segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Poesia de Luís Campos (Blind Joker)

UM CORDEL SOBRE O LIXO
(e a chegada de mais um poeta ao Mundo Cordel)
Semana passada tive mais uma dessas surpresas agradáveis que Mundo Cordel sempre me proporciona. Em minha caixa de e-mails estava um do cordelista Luís Campos, de Salvador-BA, propondo-se a publicar alguns de seus cordéis por aqui.

Claro que concordei. Logo chegaram os cordéis, e um desses é o que publico hoje.
Quem quiser saber mais sobre a poesia de Luís Campos, pode visitar ose seguintes sites:

1. Planeta Educação:
http://www.planetaeducacao.com.br(Clique no link, Revista Cego à Vista e divirta-se com as historinhas!)
2. Vanmix: http://www.vanmix.com

Uma curiosidade: como Luís Campos é cego, utiliza um software especial (Dosvox), que gera arquivos em formato TXT.

Para os estudiosos do cordel que sempre vem por aqui, chamo a atenção para a métrica, em sétimas, com rima ABCBDDB e cada estrofe começando com verso que rima com o último da estrofe anterior.
Bem, vamos ao cordel, excelente na rima, na métrica e na oração, com mensagem ambientalista super atual!


CUIDADO COM O LIXO

Luís Campos (Blind Joker)
Acho que o pessoal
já não tem educação
a cidade anda suja
parecendo um lixão.
Ninguém tá preocupado
é lixo por todo lado
entupindo o grotão.
*
Para ser bom cidadão
tem que cuidar da cidade
zelar por sua limpeza
não é fazer caridade.
É dever de todos nós
sujam rio até a foz
seja dita a verdade.
*
Não é questão de bondade
ou mesmo de simpatia
quem só pensa em si mesmo
não deve ter alegria.
Vamos pensar no vizinho
limpar o nosso cantinho
pra viver em harmonia.
*
Casca de fruta na via
provocando acidente
cachorro morto na vala
causando sua enchente.
Tem acessório de carro
tem bituca de cigarro
queimando o pé da gente.
*
também o povo carente
contribui co'a mazela
já vi resto de comida
jogado pela janela.
Saco de lixo na rua
pé-de-cabra e gazua
na porta duma capela.
*
Já vi tampa de panela
entupindo um bueiro
colchão velho e sofá
bem no meio do terreiro.
Escova, garfo e faca
de cachorro, muita caca
exalando seu mau cheiro.
*
Esse povo de dinheiro
anda muito ocupado
eu já vi em bairro nobre
resto de concreto-armado.
Palito de picolé
um pacote de café
do quinto andar ser jogado.
*
Vi um coco descascado
papel de bombom no chão
um banco enferrujado
pendurado num portão.
Encontrei pneu careca
um short, uma cueca
e um braço de violão.
*
Ao passar o caminhão
para recolher o lixo
derrama a churumela
enche a rua de bicho.
Não se faz a varrição
e o lixo pelo chão
é só falta de capricho.
*
Não quero fazer buxixo
mas conto o que já vi
tubo de televisão
e de carro, um chassi.
Balde, cabo de vassoura
e até peruca loura
de um velho travesti.
*
Agradeço ao gari
que trabalha pra valer
varrendo essa cidade
pra um outro recolher.
A estes vai meu abraço
por trabalhar no mormaço
todo dia a varrer.
*
O que tô a descrever
não é mera ficção
vamos ter que reciclar
reduzir a produção.
Todo esse consumismo
vai gerar um cataclismo
e sumimos no lixão.
*
Não repito a lição
mas posso dar um conselho
escreva sobre o lixo
se mire no meu espelho.
Seja em prosa ou verso
para o bem do universo
vá metendo seu bedelho.
*
Eu não vou ficar vermelho
por ter sido intimado
a escrever umas linhas
em verso metrificado.
É dever do cidadão
não deixar o seu irmão
vir a ser prejudicado.
*
Já é fato consumado
lixo e corrupção
a sujeira na política
apavora a Nação.
Isso é café pequeno
e a dose do veneno
está nesta eleição.
*
Vamos usar a razão
pra todo lixo varrer
na hora de dar seu voto
pense no que vai fazer.
Nesse balaio de gatos
escolha o candidato
que pareça com você.