segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Cordel sobre a Escravidão


Juntar o útil ao agradável é quando faço uma visita à Conhecimento Editora. Além de rever meu amigo Flávio, ele sempre tem alguma novidade literária pra mostrar. Da última vez que lá estive, trouxe na sacola um exemplar novinho de "Zumbi dos Palmares", cordel de Fernando Paixão, ilustrado por Kazane, que conta a história do grande líder negro e de seu quilombo.
A edição é do IMEPH e a capa está aí em cima. Seguem trechos do texto, aliás, de altíssimo nível, como de resto toda a obra em si.

ZUMBI DOS PALMARES

Oh! Musa da poesia
Eu te peço inspiração
Como deste a Castro Alves,
Dá-me a iluminação
Pra escrever neste cordel
Capítulos de escravidão.

A minha intenção primeira
É falar da resistência,
Valor supremo da raça
Que em meio à violência
Defendeu a sua honra
Com bravura e eloquência.

Essa raça que pagou
O preço que não devia,
Foi vítima da crueldade,
Horror e selvageria.
Viu seu povo sucumbir
No laço da fidalguia.

A humanidade jamais
Vai livrar-se dessa mancha;
Na consciência do homem
Esse pecado se arrancha,
São nódoas da nossa história
Que nem o tempo desmancha.

E falarei de Zumbi
Bravo herói da pele escura,
Líder maior do seu povo
Contra a vil escravatura;
Da raça negra é o símbolo
De resistência e bravura.

(...)

Numa região marcada
Por grande concentração
De engenhos de açúcar
Onde toda a produção
Somente se sustentava
Por causa da escravidão.

A região referida
Se chama Zona da Mata;
Os escravos fugitivos
A partir daquela data
Fugiram para Palmares
Numa fuga imediata.

Palmares foi escolhido
Por ter ótimas condições
Pro negro sobreviver
Às custas de plantações,
Lugar de difícil acesso
Pras cruéis expedições.

Esta dita região
Cujas condições são boas,
Que tanto tem defendido
E abrigado as pessoas,
Hoje fica situada
No Estado de Alagoas.

Palmares foi muito além
Daquela fuga comum,
Tinha organização
E resistência incomum
Quilombo igual a Palmares
Não existia nenhum.

(...)

Ganga Zumba dos Palmares
Foi ele o líder primeiro
Dos negros que conseguiram
Escapar do cativeiro.
Era tio de Zumbi
O grande líder guerreiro.

Seu nome significa
Expressão: "Grande Senhor"
Tinha físico avantajado
E força superior
Empenhou-se na batalha
Contra o poder opressor.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Cordel de Antonio Barreto



O poeta Antonio Barreto, natural de Santa Bárbara/BA, residente em Salvador, presenteou os leitores do seu blog "A voz do cordel" com um belo cordel sobre eleições. O que é bom a gente tem que espalhar por este Mundo Cordel.

MENTIRAS QUE O POVO GOSTA
EM ÉPOCA DE ELEIÇÃO

O discurso é sempre igual
Em período de eleição.
O povo segue enganado,
Não esboça reação.
E os políticos brasileiros
Com a mesma falação:

— Se você quiser na Câmara
Um político honrado,
Vote certo para mim:
Estarei sempre ao seu lado.
Provarei ao eleitor
Ser um grande Deputado.

— Representarei você,
Meu querido eleitor.
No Congresso a minha voz
Será de grande valor.
Não esqueça de honrar
Seu voto pra Senador.

— Ninguém melhor do que eu
Para governar o país,
Eu farei do brasileiro
Um povo mais que feliz.
Todos erros do passado
Cortarei pela raiz.

— Eu garanto, meus amigos,
Acabar com a pobreza;
No meu governo as pessoas
Vão ter uma farta mesa,
Transformarei o Brasil
Numa pátria de riqueza.”

— Se você é um cristão,
Sempre fiel a Jesus,
Confie na minha palavra,
Ao seu voto farei jus;
No meu governo eu garanto:
Acabo a fila do SUS.

— Quanto ao Salário Mínimo,
Vocês não vão reclamar,
Brigarei lá no Congresso
Com qualquer parlamentar
Para assegurar a todos
Um aumento exemplar.

—Vou lutar pra conseguir
Igualdade social;
Agora a Reforma Agrária
Será um sonho real:
Darei terras para os pobres
De toda zona rural.

— Caixa Dois, Grampo, Propina,
Panetone, Mensalão,
Nepotismo, intransparência:
Nada de corrupção.
Vou dar fim nessas mazelas
Durante minha gestão.

— No meu governo, eleitor,
Vou construir hospitais;
Doentes terão remédio,
Cirurgia e tudo mais.
Vote certo para mim,
Que não falharei jamais.

— Apoiarei os pedidos
Ligados à cassação
Para punir os corruptos
Desta querida Nação.
Eu farei o impossível
Pra prender qualquer ladrão.

— A minha gestão será
De progresso e melhorias.
Eu vou ajudar os pobres,
Construindo moradias,
Pois meu governo será
Dedicado às minorias.

— Lutarei para cortar
Gastos, gratificações
E os aumentos abusivos
Para os grandes “escalões”.
Quem acreditar em mim
Não terá decepções.

— Meu programa de governo
Define com precisão
De como governarei,
Dando total atenção
À saúde, ao desemprego,
À cultura e à educação.

— Eleitor do meu Brasil,
Este aqui você conhece,
Sou político benfeitor
Que o povo nunca esquece.
Pra toda dificuldade,
Este bravo se oferece.

— Vou apresentar projetos
Úteis aos educadores;
Eu darei prioridade
Aos sofridos professores:
Cumprirei essa promessa
Aos meus fiéis eleitores.

— Durante minha gestão,
Fique despreocupado;
Saiba, meu caro eleitor,
Que sou bem intencionado;
Governarei para o pobre,
Que vive desamparado.

— Eu vou extinguir a fome,
Corrupção, violência;
Mostrarei aos eleitores
Toda a minha competência
Porque tudo que nos falta
É vontade e consciência.

— Vou investir, meus amigos,
Na sofrida Educação,
Abrirei muitas escolas
Na capital, no sertão:
Jamais analfabetismo
Haverá nesta Nação.

— Vou cumprir com altivez
As promessas de campanha;
Fazendo um governo sério
Sem permitir artimanha,
Pois comigo não tem “pizza”
“panetone ou “lazanha”!

— Honrarei o meu mandato
Em prol da democracia;
A imprensa será livre,
Pois ela nos auxilia,
Denunciando as mazelas
Presentes à luz do dia.

— As estradas do Brasil
Serão todas restauradas;
Ferrovias esquecidas:
Logo, logo reativadas;
As ruas cheias de lama
De pronto, serão calçadas.

— Ética, moralidade,
Transparência e justiça
São lemas do meu governo,
Pois odeio gente omissa.
Quem não “comungar” comigo,
Vai “rezar em outra missa”.

— Minha virtude maior
É possuir humildade,
Nunca fui um arrogante,
Nunca fiz perversidade,
Pelos meus cabelos brancos:
Já demonstro honestidade!

— Quando chegar em Brasília,
Não esquecerei vocês;
Voltarei à minha terra
Com alegria e honradez,
Provando a meus eleitores:
Pobre não vira burguês!

Brasileiro, brasileira,
Acorde pra realidade.
Reconheça que o Brasil
Requer mais seriedade.
Escolha bem o seu “gado”
Tendo em vista o seu passado
Ou então: adeus, saudade!!!

FIM

Salvador, agosto de 2010



segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Cordel e História


ENSINANDO HISTÓRIA ATRAVÉS DA LITERATURA DE CORDEL

Caros amigos Mundocordelistas!
Ainda nesse mote do crescimento do cordel no campo da educação, que tenho abordado ultimamente, vejam que trabalho interessante encontrei, da professora Maria Ângela de Faria Grill, da UFRPE. Pelo que entendi, o trabalho foi apresentado no VII CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. Vou transcrever só o primeiro parágrafo, mas quem quiser o texto todo (PDF), é só seguir o link:

A LITERATURA DE CORDEL E O ENSINO DA HISTÓRIA



EIXO 2 – Currículo, práticas educativas e quotidiano escolar



O objetivo deste trabalho é relatar uma experiência desenvolvida no Curso de Especialização de Ensino em História da Universidade Federal Rural de Pernambuco, através de uma Oficina. A expectativa dos alunos era de como é possível ensinar a História do Nordeste de uma forma crítica e ao mesmo tempo agradável, descolada dos livros didáticos que pouco abordam os problemas enfrentados pelas populações nordestinas, tais como a seca, a pobreza, a questão da terra, as disparidades sociais etc. Tentando preencher esta lacuna introduzi, como recurso didático, a literatura de cordel enquanto registro cultural, que trata dessas questões, já que é preciso se analisar os fatos históricos não somente a partir das versões oficiais, da fala dos políticos e jornais tendenciosos, mas também através das representações dadas pelos poetas de cordel que, através dos folhetos, mostram outras visões de momentos históricos vivenciados e testemunhados por eles. Esse rico material de estudo históricosocial pode ser significativo para se avaliar as versões que circulam em diferentes meios sociais, permitindo que se resgate uma série de atitudes críticas entre os chamados setores populares. Nesse sentido, estudar através da produção da cultura popular é estar aberto a todas as possibilidades, desvencilharse dos conceitos e preconceitos, privilegiando códigos e significados simbólicos partilhados entre sujeitos sociais de um mesmo espaço geográfico e de um mesmo tempo histórico.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cordel na Sala de Aula


ARIEVALDO VIANA E O PROJETO
"ACORDA CORDEL NA SALA DE AULA"
Depois de dez anos que iniciou o projeto “Acorda Cordel na Sala de Aula”, o poeta popular e xilogravurista Arievaldo Viana pode ver o seu trabalho sendo aplaudido em diversos municípios do Brasil, além de presenciar uma nova fase vivida pela literatura de cordel, que passou a ter o apoio de políticas públicas e o reconhecimento da importância do gênero como ferramenta de auxílio no processo de alfabetização

Por Bezerra Neto, especial para Nordeste VinteUm
Ilustração: Arievaldo Viana



“Eu morava em uma localidade no interior de Quixeramobim, onde não existia energia elétrica, nem acesso à televisão ou rádios. Assim, para divertir os netos, minha avó lia folhetos de cordel todos os dias depois dos afazeres domésticos, à luz da lamparina”. Assim, Arievaldo Viana, descreve com um semblante que transparece orgulho e gratidão, a forma como ele fora alfabetizado pela avó, Alzira de Sousa Lima, com a ajuda fundamental da literatura de cordel, isso ainda no começo da década de 70 do século passado, quando Arievaldo tinha por volta dos seis anos de idade.

Não demorou muito para o neto de dona Alzira, que detém memória privilegiada, se transformar na principal atração da localidade onde morava e onde o avô, Manoel Lima, dono de uma bodega, o colocava em cima do balcão para ele contar em verso “As proezas de João Grilo” ou a “Chegada de Lampião ao Inferno”, enquanto a clientela do avô se divertia.

A criança cresceu e hoje o reconhecido poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário, Arievaldo Viana diz não imaginar na época que a avó estava plantando uma semente hoje colhida em diversas salas de aula de todo o Brasil. Sabendo da importância do cordel no processo de alfabetização, Arievaldo há dez anos vem disseminando o projeto “Acorda Cordel na Sala de Aula”, que busca a revitalização e utilização do gênero como ferramenta paradidática na alfabetização de crianças, jovens e adultos, além de sua utilização nas classes do ensino fundamental e médio.

O projeto de Arievaldo foi pioneiro e já foi apresentado em diversos Estados do Brasil, como Tocantins, Acre, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Ceará, Minas Gerais e São Paulo, entre outros. A forma é simples. Como ainda não faz parte da grade curricular das escolas, Arievaldo teve a ideia de levar o cordel às salas de aula através de palestras e oficinas que são realizadas em escolas que adotam o “kit”, formado por uma caixa contendo 12 folhetos de cordel de diversos autores, o livro principal que explica o projeto e ensina como se fazer um cordel e, finalmente, um CD com 10 poemas e canções interpretados pelo autor e cantadores como Mestre Azulão, Geraldo Amâncio, Zé Maria de Fortaleza e Judivan Macêdo.

Nos folhetos que acompanham o kit, podem ser vistos diversos trabalhos já reconhecidos de autoria de poetas contemporâneos bem como de nomes tidos e havidos como clássicos da literatura de cordel, como por exemplo: “As proezas de João Grilo”, de João Ferreira de Lima; “D. Quixote de La Mancha”, adaptação de Stélio Torquato Lima; “A lenda da Ilha amarela”, de Antônio Francisco; “O Justiceiro”, de Rouxinol do Rinaré; “A noiva do Gato”, de Leandro Gomes de Barros, além dos folhetos do próprio Arievaldo, como “A história Completa do Navegador João de Calais” e “O Casamento do Morcego com a Catita”.

O cordel e a leitura da realidade defendida por paulo freire

O cordel, apesar da resistência de alguns pedagogos, constitui uma importante ferramenta de auxílio na Educação, principalmente no Nordeste, onde a linguagem e o cenário utilizado nos folhetos são reflexos da cultura nordestina. Arievaldo, em um texto que faz parte do Livro “Acorda Cordel Na Sala de Aula”, lembra que Paulo Freire já defendia que o aluno precisa ler sobre coisas que fazem parte da sua realidade, e o cordel traz essa realidade.

É comum encontrar nordestinos que tiveram o primeiro contato com os grandes mestres da literatura mundial através de adaptações para o cordel, como é o caso do “Romance de um Sentenciado”, do paraibano João Martins de Athayde, que nada mais é do que a adaptação do clássico “O Conde de Monte Cristo”. Arievaldo confessa que até mesmo na literatura brasileira, como o romance “Iracema”, do cearense José de Alencar, foi lido por ele primeiramente em uma adaptação para o folheto de cordel.

Segundo dados do IBGE, no inicio do século XX, entre 1900 e 1920, mais de 85% da população nordestina era analfabeta. Porém, nessa mesma época o cordelista João Martins de Athayde vendeu mais de 100 mil folhetos do “Pavão Misterioso” em apenas seis meses. Arievaldo Viana acredita que essa foi a época em que o nordestino mais leu, apesar dos altos índices de analfabetismo, pois o cordel tinha o poder de massificação dentro dessa camada social. “O analfabeto, mesmo sem saber ler, fazia questão de ir às feiras comprar o cordel e levar para um vizinho ou um parente que era alfabetizado ler para toda a família. Assim, ficava aquela roda de pessoas prestando atenção nas histórias e desventuras trazidas pela literatura de Cordel”, ressaltou.

O sucesso do projeto capitaneado por Arievaldo é digno de nota. Já foram vendidos cerca de 10 mil folhetos, 5 mil CDs e o livro “Acorda Cordel na Sala de Aula” já está na segunda edição, tendo cerca de 4 mil exemplares vendidos. Todo esse material é levado para distribuição durante as palestras e oficinas ministradas por Arievaldo, além do trabalho de capacitação para os professores que passarão a adotar o material. “Geralmente quando um município ou uma escola adquire o kit eu vou para esse local para realizar uma oficina ou uma palestra para mostrar qual a melhor forma de se utilizar o cordel no processo de alfabetização”, disse.

Uma ferramenta poderosa no processo de educaCAo que chega ao MEC

Segundo a pedagoga Isly Aguiar, o cordel pode sim ser uma ferramenta bem poderosa de auxílio na educação, principalmente por ser algo que prende a atenção das crianças e jovens, em linguagem de fácil compreensão, mas também é preciso ser utilizado de forma correta, sabendo escolher os cordéis adequados. Um indicativo de que a fórmula lançada por Arievaldo deu certo está na constatação de que depois que ele divulgou o “Acorda Cordel na Sala de Aula”, outros inúmeros projetos semelhantes foram lançados, como a “Caravana do Cordel”, realizada por um grupo de nordestinos que moram em São Paulo.

Com a experiência que adquiriu levando o seu projeto para diversas localidades do Brasil, Arievaldo ressalta que a receptividade dos alunos é a melhor possível. “As oficinas são muito proveitosas. Eu me recordo que depois de realizar um trabalho no município de Milhã, no Ceará, saí de lá deixando dois cordelistas formados. Eram dois alunos que tinham talento, verdadeiros poetas, mas não sabiam as técnicas do verso cordeliano”, lembrou Arievaldo.

O Cordel vem ganhando espaço dentro do Ministério da Educação (MEC), prova disso é que desde 2005 o Programa Nacional da Biblioteca Escolar vem adquirindo livros da literatura de Cordel para que esses possam fazer parte do acervo das escolas. Para que isso se tornasse possível, vários cordelistas tiveram que encaixar os seus trabalhos dentro dos parâmetros exigidos pelo MEC. Assim, os folhetos ganharam outra roupagem, mas sempre preservando a originalidade e as características do texto de cordel.

Livros de Arievaldo como “A Raposa e o Cancão”, da editora Imeph, e “A Ambição de Macbeth e a Maldade Feminina”, editora Cortez, são exemplos de trabalhos adotados pelo MEC. “O Bicho Folharal”, também de Arievaldo Viana, com ilustrações feitas por Jô Oliveira, é outro exemplo de paradidático todo feito na linguagem do cordel, mas dentro dos padrões do MEC, sendo direcionado ao público infantil, que esteja iniciando o processo de alfabetização.

Para o poeta Arievaldo Viana “o Cordel hoje está sendo respeitado e reconhecido no Brasil inteiro como uma literatura, como uma escola literária e não apenas como peça folclórica, algo que era visto de forma discriminada ou como uma poesia menor”. São cerca de 16 editoras que trabalham com o cordel.

Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel

No dia 8 de junho, foi lançado no auditório do Centro Cultural o Banco do Nordeste, em Juazeiro do Norte, o Edital “Mais Cultura de Literatura de Cordel – Edição Patativa do Assaré”. Esse concurso irá premiar 200 iniciativas culturais vinculadas à criação e produção, pesquisa, formação e difusão da Literatura de Cordel e linguagens afins. As inscrições irão até 30 de julho e as premiações somam R$ 3 milhões. O edital faz parte de uma série de compromissos que o presidente Lula e o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, assumiram desde maio de 2009, durante o I Encontro de Cordelistas Nordestinos em Brasília. Na ocasião foi entregue ao presidente uma pauta com 12 itens fundamentais para a cultura do cordel, como por exemplo, o reconhecimento da Literatura de Cordel e do Repente Nordestino como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e, também, o reconhecimento da profissão de poeta popular.


ENDEREÇO DA EDITORA ASSARÉ:
Editora Assaré Ltda ME - CNPJ: 7.536.551/0001-13 - Rua Waldery Uchôa, 567 A - Fortaleza - CE - Cep: 60.020-110 - Telefone: 85 3254.4469
Email: assare@editoraassare.com.br / editoraassare@gmail.com

História do Cordel


NOVO LIVRO DE MARCO HAURÉLIO

A editora Claridade lançará, ainda em agosto, Breve História da Literatura de Cordel (112p., R$ 17,00), que integra a coleção Saber de Tudo. Escrito por MARCO HAURÉLIO, o livro reúne informações históricas e ensaios úteis para os que se aventurarem pelo universo fascinante da poesia do povo, do qual o autor faz parte desde sempre.

Breve História da Literatura de Cordel refaz o percurso do mais conhecido ramo da poesia popular brasileira, desde o sertão da Paraíba, onde nasceu Leandro Gomes de Barros (1865-1918), maior expoente do gênero.

O livro traz, ainda, um capítulo sobre a presença do pícaro no romanceiro nordestino — reaproveitado na peça de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida —, investiga a origem deste gênero literário, traça perfis de autores, editores e ilustradores e analisa as relações do Nordeste com o imaginário medieval.

A ilustração da capa é do mestre Jô Oliveira. Contribuíram, também, com leituras, sugestões e informações Aderaldo Luciano, Klévisson Viana, Rouxinol do Rinaré, Arievaldo Viana, Gregório Nicoló, Pedro Monteiro, José Honório, José Paulo Ribeiro e Varneci Nascimento.
 
Fonte: http://marcohaurelio.blogspot.com/2010/08/editora-claridade-lancara-ainda-em.html

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Parceiros

Peguei a imagem em: http://www.quenerd.com.br/blog/que-nerd/aperte-firme

SITES E BLOGS COM LINK
PARA ESTE MUNDO CORDEL

Aproveitando esta semana de aniversário, dei uma pesquisada para saber quais os blogs e sites que contêm link para este Mundo Cordel, indicando-o como um caminho para bons conteúdos na Net. Fiquei feliz ao encontrar nada menos que 26 sites e blogs. Para completar, neste mesma semana, Papa Berto, a autoridade máxima da Igreja Católica Apostólica Sertaneja, incluiu um banner de Mundo Cordel entre os seus "comparsas".

Muito obrigado, Papa. Muito obrigado a todos que abrem os caminhos para este Mundo Cordel.

Segue a lista dos parceiros (se você tem um link para Mundo Cordel e não está na relação, me avisa que eu incluo):


1. A voz do cordel: barreto.wordpress.com

2. Blog de Cordel: ncordel.blogspot.com

3. Blog do Belmontense: belmontepe.blogspot.com

4. Blog do Edilson: edilsonqueiroz.blogspot.com

5. Blog do Poeta do Seridó Ednaldo Luiz: ednaldoluiz.blogspot.com

6. Blog do Roseno Oliveira: rosenooliveiralisieux.blogspot.com

7. Cantinho da Dalinha: cantinhodadalinha.blogspot.com

8. Cordel Atemporal: marcohaurelio.blogspot.com

9. Cordel de Saia: cordeldesaia.blogspot.com

10. Cultura Nordestina: culturanordestina.blogspot.com

11. Desce mais uma!: descemaisuma.blogspot.com

12. Diálogos de Patrimônio: dialogosdepatrimonio.blogspot.com

13. Direito ao Planeta: direitoaoplaneta.blogspot.com

14. Felicidade Clandestina: bagattellas.blogspot.com

15. Gilbamar – Poesias e Crônicas: gilbamar-poesiasecronicas.blogspot.com

16. Insights Pedagógicos: insightspedagogicos.blogspot.com

17. Jornal da Besta Fubana: http://www.luizberto.com/

18. Mário Dantas em Sintonia: josemariodantas.blogspot.com

19. Masmorra dos Dragões: masmorradosdragoes.blogspot.com

20. Mini SPA Estética e Cosmética: belezacacem.blogspot.com

21. Olho do Gato: furodogato.blogspot.com

22. Paradoxo Inconstante: paradoxo-inconstante.blogspot.com

23. Poesia na Alma: lilianpoesiablogs.blogspot.com

24. Portal do Cordel: http://www.portaldocordel.com.br/

25. Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço: sbec-mossoro.blogspot.com

26. Sucam: sucam.blogspot.com

27. Tio Colorau: http://www.tiocolorau.com.br/

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Mundo Cordel: três anos


Caros visitantes,

acabo de perceber que hoje é 13 de agosto, o que significa que este Mundo Cordel está completando três anos.

Gostaria de escrever algo, uma estrofe que fosse, em qualquer métrica, mas, de repente, não me veio nada. Talvez seja porque é zero hora e quarenta e dois minutos (hora de Brasília) e estou muito cansado. Ou talvez porque nessas horas, em que se celebram momentos importantes, a gente fica sem ter mesmo o que dizer.

Bem, neste momento de pouca inspiração, deixa pelo menos eu registrar que nesses três anos Mundo Cordel recebeu mais de 108 mil visitas, de 72 países. É pouco, se a gente se comparar com uns sites que recebem essa quantidade de visitas por dia. Mas acho muito, quando penso que no dia em que comecei não tinha qualquer experiência como webdesigner (será que já tenho alguma?) e pensava apenas em criar um espaço para publicar alguns versos meus e de alguns poetas que me autorizassem a tanto.

Além do mais, tem coisas que valem mais que milhares de acessos. Por exemplo, ontem uma leitora do blog postou o seguinte comentário em uma postagem sobre Patativa do Assaré:

Eu tenho 10 anos e sou da Argentina mas moro em bahia itacaré eu moro aqui mas eu bou a escola ESPACO EDUCAR e eu estou estudando sobre ele e preciso que alguem escreva curiocidades para mostrar para minha profesora Daniela, bom so isso obrigada.
Catalina Peruzzotti Anchart.

Precisa incentivo maior pra gente continuar trazendo poesia para este Mundo Cordel?

Obrigado, Catalina, pelo incentivo. Espero que você tenha achado algo interessante para sua professora Daniela.

Obrigado visitantes deste Mundo Cordel, por sua companhia neste blog!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cordéis em livro


Das feiras para a livraria
10 de agosto de 2010



Adriana Del Ré

Das feiras populares nordestinas às livrarias. Esse tem sido uma travessia cada vez mais comum para o cordel, gênero literário genuinamente brasileiro. Vindo da tradição oral e, depois, publicado como folheto a preços baixos, esse tipo de poesia popular passou a ser editado no formato de livros, sobretudo nas adaptações de clássicos mundiais. O mercado editorial interessado nesse filão acaba de ganhar reforço: a nova coleção Contos em Cordel, da Panda Books, que inicia suas atividades com dois títulos: Branca de Neve, dos Irmãos Grimm, e O Pequeno Polegar, de Charles Perrault.



Nesta primeira edição, cada um deles foi lançado com tiragem de 3 mil exemplares. As adaptações dos dois clássicos para o cordel são de autoria de Varneci Nascimento e as ilustrações , de Rogério Coelho (O Pequeno Polegar) e Andrea Ebert (Branca de Neve). “Nossa ideia é lançar dois livros por ano”, diz Varneci. Estudioso dessa literatura, ele é autor de mais de 200 obras em cordel, das quais 52 já foram publicadas no formato de livros ou folhetos.



Além disso, ele também presta consultoria à tradicional Editora Luzeiro, baseada em São Paulo e há 60 anos especializada na publicação de folhetos de cordel. “Decidimos mexer no nosso catálogo para valorizar essa cultura”, diz Tatiana Fulas, coordenadora editorial da Panda Books. Segundo ela, a coleção tem como alvo o público infanto-juvenil, a partir dos 9 anos, como ferramenta para auxiliar nessa fase importante de formação de leitores. “O professor pode trabalhar esse material rico com os alunos, comparando a narrativa com a poesia”, sugere a coordenadora da Panda.



Aliás, o fato de o cordel ter sido recomendado dentro das salas de aula pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, do MEC, fez com que as editoras investissem ainda mais nas próprias coleções do gênero. “No ano passado, só para a rede pública de ensino, vendemos cerca de 26 mil exemplares de cada um de três títulos, que são adaptações de A Megera Domada, O Corcunda de Notre-Dame e Os Miseráveis”, afirma Marco Haurélio, que já trabalhou na Luzeiro e atualmente coordena a coleção Clássicos em Cordel, da Editora Nova Alexandria.



“O cordel publicado em livro ainda causa estranhamento, porque alguns pesquisadores o relacionam com folhetos. Mas a literatura, como um todo, precisa acompanhar a evolução. Podemos manter o pé na vanguarda, sem abandonar a tradição”, diz.



Há quem diga que o cordel tenha nascido no Brasil, sem qualquer herança externa, como defende Varneci Nascimento. Outro pesquisador do assunto, Haurélio também defende essa legitimidade nacional do gênero, mas acredita que haja matrizes longínquas em lugares como Europa e África. “O cordel nasceu na Paraíba, no final do século 19. Um dos nossos primeiros cordelistas – senão o primeiro – foi Leandro Gomes de Barros. Ele criou todos os temas trabalhados até hoje”, conta Haurélio.



Importante editora cearense especializada em cordel, a IMEPH começou a atuar fortemente no mercado editorial a partir de 2005. “De 70% a 80% dos títulos que editamos é em formato de cordel”, diz Lucinda Marques de Azevedo, sócia da editora. Atualmente, a rede de ensino pública é uma das principais parceiras da empresa. “A venda em livrarias ainda é muito pequena. Nos últimos 3 anos, o total de títulos vendidos em cordel chega próximo a 200 mil exemplares”, diz ela.



“Entre 2007 e 2008, vendemos 98 mil livros para o projeto Alfabetização de Jovens e Adultos, do MEC”. A editora, que está se consolidando no Nordeste, quer expandir. “Nossa ideia é conseguir distribuidores para ampliar a possibilidade de mercado para nós. Estaremos em São Paulo, para participar da Bienal do Livro”, diz.


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Prêmio Mais Cultura de Literatura de Cordel 2010

Literatura de cordel resiste, ganha respeito e até festival do governo

Para melhorar, começa a entrar nas escolas
Ana Clara Brant


Um fogo de monturo. Aquele fogo que nunca se apaga, e que por mais que você tente, a chama mantém-se acesa por muito tempo. “O monturo é um monte de lixo orgânico que resiste bastante. Quando você o queima, por mais que se esforce para apagá-lo, ele permanece ali. E é exatamente assim que eu vejo o cordel. Às vezes, ele não está tão em evidência, ou seja, as chamas não estão altas, mas nunca está em decadência. Aquele fogo, por menor que seja, está sempre ali. Vivo.” A definição do cordelista, escritor e poeta João Bosco Bezerra Bonfim sobre a literatura de cordel é (1) mais do que apropriada. Com origens que remontam aos tempos medievais, o cordel perdura há séculos e foi se modernizando ao longo do tempo, sem perder a essência.




Barros: considerado o primeiro escritor de literatura de cordel do país

Está presente nas cantorias dos repentistas — até por sua característica de oralidade —, no cinema, no teatro e até as universidades têm voltado seus olhos para essa manifestação, que apesar das raízes europeias, é tão brasileira, e sobretudo, nordestina como explica a mestranda em literatura pela Universidade de Brasília (UnB) Bruna Paiva de Lucena, que se prepara para defender uma tdissertação sobre o tema: Espaços em disputa: o cordel e o campo literário brasileiro.

As conquistas dos cordelistas são grandes, mas ainda há muito o que fazer. No começo deste ano, a profissão foi regulamentada, e, atendendo a uma solicitação desses poetas, pela primeira vez, o Ministério da Cultura está realizando o I Prêmio mais cultura de literatura de cordel — Edição Patativa do Assaré (2), que vai contemplar 200 projetos, com investimento total de R$ 3 milhões. As inscrições vão até o dia 14. “Nossa literatura vem ganhando espaço, sem dúvida. Acredito até que, hoje, apesar de termos muitos repentistas, especialmente aqui em Brasília, o cordel está mais em ascenção do que o próprio repente”, opina Chico de Assis, presidente da Associação de Cantadores, Repentistas e escritores populares do Distrito Federal e Entorno.


Ele, também um cordelista, acredita que esse gênero da literatura atrai por sua forma mágica de dramaticidade por meio da rima e da métrica, e pela facilidade na leitura. “Tanto é que livros tradicionais e clássicos da literatura estão ganhando formatos em cordel. Isso está cada vez mais comum. Justamente pelo uso de rimas. Tudo isso facilita a leitura, sobretudo para quem está iniciando na alfabetização”, defende Chico, que acaba de lançar um portal sobre o tema (www.derepenteocordel.com.br).


O cearense João Bosco Bezerra Bonfim, que é autor entre outros livros, do cordel O romance do vaqueiro voador, transformado em filme, é outro que destaca o papel do cordel no processo de alfabetização infantil, já que cada vez mais, ele tem sido utilizado na sala de aula. “Por muito tempo, o cordel foi marginalizado e, aos poucos, está começando a ser valorizado. Isso faz parte de sua modernização, especialmente agora que está sendo levado para as escolas”, acredita.


Leitura fácil


Já para o pernambucano radicado em Brasília Jô Oliveira, um dos mais conceituados ilustradores de obras em cordel, está cada vez mais raro encontrar esse tipo de literatura em feiras ou livrarias, e que o caminho realmente vai ser as escolas. “A salvação do cordel está na sala de aula. Não se compra mais tanto cordel, como antigamente. Mas como tem uma leitura agradável e fácil de ser decorada, com rimas, desperta o interesse da garotada. É sem dúvida um incentivador e um facilitador da leitura”, comenta.


Por falar em ilustrações, a xilogravura (arte e técnica de fazer gravuras em relevo sobre madeira), e o cordel sempre foram bastante associados, apesar de alguns defenderem que um e outro não são como unha e carne. Segundo o poeta João Bosco Bezerra Bonfim , não existe a obrigatoriedade de um livro em cordel ter ilustrações em xilogravura e explica porque um ficou tão ligado ao outro. “Antigamente, era muito caro desenvolver uma capa com fotografia e descobriram uma técnica mais barata que é justamente fazer essa figura em madeira, a xilogravura. E foi ficando bacana, esse preto no branco, o que acabou ocorrendo justamente na época de ouro do cordel. Por isso, eles ficaram tão associados. Mas os poemas podem ser ilustrados de várias maneiras. Hoje temos ilustrações cada vez mais coloridas no livros de cordel, e não mais o preto e branco como era antes. Mudam os meios de produção, então muda a forma de se fazer e ilustrar o cordel. A xilogravura não é obrigatória, mas acabou ficando”, frisa


Porém, o ilustrador Jô Oliveira não consegue visualizar um poema de cordel sem a xilogravura. Ele conta, que muitos cordelistas utilizavam a reprodução de fotografia nas capas dos livros e com o passar do tempo, resolveram se apropriar da madeira para fazer as gravuras, que era uma tecnologia disponível e barata. “Desde então, essa gravura reproduzida na madeira acabou sendo associada ao cordel e os xilógrafos passaram a ter um papel muito especial nesse contexto. Não há como pensar um sem o outro”, salienta.


Se há divergências nesse aspecto, em um ponto há unanimidade. O fascínio e o encantamento que esse tipo de poesia provoca nos leitores. O poeta e cordelista pernambucano Gérson Santos diz que, mesmo com a mudança da temática dos cordelistas ao longo dos anos, que deixaram de abordar as histórias de Lampião e os “causos heróicos”, e passaram a privilegiar assuntos educativos e sociais, a sua identidade foi preservada. “O jeito de escrevê-lo não foi alterado. As rimas, a comicidade, a maneira lúdica com que ele é feito ainda atraem muita gente. Independente do que se está abordando”, lembra.


De acordo com João Bosco Bezerra, o fato de o cordel transitar entre o fantástico e o sobrenatural também faz dele algo excepcional e, justamente por isso, nunca deixará de conquistar gerações. “Quando decidi escrever meu primeiro livro, que foi justamente O romance do vaqueiro voador, eu não queria tratar essa narrativa em prosa, porque acho que tiraria o impacto que ela merece. Queria algo que pairasse nesse universo entre a reportagem e o fantástico; a notícia absoluta e a possibilidade de ter sido invenção. Esse ar de mistério. O cordel negocia com as emoções, com a identidade, com a história, a fantasia. É isso que o faz tão único”, resume.


1 - Nas cordas


É um tipo de poesia popular, originalmente oral, e depois impressa em folhetos rústicos ou outra qualidade de papel, expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome. Foram os portugueses que introduziram o cordel no Brasil e foi no Nordeste que ele acabou se tornando mais popular. O cordel mais tradicional é a sextilha, ou seja, estrofe de seis versos de sete sílabas, sendo que o segundo verso rima com a quarto, e este com o sexto.


2 - Incentivo


O prêmio, cujas inscrições foram prorrogadas até 14 de agosto, vai selecionar 200 iniciativas culturais vinculadas à criação e produção, pesquisa, formação e difusão da Literatura de Cordel e linguagens afins, com premiação total de R$ 3 milhões. Os projetos podem ser em formato de evento (festivais, mostras, de shows e espetáculos, feiras, etc.) ou de produto cultural (como jornais, revistas, programas de rádios e sites, entre outros). Informações: http://www.cultura.gov.br/ ou mais.cultura.gov.br .

Veja a matéria completa no link do Correio Braziliense:
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/08/05/diversaoearte,i=206095/A+LITERATURA+DE+CORDEL+RESISTE+GANHA+RESPEITO+E+ATE+FESTIVAL+DO+GOVERNO.shtml