domingo, 31 de janeiro de 2010

SORTEIO - URGENTE

INGRESSOS PARA "O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS"
Atenção, frequentadores do blog!
MundoCordel está sorteando um kit com um memoboard e dois ingressos para o filme "O homem que engarrafava nuvens" para vocês!
Para concorrer, basta enviar um e-mail para marcos.mairton@uol.com.br, respondendo à pergunta: "O filme 'O homem que engarrafava nuvens' fala sobre a vida e a obra de qual compositor brasileiro?".
O prazo para concorrer se encerra às 18 horas do dia 05.02.2010, sexta-feira, e o sorteio será sábado, dia seis.
ATENÇÃO: OS INGRESSOS VALEM PARA QUALQUER CINEMA ONDE O FILME ESTEJA SENDO EXIBIDO.
Veja o vídeo abaixo e consiga dicas para a resposta:

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Humberto Teixeira - O filme



O HOMEM QUE ENGARRAFAVA NUVENS




Já está nos cinemas, desde 16 de janeiro, o filme "O homem que engarrafava nuvens", sobre a vida de Humberto Teixeira. Mas, quem foi esse Huberto Teixeira?

Bem, o trailer do filme dá uma noção, mas acho que precisa ver o filme todo para entender um pouco porque tantos artistas famosos o reverenciam...




domingo, 17 de janeiro de 2010

Cordel em prosa



A HISTÓRIA DE ZÉ LUANDO,
O HOMEM QUE VIROU MULHER
Marcos Mairton(*)
Parte I


Era uma vez Zé Luando, que um dia nasceu menino, cresceu, casou, descasou, mas, por obra do destino, não ficava à vontade, nem tinha felicidade, no seu corpo masculino. No sertão do Ceará dizem que ele nasceu. Numa pequena cidade, estudou, brincou, cresceu. Todo mundo o conhecia, mas ninguém esperaria ocorrer o que ocorreu.

Esse nome “Zé Luando” veio de um combinado do nome de sua mãe com o de seu pai ligado. Luana a mãe se chamando, e o pai, José Fernando, o nome assim foi formado.

Desde que era pequenino, muita gente já notava que brinquedo de menino a ele não agradava. Soltar pião, jogar bola, brincar de luta na escola, nada disso ele gostava. Mas logo se alegrava se chegava à sua mão um batom ou um espelho que achasse pelo chão. Com a boca toda pintada, deixava a mãe intrigada com a sua animação. O pai não tinha noção do que estava acontecendo. Ou estava trabalhando, ou em algum bar, bebendo. O menino delicado, e o pai, sempre ocupado, nada ia percebendo.

Assim ele foi crescendo com seu jeito diferente. De menino em rapaz tornou-se rapidamente. Mas, arranjar namorada era coisa complicada, que lhe deixava doente. Quando ia a uma festa, bem que ele até tentava. Aproximava-se das moças, conversava, conversava, mas, só de imaginar a sua boca beijar, seu estômago embrulhava. Na verdade, nessas horas, quando estava perto delas, olhava era para as roupas usadas então por elas. Ficava a imaginar, algum dia desfilar, usando uma daquelas.

Na cidade, àquela altura, todo mundo comentava, pois chamava a atenção Zé Luando onde passava. Fosse na volta da missa ou no bar da Dona Ciça, assunto é o que não faltava.
Assim, foi grande a surpresa quando chegou a notícia:

– Zé Luando vai casar com a filha de Dona Eunícia! E não pode ser boato, pois quem me contou o fato foi um cabo da polícia!

Segundo o cabo, ele esteve na Igreja Transversal, conversou com o pastor, explicou o principal e perguntou:

– Terá cura para uma criatura que nasce homossexual?

O pastor disse:

– É claro! O milagre é dos pequenos! Basta só você ter fé, e os resultados são plenos. Mas, pra mostrar devoção, faça uma doação de cem reais, pelo menos.

Zé Luando acreditou e fechou logo o negócio. Entregou os cem reais ao chefe do sacerdócio, que lhe disse:

– Tenha fé, pois Jesus agora é, além de amigo, seu sócio.

A partir daquele dia, Luando ficou mudado. Só vivia na igreja rezando, ajoelhado. Um dia o pastor falou:

– A maldição acabou. O irmão está curado. Você agora é homem para o que der e vier. Vai casar e ser feliz, ter os filhos que quiser. Espere que, amanhã, apresento-lhe a irmã que vai ser sua mulher.

Zé Luando, emocionado, quase não acreditava no milagre que o pastor então lhe comunicava. Por ele, no mesmo dia, a noiva conheceria e com ela se casava.

É aí que entra na história a Maria Salomé, filha de Dona Eunícia com Seu João Buscapé. Uma mocinha faceira que trabalhava de obreira na mesma igreja de Zé. Era ela a dita noiva que o pastor lhe arranjou, e depois disse que ela por José se apaixonou. Entre Luando e Maria, na noite do mesmo dia o noivado começou.

A notícia do noivado foi uma grande surpresa. Lá no bar da Dona Ciça, era assunto em toda mesa, porque, mesmo namorando, ninguém via em Zé Luando qualquer sinal de macheza. Ficava até esquisito, quando o casal passava. Saía gente na porta, todo mundo olhava, olhava... Luando até parecia mais mulher do que Maria, e ela nem se incomodava.

E assim foi o namoro e o tempo do noivado. O dia do casamento também foi logo marcado. Quando esse dia chegou, o povo se ajuntou pra ver Luando casado. No casório, o pastor sorria todo contente. O milagre de Luando encheu a igreja de gente. E a arrecadação de dízimo e doação aumentava de repente.

A história poderia acabar neste momento. Um “felizes pra sempre”, logo após o casamento, e a história de José, com Maria Salomé, terminaria a contento. Mas tenho que prosseguir narrando o que aconteceu, pois, sete meses depois, o filho de Zé nasceu, mas, em vez de animado, Zé ficou acabrunhado, com cara de “já morreu”.

Os amigos visitavam o bebê recém nascido, que, apesar de prematuro, era grande e bem nutrido, mas o Zé continuava alheio ao que se passava, de alegria desprovido.

(*) Saiba um pouco sobre esta obra:
Ano passado, participei do concurso "Arte da Magistratura", uma iniciativa muito interessante da Associação Paulista da Magistrados, abrindo espaço para os juízes que, apesar da complexidade e seriedade de seu trabalho, conseguem manter viva em seu espírito a chama da arte e da sensibilidade. O concurso era aberto a juízes estaduais de São Paulo, mas juízes federais e do trabalho poderiam ser de qualquer estado da federação, o que permitiu que eu concorresse.
Havendo duas categorias - artes plásticas e obra literária - Claro que participei da segunda. Para minha felicidade, dois de meus escritos ficaram entre os 24 semi-finalistas: a crônica "Uma confissão apaixonada" e o conto "A história de Zé Luando, o homem que virou mulher". No finalzinho de 2009, foi divulgada a lista dos dez finalistas e, para minha alegria, lá estava meu nome entre eles, com a obra "Uma confissão apaixonada". Resolvi postar as duas neste MundoCordel, começando pela "História de Zé Luando", que tem uma peculiaridade: originalmente, o conto foi escrito em cordel, mas, para concorrer como conto, achei que a apresentação em versos poderia confundir a cabeça da comissão julgadora. Afinal, como o cordel poderia concorrer como conto, se os contos são em prosa e os cordéis em verso? Perguntei a uma amiga, Juliana, prima de minha esposa, doutora em letras, o que fazer. Segundo ela, o cordel é poesia. Poesia épica, como a "Ilíada" a "Odisséia" e "Os Lusíadas". Enchi-me de orgulho diante de tal parecer - ainda mais vindo de quem entende do assunto - mas, continuei achando que, na categoria poesia, a coisa seria complicada. Além disso, eu lia o texto e continuava vendo um conto. Foi aí que veio a idéia de apresentá-lo como um texto escrito em prosa, inclusive abrindo mão da rima e da métrica de vez em quando, se necessário fosse para melhorar o resultado final. Afinal, são técnicas diferentes de escrita, então, algumas construções muito boas em verso não ficam bem quando em prosa, e vice-versa. Bem, o resultado está logo acima. Como ficou um pouco longo, está dividido em três capítulos. Espero que esses comentários não tenham cansado o leitor, a ponto de fazê-lo desistir da leitura dos próximos capítulos.