Zé Brasileiro Furtado e a Fazenda Tropicana
Marcos Mairton
Conheço um agroempresario
Que ficou acabrunhado
Porque seu agronegócio
Só prejuízo tem dado.
O nome desse empresário
Que anda assim, deficitário:
Zé Brasileiro Furtado.
Zé Brasileiro é o dono
Da fazenda Tropicana,
Onde a água é muito farta,
A terra é boa e é plana.
Lugar bom para criar
Gado de leite e plantar
Feijão, café e banana.
Por isso que Brasileiro
Variou a produção,
Querendo extrair da terra
Cenoura, milho e feijão.
Criar boi, criar ovelha,
Galinha branca e vermelha
E colher muito algodão.
E para cada cultura
Nomeou logo um gerente,
Depois disse a cada um:
"Seja esperto e diligente,
Faça o negócio render
Que depois vou escolher
Quem foi mais eficiente".
E cada um prometeu
Com empenho dedicar
A força do seu trabalho
Em bem administrar,
Para que Zé Brasileiro
Ganhasse tanto dinheiro
Que nem pudesse contar.
Mas, passados alguns meses,
Brasileiro foi notando
Que os negócios da fazenda
Não estavam prosperando.
Plantação nunca vingava
E, dos bichos que criava,
Tinha sempre algum faltando.
Galinha botava os ovos,
Mas os pintos não nasciam,
E, quando tinha ninhada,
Muitos desapareciam.
No rebanho de bovinos
E na criação de ovinos
Muitos animais morriam.
A plantação de cenoura
Até se desenvolveu,
Mas, já perto da colheita,
O prejuízo ocorreu:
Deu uma chuva pesada
E a produção esperada
Quase toda se perdeu.
Perdeu-se também o milho
Já perto de ser colhido.
E teve ainda um besouro
Grande, do nariz comprido,
Que atacou o algodão
E, naquela plantação,
Quase tudo foi perdido.
Zé Brasileiro Furtado,
Vendo isso acontecer,
Decidiu que precisava
Alguma coisa fazer.
Chamou todos os gerentes
Porque medidas urgentes
Teria que proceder.
Na sala de reunião,
Fez seu pronunciamento:
Pediu que cada gestor
Desse o seu depoimento
Para ser esclarecido
O que tinha acontecido
Em cada departamento.
E cada um dos gerentes
Foi dando uma explicação,
Começando pelo Chefe
Do cultivo do algodão,
No caso, Mário Bicudo,
Que depressa explicou tudo
Que houve com a plantação.
Disse que cuidou da terra
E as sementes semeou.
Pra não depender de chuva,
A área toda irrigou,
Mas um besouro comia
Cada flor que ali surgia
E o algodão não vingou.
Depois falou João Raposo,
Que seguiu na mesma linha,
Embora contando tudo
Como melhor lhe convinha.
Raposo estava empregado
No setor encarregado
Da criação de galinha.
Sobre a morte das ovelhas,
disse o administrador:
"Foi coisa de lobisomem
Ou de disco voador.
E não pensem que sou bobo,
Sou Antonio Carlos Lobo,
O chefe deste setor".
Ao ouvir essas palavras,
Alguém, levantando a mão,
Disse: "Com o gado bovino
É a mesma situação.
Do setor sou o gerente,
Permitam que eu me apresente:
Doutor Manoel Leão".
"Investiguei tudo a fundo,
Mas não sei o que acontece
Que, quase todos os dias,
Uma rês desaparece.
O problema é muito sério,
Por causa desse mistério
O rebanho nunca cresce".
Depois disso que foi dito
Por Doutor Manoel Leão,
Chegou a vez de falar
Epaminondas Falcão,
Que expôs um triste lamento,
Pois em seu departamento
Foi grande a decepção.
Falcão era encarregado
De cuidar de um viveiro
Onde abrigava as codornas
Do nosso Zé Brasileiro,
Mas explicou que as bichinhas
Morriam todas novinhas
Lá dentro do cativeiro.
Nem a plantação de milho
Deu resultado também.
De mil pés que se plantou,
Colheu-se em menos de cem.
O pouco que foi colhido
Depois de seco e moído
Deu uma saca de xerém.
Quem deu notícia do milho
Foi um rapaz bem distinto
Que tinha sido o primeiro
A adentrar no recinto:
"Sou chefe do milharal,
O meu nome é Roberval
E o meu sobrenome é Pinto".
Zé Brasileiro pensou:
"A fazenda está acabada".
Mas ainda havia uma
Má notícia a lhe ser dada:
"Seu Zé, lamento informar,
Mas não pude evitar,
A fazenda foi multada".
"O IBAMA diz que houve
Aqui um desmatamento,
Que está fora dos conformes
De certo regulamento".
Assim falou João Machado,
Que tinha estado ocupado
Com o reflorestamento.
Ao ouvir tão má notícia
Nosso herói, Zé Brasileiro,
Chamou logo o responsável
Pela gestão do dinheiro.
Acenando com a mão,
Convocou Luiz Gastão,
O Diretor Financeiro.
Este, porém, disse logo:
"Não vai dar para pagar
Essa multa que o IBAMA
Resolveu nos aplicar.
Estamos sem numerário
E o nosso saldo bancário
Está prestes a zerar".
Então José Brasileiro
Viu que estava encrencado,
Suspendeu a reunião
E saiu bem chateado.
Trancou-se no escritório
Afrouxou o suspensório
E lá ficou isolado.
Só mais tarde entrou na sala
O Seu Mário, da limpeza,
E, enquanto passava um pano,
Em cima da sua mesa
Perguntou ao seu patrão:
"Posso dizer a razão
Do fracasso da empresa?"
Zé Brasileiro Furtado
Não quis nem acreditar
No que Mario, da limpeza,
Acabava de falar,
Pois não tinha cabimento
Que o homem do polimento
Soubesse administrar.
Mas, ficou bem curioso
De saber a opinião
Que Seu Mário, da limpeza,
Teria sobre a razão
De a fazenda andar tão mal
Na criação de animal
E também na plantação.
Então, José Brasileiro,
Em tom desafiador,
Falou: "Seu Mário, me diga,
Esclareça, por favor,
O que sabe, que eu não sei?
Aponte onde foi que errei
Como administrador?"
Seu Mário olhou para ele
Tranquilo, sem se abalar,
E postou-se em frente à mesa
Que ainda estava a limpar,
Pôs o pano ali dobrado
E, em martelo agalopado,
Começou a lhe falar.
Meu patrão, eu agora vou dizer
Porque essa fazenda vai tão mal,
Porque é que não gera capital
E o negócio insiste em não crescer.
É preciso cuidado ao escolher
As pessoas para administrar.
Se acontece de a gente entregar
O negócio para a pessoa errada,
A empresa então é condenada
A mais cedo ou mais tarde fracassar.
Seu José Brasileiro, essa fazenda,
Tem Raposo cuidando das galinhas,
Tem Falcão pastorando as codorninhas
E um Gastão é quem guarda sua renda.
O bom senso, eu bem sei, não recomenda
Um Bicudo cuidando de algodão,
Nem o gado entregue a um Leão
E o milho guardado por um Pinto
Desse jeito, lamento, mas eu sinto
A fazenda não vai pra frente, não.
Mesmo assim, dou a minha opinião,
Mostro o erro, sugiro, dou conselho,
Pois não sei como pode haver Coelho
Semeando cenouras nesse chão.
É assim também na preservação
Das florestas, do meio ambiente,
O Machado não pode ser gerente
Do setor que faz reflorestamento.
Outra vez eu lhe digo que lamento
Mas assim nada aqui irá pra frente.
Por eu ser simplesmente um zelador
O senhor talvez ache que sou bobo,
Mas eu não compreendo como um Lobo
É das suas ovelhas o pastor.
Eu não tenho diploma de doutor,
Mas, afirmo, sem medo de errar,
Se o senhor tem vontade de salvar
O que resta do empreendimento,
Mande embora esse povo lazarento
E assuma o comando do lugar.
Depois de ouvir tudo aquilo,
Brasileiro demitiu
Os gerentes da fazenda
E, em seguida, decidiu
Agir de outra maneira
Direta, firme e certeira,
E, assim pensando, agiu.
Para a empresa rural
Adotou um novo plano,
Sob a orientação
De um consultor peruano.
O nome do consultor,
Da fazenda o salvador:
Pablo Ramirez Urbano.
Segundo Zé Brasileiro,
Nesses negócios rurais,
Pablo Urbano é professor,
Sabe tudo e um pouco mais.
Com as mudanças que fará
A fazenda alcançará
Padrões internacionais.
Se as mudanças darão certo
Só o tempo irá dizer.
E se não derem, espero
Que algum dia possa ser
Que Zé Brasileiro aprenda
Um gestor para a fazenda
Corretamente escolher.