MEUS ROMANCES DE CORDEL
Marco Haurélio continua acelerando em sua produção literária. Depois de publicar os livros "Contos Folclóricos Brasileiros", "Breve História da Literatura de Cordel", "As babuchas de Abu Kasen" e "Traquinagens de João Grilo em Cordel", em 2010, está lançando agora a coletânea "Meus Romances de Cordel", que reúne sete títulos e abrange vários temas.
Entre os textos, estão: O Herói da Montanha Negra (1987), A Briga do Major Ramiro com o Diabo (2005) e Os Três Conselhos Sagrados (2006).
A Lenda do Major Ramiro é destaque na obra e no blog do autor (Cordel Atemporal), onde fui buscar o seguinte:
Lenda do Major Ramiro é destaque em antologia
Major Ramiro Faria, sentado, de bigode, ao lado de minha bisavó, Elvira do Prado Fernandes. Ao lado do casal, os pais do Major, Ladislau e Angélica. De pé, minha avó Luzia Josefina (sexta, a partir da esquerda) e meu avô, Joaquim José de Faria, bem jovens. No alto da foto, os meninos são Maximino (Tio Maçu) E José Farias (padrinho José). O Major Ramiro era conhecido por sua valentia e por seus dons de taumaturgo (curador). Publiquei pela Luzeiro o cordel, cujo trecho incial está reproduzido abaixo, focando uma das muitas lendas envolvendo o meu bisavô.
A Briga do Major Ramiro com o Diabo, cordel, escrito a partir de uma das muitas lendas do sertão de outrora, é um dos sete folhetos que integram a antologia Meus romances de cordel (publicada, este ano, pela Global Editora).
Ramiro José de Faria (1882‑1966), meu bisavô paterno, na Ponta da Serra, localidade onde eu nasci, e nos arredores do sertão de minha infância, virou lenda. São muitas as histórias em que, em seu ofício de curandeiro, devolveu a sanidade a loucos e salvou da morte certa muitos doentes. Famoso também por sua valentia, foi perseguido pelo Dr. Franco Fernandes, um primo distante, primeiro médico a clinicar no Bonito, povoado próximo ao Barreiro, onde o Major residia. No presente texto, no entanto, recorri à imaginação para narrar um encontro do Major Ramiro com o Diabo, metamorfoseado num gato preto. Como deixo claro no texto, o episódio foi narrado por minha avó Luzia, embora, no cordel, todos os diálogos tenham sido criados por mim, seguindo a fórmula das histórias tradicionais de pelejas com o demo. Foi publicado pela editora Luzeiro, em 2006.
Capa do cordel editado pela Luzeiro
Trecho do cordel
Peço licença ao leitor
Pra narrar este relato
Contado por minha avó;
Portanto não é boato,
Em que o Diabo aparece
Na forma dum horrendo gato.
No tempo em que Igaporã
Ainda era um distrito
Da vizinha Caetité
E era chamado Bonito,
Na fazenda do Barreiro
Deu‑se um enredo esquisito.
No ano de oitenta e sete
Do dezenove nascia,
De tradicional família,
Ramiro José Faria.
Foi o maior taumaturgo
Que já viveu na Bahia.
A sua mãe era Angélica
E o seu pai, Ladislau.
Ele era quase um santo;
Ela tinha um gênio mau,
Vivia rogando pragas,
Era pior que um lacrau!
E parte do embate verbal com o Diabo:
Após cuspir duas brasas,
O gato disse: — Major,
Neste mundo eu sou o príncipe,
Não existe outro maior.
Quem quiser que se arrisque,
Mas vai levar a pior!
O major disse: — Demônio,
Te esconjuro, desgraçado,
Só estás aqui porque
Teu laço foi afrouxado,
Pois pela mão do Eterno
Tu vives subjugado.
Disse o capeta: — Ramiro,
De ti tenho muita dó,
Não foi acaso o Eterno
Que mandou eu tentar Jó,
Despojando‑o de tudo,
Deixando‑o tristonho e só?
— Jó sofreu grande infortúnio,
Porém teve recompensa,
E tu foste derrotado,
Mensageiro da doença!
Não venhas me iludir,
Pois disto tenho sabença.
Falou o monstro: — Porém
Contar‑te outra preciso:
Se o Rei não permitisse,
Nunca eu teria juízo
De entrar e tentar Eva,
Privando‑a do Paraíso.
— Dos desígnios do Senhor
Não tens a capacidade
Para tirar conclusões,
Pois não sabes da verdade:
Graças à falta de Eva
É que existe a humanidade.
— Ramiro, estás delirando
E precisas de uma luz:
Por que o teu Deus mandou
À terra o filho Jesus,
Pra morrer inutilmente,
Pendurado numa cruz?
— Maldito, disse o major,
Carece de explicação:
Três dias Jesus esteve
Na tenebrosa mansão,
Resgatando, desta forma,
Os descendentes de Adão.
(...)
Retrato retocado de meus avós Luzia Josefina e Joaquim
O livro Meus romances de cordel será lançado oficialmente dia 9 de abril, às 16h, na Livraria Cortez (Rua Bartira, 317).
Fone: (11) 3873 7111
Amigo Marcos Mairton,
ResponderExcluiresse é blog mais completo a abordar o universo cordeliano.
Obrigado pela divulgação e sucesso sempre!