoria também.


Em breve será publicada parceria nossa em duas obras em cordel, uma falando de Ecologia e outra sobre Gramática. Nesta tem estrofes como essas...

De uns tempos para cá
Convém ficar bem atento:
Verbos com vogal dobrada
Têm novo regulamento
PERDOO, LEEM, ENJOO,
CREEM, VEEM, DEEM, VOO,
Hoje não têm mais acento.

Mas, o acento persiste
No plural de VIR e TER.
“Ele VEM” e “ele TEM”,
Sem acento devem ser.
Já no plural, ELES TÊM,
Do mesmo jeito, ELES VÊM,
É o certo a escrever.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Poesia de Marconi Pereira de Araújo



MEUS PARABÉNS, PROFESSOR
Marconi Pereira de Araújo


Quem é que aqui nesse mundo
Procura compartilhar
Transmitir conhecimento
Na arte de ensinar
Exercendo a maestria
Que ao final contagia
E só faz frutificar?

Quem é disposto e guerreiro
Na labuta a enfrentar
Dia útil ou feriado
Também o faz estudar
Se tudo não é só flores
Presente ou não dissabores
Na profissão a amar?

É assim que predomina
E o que me faz despertar
Discutir educação
E neste particular
O sentimento é gigante
É fator preponderante
Somente espetacular!

Parabéns para você
Que está a lecionar
Que guarda no seu semblante
O sonho que fez sonhar
Sincera é esta homenagem
Quero dizer de passagem
A ordem é comemorar!

Petição e decisão em versos


O CASO DO FURTO DAS GALINHAS

Estava fazendo minha costumeira leitura do blog Jornal da Besta Fubana, no qual tenho uma coluna literária intitulada “Contos, Crônicas e Cordéis”, quando me deparei com um pedido de relaxamento de prisão que o advogado VICENTE ALENCAR RIBEIRO dizia ter ajuizado na Comarca de Bonito de Santa Fé, na Paraíba.

Uma beleza de peça, rimada e metrificada em quadras de sete sílabas, narrando com precisão o caso do indivíduo conhecido pela alcunha de “Nego Nona”, que teria roubado dois frangos (ou duas galinhas, isto não está muito claro) do quintal da avó, mas terminou preso em flagrante.

Vendo aquela peça toda em versos, desejei ser juiz de Bonito de Santa Fé, só para poder decidir na mesma toada.

Mas, o que não acontece no mundo real pode acontecer livremente no campo da imaginação, então a sequência de petição, decisão e nova petição ficou assim:

PEDIDO DE RELAXAMENTO DE PRISÃO
Vicente Alencar Ribeiro

Excelentíssima Senhora,
Julgadora de Direito,
Desta exaltada Comarca,
Que tenho grande respeito.

Protocolo este meu pleito,
Por entender relevante,
Um pedido de soltura,
Pra relaxar um flagrante.

Em nome do assistido,
De alcunha “Nego Nona”
Por se encontrar recolhido,
O meu afã vem à tona.

Ontem dia vinte cinco,
Veio à comunicação,
Que o meu ora assistido,
Fora levado á prisão.

Segundo diz a polícia,
Foi no dia vinte cinco,
De setembro deste ano,
Digo a verdade não minto.

Que “Nego Nona” furtou,
Dois frangos de sua avó,
Não tinha ninguém com ele,
Confessa que estava só.

Mas no caso existem dúvidas.
Se o crime aconteceu,
Pois em interrogatório,
Diz que sua avó lhe deu.

E ainda mais Excelência,
A res furtiva voltou,
Para as mãos de sua dona,
Pois “nego Nona” entregou.

De mérito vamos supor,
Se o furto for verdadeiro,
“Nego Nona” não vai ser,
O último nem o primeiro.

É coisa de pouca monta,
Subtrair duas galinhas,
Sem olvidar de lembrar,
A fome que ele tinha.

É o próprio crime famélico,
Alguém furtar pra comer,
Com necessidade urgente,
Podemos depreender.

É uma ação relevante,
Não vou dizer seja bela,
Furtar para saciar-se,
Res furtiva, bagatela.

Será que vai compensar,
Manter injusta prisão?
Quero ouvir o Promotor,
Conheço o seu coração.

É um homem reto e puro,
De alto conhecimento,
E sei que vai entender,
De “Nego Nona” o tormento.

De ficar dentro do cárcere,
Por furtar duas galinhas,
Que nem chegou a comê-las,
Pois devolveu à vozinha.

Admoesto que a vítima,
Quer que solte o seu netinho,
Ele é sua companhia,
Tem-lhe amor e carinho.

O acusado está preso,
E a pobre vítima em vigília,
Pois que o seu neto é,
O esteio da família.

Diligente Magistrada,
A quem a justiça exalta,
Que só promove o direito,
Bom senso nunca lhe falta.

Empós manifestação,
Do dono da ação penal,
Liberdade dê ao “Nona”,
Pois o pedido é legal.

Tenho certeza Excelência,
Que o meu clamor vai ouvir,
Devolvendo a “Nnego Nona”,
O direito de ir e vir.

É somente o que requesto,
Com afinco e com lisura,
Mande soltar “Nego Nona”,
Dê-lhe o alvará de soltura.

Ex positis pra encerrar,
Depois desse meu lamento,
Nada mais tenho a pedir,
Senão só deferimento.

Espero com ansiedade,
Submerso em alegria,
Vicente Alencar Ribeiro,
Membro da Defensoria.

Bonito de Santa Fé,
De setembro vinte seis,
Do ano dois mil e treze,
Hoje a justiça se fez.


DECISÃO
Marcos Mairton

Vicente Alencar Ribeiro
Protocolou petição
Por meio da qual requer
Que se relaxe a prisão
De um rapaz preso em flagrante,
Que, Vicente me garante,
Não merece punição.

“Nego Nona” é a alcunha
Pela qual é conhecido,
E da sua avó teria
Dois frangos subtraído
Mas a polícia o pegou,
Em uma cela o trancou
E lá está recolhido.

Mas, alega o defensor,
Que furto não ocorreu,
Pois, segundo “Nona”, os frangos
Foi sua avó quem lhe deu.
Mas, houve esse quiproquó
E os tais frangos da avó
Ele até já devolveu.

Dessa forma bem sucinta
Eis o caso relatado.
Passo então a apreciar
O pedido formulado,
Pelo ilustre defensor
Para o suposto infrator
De pronto ser libertado.

Preliminarmente, informo
Que dispenso o parecer
Do promotor de Justiça
Para a causa resolver,
Porque já neste momento
Firmei meu convencimento
Conforme passo a dizer.

Nesse sentido, advirto:
Não me sensibilizou
A versão de que os frangos
Da avó “Nona” ganhou.
Parece mais com desculpa,
Para encobrir sua culpa
Quando a polícia o flagrou.

Ao que parece, a avó,
O seu neto perdoou,
Já que em favor de “Nona”
Também se manifestou,
Entretanto, essa versão,
Da suposta doação,
Ela jamais confirmou.

Se houvesse acontecido,
A alegada doação,
A avó confirmaria
Certamente essa versão,
E talvez nem aceitasse
Quando o neto lhe falasse
Em fazer devolução.

Parto, assim, do pressuposto
Que o dito furto ocorreu.
E que, só depois de preso,
O “Nona” se arrependeu,
E então, cada galinha,
Que furtara da avozinha
Bem depressa devolveu.

Nessa linha, eu acredito
Que a questão fundamental
É mesmo saber se o “Nona”,
Pelo seu ato imoral,
Deve vir a ser punido,
Condenado, reprimido
Pelo Direito Penal.

Diz a defesa que o furto
Não deixou grande seqüela.
Só prejudicou a avó
Ou, na verdade, nem ela.
Nisso o defensor se apega
Quando em seu pedido alega
O crime de bagatela.

E parece que a defesa
Nesse ponto tem razão.
Pois o valor das galinhas
Teria mais projeção
Se as criaturas aladas
Já fossem consideradas
Animais de estimação.

Mas, no caso, ao que parece,
Eram galinhas normais,
Que viviam no quintal,
Junto aos outros animais,
Para um dia, na panela,
Cozidas “à cabidela”
Servirem aos comensais.

E a dona dessas galinhas,
Em sua avançada idade,
Disse que “Nona” a ajuda
Com muito boa vontade.
E se pudesse escolher
Queria mesmo era ver
O seu neto em liberdade.

Por isso, penso que, embora
Na esfera da moral,
A conduta desse “Nona”
Cause repulsa total,
Não existe fundamento
Para se dar seguimento
A uma ação criminal.

Ainda mais no Brasil,
Onde tem tanto ladrão
Que navega livremente
No mar da corrupção,
Parece coisa mesquinha
Manter ladrão de galinha
Trancado em uma prisão.

E já tem tanto processo
No Poder Judiciário,
Anda tão abarrotado
O sistema carcerário,
Será que compensaria
Gastar nossa energia
Com esse crime aviário?

Melhor acabarmos logo
Com esse co-ro-co-có,
Libertando o “Nego Nona”
E alegrando a sua avó,
Que sofreu forte emoção
Ao ver o neto ladrão
Recolhido ao xilindró.

Já que o fato em julgamento
Teve pouca gravidade,
Vamos dar ao “Nego Nona”
Nova oportunidade
De agir, daqui pra frente,
Como um cidadão decente
Sendo posto em liberdade.

Fundado nessas razões,
Decreto o relaxamento,
Do flagrante efetuado
Pelo policiamento
No Alvará de Soltura
Vai a minha assinatura,
E a ordem de cumprimento.

Publique-se a decisão,
E expeça-se mandado.
Intime-se o defensor
E também o delegado,
Depois, vista ao promotor
Que, nada tendo a opor,
Seja o processo arquivado.


PETIÇÃO
Vicente Alencar Ribeiro

Meu preclaro julgador,
Muito ínclito magistrado,
O seu ato de Justiça,
De passagem bem rimado,
Foi sem dúvida consciente,
E por demais pertinente,
Deve ser elogiado.

Quero lhe comunicar,
Que depois da decisão,
A avó de Nego Nona
Mandou minha refeição,
Feliz com sua soltura,
Um exemplo de fartura,
De galinha e de pirão.

Assiste muita razão,
Ao nobre julgador,
Liberando Nego Nona,
Reconhece o seu valor,
Prometo à luz da verdade,
Que nessa oportunidade,
Nego Nona se apegou.

Prometeu-me de joelhos,
Nunca mais irá furtar,
Todo domingo ir a missa,
Com afinco trabalhar,
Ser um homem verdadeiro,
E nunca mais no chiqueiro,
Os seus pés irão pisar.

Por último meus parabéns,
Por sua peça tão bela,
Eu sei que Vossa Excelência,
Pela moral sempre vela,
Não estou lhe adulando,
Mas por aí tá chegando,
De uma galinha a titela.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Cordel de Elmo Nunes

Estava mexendo na minha cordelteca pessoal quando me deparei com o cordel "No Combate do Mundo das Drogas", do poeta cearense Elmo Nunes.
De acordo com os dados anotados no folheto, Elmo Nunes nasceu em 21.09.1979, em Buritizal, Poranga-CE, onde vive até hoje. Além do cordel sobre o combate às drogas, já publicou "Preservando para Melhorar" e "Conversando Entre Amigos", dentre outros.
Segue um trecho do cordel de Elmo Nunes, além da bela capa desenvolvida por Audifax Rios.



NO COMBATE AO MUNDO DAS DROGAS 
Elmo Nunes

Para combater as drogas 
É preciso seriedade 
De quem eu aqui aponto 
Para se ter na verdade 
Um mundo com esperança 
E saudável sociedade. 

Por isso é que eu envolvo 
Três coisas neste poema: 
Política mídia e justiça 
Na luta contra o problema, 
Ainda organizações 
Não descarto deste tema. 

Com respeito autoridades 
Chamo aqui sua atenção 
Confiante em seus deveres 
Mesmo na legislação. 
Não vou fechar os meus olhos 
Pois também sou cidadão. 

Muitas iniciativas 
Sei que estão sendo tomadas 
Nas políticas de controle 
Mas precisam ser lembradas 
Pra que ORGANIZAÇÕES 
Sejam beneficiadas. 

Para isso é necessário 
Os recursos obter 
Pra organizações que lutam 
Ajudando a combater 
Este caso problemático 
Impedindo-o de crescer. 

São recursos financeiros 
Mesmo governamentais. 
Também no funcionamento 
Dos conselhos estaduais. 
O Legislativo deve 
Ter eficácia demais. 

Não devemos desprezar 
Os que já são usuários 
Porque quem usa é doente 
E apoios são necessários 
Para que a vida renasça 
Basta sermos solidários.