CENTENÁRIO DE PATATIVA DO ASSARÉ
Neste dia tão importante, relembro o episódio da "Secretária Eletrônica", que publiquei em meu livro "Uma sentença, uma aventura e uma vergonha", no qual recebo um recado imaginário de Patativa:
SECRETÁRIA ELETRÔNICA
Um dia comprei uma secretária eletrônica, e logo veio a idéia de deixar a mensagem em versos. Comecei com o próprio número do telefone e fui distribuindo a mensagem pelos dez versos de sete sílabas, como até hoje gosto de fazer. E a mensagem ficou assim:
Você ligou dois, dois, nove,
Nove, oito, zero, sete.
Como não posso atender
Deixo esta fita cassete
Para gravar o seu nome
E também seu telefone
Nesse meio digital
Por favor dê seu recado
Falando bem compassado
Logo depois do sinal.
Só que, desde o dia em que gravei a mensagem, fiquei imaginando o que aconteceria se Patativa do Assaré me telefonasse e se deparasse com aquela gravação.
É claro que isso era mera fantasia, pois, embora ainda fosse vivo naquela época, Patativa não me conhecia, nem teria qualquer motivo para ligar para minha casa. Talvez nem gostasse de telefonar.
Mas, de tanto pensar no telefonema de Patativa, acabei imaginando sua resposta:
Amigo a sua mensagem
Ficou muito interessante
Deu vida à máquina fria
Fez dela um ser palpitante.
Vou lhe dizer o meu nome
E logo o meu telefone
Você vai saber qual é.
Falando bem compassado
Como foi recomendado
Patativa do Assaré.
Um dia comprei uma secretária eletrônica, e logo veio a idéia de deixar a mensagem em versos. Comecei com o próprio número do telefone e fui distribuindo a mensagem pelos dez versos de sete sílabas, como até hoje gosto de fazer. E a mensagem ficou assim:
Você ligou dois, dois, nove,
Nove, oito, zero, sete.
Como não posso atender
Deixo esta fita cassete
Para gravar o seu nome
E também seu telefone
Nesse meio digital
Por favor dê seu recado
Falando bem compassado
Logo depois do sinal.
Só que, desde o dia em que gravei a mensagem, fiquei imaginando o que aconteceria se Patativa do Assaré me telefonasse e se deparasse com aquela gravação.
É claro que isso era mera fantasia, pois, embora ainda fosse vivo naquela época, Patativa não me conhecia, nem teria qualquer motivo para ligar para minha casa. Talvez nem gostasse de telefonar.
Mas, de tanto pensar no telefonema de Patativa, acabei imaginando sua resposta:
Amigo a sua mensagem
Ficou muito interessante
Deu vida à máquina fria
Fez dela um ser palpitante.
Vou lhe dizer o meu nome
E logo o meu telefone
Você vai saber qual é.
Falando bem compassado
Como foi recomendado
Patativa do Assaré.
---***---
É bom não esquecer Patativa do Assaré
Roberto Guedes
O medo de que o transcurso, hoje, do centenário de nascimento do saudoso poeta Patativa do Assaré passe muito em branco na imprensa potiguar me força a marcar minha presença entre seus admiradores e a compartilhar esse sentimento com os leitores da coluna nesta quinta-feira. Enquanto os cantores, compositores e sanfoneiros Dominguinhos e Waldônys, os maiores discípulos de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, viajam para Assaré, no Ceará, a fim de homenagearem ali o grande nordestino que foi Patativa, compartilho com os amigos leitores um texto que encontrei há tempos na Internet, registrando um aniversário do poeta em vida. Venho namorando com esta biografia há muito tempo, e hoje finalmente posso divulgá-la achando que estou cumprindo o dever. Encimado pelo título “Patativa do Assaré e seus 90 verões de gorjeio poético”, este é o texto: As penas plúmbeas, as asas e cauda pretas da patativa, pássaro de canto enternecedor que habita as caatingas e matas do Nordeste brasileiro, batizaram poeta Antônio Gonçalves da Silva, conhecido em todo o Brasil como Patativa do Assaré, referência ao município que nasceu. Analfabeto "sem saber as letra onde mora ", como diz num de seus poemas, sua projeção em todo o Brasil se iniciou na década de 50, a partir da regravação de "Triste Partida", toada de retirante gravada por Luiz Gonzaga. Filho do agricultor Pedro Gonçalves da Silva e de Maria Pereira da Silva, Patativa do Assaré veio ao mundo no dia 9 de março de 1909. Criado num ambiente de roça, na Serra de Santana, próximo a Assaré , seu pai morrera quando tinha apenas oito anos legando aos seus filhos Antônio, José, Pedro, Joaquim, e Maria o ofício da enxada, "arrastar cobra pros pés" , como se diz no sertão. A sua vocação de poeta, cantador da existência e cronista das mazelas do mundo despertou cedo, aos cinco anos já exercitava seu versejar. A mesma infância que lhe testemunhou os primeiros versos presenciaria a perda da visão direita, em decorrência de uma doença, segundo ele, chamada "mal d’olhos". Sua verve poética serviu para a denunciar injustiças sociais, propagando sempre a consciência e a perseverança do povo nordestino que sobrevive e dá sinais de bravura ao resistir ao condições climáticas e políticas desfavoráveis. A esse fato se refere a estrofe da música Cabra da Peste:
"Eu sou de uma terra que o povo padece
Mas não esmorece e procura vencer.
Da terra querida, que a linda cabocla
De riso na boca zomba no sofrê
Não nego meu sangue, não nego meu nome.
Olho para a fome , pergunto: que há?
Eu sou brasileiro, filho do Nordeste,
Sou cabra da Peste, sou do Ceará.
"Embora tivesse facilidade para fazer versos desde menino, a Patativa do município de Assaré, no Vale do Cariri, nunca quis ganhar a vida em cima do seu dom de poeta. Mesmo tendo feito shows pelo Sul do país, quando foi mostrado ao grande público por Fagner em finais da década de 70, até hoje se considera o mesmo camponês humilde e mora no mesmo torrão natal onde nasceu, no seu pedaço de terra na Serra de Santana. Do Vale do Cariri, que compreende o Sul do Ceará e parte Oeste da Paraíba, muitas famílias migraram para outras regiões do Brasil. A própria família Gonçalves , da qual faz parte o poeta, se largou do Crato , de Assaré e circunvizinhanças para o Sul da Bahia, em busca do dinheiro fácil do cacau, nas décadas de 20 e 30. Seus livros foram publicados ocasionalmente por pesquisadores e músicos amigos e, parceria com pequenos selos tipográficos e hoje são relíquias para os colecionadores da literatura nordestina. A estreia do vate cearense em vinil se deu no ano de 1979, quando gravou o LP "Poemas e Canções", lançado pela CBS . As gravações foram realizadas em recital no Teatro José de Alencar, em Fortaleza. Cantando para seu povo brincou poeticamente com o fato de estar sendo gravado em disco na abertura A dor Gravada:
"Gravador que está gravando
Aqui no nosso ambiente
Tu gravas a minha voz,
O meu verso e o meu repente
Mas gravador tu não gravas
A dor que meu peito sente".
O recital fez parte de uma revisão cultural que a nova classe intelectual ligada à música e ao cinema faz sobre o obra dos grandes poetas populares cearenses como Cego Oliveira, Ascenso Ferreira e o próprio Patativa. Artistas como Fagner , o cineasta Rosemberg Cariri e outros, se encarregaram de produzir em vídeo e película documentários com finalidade de registrar ar um pouco da cultura em seu molde mais genuíno. Do mesmo disco é a destemida Senhor Doutor, que em pleno governo do general Ernesto Geisel falava em baixos salários numa posição de afronta em relação à situação da elite, representada pela figura do doutor. Assim vocifera o bardo do Assaré, com seu ressonante gogó:
"Sinhô Dotô não se enfade
Vá guardando essa verdade
E pode crê, sou aquele operário
Que ganha um pobre salário
Que não dá para comer."
Após a gravação do primeiro LP o recitador , fez uma série de shows com seu discípulo Fagner . Em 81 a apresentação da dupla no Festival de Verão do Guarujá ganha ampla repercussão na imprensa. Nesta mesma ocasião gravou seu segundo LP "A Terra é Naturá", também pela CBS. Patativa sempre cantou as saudades da sua terra, embora não tenha deixado o seu Cariri no último pau-de-arara, como diz a letra. Seu lamento arrastado e monocórdico acalanta os que se retiraram e serve de ombro aos que ficam. A toada-aboio "Vaca Estrela e Boi Fubá" que narra a saudade da terra natal e do gado foi o sucesso do disco em versão gravada por Fagner no LP "Raimundo Fagner", de 1980.
"Eu sou filho do Nordeste, não nego o meu naturá
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar
Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá.
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar".
Outro ponto alto do disco "A Terra é Naturá" que foi lançado em CD pela 97 é a poesia Antônio Conselheiro que narra a saga do messiânico desde os dias iniciais em Quixeramobim, no Ceará até o combate final no Arraial de Belo Monte, na Fazenda Canudos, em 1897. Patativa, como muitos dos cantadores, registram na memória as histórias que boiam no leito da tradição oral, contadas aqui e ali, reproduzidas pelos violeiros e pelos cordéis. "A Terra é Naturá" foi produzido por Fagner , tendo o cineasta Rosemberg Cariri entrado como assistente de produção artística. O acompanhamento é feito por Manassés, músico especialista em violas que se revelou juntamente com o Pessoal do Ceará, e pelo violonista Nonato Luiz, violonista de mão cheia. A presença do rabequeiro Cego Oliveira, fazendo o introdutório das músicas ajuda a consolidar a reputação de indispensável ao LP. O lirismo dos versos de Mãe Preta, poema dedicado à sua mãe de criação cuja morte é narrada em versos contundentes e simplórios ao mesmo tempo, apresenta uma densidade poética que só os que cantam com pureza d'alma atingem.
"Mamãe, com muito carinho,
chorando um beijo me deu
E me disse: meu filhinho,
sua Mãe Preta morreu.
E outras coisa me dizendo,
senti meu corpo tremendo,
Me considerei um réu.
Perdi da vida o prazer,
Com vontade de morrer
pra ver Mãe Preta no céu"
Depois desse disco, Patativa voltou para o seu roçado na Serra de Santana, em Assaré. De lá saía esporadicamente para alguns recitais mas é no seu pé-de-serra, que recebe a inspiração poética. Em 9 de março de 1994, o poeta completou 85 verões e foi homenageado com o LP "Patativa do Assaré - 85 Anos de Poesia", sendo este seu mais recente lançamento, com participação das duplas de repentistas Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio e Otacílio Batista e Oliveira de Panelas. Como narrador do progresso nos meios de comunicação expôs em Presente Disagradável suas convicções autênticas, sobre o aparelho de televisão:
"Toda vez que eu ligo ele
No chafurdo das novela
Vejo logo os papo é feio
Vejo o maior tumaré
Com a briga das mulhé
Querendo os marido alheio
Do que adianta ter fama?
Ter curso de Faculdade?
Mode apresentar programa
Com tanta imoralidade!"
Versos do Professor e Poeta Zé Bezerra - Patu-RN
ResponderExcluirVIAJAR EM "PINGA-PINGA"
O ônibus é um transporte
Que no trânsito é referência
A maioria do povo
A ele dá preferência
Mas se é um "pinga-pinga"
É preciso paciência.
Ele para em todo canto
o seu trajeto é assim
Para na pista, no beco
Em rua, praça e jardim
Mesmo uma distância curta
Parece que não tem fim.
Em todo lugar que passa
Desce gente, sobe gente
Há uns que conversam muito
Outros dormem facilmente
E vez por outra de leve
Escapa um ar diferente.
Aqueles que roncam muito
Tendo o corpo adormecido
Ao se mexer na cadeira
Escapa um "pum" espremido
Cuja fragrância é igual
Desodorante vencido.
Um canta e outro aboia
Um assovia, outro grita
Um bêbado fala besteira
Uma criança vomita
E um velho ressona alto
Que o canto da boca apita.
Se vão dez ou doze em pé
Ao passar por um buraco
O solavanco é tão grande
Que desmaia quem é fraco
Mas o pior é o bafo
Da catinga de sovaco.
Precisa manter a calma
Sem pra nada está ligando
Procurar se entreter
Sem ver o tempo passando
Para aguentar o ônibus
Parando de vez em quando.
Quem não quer sofrer maçada
E por qualquer coisa xinga
Para evitar desconforto
De imprensado ou catinga
Vá direto em seu carrão
Ou viaje de avião
Mas não vá em "pinga-pinga".
Autor: Zé Bezerra