terça-feira, 17 de março de 2009

Enxofre no Domingão do Faustão


Queridos leitores de Mundo Cordel. Vocês sabem que aparecer na TV no meio da tarde de domingo é um passo fantástico para a divulgação de um artista. Que tal dar uma força para o meu querido Projeto Enxofre ser convidado para ir lá?
Para ajudar, clique aqui ou na foto acima.
Quem quiser conferir mais vídeos do Projeto Enxofre, é só dar uma olhada na barra lateral...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Lançamento de livro


MINHA MALA ERA UM POTE

Está marcado para a próxima quarta-feira, 18 de março, o lançamento do primeiro livro de Mansueto Silva, meu pai. É um novo escritor, aos setenta anos. Essa é uma das muitas vitórias de um homem que começou a vida em condições extremamente adversas e superou a todas.
Parabéns, Mansueto!
Segue trecho do livro:

Finalmente, chegou o momento da partida. Entregamos nosso gato e nosso cachorro a um vizinho e partimos em meio àquela escuridão com destino a Sobral. Meus pais, abraçados, pediram a Deus que tomasse conta daqueles inocentes que partiam com eles na jornada.
Havia duas lamparinas acesas. Minha mãe seguia na frente com uma, clareando o caminho, que era muito estreito e acidentado, enquanto a minha irmã mais velha vinha atrás de todo o comboio, com a outra, junto com meu pai. O resto da meninada seguia ao lado de minha mãe, aproveitando a luz da lamparina.
À medida que nos afastamos do povoado, uma jumenta que estava de cria nova começou a ficar inquieta. Mais adiante, não suportou a saudade do filhote e correu com a carga, que acabou caindo dentro de um buraco. Felizmente ela levava apenas roupas velhas, dentro de malas de couro, e o prejuízo foi pequeno.
Passado o susto, continuamos a viagem até chegarmos a um lugar conhecido como “Cabeça do Descansador”, de onde dava para ver a cidade de Sobral, embora esta fique a mais de quinze quilômetros dali. Os viajantes costumavam parar ali para descansar, o que deu origem ao seu nome. Nós também paramos, com a mesma finalidade, pois já havíamos andado cerca de quatro quilômetros, o que não é pouco naquelas condições, principalmente para as crianças.
Enquanto meus pais verificavam o estado das cargas e das crianças, eu olhei para o clarão das lâmpadas acesas na cidade distante e perguntei a meu pai o que era aquela coisa tão clara.
– Aquele clarão é Sobral, meu filho. A cidade onde vamos morar.
Naquele momento meu coração bateu mais forte e eu não tirei mais os olhos daquele lugar.

***

Meu pai já havia feito o ajuste nas cargas dos animais para descermos a serra. Eram seis quilômetros de descida, então os arreios dos animais precisavam estar bem apertados, para que os animais não caíssem com a carga.
Tomamos, então, o caminho da descida, que começava com dois quilômetros de estrada de chão muito molhada e escorregadia. Era preciso muito cuidado para não cair. Depois chegamos a uma estrada grande, feita de um calçamento muito ruim. Esse trecho tinha seis quilômetros.
Quando estávamos no meio da descida, o céu cobriu-se totalmente de nuvens escuras e, minutos depois, caiu um temporal como eu nunca tinha visto. As lamparinas apagaram-se e a chuva castigou sem dó nem piedade. Era um momento crítico. Tudo o que tínhamos estava ali, naquela pobre mudança, e estava sendo destruído pela chuva.
Mesmo assim, continuamos descendo a serra. De vez em quando a estrada era iluminada pelo clarão dos relâmpagos. O barulho dos trovões ecoando pela serra era assustador. Com toda aquela chuva, e seguindo na escuridão, tropecei e levei um grande tombo. Percebi que estava sangrando e comecei a chorar. Na queda eu havia cortado o ombro. Meus pais prestavam-me socorro como podiam, mas eu já estava bem ensangüentado.
Apesar de todas as dificuldades, seguíamos adiante. A chuva não parava, caindo impiedosamente sobre aquela família humilde, como se testasse a sua capacidade de continuar a sua busca por uma vida melhor. Prosseguindo até chegar ao pé da serra, continuamos a caminhada pelo sertão, e a chuva ficou ainda mais forte. Eu e meus irmãos tremíamos de frio, mas, àquela altura dos acontecimentos, já não tínhamos outra coisa a fazer a não ser continuar andando até chegar à cidade.
Às cinco horas da manhã ainda faltavam seis quilômetros para chegar a Sobral. Aqueles últimos seis quilômetros pareciam não acabar mais. Já estávamos muito cansados do trajeto tão acidentado e cheio de dificuldades.
Eram seis e meia da manhã quando chegamos na cidade, terminando uma das viagens mais complicadas dentre as muitas que eu ainda faria no decorrer da minha vida. Paramos em frente à pequena casa na Rua do Junco e ficamos olhando para a casa que meu pai havia alugado. Mesmo com toda a dureza da viagem, eu tinha uma sensação de vida nova e percebia que o dia acabava de nascer e nós acabávamos de chegar, como se, de alguma forma, tudo estivesse programado para ser assim.
Encostamos os animais em frente à casa e começamos a tirar sua carga. Enquanto meu pai cuidava desse trabalho, minha mãe foi à casa da vizinha e pegou a chave muito enferrujada que nos possibilitaria a entrar em nossa nova morada. Ela abriu a porta e todos nós entramos, fazendo um enorme barulho, rindo, pulando e até chorando. Nem acreditávamos no que estava acontecendo. Apesar de ainda ser muito cedo, alguns vizinhos já haviam acordado e puderam ver a nossa chegada. Logo nossas coisas estavam dentro de casa, e eu e meus irmãos estávamos gritando de alegria:
– Chegamos! Chegamos! Chegamos!
Foi assim a primeira viagem da minha vida, aos seis anos de idade.

terça-feira, 10 de março de 2009

Cordel na Universidade

A imagem de hoje é a capa do e-book do Professor Pedro Arenas (clique na foto para mais detalhes).

LITERATURA DE CORDEL E EDUCAÇÃO AMBIENTAL


Estive hoja na Universidade do Estado da Rio Grande do Norte - UERN - a convite de um amigo, o professor Pedro Arenas, conversando com alunos de vários cursos, sobre o tema "Literatura e Educação Ambiental". Na verdade, conversamos muito mesmo foi sobre o processo de criação de meu livro "Uma aventura na Amazônia" e da repercussão que a obra vem tendo, adotada por várias escolas particulares de ensino fundamental e sendo analisada por alguns municípios, tanto para utilização no processo de ensino de leitura, escrita e produção de texto, como para os projetos de educação ambiental.

Foi muito boa a conversa. Fiquei impressionado com a atenção dos alunos, que permaneceram até o último minuto participando.

Satisfeito com a experiência, homenageio o professor Pedro Arenas e todos os seus alunos, postando um trecho da tradução feita por ele do texto de "Uma aventura na Amazônia".

(Quem sabe esta postagem não enseja alguma proposta de parceria para publicação da obra em espanhol, ou talvez bilíngue...)


UNA AVENTURA EN EL AMAZONAS
Marcos Mairton
Traducción: Pedro Arenas


Yo sé que los niños de hoy
Temprano en la escuela aprenden
Sobre las cosas de la naturaleza
Y entonces ellos comprenden
Que los animales de la selva
No deven ser maltratados
Y ni tampoco cazados.

A pesar de esto, aún existen
Hombres mal acostumbrados,
Que capturam los animales
En la selva encontrados
Para llevarlos a la ciudad
Para vivir sin libertad,
Tristes y encadenados.

Debido a esta costumbre
Cierto dia aconteció
Una história interesante
Con un niño que yo
Conocí en la infancia
Todavia guardo en la memoria
De como esto sucedió.

Su nombre era Daniel,
Tenía diez años de edad,
Cuando su tio, Pedro,
Después de un largo viaje,
Llegó a nuestra ciudad
Trayendo una novedad
En las maletas de viaje.

El tio habló para él:
“Este es tu regalo
que yo traje de la selva,
solo alli pude encontrarlo,
y pensé: este animalito
llevaré a Danielito
para que él pueda cuidarlo.

El regalo era un mico
Muy peludo y muy pequeño.
El pelo, negro y suave,
Parecia de terciopelo.
Daniel, cuando lo vió
Se sentió feliz y sorrió.
Pensó: “Que suerte yo tengo”.

Guardó, entonces, el mico,
En una jaula que había
En el solar de su casa
Y era allí que todo dia
Daniel lo alimentaba,
Y con cariño cuidaba
Del animalito que crecía.

Después de algunos meses
Las vacaciones llegaran
Y Daniel y sus papás
Para lejos viajaran.
Pidieron a un vecino
Cuidar del animalito
Y en un avión embarcaron.

Ellos fueron para Manaus
Para hacer una visita
A la tía de Daniel
Llamada Maria Rita,
Que vivia desde pequeña
En esa ciudad brasileña
Moderna, grande y bonita.

Aprovecharan también
Para conocer los lugares
Que son puntos turísticos
Y fueran a los principales:
Al teatro, al mercado,
Al puerto muy agitado
Y a los centros culturales.

Para el dia siguiente
Planearan pasear
De barco en el Rio Negro,
Para por él navegar,
El rio estaba muy ancho
Y, con su oscuro color,
Él inspirava temor.

domingo, 8 de março de 2009

CORDEL E MULHERES

Foto obtida no blog "Dois dedos de prosa"

DIA DA MULHER


Neste Dia Internacional da Mulher, replico aqui poesia do Poeta Gilbamar Oliveira, postada hoje em seu blog Gilbamar: poesias e crônicas:

-

A MULHER FOI EDIFICADA
Poeta Gilbamar Bezerra
-
Como um boneco de barro

sobre o qual Deus soprou vida

foi criado o homem Adão,

figura humana nascida

para adorar ao Criador,

a expressão maior do amor

na linda paisagem florida

-

A imensidão do paraíso

era o império de Adão

que dali sabia tudo,nomeou

gato, sapo e leão

mas vivia tão sozinho

não havia um só vizinho

com quem dividir a solidão

-

Único homem no espaço

em meio a plantas e animais,

era tanta melancolia

que ele não suportava mais,

viver só era chatice

dia-a-dia só mesmice:

bichos, feras, matagais

-

Deus viu aquela tristeza

toda estampada em Adão,

sendo santo e onisciente

já sabia de antemão

que a ele faltava alguém

pois solidão não faz bem

para quem tem um coração

-

Lá mesmo no paraíso

pôs Adão p'ra adormecer,

e enquanto ele dormia

fez o que pensava fazer,

dele tirando a costela

enquanto moldava com ela

a escultura do bem querer

-

Se bem Adão veio do barro

do alto da cabeça ao pé,

bem do meio do seu corpo

sem nem um resquício sequer

de qualquer outro material,

com um olhar ou um sinal

enfim Deus edificou a mulher

CORDEL & COTIDIANO

Imagem obtida em http://matheusfelini.com/.../2009/01/onibus-lotado.jpg

POESIA RECEBIDA

A poesia abaixo chegou ao Mundo Cordel em forma de comentário enviado pelo leitor Aluisio Dutra, de Patu-RN. Mas, uma obra dessas tinha que vir para a página principal!


VIAJAR EM "PINGA-PINGA"

Poeta Zé Bezerra

Patu-RN

-

O ônibus é um transporte

Que no trânsito é referência

A maioria do povo

A ele dá preferência

Mas se é um "pinga-pinga"

É preciso paciência.

-

Ele para em todo canto

o seu trajeto é assim

Para na pista, no beco

Em rua, praça e jardim

Mesmo uma distância curta

Parece que não tem fim.

-

Em todo lugar que passa

Desce gente, sobe gente

Há uns que conversam muito

Outros dormem facilmente

E vez por outra de leve

Escapa um ar diferente.

-

Aqueles que roncam muito

Tendo o corpo adormecido

Ao se mexer na cadeira

Escapa um "pum" espremido

Cuja fragrância é igual

Desodorante vencido.

-

Um canta e outro aboia

Um assovia, outro grita

Um bêbado fala besteira

Uma criança vomita

E um velho ressona alto

Que o canto da boca apita.

-

Se vão dez ou doze em pé

Ao passar por um buraco

O solavanco é tão grande

Que desmaia quem é fraco

Mas o pior é o bafo

Da catinga de sovaco.

-

Precisa manter a calma

Sem pra nada está ligando

Procurar se entreter

Sem ver o tempo passando

Para aguentar o ônibus

Parando de vez em quando.

-

Quem não quer sofrer maçada

E por qualquer coisa xinga

Para evitar desconforto

De imprensado ou catinga

Vá direto em seu carrão

Ou viaje de avião

Mas não vá em "pinga-pinga"

quinta-feira, 5 de março de 2009

100 anos de Patativa Assaré



CENTENÁRIO DE PATATIVA DO ASSARÉ
Neste dia tão importante, relembro o episódio da "Secretária Eletrônica", que publiquei em meu livro "Uma sentença, uma aventura e uma vergonha", no qual recebo um recado imaginário de Patativa:
SECRETÁRIA ELETRÔNICA

Um dia comprei uma secretária eletrônica, e logo veio a idéia de deixar a mensagem em versos. Comecei com o próprio número do telefone e fui distribuindo a mensagem pelos dez versos de sete sílabas, como até hoje gosto de fazer. E a mensagem ficou assim:

Você ligou dois, dois, nove,
Nove, oito, zero, sete.
Como não posso atender
Deixo esta fita cassete
Para gravar o seu nome
E também seu telefone
Nesse meio digital
Por favor dê seu recado
Falando bem compassado
Logo depois do sinal.

Só que, desde o dia em que gravei a mensagem, fiquei imaginando o que aconteceria se Patativa do Assaré me telefonasse e se deparasse com aquela gravação.
É claro que isso era mera fantasia, pois, embora ainda fosse vivo naquela época, Patativa não me conhecia, nem teria qualquer motivo para ligar para minha casa. Talvez nem gostasse de telefonar.
Mas, de tanto pensar no telefonema de Patativa, acabei imaginando sua resposta:

Amigo a sua mensagem
Ficou muito interessante
Deu vida à máquina fria
Fez dela um ser palpitante.
Vou lhe dizer o meu nome
E logo o meu telefone
Você vai saber qual é.
Falando bem compassado
Como foi recomendado
Patativa do Assaré.
---***---
É bom não esquecer Patativa do Assaré
Roberto Guedes


O medo de que o transcurso, hoje, do centenário de nascimento do saudoso poeta Patativa do Assaré passe muito em branco na imprensa potiguar me força a marcar minha presença entre seus admiradores e a compartilhar esse sentimento com os leitores da coluna nesta quinta-feira. Enquanto os cantores, compositores e sanfoneiros Dominguinhos e Waldônys, os maiores discípulos de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, viajam para Assaré, no Ceará, a fim de homenagearem ali o grande nordestino que foi Patativa, compartilho com os amigos leitores um texto que encontrei há tempos na Internet, registrando um aniversário do poeta em vida. Venho namorando com esta biografia há muito tempo, e hoje finalmente posso divulgá-la achando que estou cumprindo o dever. Encimado pelo título “Patativa do Assaré e seus 90 verões de gorjeio poético”, este é o texto: As penas plúmbeas, as asas e cauda pretas da patativa, pássaro de canto enternecedor que habita as caatingas e matas do Nordeste brasileiro, batizaram poeta Antônio Gonçalves da Silva, conhecido em todo o Brasil como Patativa do Assaré, referência ao município que nasceu. Analfabeto "sem saber as letra onde mora ", como diz num de seus poemas, sua projeção em todo o Brasil se iniciou na década de 50, a partir da regravação de "Triste Partida", toada de retirante gravada por Luiz Gonzaga. Filho do agricultor Pedro Gonçalves da Silva e de Maria Pereira da Silva, Patativa do Assaré veio ao mundo no dia 9 de março de 1909. Criado num ambiente de roça, na Serra de Santana, próximo a Assaré , seu pai morrera quando tinha apenas oito anos legando aos seus filhos Antônio, José, Pedro, Joaquim, e Maria o ofício da enxada, "arrastar cobra pros pés" , como se diz no sertão. A sua vocação de poeta, cantador da existência e cronista das mazelas do mundo despertou cedo, aos cinco anos já exercitava seu versejar. A mesma infância que lhe testemunhou os primeiros versos presenciaria a perda da visão direita, em decorrência de uma doença, segundo ele, chamada "mal d’olhos". Sua verve poética serviu para a denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir ao condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere a estrofe da música Cabra da Peste:
"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome.
Olho para a fome , pergunto: que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.
"Embora tivesse facilidade para fazer versos desde menino, a Patativa do município de Assaré, no Vale do Cariri, nunca quis ganhar a vida em cima do seu dom de poeta. Mesmo tendo feito shows pelo Sul do país, quando foi mostrado ao grande público por Fagner em finais da década de 70, até hoje se considera o mesmo camponês humilde e mora no mesmo torrão natal onde nasceu, no seu pedaço de terra na Serra de Santana. Do Vale do Cariri, que compreende o Sul do Ceará e parte Oeste da Paraíba, muitas famílias migraram para outras regiões do Brasil. A própria família Gonçalves , da qual faz parte o poeta, se largou do Crato , de Assaré e circunvizinhanças para o Sul da Bahia, em busca do dinheiro fácil do cacau, nas décadas de 20 e 30. Seus livros foram publicados ocasionalmente por pesquisadores e músicos amigos e, parceria com pequenos selos tipográficos e hoje são relíquias para os colecionadores da literatura nordestina. A estreia do vate cearense em vinil se deu no ano de 1979, quando gravou o LP "Poemas e Canções", lançado pela CBS . As gravações foram realizadas em recital no Teatro José de Alencar, em Fortaleza. Cantando para seu povo brincou poeticamente com o fato de estar sendo gravado em disco na abertura A dor Gravada:
"Gravador que está gravando
Aqui no nosso ambiente
Tu gravas a minha voz,
O meu verso e o meu repente
Mas gravador tu não gravas
A dor que meu peito sente".
O recital fez parte de uma revisão cultural que a nova classe intelectual ligada à música e ao cinema faz sobre o obra dos grandes poetas populares cearenses como Cego Oliveira, Ascenso Ferreira e o próprio Patativa. Artistas como Fagner , o cineasta Rosemberg Cariri e outros, se encarregaram de produzir em vídeo e película documentários com finalidade de registrar ar um pouco da cultura em seu molde mais genuíno. Do mesmo disco é a destemida Senhor Doutor, que em pleno governo do general Ernesto Geisel falava em baixos salários numa posição de afronta em relação à situação da elite, representada pela figura do doutor. Assim vocifera o bardo do Assaré, com seu ressonante gogó:
"Sinhô Dotô não se enfade
Vá guardando essa verdade
E pode crê, sou aquele operário
Que ganha um pobre salário
Que não dá para comer."
Após a gravação do primeiro LP o recitador , fez uma série de shows com seu discípulo Fagner . Em 81 a apresentação da dupla no Festival de Verão do Guarujá ganha ampla repercussão na imprensa. Nesta mesma ocasião gravou seu segundo LP "A Terra é Naturá", também pela CBS. Patativa sempre cantou as saudades da sua terra, embora não tenha deixado o seu Cariri no último pau-de-arara, como diz a letra. Seu lamento arrastado e monocórdico acalanta os que se retiraram e serve de ombro aos que ficam. A toada-aboio "Vaca Estrela e Boi Fubá" que narra a saudade da terra natal e do gado foi o sucesso do disco em versão gravada por Fagner no LP "Raimundo Fagner", de 1980.
"Eu sou filho do Nordeste, não nego o meu naturá
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar
Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá.
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar".
Outro ponto alto do disco "A Terra é Naturá" que foi lançado em CD pela 97 é a poesia Antônio Conselheiro que narra a saga do messiânico desde os dias iniciais em Quixeramobim, no Ceará até o combate final no Arraial de Belo Monte, na Fazenda Canudos, em 1897. Patativa, como muitos dos cantadores, registram na memória as histórias que boiam no leito da tradição oral, contadas aqui e ali, reproduzidas pelos violeiros e pelos cordéis. "A Terra é Naturá" foi produzido por Fagner , tendo o cineasta Rosemberg Cariri entrado como assistente de produção artística. O acompanhamento é feito por Manassés, músico especialista em violas que se revelou juntamente com o Pessoal do Ceará, e pelo violonista Nonato Luiz, violonista de mão cheia. A presença do rabequeiro Cego Oliveira, fazendo o introdutório das músicas ajuda a consolidar a reputação de indispensável ao LP. O lirismo dos versos de Mãe Preta, poema dedicado à sua mãe de criação cuja morte é narrada em versos contundentes e simplórios ao mesmo tempo, apresenta uma densidade poética que só os que cantam com pureza d'alma atingem.
"Mamãe, com muito carinho,
chorando um beijo me deu
E me disse: meu filhinho,
sua Mãe Preta morreu.
E outras coisa me dizendo,
senti meu corpo tremendo,
Me considerei um réu.
Perdi da vida o prazer,
Com vontade de morrer
pra ver Mãe Preta no céu"
Depois desse disco, Patativa voltou para o seu roçado na Serra de Santana, em Assaré. De lá saía esporadicamente para alguns recitais mas é no seu pé-de-serra, que recebe a inspiração poética. Em 9 de março de 1994, o poeta completou 85 verões e foi homenageado com o LP "Patativa do Assaré - 85 Anos de Poesia", sendo este seu mais recente lançamento, com participação das duplas de repentistas Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio e Otacílio Batista e Oliveira de Panelas. Como narrador do progresso nos meios de comunicação expôs em Presente Disagradável suas convicções autênticas, sobre o aparelho de televisão:
"Toda vez que eu ligo ele
No chafurdo das novela
Vejo logo os papo é feio
Vejo o maior tumaré
Com a briga das mulhé
Querendo os marido alheio
Do que adianta ter fama?
Ter curso de Faculdade?
Mode apresentar programa
Com tanta imoralidade!"

domingo, 1 de março de 2009

Mudanças no Blog



MUNDO CORDEL DE CARA NOVA

Os leitores mais assíduos e atentos devem ter percebido as mudanças de Mundo Cordel. As mais significativas foram a própria mudança do modelo, que, dentre outras coisas levou a barra lateral da esquerda para a direito e aumentou sua largura, permitindo maior mobilidade na inclusão de gadgets. Também incluí lista de seguidores e dei maior destaque aos vídeos. Espero que todos gostem das alterações.

Fecho o post deste domingo com a letra da música "Escravos do Sistema", de minha autoria, interpretada pelo Projeto Enxofre no vídeo acima.

ESCRAVOS DO SISTEMA

Falado: Não exija que eu tenha livre arbítrio. Não reclame se eu não tomo a decisão. E não me diga que você é que é forte, que você nunca temeu uma situação. Você reclama, achando que é independente, que você é diferente, que decide a sua sina. O que nós somos eu vou lhe dizer agora, por favor não fale nada antes que he chegue a hora.

Nós não temos o direito

De pensar nem de querer

Nem escolher nosso prazer.

Nós não podemos exercer nossa vontade,

Nós não temos nem vontade pra exercer.

Somos robôs, sujeitos alienados,

Animais domesticados, os escravos do sistema.

Representantes de uma classe em expansão

Que vê na televisão a solução pros seus problemas.

Nós não queremos nada! Não pensamos nada!

Ele pensa por nós!

Nós não queremos nada! Não pensamos nada!

O sistema, ele é quem manda em nós!