"MEU TRABALHO PARA A ESCOLA
É FAZER UM CORDEL"
Marcos Mairton
Quase todo dia recebo neste Mundo Cordel manifestações como essas:
“Ai
eu tô presisando de um cordel para um trabalho da escola, eu ñ sei
fazer e por isso pesso a ajuda de vcs por favor me manda um ainda
hoje!!!!!!!”
“eu
não sei fazer um cordel pois minha Professora de Lingua Portuguesa quer
que eu e meus colegas de sala passem um cordel mais ninguem sabe tem
como voçes mim ajudarem um pouco ou então da uma dica de como é um
cordel ?”
“ahhhhhhh
ate vc (...) a prof de poRTUGUES Passou esse
mtrabalho!!!!!!!!!!!!!poiser gente nao tenho a minima como criar um
cordel me ajudemm...........por favor”
“n sei fazer cordel presiso pra 2 trabalho de arte”
Longe
de querer tripudiar sobre a dificuldade que essas pessoas demonstram
para a comunicação por meio da Língua Portuguesa - até porque em geral
são crianças, que dão seus primeiros passos na linguagem escrita -
pretendo chamar a atenção para um fato que parece estar relacionado com a
popularidade que a Literatura de Cordel vem reconquistando nos últimos
anos.
Bem
se sabe que atualmente, nas escolas brasileiras, é comum se falar de
Cordel na sala de aula, seja para o estudo da Literatura de Cordel como
manifestação artística, seja usando o Cordel para estudar outros temas,
como ecologia, história e até matemática.
Para
mim, que sou cordelista - e penso que, para os cordelistas em geral - é
animador ver o Cordel ocupando esse espaço na educação, seja de
crianças, seja de jovens e adultos. A linguagem simples e direta,
associada ao ritmo da escrita rimada e metrificada, sem dúvida são
fatores que ajudam no aprendizado, e, ao que tudo indica, os resultados
já são sentidos pelos educadores que lançam mão do Cordel em seu
trabalho.
A
par disso, parece-me estranho que alguns professores estabeleçam a
criação de um Cordel, tratando desse ou daquele assunto, como trabalho a
ser desenvolvido pelos alunos, valendo nota. Quando recebo os pedidos
de ajuda dos estudantes internautas, pergunto-me: “É
razoável exigir de um estudante, especialmente uma criança, que aborde
determinado tema em versos, observando as regras de rima e de métrica
características da Literatura de Cordel?”.
Ainda
não cheguei a uma posição definitiva, mas, até agora, o estabelecimento
da criação de um Cordel como tarefa válida para obtenção de nota, tem
me parecido um tanto forçado. Chego a pensar se os professores que agem
assim vêem o Cordel com algo banal, que qualquer pessoa poderia criar.
Por outro lado, não posso crer nisso, pois sei que os professores que
utilizam o Cordel como ferramenta educativa são exatamente aqueles que o
valorizam e admiram, e quem estuda a Literatura de Cordel sabe que não é
fácil escrever rimando, metrificando e, ainda por cima, sintetizando o
conteúdo para desenvolver ideias, às vezes complexas, em estrofes de
seis, sete ou dez linhas.
Aliás,
até se torna relativamente fácil para quem tem o dom, o que não depende
de educação e cultura, pois muitos são os cordelistas de renome que
praticamente não tiveram estudo, embora a maioria reconheça que a
leitura enriquece o vocabulário e amplia as possibilidades para a
abordagem de assuntos mais variados.
Sabendo
disto, parece-me natural que, em um grupo de estudantes, um ou outro
tenha condições para escrever em forma de Cordel, mas boa parte
simplesmente não conseguirá. Afinal, é de arte que se está a tratar, e
arte requer um mínimo de talento.
“Mas, crianças não fazem atividades com tintas e pincéis, sem ser artistas plásticos?”, é a pergunta que me vêm à mente. E junto me vem uma resposta: “É
verdade. Como é verdade também que crianças fazem pequenas
dramatizações sem ser atores e atrizes, mas, não é comum que crianças
componham canções ou executem peças musicais ao violino”.
No final, salvo os casos de crianças-prodígio, nem o quadro será arte
plástica, nem a dramatização será uma peça de teatro, mas alguma coisa
será feita. Já a canção, pode ser que nunca fique pronta. Quanto ao
violino, além de ser complicado até para músicos, o ruído que faz quando
mal utilizado é simplesmente insuportável.
Talvez
as coisas sejam assim mesmo. Algumas manifestações artísticas suportam
bem que pessoas que não têm vocação para elas brinquem com suas
ferramentas, outras nem tanto. Pelo que tenho visto nos pedidos de ajuda
que chegam ao Mundo Cordel, parece-me que, tendo como ferramenta a
palavra, e sendo necessário que o uso da palavra observe algumas regras
rígidas, a Literatura de Cordel é muito divertida para ser lida,
declamada, interpretada, mas a sua criação costuma deixar em pânico
aqueles que não têm pelo menos um pouco de habilidade inata para
fazê-lo.
Nessa
linha de pensamento, creio que até faça sentido adotar como atividade
escolar a tentativa de elaboração textos em forma de Cordel, como
trabalho de grupo, mas sem o dever de se chegar a um resultado final
muito elaborado. Isso daria oportunidade para que cada um desenvolvesse o
seu talento e criatividade, mas sem gerar pressão sobre os que não
conseguissem chegar a um resultado apresentável.
Claro
que essa é a minha visão, como cordelista, sem qualquer garantia de que
outros cordelistas pensem assim, e sem saber o que pensam os educadores
sobre o assunto. Estes talvez tenham explicações que afastem totalmente
essas minhas ponderações, e eu bem que gostaria de conhecê-las.
Poeta MARCOS MAIRTON, essa discussão é muito válida para que os nossos professores repensem o papel do folheto na sala de aula. Veja este comentário que publiquei no meu blog ACORDA CORDEL, logo após reproduzir o seu artigo:
ResponderExcluirAchei muito interessante a abordagem do poeta Marcos Mairton. Muitos cordelistas e até diletantes dessa arte se metem a fazer oficinas de cordel com a intenção de formar novos poetas e transformar suas técnicas em algo manipulável e flexível, esquecendo que a poesia é antes de tudo um dom, um estado de espírito.
Na página 64 do meu livro "ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA", segunda edição, eu digo textualmente o seguinte:
"O objetivo desta atividade não é “formar” poetas e sim despertar o interesse pela leitura, utilizar o potencial didático dos folhetos no aprendizado e apresentar aos estudantes e professores uma ferramenta de ensino alternativa, que possui grande identificação com a cultura brasileira. Entretanto, nas muitas oficinas e palestras realizadas pelos facilitadores deste projeto, percebemos que há um forte interesse das pessoas, principalmente crianças, em produzir versos e montar seus próprios folhetos em classe. Diante disto, segue um manual de instrução mostrando como fazer um folheto, passo a passo."
Fica claro, portanto, que o exercício de produzir um folheto em classe é uma atividade lúdica, que envolve escolha de tema, elaboração de uma sinopse da trama, construção dos versos, criação da capa, impressão, exposição dos folhetos etc. Mas isto é muito bom quando há o acompanhamento de alguém do ramo, ou mesmo de algum professor que tem o necessário conhecimento sobre as técnicas do cordel. Em suma, o folheto produzido em sala de aula - tirando rarissimas exceções, deve ser visto, antes de tudo, como um exercício lúdico, uma bricandeira, e não como uma peça literária.
Prezados,
ResponderExcluirconcordo em linhas gerais com vocês, e fico até grato por ver essa discussão importante ganhando espaço aqui no blog (vou levar o tema pro blog dos Cordéis Joseenses também).
Acho que oficina de cordel é sempre válida, no que se refere à motivação para conhecer mais essa arte -para que se leia e pesquise cada vez mais o cordel. "Formar bons cordelistas" é algo que nem a melhor oficina deve ter a pretensão de fazer, pois seria o análogo de dizer que uma escolinha de futebol forma bons jogadores, o que depende muito mais do material humano que da própria oficina ou escola.
Dito isso, vamos à escola propriamente dita: acho que o aspecto lúdico é mesmo essencial no cordel para crianças; pressionar ou "forçar" crianças para que criem cordel é algo complicado, pois tudo que vira obrigação perde o charme para a criança (e para a maioria dos adultos também).
Penso que o professor deve ter sensibilidade para deixar fluir o caráter lúdico da iniciativa. A criança tem que sentir vontade de ler, curtir cordel e, se for o caso, fazer o seu. Nesse sentido, quero deixar registrado que já vi professoras fazendo muito bem esse trabalho de incentivo ao mergulho lúdico no universo do cordel - o que é particularmente importante por aqui, no Sudeste, onde muita gente está ainda descobrindo a literatura de cordel.
Infelizmente as escolas não se dão conta da gama de possibilidades que tem para ensinar qualquer coisa. O cordel é uma dessas possibilidades. Seria muito bem aceito nas salas de aula. caso fosse utilizado
ResponderExcluirBoa e propícia essa discussão. A Literatura de Cordel vem sendo muito indicada e comentada isso, graças a todos nós que militamos nela.
ResponderExcluirNa questão do cordel em sala de aula, aqui em Caruaru, desde 2006 que a Prefeitura através da Secretaria de Educação, contrata cordelistas, hoje num total de 10, para trabalharem essa rica literatura o ANO TODO, em sala de aula. Um Projeto criado e idealizado pelo poeta Hérlon Cavalcanti e até hoje funciona bem. Na sala de aula trabalhamos não só rima, métrica e oração mas também a musicalidade, a teatralidade, xilogravura e repente. A cada ano passamos para uma escola diferente, rodízio. O que era uma oficina hoje já virou um CURSO.
O Projeto não tem o caráter de formar poetas. Eles vão acontecendo no decurso do ano letivo e já são encaminhados ao mercado de trabalho.
Confiram esse Projeto nos blogs: cordelnasescolas.arteblog.com.br e zedocordel.blogspot.com.br
No mais, agradecemos e parabenizamos o MUNDOCORDEL pela oportunidade de nos informar de tudo.
Caros amigos,
ExcluirExcelente discussão. Poetas, professores, alunos e pesquisadores precisam ter em mente os grandes benefícios de inserrir a literatura de cordel nas salas de aula. E como dizem todos os colegas, não para formar poetas, mas essencialente, propiciar o conhecimeto de nossa literatura que desde a oralidade, sedimenta-se no universo popular e desperta o interesse de todos. É ótima ferramenta no aprendizado de todas as disciplinas, visto que abrange temáticas do cotidiano de cada um, mas também de temas mais universais. A ludicidade proporciona ao aluno maior prazer no aprendizamdo. As oficinas são ótimas para a difusão de um gênero poético que agrada pelas temáticas e pela musicalidade que carrega. É bem mais agradável aprender geografia em versos rimados e de fácil memorização. PARABNES pela bola levantada!
Abraço,
Rosário Pinto
Amei o que foi dito aqui sobre o Cordel em sala de aula. Sou professora de Filosofia e, também, cordelista, e nunca havia lido algo tão completo sobre a ação da Literatura de Cordel na educação. Era tudo que eu precisava para dar-me mais incentivo na execução do meu trabalho. OBRIGADA!!!
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