terça-feira, 29 de março de 2011

Martelo de Victor Lobisomem



CORAÇÃO AGALOPADO

(Victor "Lobisomem")



 Sinto dentro do peito uma paixão
 que eu tento domar mas não consigo
 ela faz o que bem quiser comigo
 me botando a galope o coração
 eu pareço montar um alazão
 indomável, selvagem e bravio
 disparado, sem rédeas, bem vadio
 galopando por várias direções
 eu procuro amansar as emoções
 esse é o meu grande desafio

 A paixão é um cavalo indomado
 que até o cavaleiro experiente
 cangaceiro ou vaqueiro mais valente
 quando numa paixão está montado
 sente o coração agalopado
 parecendo até um iniciante
 aboiando e tocando seu berrante
 certas vezes caindo do cavalo
 empolgado não consegue domá-lo
 e na poeira tomba ofegante

 Mas se o vaqueiro é bom ele levanta
 ajeita o gibão e o chapéu
 novamente ele monta em seu corcel
 com firmeza e fé na Virgem Santa
 um aboio bem bonito ele canta
 pra curar as feridas e a dor
 e o selvagem, chucro galopador
 entra na rédea curta do vaqueiro
 pois cavalo domado é companheiro
 e paixão bem domada vira amor.


Visite blog de Victor Lobisomem:
www.quintal-do-lobisomem.blogspot.com
CAPOEIRA, LITERATURA DE CORDEL, SAMBA, TEATRO, CANGAÇO, REPENTE, E MUITO MAIS...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Cordel de Marcos Mairton


UM MOMENTO DE LUZ
Marcos Mairton
Imagem: Celi Aurora


Foi um momento de luz,
De muita iluminação,
O que aconteceu comigo
Numa certa ocasião,
Quando o dia terminava
E eu sozinho viajava
Pela estrada no sertão.


Estacionei na estrada
Para trocar um pneu
Que furou quando o meu carro
Em um buraco bateu,
Mas, logo que estacionei,
E as ferramentas peguei,
Algo estranho aconteceu.


Eu olhei à minha volta,
Para ver se via alguém.
Mas, naquele lugar ermo,
Não apareceu ninguém.
Só algumas avoantes
Sobrevoaram, rasantes,
E pousaram mais além.


Mas na hora em que olhei
Para onde o bando pousou
Algo na minha visão
De repente se alterou,
Pois vi cada passarinho
Tão de perto, tão pertinho,
Que isso até me assustou.


Foi como se em cada olho
Uma lente de aumento
Houvesse sido instalada
Naquele exato momento.
E tudo o que eu olhava
Depressa se aproximava
Num estranho movimento.


Como um “zoom” de filmadora
Minha vista funcionava
Aumentando qualquer coisa
Que minha vista alcançava.
Bastava eu me concentrar
Em algum ponto e olhar
E tudo se aproximava.


Estranhei aquilo tudo,
E era mesmo intrigante,
Pois olhei fixamente
Para uma avoante,
E, naquele campo aberto,
Vi a ave tão de perto
Que parecia um gigante.


E, à medida que a ave
Parecia estar crescendo,
Cada mínimo detalhe
Ia logo aparecendo.
De um olho vi a retina,
No bico, cada narina,
Tudo isso eu ia vendo.


Eu continuei olhando
E foi como atravessar
Entre as penas do seu peito
Até a pele alcançar.
Ao chegar à epiderme
Vi um parasita, um verme,
De sangue a se alimentar.


Vendo aquele parasita
Satisfazer sua fome
Pensei: “Meu Deus, neste mundo
Todo corpo se consome,
Um bicho come outro bicho,
Não existe sobra ou lixo,
Tudo se bebe ou se come”.


E, de fato, enquanto o verme
Faminto se alimentava,
Outro verme ali surgiu
E agora o atacava.
Houve uma luta entre os dois
E, alguns segundos depois,
Um ao outro devorava.


Foi então que percebi
Que outros bichos semelhantes
Habitavam entre as penas
Das pequenas avoantes,
Chegando mesmo a formar
Uma cadeia alimentar,
E das mais impressionantes.


Eu, então, naquele instante,
Olhei a areia, no chão,
E vi, que daquela areia,
Enxergava cada grão
E, entre os grãos, seres vivos
Movimentando-se ativos,
Eram vida em profusão.


Nessa hora refleti
Sobre o mundo em que vivemos:
“Com tanta vida na Terra,
Muito mais do que nós vemos,
A Terra bem pode ser
Um ser vivo a nos manter
E nós nunca percebemos”.


“Talvez o chão seja a pele
Deste ser que nos sustenta,
Que fornece as substâncias
Que a todos alimenta,
E nós, nada percebendo,
Por aqui vamos vivendo,
Nossa sina violenta”.


“Essa sina violenta
Que não nos deixa entender
Que estamos fazendo a Terra
Mais e mais adoecer.
A consequência evidente:
Se o planeta está doente,
Todos vamos padecer”.


Enquanto eu pensava nisso,
Minha vista escureceu,
Me senti um pouco tonto,
Não sei o que aconteceu.
Ao recobrar o sentido,
Vi que tinha anoitecido,
A noite agora era um breu.


Só então em me lembrei
Que ainda tinha que trocar
O pneu que, horas antes,
Aconteceu de furar.
Com muita pressa troquei
E pra casa retornei
Deixando aquele lugar.


Mas, ainda hoje eu lembro
Do dia em que eu pude ver
Coisas que são pequeninas,
Mas minha vista fez crescer.
Porém, mais que enxergar,
O que eu vi me fez pensar,
E aquela ocasião,
Para mim foi um momento
De luz, de esclarecimento,
De muita iluminação.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Poesia de Dalinha Catunda


MARIA DO CAPITÃO
Dalinha Catunda

*
Salve Maria Bonita
Maria do capitão.
Mulher forte destemida
Que viveu sua paixão
Nos braços d’um cangaceiro
Que não tinha paradeiro
Mas roubou seu coração
*
Salve Maria Bonita
Que pegou sua estrada
Seguindo seu coração
Apenas ele e mais nada.
Os passos de Virgulino
Era mesmo seu destino
Estava determinada.
*
Salve Maria Bonita
E salve sua decisão.
Preferiu correr perigo
Preferiu viver paixão
Fugiu da vida pacata
Por não querer ser ingrata
E magoar seu coração.
*
Salve Maria Bonita
Maria do lampião
Companheira tão fiel
Do famoso Capitão.
Ao lado de seu amante
Levando vida errante
Fez história no sertão.
*
Salve Maria bonita
Que na história ficou.
Dou vivas ao centenário
Da mulher que se rebelou
Para viver sua opção
Sem ligar para o padrão
Que a sociedade ditou.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Novo livro de Marco Haurélio


MEUS ROMANCES DE CORDEL

Marco Haurélio continua acelerando em sua produção literária. Depois de publicar os livros "Contos Folclóricos Brasileiros", "Breve História da Literatura de Cordel", "As babuchas de Abu Kasen" e "Traquinagens de João Grilo em Cordel", em 2010, está lançando agora a coletânea "Meus Romances de Cordel", que reúne sete títulos e abrange vários temas.

Entre os textos, estão: O Herói da Montanha Negra (1987), A Briga do Major Ramiro com o Diabo (2005) e Os Três Conselhos Sagrados (2006).

A Lenda do Major Ramiro é destaque na obra e no blog do autor (Cordel Atemporal), onde fui buscar o seguinte:





Lenda do Major Ramiro é destaque em antologia

Major Ramiro Faria, sentado, de bigode, ao lado de minha bisavó, Elvira do Prado Fernandes. Ao lado do casal, os pais do Major, Ladislau e Angélica. De pé, minha avó Luzia Josefina (sexta, a partir da esquerda) e meu avô, Joaquim José de Faria, bem jovens. No alto da foto, os meninos são Maximino (Tio Maçu) E José Farias (padrinho José). O Major Ramiro era conhecido por sua valentia e por seus dons de taumaturgo (curador). Publiquei pela Luzeiro o cordel, cujo trecho incial está reproduzido abaixo, focando uma das muitas lendas envolvendo o meu bisavô.

A Briga do Major Ramiro com o Diabo, cordel, escrito a partir de uma das muitas lendas do sertão de outrora, é um dos sete folhetos que integram a antologia Meus romances de cordel (publicada, este ano, pela Global Editora).

Ramiro José de Faria (1882‑1966), meu bisavô paterno, na Ponta da Serra, localidade onde eu nasci, e nos arredores do sertão de minha infância, virou lenda. São muitas as histórias em que, em seu ofício de curandeiro, devolveu a sanidade a loucos e salvou da morte certa muitos doentes. Famoso também por sua valentia, foi perseguido pelo Dr. Franco Fernandes, um primo distante, primeiro médico a clinicar no Bonito, povoado próximo ao Barreiro, onde o Major residia. No presente texto, no entanto, recorri à imaginação para narrar um encontro do Major Ramiro com o Diabo, metamorfoseado num gato preto. Como deixo claro no texto, o episódio foi narrado por minha avó Luzia, embora, no cordel, todos os diálogos tenham sido criados por mim, seguindo a fórmula das histórias tradicionais de pelejas com o demo. Foi publicado pela editora Luzeiro, em 2006.




Capa do cordel editado pela Luzeiro





Trecho do cordel


Peço licença ao leitor
Pra narrar este relato
Contado por minha avó;
Portanto não é boato,
Em que o Diabo aparece
Na forma dum horrendo gato.


No tempo em que Igaporã
Ainda era um distrito
Da vizinha Caetité
E era chamado Bonito,
Na fazenda do Barreiro
Deu‑se um enredo esquisito.


No ano de oitenta e sete
Do dezenove nascia,
De tradicional família,
Ramiro José Faria.
Foi o maior taumaturgo
Que já viveu na Bahia.


A sua mãe era Angélica
E o seu pai, Ladislau.
Ele era quase um santo;
Ela tinha um gênio mau,
Vivia rogando pragas,
Era pior que um lacrau!


E parte do embate verbal com o Diabo:


Após cuspir duas brasas,
O gato disse: — Major,
Neste mundo eu sou o príncipe,
Não existe outro maior.
Quem quiser que se arrisque,
Mas vai levar a pior!


O major disse: — Demônio,
Te esconjuro, desgraçado,
Só estás aqui porque
Teu laço foi afrouxado,
Pois pela mão do Eterno
Tu vives subjugado.


Disse o capeta: — Ramiro,
De ti tenho muita dó,
Não foi acaso o Eterno
Que mandou eu tentar Jó,
Despojando‑o de tudo,
Deixando‑o tristonho e só?


— Jó sofreu grande infortúnio,
Porém teve recompensa,
E tu foste derrotado,
Mensageiro da doença!
Não venhas me iludir,
Pois disto tenho sabença.


Falou o monstro: — Porém
Contar‑te outra preciso:
Se o Rei não permitisse,
Nunca eu teria juízo
De entrar e tentar Eva,
Privando‑a do Paraíso.


— Dos desígnios do Senhor
Não tens a capacidade
Para tirar conclusões,
Pois não sabes da verdade:
Graças à falta de Eva
É que existe a humanidade.


— Ramiro, estás delirando
E precisas de uma luz:
Por que o teu Deus mandou
À terra o filho Jesus,
Pra morrer inutilmente,
Pendurado numa cruz?


— Maldito, disse o major,
Carece de explicação:
Três dias Jesus esteve
Na tenebrosa mansão,
Resgatando, desta forma,

Os descendentes de Adão.


(...)






Retrato retocado de meus avós Luzia Josefina e Joaquim




O livro Meus romances de cordel será lançado oficialmente dia 9 de abril, às 16h, na Livraria Cortez (Rua Bartira, 317).
Fone: (11) 3873 7111

terça-feira, 15 de março de 2011

Novo folheto de Cordel


ATENÇÃO MUNDOCORDELISTAS DA BAHIA!

Os cordelistas baianos

Antonio Barreto, Zewalter Pires e Pilô

estarão lançando na Cantina da Lua/Pelourinho,

dia 18 de março de 2011, às 18 horas,

o folheto intitulado

PELEJA A SEIS MÃOS,

que aborda a amizade, a grandeza do sertão

e o valor da literatura de cordel no espaço urbano.


Compareça e prestigie a cultura popular

sábado, 12 de março de 2011

Cordel de Victor "Lobisomem"


ERA UMA VEZ UM PLANETA
Autor: Victor “Lobisomem”

Era uma vez um planeta
Que por Deus fora criado
Com carinho paciência
Amor, zelo e cuidado
Com muita dedicação
O planeta criação
De “Terra” foi batizado

Flutuando no espaço
E cercado por bilhões
De estrelas cintilantes
Juntas em constelações
E acompanhada da sua
Admiradora lua
Fonte de inspirações

Havia também um sol
O astro rei imponente
Acariciando a Terra
Com seu brilho forte e quente
Iluminando distante
Poderoso sol brilhante
E sua energia ardente

Em volta daquele sol
A Terra rodopiava
Num movimento constante
A lua lhe imitava
Num floreio bem bonito
Girando pelo infinito
Parecia que dançava

No planeta Terra as águas
Como um manto cobriam
Lá do alto das montanhas
Em cachoeiras desciam
Estavam em toda parte
Feito uma obra de arte
E pelos rios corriam

Águas doces percorriam
As florestas viajando
Em busca de encontrar
Quem estava lhes esperando
Os oceanos e mares
E os pássaros pelos ares
Iam lhes acompanhando

Pássaros voam cantando
Sobrevoando os rios
Os mares vão agitando
As águas em corrupios
Ondas beijando a areia
É manhã de maré cheia
Os ventos sopram vadios

O céu azul emoldura
Essa obra colossal
Feita pelas mãos divinas
Em um gesto paternal
Obra de rara beleza
Chamada de natureza
Fenômeno sem igual

Criação mais que perfeita
Majestosa harmonia
E o Grande Deus amoroso
Resolveu criar um dia
Encheu-se de esperança
E à sua semelhança
A raça humana nascia

O homem tinha na Terra
Tudo para viver bem
Água limpa, muitos frutos
E os animais também
A natureza vivia
Lhe servindo noite e dia
Sem cobrar nada a ninguém

Naquele lindo planeta
O tempo ia passando
A raça humana também
Ia se multiplicando
Mas sem a preocupação
Sem cuidado e gratidão
Tudo foi modificando

Nada foi acontecendo
Da noite para o dia
Foi tudo bem devagar
Pouca gente percebia
Mas o homem se esqueceu
De cuidar do que era seu
De preservar a harmonia

Deus bastante preocupado
Tudo fez pra ajudar
Mandava muitos sinais
Pro perigo alertar
Mas o homem nem ligava
Com nada se preocupava
Só fazia devastar

Muitos anos se passaram
Milhares, talvez milhões
E hoje aqui estamos
Cheios de preocupações
Em que mundo nós estamos?
Mas mesmo assim não paramos
Com tantas destruições

Devastamos as florestas
Poluímos nosso ar
O mesmo ar que nós mesmos
Estamos a respirar
Se de nós for depender
Nossa água de beber
Pode até se acabar

Dizem que o ser humano
É um ser racional
Fico eu me perguntando
Como é que um animal
Que se diz inteligente
Destrói o meio ambiente
Seu habitat natural?

Apontamos uns aos outros
Pra responsabilizar
O governo, as indústrias
Quem mais podemos culpar?
Mas nada posso dizer
Sem minha parte eu fazer
Para isso melhorar

Seca, enchente, tsunami
Impacto ambiental
Desequilíbrio ecológico
Aquecimento global
Cadê nossa inteligência
Educação, consciência
De um ser racional?

Nunca é tarde, ainda é tempo
De encontrar a solução
Devemos à natureza
Carinho e gratidão
Me desculpe se incomodo
Mas hoje foi deste modo
Que me veio a inspiração

Deus nos dê mais uma chance
Agora eu lhe dou certeza
Nós vamos cuidar direito
De toda essa beleza
Então pra lavar as almas
Peço uma salva de palmas
Pra nossa Mãe Natureza

FIM
Outubro/2007
Autor: Victor Alvim

* Este cordel foi escrito por sugestão e convite de Cláudio Baltar (Parafina) da Intrépida Trupe para ser apresentado com o espetáculo “ÁGUA DE BEBER” no evento ecológico NEUTRALIZO realizado no Jardim Botânico do Rio de Janeiro em outubro de 2007

www.quintal-do-lobisomem.blogspot.com

quarta-feira, 9 de março de 2011

Poema de Moreira de Acopiara


Recebi este poema do meu amigo Moreira de Acopiara e tenho prazer em expor neste Mundo Cordel.


Poema de amigo
Moreira de Acopiara


Eu não posso mostrar-lhe as soluções
Dos problemas que surgem em sua vida,
Mas vou sempre escutar seus argumentos
E pedir que ande de cabeça erguida,
Preservando a humildade, a gentileza,
Inventando um caminho, uma saída.


Eu não posso mudar o seu passado,
Nem prever as surpresas do futuro,
Mas prometo lutar no seu presente
Para que seu andar seja seguro,
O seu sono não seja tão pesado,
E o percurso tranquilo, ou menos duro.


Seus triunfos, seus êxitos... Não são meus,
Mas, se sei que você está feliz,
Eu me alegro também! Rejuvenesço
Revivendo esse bem que eu sempre quis.
Não sei muito. Sei pouco. Quase nada!
Mas, me ensine também! Sou aprendiz.


Eu não posso julgar as decisões
Que você precisar tomar com pressa,
Mas eu posso tentar servir de estímulo,
Porque sei que na vida se tropeça.
Posso ainda dizer: “Tente outra vez!”
E ser justo, sem que você me peça.


Eu não posso lhe impor nenhum limite,
Muito menos deter a sua ação;
Eu não posso evitar seu sofrimento
Quando alguém lhe partir o coração,
Mas eu posso tentar juntar os cacos
E apontar-lhe uma nova direção.


Eu não posso dizer quem você é,
Muito menos quem deveria ser;
Posso dar meu amor e meus cuidados,
Ser parceiro, ser firme, agradecer...
Ser amigo leal, ser tolerante,
E torcer pra ver você crescer.


Eu não posso querer ser o primeiro,
O segundo ou terceiro em sua lista.
Mas desejo dizer: “Sou seu amigo!”
E vibrar ao lembrar essa conquista,
Defender seus direitos e tentar
Não perder (nunca mais) você de vista.