quarta-feira, 11 de abril de 2012

Poesia de Mundim do Vale

No dia 26 de março deste ano, faleceu Pedro Alves de Morais, o Pedro Piau, pai do poeta Mundim do Vale. Graças a minha amizade com Ricardo Piau, irmão de Mundim, tive oportunidade de conhecer Pedro Piau e ver a amizade com que se relacionava com os filhos.

Semana passada, Ricardo me enviou esses versos, que mostram a grande sensibilidade do poeta Mundim do Vale, ao mesmo em tempo em que destacam as lições e o exemplo de vida que Pedro Piau deixou para seus filhos.

Meu abraço solidário a toda a família Piau, formada por pessoas por quem tenho grande carinho, ainda que há muito não tenha contato com muitos dos seus membros.

Seguem os versos de Mundim do Vale e uma foto da cidade de Várzea, Terra dos Contrastes, Terra dos Piau.



CONVERSANDO COM O MEU PAI
Mundim do Vale 

Meu pai, que grande alegria, 
Estou feliz, pode crer. 
Eu marquei para este dia 
um diálogo com você. 
Tudo que vou perguntar, 
sem querer lhe incomodar, 
vou usar como apostila. 
Sua vida duradoura 
sempre foi a promotora 
da união da família? 


 Meu pai, me diga, por quê 
A sua serenidade? 
Diga-me: por que você 
vive com tranquilidade, 
se durante a sua vida 
houve subida e descida 
para você enfrentar? 
Com quem você aprendeu, 
de quem você recebeu, 
como pôde conservar? 


 Ensine como guardou 
todos os princípios seus. 
Diga-me: de quem herdou 
sua grande fé em Deus? 
A sua religião, 
sua boa educação 
são herança de seus pais? 
Sua boa experiência 
E o dom da paciência, 
por que crescem sempre mais? 


 Diga como conseguiu 
Construir seu ideal 
Se você não concluiu 
Nem mesmo o primeiro grau? 
Por que você, nessa idade, 
Tem tanta vitalidade 
Que nem todo mundo tem 
Diga sem pestanejar 
Se pretende ultrapassar 
Dos noventa para os cem. 


 Uma coisa que eu queria 
E há tempo peço a Deus 
É de poder ver um dia 
Meus filhos iguais aos seus. 
Se você me ensinar 
A receita de educar, 
Quem sabe, posso aprender? 
Só tem uma coisa mais: 
Nós dois não somos iguais. 
Como é que eu vou fazer? 
_____________________________ 


 Meu filho, eu vou explicar 
Da vida a realidade 
Não há quem possa mudar 
O poder da divindade 
Eu tropecei na descida 
Me equilibrei na subida 
Porque com Deus ninguém cai. 
E assim eu vou lutando, 
Com lembrança conservando 
Os conselhos do meu pai. 


 Lhe ensinar como guardei 
Os meus princípios de fé, 
Não vai precisar, eu sei, 
Pois você sabe o que é. 
Para alguém ser educado, 
Não precisa de mestrado 
Nem de pós-graduação. 
Paciência e experiência 
São virtudes de ciência 
Que não têm limitação. 


 Meu ideal encontrei 
Com muita boa vontade, 
Por isso não precisei 
Diploma de faculdade. 
Se muito eu estou vivendo, 
É Deus quem está querendo 
Meus trabalhos concluídos. 
Se ele assim determinar, 
Posso até ultrapassar 
Os cem anos bem vividos. 


 Um jardim fica seguro 
Se o jardineiro regar 
Para um filho ter futuro 
O pai tem que educar. 
Siga em frente, não esqueça 
Grave na sua cabeça 
Tudo que eu lhe ensinei. 
Caminhe pelos meus trilhos, 
Repasse para seus filhos 
A educação que lhe dei. 


 Meu filho, eu também gostei 
Dessa sua arguição 
Você sabe, eu também sei 
o valor da educação. 
Meus filhos são um composto 
E não me deram desgosto 
Nem um dia em minha vida. 
Com essa boa convivência 
Hoje eu tenho a consciência 
Da minha missão cumprida. 

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