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quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cordel de Antonio Barreto


CORDEL DESENCANTADO
Antonio Barreto - (Santa Bárbara/BA), residente em Salvador



Todos nós aqui sabemos
Que a cultura anda pra trás...
O governo é incapaz
De ofertar o que merecemos
E assim nós padecemos
Nessa onda da exclusão.
Na literatura, então,
Só tem vez o elitizado.
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




II


Patativa, lá no céu,
Certamente está chorando
E prossegue reclamando
Sem poder tirar o chapéu
Ao ver tanto malandréu
Mergulhado na ambição
Botar dinheiro na mão
Mesmo sendo afortunado.
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  III


Tem vez o parlamentar
O juiz, o advogado...
O produtor aloprado
Com seu dom de enganar
E quem merece ganhar
Fica de cuia na mão
Trabalhando sempre em vão
E não é remunerado.
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  IV


O mundo precisa, sim,
De amor e poesia
De saúde, de harmonia
De justiça, de festim
De um anjo querubim
Que tenha bom coração
Mas é sempre o bom ladrão
De todos o mais lembrado.
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  V


Na ponga do carnaval
Tem cachê pra pagodeiro.
Da imprensa ao marqueteiro,
Ganhar dinheiro é normal;
Do axé ao escambal,
Haja grana de montão...
E em Salvador, então,
Tem setor que é explorado...
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  VI


Tem barba patrocinada
Conforme fez a Gillete !
É dinheiro feito a peste
Uma eterna marmelada.
2 milhões, meu camarada,
Me causa decepção.
Mas, no mundo da ilusão,
Estarei sempre acordado:
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  VII


Tem até Um Ponto Trê$
Para criação de Blog ...
Já estou ficando “groque”
Com tudo que Ela fez
Aliás a  insensatez
Tá no sangue, cidadão !
Mas as “deusas” têm razão,
O Barreto está errado !
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  VIII


De norte a sul do Brasil,
Quem menos precisa ganha;
Prevalece a artimanha
Da cultura varonil
De passar pelo funil,
Por meio de proteção,
Aquele que é grandão
E o resto fica lascado !
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  IX


A grana toda investida
Em projetos musicais
É pomposa de reais
Sem nunca ser dividida
E como não há saída
Nós vamos ao paredão
A cumprir nossa missão
De vate descriminado:
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  X


Toda a elite cultural
Ganha tudo que deseja
E recebe de bandeja
Apoio incondicional
Nesse Brasil desigual
De “Maria” e “Pai João”
Que prima pela exclusão
Deixando o cordel de lado...
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  XI


Precisamos atentar
Aos ruídos da TV...
Tem coisas que a gente vê
Mas não pode revelar,
Então vamos acordar
Para a flecha da exclusão.
Encantado ou falação,
O Cordel será louvado...
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  XII


Nesse espírito mercantil
Tem gente de A à Z  !!!
Vocês têm fome de quê,
Estrelas, do meu Brasil?
Joguem tudo no canil
Deem adeus a ambição
Vamos dividir o pão
Nesse jogo mal jogado.
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  XIII


Muito mais que indiferença
Aos poetas populares,
Que perdem nos seus falares
Nesse mundo de descrença.
Peço então a nossa imprensa
Que nos dê mais atenção.
E que o brado do sertão
Seja assim sacramentado...
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  XIV


A grana que é da gente
Está indo para o ralo
E muitos vão neste embalo
Sem perceber que a Serpente
Lucra muito facilmente,
Na cultura e educação,
Levando todo tostão
Desse país aloprado.
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




  XV


Eu não sei se é descaso
Com a cultura popular.
Quero então acreditar
Que Dilma resolva o caso.
Se à vista ou a prazo,
Ela arranja a solução
E põe fim nessa questão
Do cordelista isolado.
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não.




   XVI


Cordelistas, repentistas,
Legião de emboladores,
Xilógrafos, cantadores,
Meus griôs africanistas
Nós somos fiéis artistas
Sem perder nosso rojão
Vamos cantar o sertão
De coração orgulhado...
Todo artista é respeitado
Porém o poeta não !




XVII


A Globo nos enganou
Com a novela do cordel
Foi deveras infiel
E em nada retratou
A cultura que encantou
O povo dessa Nação
Causando decepção
Nesse “cordel encantado”...
Todo artista é respeitado
Mas o cordelista não !!!


 FIM


Salvador, Abril/2011

domingo, 3 de abril de 2011

Cordel Encantado


O CORDEL DA NOVELA E A NOVELA DO CORDEL


O site da ABLC diz que a Literatura de Cordel chegou ao Brasil no século XVI, junto com os colonizadores portugueses, e explica:


Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e no coração dos nossos colonizadores, instalando-se na Bahia e mais precisamente em Salvador. Dali se irradiou para os demais estados do Nordeste. A pergunta que mais inquieta e intriga os nossos pesquisadores é "Por que exatamente no nordeste?". A resposta não está distante do raciocínio livre nem dos domínios da razão. Como é sabido, a primeira capital da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de todas as culturas, permanecendo assim até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro (http://www.ablc.com.br/historia/hist_cordel.htm).

Apesar dessa origem tão remota, muita gente conhecedora do assunto diz que os cordéis fizeram mesmo muito sucesso nas décadas de 1930 e 1940, entrando em declínio a partir da década de 1960.

Coincidência ou não, está registrado na Wikipedia que “a televisão no Brasil começou em 18 de setembro de 1950”. As telenovelas vieram em seguida, a partir de dezembro de 1951. Isso confirma algo que já ouço há muitos anos, ou seja, que um dos motivos do declínio da Literatura de Cordel foi a entrada em cena das telenovelas.

Faz sentido. Antes da televisão se popularizar, era comum as pessoas se reunirem à porta de casa à noite, para ficarem conversando. Quando havia um folheto de cordel para alguém declamar, essa conversa ficava ainda mais interessante. Com a chegada da televisão, contando histórias através de sons e imagens, ficou difícil para os declamadores do cordel.

Mas, a Literatura de Cordel não acabou por causa disso. O tempo passou e ela voltou a se fortalecer, ajudada curiosamente por uma mídia que hoje ameaça a própria televisão: a Internet.

Coincidência ou não (repeti de propósito), o cordel agora entra na própria novela, com a Rede Globo lançando “Cordel Encantado”, cujas chamadas (vídeos acima) são inclusive cantadas ao som de uma viola, como se diz que ocorria antigamente.

É a prova de que, se um dia pareceu que a novela acabaria com a Literatura de Cordel, hoje se vê que essa mesma novela se rende à Literatura de Cordel e deve puxá-lo para cima.

Claro que há o risco de o Cordel ser mal apresentado, de forma caricata ou simplista, como costuma acontecer com a sociedade do sertão nordestino e seu sotaque, mas acredito que o resultado final será favorável a essa cultura tão brasileira, que consegue a tanto tempo preservar a tradição e se renovar.


Afinal, como já observou o poeta Manoel Belizário, "a novela 'Cordel Encantado' já rende até entrevista com os cordelistas". E olhe que a novela ainda nem começou...