No dia 26 de março deste ano, faleceu Pedro Alves de Morais, o Pedro Piau, pai do poeta Mundim do Vale. Graças a minha amizade com Ricardo Piau, irmão de Mundim, tive oportunidade de conhecer Pedro Piau e ver a amizade com que se relacionava com os filhos.
Semana passada, Ricardo me enviou esses versos, que mostram a grande sensibilidade do poeta Mundim do Vale, ao mesmo em tempo em que destacam as lições e o exemplo de vida que Pedro Piau deixou para seus filhos.
Meu abraço solidário a toda a família Piau, formada por pessoas por quem tenho grande carinho, ainda que há muito não tenha contato com muitos dos seus membros.
Seguem os versos de Mundim do Vale e uma foto da cidade de Várzea, Terra dos Contrastes, Terra dos Piau.
CONVERSANDO COM O MEU PAI
Mundim do Vale
Estou feliz, pode crer.
Eu marquei para este dia
um diálogo com você.
Tudo que vou perguntar,
sem querer lhe incomodar,
vou usar como apostila.
Sua vida duradoura
sempre foi a promotora
da união da família?
Meu pai, me diga, por quê
A sua serenidade?
Diga-me: por que você
vive com tranquilidade,
se durante a sua vida
houve subida e descida
para você enfrentar?
Com quem você aprendeu,
de quem você recebeu,
como pôde conservar?
Ensine como guardou
todos os princípios seus.
Diga-me: de quem herdou
sua grande fé em Deus?
A sua religião,
sua boa educação
são herança de seus pais?
Sua boa experiência
E o dom da paciência,
por que crescem sempre mais?
Diga como conseguiu
Construir seu ideal
Se você não concluiu
Nem mesmo o primeiro grau?
Por que você, nessa idade,
Tem tanta vitalidade
Que nem todo mundo tem
Diga sem pestanejar
Se pretende ultrapassar
Dos noventa para os cem.
Uma coisa que eu queria
E há tempo peço a Deus
É de poder ver um dia
Meus filhos iguais aos seus.
Se você me ensinar
A receita de educar,
Quem sabe, posso aprender?
Só tem uma coisa mais:
Nós dois não somos iguais.
Como é que eu vou fazer?
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Meu filho, eu vou explicar
Da vida a realidade
Não há quem possa mudar
O poder da divindade
Eu tropecei na descida
Me equilibrei na subida
Porque com Deus ninguém cai.
E assim eu vou lutando,
Com lembrança conservando
Os conselhos do meu pai.
Lhe ensinar como guardei
Os meus princípios de fé,
Não vai precisar, eu sei,
Pois você sabe o que é.
Para alguém ser educado,
Não precisa de mestrado
Nem de pós-graduação.
Paciência e experiência
São virtudes de ciência
Que não têm limitação.
Meu ideal encontrei
Com muita boa vontade,
Por isso não precisei
Diploma de faculdade.
Se muito eu estou vivendo,
É Deus quem está querendo
Meus trabalhos concluídos.
Se ele assim determinar,
Posso até ultrapassar
Os cem anos bem vividos.
Um jardim fica seguro
Se o jardineiro regar
Para um filho ter futuro
O pai tem que educar.
Siga em frente, não esqueça
Grave na sua cabeça
Tudo que eu lhe ensinei.
Caminhe pelos meus trilhos,
Repasse para seus filhos
A educação que lhe dei.
Meu filho, eu também gostei
Dessa sua arguição
Você sabe, eu também sei
o valor da educação.
Meus filhos são um composto
E não me deram desgosto
Nem um dia em minha vida.
Com essa boa convivência
Hoje eu tenho a consciência
Da minha missão cumprida.
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