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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Os dois soldados (última parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS X (FINAL)

O
post anterior terminou com a estrofe:

Naquele mesmo instante
O soldado mais valente
Mostrou todo seu valor
E partiu logo na frente
Entrou armazém adentro
Mas, quando estava lá dentro,
Mudou tudo, de repente.


E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

O telhado desabou
Depois de ser atingido
Por um tiro de canhão,
Fazendo grande estampido,
E o valente soldado
Ficou lá, encurralado,
Provavelmente ferido.

Nessa hora o capitão
Correu para lhe salvar
E do meio dos escombros
Conseguiu lhe retirar
Mas quando ele saiu
Tudo aquilo explodiu
Em pedaços pelo ar.

Saímos dali correndo,
Buscando nos proteger
Mas, sem saber pra que lado
Deveríamos correr.
Então nos refugiamos
Numa vala que encontramos
Tentando sobreviver.

Percebi que o capitão
Foi ferido gravemente
E agonizava nos braços
Do soldado mais valente
Só que, antes de morrer,
Teve tempo de dizer,
Uma mensagem pra gente.

Dizia-lhe o capitão:
“Sei que logo irei morrer,
Mas, antes de eu partir,
Tenho algo a lhe dizer:
Quando eu me arrisquei,
Fiz apenas o que achei
Que eu tinha que fazer.

Não fiz para ser herói
Nem pra ser condecorado,
Mas, se algo do que eu sei,
Merece ser ensinado,
Lhe digo e sei que acerto:
Faça sempre o que achar certo
Por mais que seja arriscado”.

Foi isso o que sonhei
Na noite que antecedeu
O incêndio que vizinho
À nossa casa ocorreu.
Eu era muito criança
Mas tenho viva a lembrança
De tudo que aconteceu.

A frase que eu falei
Não foi de caso pensado.
Eu apenas repeti,
O que tinha escutado
Naquele momento incerto:
Faça sempre o que achar certo
Por mais que seja arriscado”.

Quando o rapaz acabou
Toda aquela narração,
Percebi que o pai chorava
Tomado pela emoção.
Fui um privilegiado
Por eu ter presenciado
Aquela situação.

Pai e filho se abraçaram
Como dois grandes amigos
Que já caminhavam juntos,
Desde tempos muito antigos.
Caminhando lado a lado,
Tendo juntos enfrentado
Aventuras e perigos.

Se vivemos muitas vidas,
Se há reencarnação,
Eu não nego, nem afirmo,
Não digo que sim, nem não,
Mas, eu bem que gostaria
De haver sonhado, um dia,
Que eu era o outro soldado
Que estava ali por perto
E fazer o que acho certo
Por mais que fosse arriscado.


Volta para o primeiro capítulo...

domingo, 17 de agosto de 2008

Os dois soldados (9ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS IX

O
post anterior terminou com a estrofe:

Mas, quando ele falou isso,
Lembrei-me daquele dia.
Então o cumprimentei,
Perguntei se ele queria
Almoçar em minha mesa.
Teríamos, com certeza,
Assuntos a por em dia.


E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

E, de fato, havia mesmo
Muito para conversar.
Ele falou de sua luta
Para se recuperar
Até deixar o hospital,
Voltar à vida normal
No trabalho e no seu lar.

Naquela oportunidade,
Outra vez nós comentamos
Sobre a história do seu sonho
Da qual um dia falamos,
Quando nós nos conhecemos
No hospital onde estivemos.
Tudo isso nós lembramos.

No meio dessa conversa
Aproximou-se um rapaz
De uns dezessete anos,
Talvez menos, talvez mais,
Que lhe disse, sorridente:
“Papai, cheguei finalmente,
Lhe fiz esperar demais?”

Ele, então, disse: “Meu filho,
Nem vi o tempo passar,
Pois encontrei este amigo
E estive a conversar,
Eu há tempos não o via
Mas, agora gostaria
De a você apresentar”.

“O conheci no hospital,
Quando estive internado
Por causa daquele incêndio,
Ocorrido no passado,
Quando ajudei a vizinha,
Socorri a menininha,
Mas saí todo queimado.”

Depois, olhou para mim,
E foi me esclarecendo:
“Esse aí é o meu filho,
Que eu estava lhe dizendo,
Cuja bela atitude
Demonstrou grande virtude,
Muito me surpreendendo”.

“Com seus dez anos de idade
Mostrou não ter egoísmo.
Arriscou ficar sem pai,
Num exemplo de altruísmo.
Ao me ver titubear,
Inspirou-me a praticar
Ato de grande heroísmo”.

Ouvindo-o falar assim,
O filho o interrompeu,
Dizendo: “Papai, espere,
O senhor não entendeu
Que naquele triste dia
Que o senhor quase morria,
Quem lhe inspirou não fui eu.”

O homem ficou surpreso.
Disse: “Filho, não entendo
É o que estás agora
Nesse instante me dizendo.
Ao ouvir você falar
Foi que resolvi entrar
Na casa que estava ardendo”.

O filho disse: “Eu sei disso,
Mas eu nunca lhe falei,
Que aquilo que eu disse,
Não fui eu que inventei.
Eu apenas repeti
Uma frase que ouvi
Em um sonho que sonhei”.

Na noite antes do incêndio
Eu sonhei que era um soldado
Que lutava em uma guerra
E, em meio ao fogo cruzado,
Fui buscar mais munição
Dentro de um velho galpão
Que havia ali do lado.

Eu e mais dois companheiros
Fomos naquela missão
De entrar no armazém
Por ordem do capitão
Que ficou nos esperando
Na carroça aguardando
Com uma arma na mão.

Naquele mesmo instante
O soldado mais valente
Mostrou todo seu valor
E partiu logo na frente
Entrou armazém adentro
Mas, quando estava lá dentro,
Mudou tudo, de repente.



Continua no próximo post...

sábado, 16 de agosto de 2008

Os dois soldados (8ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS VIII

O
post anterior terminou com a estrofe:

Ponderei sobre essas coisas
Com interesse real,
Mas, o tempo passou logo,
E, em verdade, no final,
Nada e nada concluímos.
Depois nós nos despedimos
E me fui do hospital.


E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

O meu amigo ficou
Alguns dias internado,
Mas logo voltou pra casa,
E hoje está recuperado.
Muito tempo se passou
E aquele dia ficou
Esquecido no passado.

Até que, esta semana,
Eu estava almoçando
Em um shopping da cidade,
Muito distraído, quando
Ouvi uma voz falar:
“Veja, só neste lugar,
Quem eu estou encontrando”.

Eu sequer reconheci
Quem falava ali comigo,
Mas o homem se portava
Como fosse meu amigo,
Disse: “Que satisfação,
Tenho nesta ocasião
De encontrar aqui contigo!”

Foi aí que percebeu
Que eu não o reconhecia,
Então disse: “Me desculpe,
Como você poderia
Saber hoje quem sou eu
Se quando me conheceu
Não viu a fisionomia?”

“Eu sou aquele sujeito
Que estava todo queimado
No dia em que seu amigo
Estava hospitalizado.
Você foi lhe visitar
E eu peguei a lhe contar
Como fui acidentado.”

“Olhe só as cicatrizes
Que para sempre ficaram
Nos meus braços e orelhas
Que no incêndio se queimaram.
Mas, entendo se você
Não lembrar, mesmo por que
Muitos anos se passaram.”

Mas, quando ele falou isso,
Lembrei-me daquele dia.
Então o cumprimentei,
Perguntei se ele queria
Almoçar em minha mesa.
Teríamos, com certeza,
Assuntos a por em dia.


Continua no próximo post...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Os dois soldados (7ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS VII

O
post anterior terminou com a estrofe:

Quando ouvi aquela frase,
Eu não pensei mais em nada.
Em direção ao incêndio
Saí logo em disparada
Pouco depois eu voltava,
E em meus braços carregava
A menina desmaiada.


E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

Depois que saí da casa,
Em seguida desmaiei
E aqui neste hospital
No outro dia acordei.
Pelo ato de bravura
Tive tanta queimadura
Que eu quase me acabei.

Mas, eu lembro que na hora
Que na casa fui entrando,
Era como se estivesse
Naquela guerra lutando,
E a voz do meu comandante
Em repetição constante
Na minha mente ecoando.

Agora, você me diga
Como pôde acontecer
De a frase do meu sonho
Meu filho também saber?
E também de ele ter dito,
Naquele momento aflito,
O que veio a me dizer?

Pois, tendo ele dez anos,
Eu não podia esperar
Atitude como aquela,
De o pai incentivar,
A seguir a consciência
Mesmo que a sobrevivência
Tivesse que arriscar.

Ao ouvir aquela história
Fiquei muito impressionado.
Será mesmo que vivemos
Outras vidas no passado?
Que pai e filho lutaram
Numa guerra e enfrentaram
O inimigo lado a lado?

Ou será que, na verdade,
Foi apenas impressão,
Que o pai teve na hora
De toda aquela aflição,
E pensou ter escutado
O que estava guardado
Em seu próprio coração?

Mas, é possível também,
Ter ocorrido o seguinte:
O próprio pai ter narrado,
Umas dez vezes, ou vinte,
Aquele sonho, e então,
Em alguma ocasião
O filho ter sido ouvinte.

Ponderei sobre essas coisas
Com interesse real,
Mas, o tempo passou logo,
E, em verdade, no final,
Nada e nada concluímos.
Depois nós nos despedimos
E me fui do hospital.


Continua no próximo post...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Os dois soldados (6ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS VI

O
post anterior terminou com a estrofe:

Você deve estar pensando:
“O que isto tem a ver
Com as suas queimaduras
Que ora lhe fazem sofrer?”
Espere que eu lhe conto
E é bom que esteja pronto
Para o que vou lhe dizer.


E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

Aconteceu que um dia,
Eu estava retornando
Para casa com meu filho,
Mas, quando fomos chegando,
Percebi que a residência
Da vizinha, dona Hortênsia,
Estava incendiando.

Ela veio lá de dentro
Chorando desesperada.
Gritando: “A minha filha,
Vai morrer toda queimada!
Não tive como salvá-la
Pois não pude carregá-la
Quando caiu desmaiada.”

Ao ouvir essas palavras
Pensei logo em entrar
Naquela casa em chamas
E assim poder salvar
A filha de Dona Hortênsia,
Mas, apesar da urgência,
Tive tempo de pensar:

“E se eu morrer lá dentro,
Sem nada poder fazer
Pra salvar essa criança
Que eu tento socorrer?
Se eu morro nessa hora,
Meu filho fica aqui fora
Vendo tudo acontecer.”

Olhei para o meu filho,
Que estava ali, do meu lado,
E ele, como se notasse
Que eu havia hesitado,
Disse pra mim, bem de perto:
“Faça sempre o que acha certo
Por mais que seja arriscado”.

Quando ouvi aquela frase,
Eu não pensei mais em nada.
Em direção ao incêndio
Saí logo em disparada
Pouco depois eu voltava,
E em meus braços carregava
A menina desmaiada.



Continua no próximo post...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Os dois soldados (5ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS V

O
post anterior terminou com a estrofe:

Foi então que eu lhe falei:
“Capitão, muito obrigado,
O que o senhor fez por mim
Me deixou impressionado,
Arriscando a sua vida
Desta forma destemida
Pela vida de um soldado”.


E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

Nessa hora ele me disse:
“Sei que logo irei morrer,
Mas, antes de eu partir,
Tenho algo a lhe dizer:
Quando eu me arrisquei,
Fiz apenas o que achei
Que eu tinha que fazer.

Não fiz para ser herói
Nem pra ser condecorado,
Mas, se há algo do que eu sei,
Que pode ser ensinado,
Eu digo e sei que acerto:
Faça sempre o que achar certo
Por mais que seja arriscado”.

Ele disse aquela frase
E ali mesmo morreu.
Uma grande emoção
Sobre mim se abateu.
Então acordei chorando,
Minha mulher perguntando
O que foi que aconteceu.

Foi um sonho tão real
Que custei a acreditar
Que havia apenas sonhado
E acabava de acordar.
Minha cabeça zunia,
Levei quase todo o dia
Para me recuperar.

Mas, depois, passou o tempo,
E eu acabei me esquecendo
Daquele sonho que um dia
Me fez acordar tremendo,
Como também da lição
Que me deu o capitão
Quando estava ali, morrendo.

Você deve estar pensando:
“O que isto tem a ver
Com as suas queimaduras
Que ora lhe fazem sofrer?”
Espere que eu lhe conto
E é bom que esteja pronto
Para o que vou lhe dizer.


Continua no próximo post...

Os dois soldados (4ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS IV

O
post anterior terminou com a estrofe:

Só que, enquanto ele lutava
Pra me ajudar a sair,
O inimigo prosseguia
Querendo nos destruir,
E as bombas que caíam
A qualquer momento iriam
Fazer tudo explodir.


E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

E de fato, explodiu,
Mas eu já tinha saído.
Aí vi que o capitão
Estava muito ferido.
Pois um grande estilhaço
De ferro ou mesmo de aço
Havia lhe atingido.

Consegui sobreviver,
Por causa daquele amigo,
Que, tentando me salvar,
Expôs-se muito ao perigo,
E sofreu um ferimento
Que causou um sangramento
Na altura do umbigo.

A partir desse momento,
Era eu que o socorria.
Carregando-o em meus ombros
Para bem longe eu corria,
Mas, sem ter para onde ir,
Não pude mais prosseguir,
Nem andar eu conseguia.

Foi só aí que eu vi
Que os outros dois soldados,
Que para aquela missão
Comigo foram chamados,
Também nos acompanhavam
E, como eu, lá estavam
Feridos e assustados.

Ficamos todos ali,
Eles, eu e o capitão.
Escondidos, esperando
Melhorar a situação.
Mas o capitão sangrava,
Bem depressa piorava
Ali, deitado no chão.

Foi então que eu lhe falei:
“Capitão, muito obrigado,
O que o senhor fez por mim
Me deixou impressionado,
Arriscando a sua vida
Desta forma destemida
Pela vida de um soldado”.


Continua no próximo post...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Os dois soldados (3ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS III

O
post anterior terminou com a estrofe:

Depois de horas de luta,
Vi que nossa munição
Já estava acabando.
E aquela situação
Ficaria complicada
Se não fosse encontrada
Logo alguma solução.

E a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

Lembro que, bem nessa hora,
Chegou o meu capitão,
E disse: “Venha comigo
Pra buscar mais munição.
Mas, nós temos que correr
Ou então vamos perder
Todo nosso pelotão”.

Pegamos uma carroça,
Ele, eu e outros dois,
Que estavam na trincheira
E ele chamou depois.
E saímos na carreira
Descendo uma ladeira
Entre campos de arroz.

Chegamos numa cabana
Onde estava a munição,
Mas, perto dela, caíam
Muitas balas de canhão
Mesmo assim, fui logo entrando
E a munição procurando,
Pra levar pro capitão.

Mas, já na primeira vez
Que entrei naquele local
Um dos tiros atingiu
A coluna principal.
O telhado desabou
Por pouco não me causou
Um ferimento fatal.

Fiquei preso na cabana
Sentindo muito receio
Que outro tiro atingisse
A construção pelo meio.
Vendo que a minha vida
Poderia ser perdida
No terrível bombardeio.

Nessa hora o capitão
Apressou-se em me salvar
E, saltando da carroça,
Veio para me ajudar.
Afastando os escombros
Arrastou-me pelos ombros
Dali para outro lugar.

Só que, enquanto ele lutava
Pra me ajudar a sair,
O inimigo prosseguia
Querendo nos destruir,
E as bombas que caíam
A qualquer momento iriam
Fazer tudo explodir.


Continua no próximo post...

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Os dois soldados (2ª parte)



CORDEL EM CAPÍTULOS II

O
post anterior terminou com a estrofe:

Percebendo que o homem
Queria participar
Da conversa, resolvi
Também com ele falar.
Perguntei: “E tu, amigo?
O que aconteceu contigo?
Como foi se machucar?”

Agora, a história continua...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton
(continuação)

Apesar dos ferimentos
Ele logo respondeu
E me disse: “Eu lhe conto
O que me aconteceu.
Só que, antes, fale sério,
Se acredita em mistério,
Se é crente ou se é ateu”.

Respondi: “Me considero
Como espiritualista.
Não sigo religião
Mas não sou materialista.
Respeito, de coração,
O mulçumano, O cristão,
O hindu e o budista”.

Ele disse: “Então eu conto,
Mas preste muita atenção,
Pois o que me aconteceu,
Me causa admiração.
Depois que eu lhe falar,
Se tiver como explicar
Me dê a explicação”.

Há alguns anos atrás,
Tive um sonho interessante,
Que parecia real,
Uma coisa impressionante.
Por uma questão de terra,
Eu estava em uma guerra
Era um soldado, um infante.

Eu não sei qual era o ano,
Nem sei qual era o lugar,
Mas a arma que se usava
Era dessas de socar.
A cada tiro que eu dava
Outra vez recarregava
E tornava a atirar.

Nessa batalha sangrenta
Bala vinha e bala ia.
Do lado que eu estava
Toda hora alguém caía.
O inimigo era forte,
Ali nos rondava a morte,
Mas a ela eu não temia.

Depois de horas de luta,
Vi que nossa munição
Já estava acabando.
E aquela situação
Ficaria complicada
Se não fosse encontrada
Logo alguma solução.


Continua no próximo post...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Os dois soldados (Início)



ANIVERSÁRIO E CORDEL EM CAPÍTULOS

Dia 19 deste mês de agosto, Mundo Cordel completará um ano de existência.

Em comemoração à data, vou publicar, a partir de hoje, uma série de posts contendo partes de um cordel inédito que acabo de criar. A cada post publicarei algumas estrofes, até chegar ao final, no dia 19.

Como o cordel tem setenta e oito estrofes, meu pensamento inicial era publicar seis estrofes por post, mas percebi que às vezes a história seria interrompida no meio de uma idéia. Então resolvi não me prender a números.

Vamos soltando a história aos poucos e ver o que acontece...

OS DOIS SOLDADOS
Marcos Mairton

Foi William Shakespeare
Quem escreveu certo dia
Que existem mais mistérios
Entre o céu e a pradaria
Do que possa explicar
Ou ao menos suspeitar
Nossa vã filosofia.

Citei esse pensamento
Em outro cordel que fiz,
Quando adaptei um conto
De Machado de Assis,
E o caso que eu vou contar
Vem de novo confirmar
Essa frase que se diz.

Ocorreu que numa tarde
De um domingo ensolarado,
Fui a um grande hospital
Onde estava internado
Um velho amigo meu
Que um acidente sofreu
E ali foi operado.

Da sua bonita moto
O rapaz tinha caído.
Ficou todo arranhado,
Bem machucado e ferido,
Quase que não escapava
Mas já se recuperava
Do acidente sofrido.

Quando entrei na enfermaria
Percebi que ao seu lado
Havia uma outra cama
E nela um homem deitado.
Chamou minha atenção
Ver que aquele cidadão
Estava todo enfaixado.

Prossegui com a visita,
Fiquei ali conversando,
A história do acidente
Meu amigo foi contando.
Enquanto ele conversava,
O seu vizinho ficava
Sempre nos observando.

Percebendo que o homem
Queria participar
Da conversa, resolvi
Também com ele falar.
Perguntei: “E tu, amigo?
O que aconteceu contigo?
Como foi se machucar?”


Continua no próximo post...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Cordel e dramas de família (José Ribamar Alves)


MEIA DÚZIA DE CORDÉIS



Depois de amanhã completam-se dois anos do lançamento do livro MEIA DÚZIA DE CORDÉIS, do poeta e repentista JOSÉ RIBAMAR ALVES, de Mossoró. Estive no lançamento, e ainda ontem estava relendo o livro, dedicado pelo autor.


Do site da Editora Queima-Bucha, do meu amigo Gustavo Luz, peguei a matéria a seguir, publicada à época no jornal Correio da Tarde:


Literatura de cordel e a conquista de novos espaços A literatura de cordel vem conseguindo cada vez mais espaço e se consagrando como a forma mais popular de expressão literária.Em Mossoró esta expansão vem sendo comemorada pelos cordelistas que se sentem motivados a desenvolver novos projetos voltados para a cultura popular.O repentista e cordelista José Ribamar Alves é um exemplo do crescimento da literatura de cordel no Rio Grande do Norte. Atualmente o artista popular está fazendo um trabalho de divulgação do cordel em Natal. O projeto consiste em levar ao conhecimento de todo o estado os títulos de vários cordelistas de Mossoró e região.Para Ribamar, o momento atual vivido pela cultura popular representa uma grande abertura para todo os artistas que fazem arte e cultura. “Aqui em Mossoró o espaço para a Literatura de Cordel vem crescendo e devemos isto ao trabalho de divulgação feito através de parcerias com entidades e empresas como a Editora Queima Bucha e a Fundação Vint-un Rosado”, relata.O mais recente projeto do repentista Ribamar Alves é o livro ‘Meia Dúzia de cordéis’, que será lançado no próximo dia 20 em Mossoró. Na obra ele reuniu os seis cordéis de sua autoria que fizeram mais sucesso e que foram mais vendidos. O lançamento acontecerá às 20h no Restaurante Kasebre, localizado na Rua Jerônimo Rosado, 239, Centro.A noite de lançamento será marcada por uma grande festa popular que contará com a participação de vários repentistas, poetas, entre outros artistas e convidados. O poeta popular Antônio Francisco será uma das atrações da noite.O livro está sendo editado pela Editora Queima Bucha.José Ribamar, um poeta muito popularO cordelista José Ribamar Alves é natural da cidade de Caraúbas. Filho de agricultor, e apesar de não ter concluído sequer o segundo ano primário, aprendeu com a literatura de cordel a produzir seus próprios cordéis. Hoje acumula 17 títulos publicados com as mais variadas histórias.‘Falando do meu sertão’, foi primeiro cordel publicado e desde então o poeta popular não parou mais de produzir e passar par o papel o seu pensamento e as histórias que conhece. Apesar de ser caraubense, Ribamar conhece bem a história de Mossoró. Tanto que transformou este conhecimento em cordel, lançando os títulos: ‘Detalhes sobre a cidade que combateu Lampião’, volumes I e II. Sayonara Amorim - Correio da Tarde


Em homenagem ao poeta, Mundo Cordel traz hoje a obra:

ARMADILHA DO DESTINO

Eis aqui, digno leitor,
Uma poética invenção
Digamos que baseada
Em uma justa razão
Pela qual o filho bota
O próprio pai na prisão.

Numa cidade de dez
Mil habitantes do mais,
Moravam João e Eva
O mais simples dos casais.
Genitores da mais bela
Das moças regionais.

Essa moça se chamava
Núbia dos Santos Vilela.
Tinha dezenove anos
Quando fez por ser tão bela
Um jovem da mesma idade
Se apaixonar por ela.

Os pais de Núbia diziam
Pra ela dessa maneira:
“Esse rapaz não a quer
como única companheira.
Pense no futuro, antes,
De fazer uma besteira.

Núbia, sentindo também
Paixão pelo jovem fez
Um bilhete que dizia:
Wladimir dos Santos Reis,
Em três dias, ou me rouba,
Ou me perde de uma vez.

Três dias após ter lido
O bilhete perfumado,
Wladimir roubou a jovem
Por quem era apaixonado,
Mas o amor deles dois
Não durou o esperado.

Com dois meses Wladimir
Pra são Paulo fez partida.
Deixou Núbia no Nordeste,
Desprezada e ofendida.
Além de grávida, sem teto,
E refeição garantida.

Rejeitada pelos pais,
Ela ficou na cidade.
No lar de um de outro
Que tinham boa vontade,
Nutrindo o filho no ventre,
Com o pão da caridade.

No dia em que ela teve
O filho no hospital.
Pra não criá-lo sofrendo,
O doou para um casal
Que o levou pra morar
em São Paulo capital

Júnior Tabosa Mesquita,
Sargento de alto valor,
E ana Dutra Mesquita,
Esposa de tal senhor,
Como não tinham família
O adotaram com amor.

O casal lá em São Paulo
Quando chegou registrou
Como seu filho legítimo
O menino que ganhou
E, no qual Mesquita Júnior
Foi o nome que botou.

Mesquita, como sete anos,
Cuidade pelo casal,
Começou a estudar
Num colégio especial
Reservado para os filhos
Da polícia federal.

O menino tinha tanta
Vocação para estudar
Que todo ano, nas provas,
Era o primeiro lugar,
De uma série para a outra
Não ficava sem passar.

Findou o segundo grau
Com 16 anos de idade,
Passou no vestibular
Com ampla facilidade,
Abrindo as portas da mente
Pra os céus da faculdade.

Para estudar Direito
Rejeitou Geografia,
Sociologia e Letras,
Medicina, Agronomia,
Também Contabilidade,
Botânica e Economia.

Quando vinte e cinco anos
Completou, ficou feliz.
Na hora que conseguiu
Ser declarado juiz
Chefe da 1ª Vara
Criminal, que tanto quis.

Com quatro anos depois
Conquistou Bruna Salém
Uma jovem promotora,
Simpática como ninguém,
Com ela fez matrimônio
Levou sorte e se deu bem.

No mesmo mês, Dona Bruna,
Por ser muito atarefada
Mandou buscar no Nordeste
Uma mulher não casada
Com mais de quarenta anos
Para ser sua empregada.

Uma parenta de Bruna,
Atendendo seu pedido
Lhe telefonou dizendo:
“Seu caso está resolvido,
Enviei uma mulher
Separada do marido”.

Tem quarenta e oito anos,
Não sai de casa pra festa,
Onde vai, dá-se ao respeito,
Não anda com quem não presta,
É muito trabalhadora,
Séria, humilde e honesta.

Depois de tudo acertado
Núbia dos Santos Vilela
Foi trabalhar para Bruna
Em São Paulo, com cautela,
Sem saber que o juiz
Era o próprio filho dela.

Ouviu Núbia, certo dia,
Na hora da refeição,
Mesquita dizer pra Bruna:
“Mandei para detenção,
Wladimir dos Santos Reis
Que assassinou o patrão.

Dei pra ele trinta anos
De reclusão numa cela”.
Quando findou o assunto,
Disse pra esposa bela:
“Vamos visitar mamãe,
Estou com saudade dela”.

Núbia também foi com eles
Passar o fim de semana.
Ao chegarem na mansão,
De porta veneziana,
Avistou Júnior Tabosa
Ao lado de Dona ana.

Ambos mudaram de cor
Quando se reconheceram...
De surpresa e emoção
Naquela hora tremeram.
Mas, Bruna e Mesquita Júnior
O porquê não entenderam.

Dona Ana perguntou:
“Anda procurando alguém?
O que é que faz aqui?”
Núbia disse: “Muito bem,
Trabalho na residência
De dona Bruna Salém”.

Nessa hora, uma pergunta,
O doutor Mesquita fez:
“Meus pais, vocês a conhecem?”
Falaram com timidez:
“Essa é a mulher do réu
Wladimir dos Santos Reis”.

Núbia, nessa hora pôs
Os joelhos sobre o chão.
Disse: “Eu sou sua mãe.
Filho, me dê seu perdão.
Lhe dei para não lhe ver
Sofrer tanta precisão”.

Seu pai me abandonou
Sem haver necessidade.
Ele é aquele homem
Que vossa autoridade,
Cumprindo as regras da lei,
O jogou por trás da grade.

Até a porta da cela,
Mesquita penalizado,
Foi com os pais adotivos
E a mãe legítima de lado
Olhar o pai verdadeiro
Por ele sentenciado.

Núbia disse: “Veja o filho
Que você deixou em mim.
Wladimir pediu perdão
E seu filho disse: “Assim,
Lhe condenei justamente
Mas não desejo seu fim”.

Núbia, na casa do filho,
Deixou de ser empregada.
Por Júnior Tabosa e Ana
E Bruna foi abraçada.
Mesquita sentiu remorso,
Da condenação pesada.
E Wladimir ficou preso
Cumprindo a sentença dada.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Cordel e repente...


Desenho obtido no site http://www.stickel.com.br/atc/coisas/2711, de Fernando Stickel
LÁGRIMAS DE UM CANTADOR CEGO

Uma bem curtinha, do colaborador RICARDO PIAU, de Juazeiro do Norte:

Não sei se já te mandei isto, mas acho uma das estrofes mais bonitas que já vi. Ouvi em um programa do Dílson Pinheiro.

O Dílson conta que um determinado cantador era cego, e estava numa cantoria homenageando sua mãe, que completava noventa anos naquela data.

Depois de muitas homenagens, um amigo chegou ao ouvido do cantador e falou que sua mãe estava chorando de tão emocionada.

O cantador pegou a viola e mandou:

Tão vendo aquela velhinha
Enrolada no seu manto
Com os olhos rasos d'água
Lavando a mágoa em seu pranto?
Cantava quando eu chorava
Hoje chora quando eu canto


Ricardo Morais