sexta-feira, 18 de abril de 2008

Cordel e dramas de família (José Ribamar Alves)


MEIA DÚZIA DE CORDÉIS



Depois de amanhã completam-se dois anos do lançamento do livro MEIA DÚZIA DE CORDÉIS, do poeta e repentista JOSÉ RIBAMAR ALVES, de Mossoró. Estive no lançamento, e ainda ontem estava relendo o livro, dedicado pelo autor.


Do site da Editora Queima-Bucha, do meu amigo Gustavo Luz, peguei a matéria a seguir, publicada à época no jornal Correio da Tarde:


Literatura de cordel e a conquista de novos espaços A literatura de cordel vem conseguindo cada vez mais espaço e se consagrando como a forma mais popular de expressão literária.Em Mossoró esta expansão vem sendo comemorada pelos cordelistas que se sentem motivados a desenvolver novos projetos voltados para a cultura popular.O repentista e cordelista José Ribamar Alves é um exemplo do crescimento da literatura de cordel no Rio Grande do Norte. Atualmente o artista popular está fazendo um trabalho de divulgação do cordel em Natal. O projeto consiste em levar ao conhecimento de todo o estado os títulos de vários cordelistas de Mossoró e região.Para Ribamar, o momento atual vivido pela cultura popular representa uma grande abertura para todo os artistas que fazem arte e cultura. “Aqui em Mossoró o espaço para a Literatura de Cordel vem crescendo e devemos isto ao trabalho de divulgação feito através de parcerias com entidades e empresas como a Editora Queima Bucha e a Fundação Vint-un Rosado”, relata.O mais recente projeto do repentista Ribamar Alves é o livro ‘Meia Dúzia de cordéis’, que será lançado no próximo dia 20 em Mossoró. Na obra ele reuniu os seis cordéis de sua autoria que fizeram mais sucesso e que foram mais vendidos. O lançamento acontecerá às 20h no Restaurante Kasebre, localizado na Rua Jerônimo Rosado, 239, Centro.A noite de lançamento será marcada por uma grande festa popular que contará com a participação de vários repentistas, poetas, entre outros artistas e convidados. O poeta popular Antônio Francisco será uma das atrações da noite.O livro está sendo editado pela Editora Queima Bucha.José Ribamar, um poeta muito popularO cordelista José Ribamar Alves é natural da cidade de Caraúbas. Filho de agricultor, e apesar de não ter concluído sequer o segundo ano primário, aprendeu com a literatura de cordel a produzir seus próprios cordéis. Hoje acumula 17 títulos publicados com as mais variadas histórias.‘Falando do meu sertão’, foi primeiro cordel publicado e desde então o poeta popular não parou mais de produzir e passar par o papel o seu pensamento e as histórias que conhece. Apesar de ser caraubense, Ribamar conhece bem a história de Mossoró. Tanto que transformou este conhecimento em cordel, lançando os títulos: ‘Detalhes sobre a cidade que combateu Lampião’, volumes I e II. Sayonara Amorim - Correio da Tarde


Em homenagem ao poeta, Mundo Cordel traz hoje a obra:

ARMADILHA DO DESTINO

Eis aqui, digno leitor,
Uma poética invenção
Digamos que baseada
Em uma justa razão
Pela qual o filho bota
O próprio pai na prisão.

Numa cidade de dez
Mil habitantes do mais,
Moravam João e Eva
O mais simples dos casais.
Genitores da mais bela
Das moças regionais.

Essa moça se chamava
Núbia dos Santos Vilela.
Tinha dezenove anos
Quando fez por ser tão bela
Um jovem da mesma idade
Se apaixonar por ela.

Os pais de Núbia diziam
Pra ela dessa maneira:
“Esse rapaz não a quer
como única companheira.
Pense no futuro, antes,
De fazer uma besteira.

Núbia, sentindo também
Paixão pelo jovem fez
Um bilhete que dizia:
Wladimir dos Santos Reis,
Em três dias, ou me rouba,
Ou me perde de uma vez.

Três dias após ter lido
O bilhete perfumado,
Wladimir roubou a jovem
Por quem era apaixonado,
Mas o amor deles dois
Não durou o esperado.

Com dois meses Wladimir
Pra são Paulo fez partida.
Deixou Núbia no Nordeste,
Desprezada e ofendida.
Além de grávida, sem teto,
E refeição garantida.

Rejeitada pelos pais,
Ela ficou na cidade.
No lar de um de outro
Que tinham boa vontade,
Nutrindo o filho no ventre,
Com o pão da caridade.

No dia em que ela teve
O filho no hospital.
Pra não criá-lo sofrendo,
O doou para um casal
Que o levou pra morar
em São Paulo capital

Júnior Tabosa Mesquita,
Sargento de alto valor,
E ana Dutra Mesquita,
Esposa de tal senhor,
Como não tinham família
O adotaram com amor.

O casal lá em São Paulo
Quando chegou registrou
Como seu filho legítimo
O menino que ganhou
E, no qual Mesquita Júnior
Foi o nome que botou.

Mesquita, como sete anos,
Cuidade pelo casal,
Começou a estudar
Num colégio especial
Reservado para os filhos
Da polícia federal.

O menino tinha tanta
Vocação para estudar
Que todo ano, nas provas,
Era o primeiro lugar,
De uma série para a outra
Não ficava sem passar.

Findou o segundo grau
Com 16 anos de idade,
Passou no vestibular
Com ampla facilidade,
Abrindo as portas da mente
Pra os céus da faculdade.

Para estudar Direito
Rejeitou Geografia,
Sociologia e Letras,
Medicina, Agronomia,
Também Contabilidade,
Botânica e Economia.

Quando vinte e cinco anos
Completou, ficou feliz.
Na hora que conseguiu
Ser declarado juiz
Chefe da 1ª Vara
Criminal, que tanto quis.

Com quatro anos depois
Conquistou Bruna Salém
Uma jovem promotora,
Simpática como ninguém,
Com ela fez matrimônio
Levou sorte e se deu bem.

No mesmo mês, Dona Bruna,
Por ser muito atarefada
Mandou buscar no Nordeste
Uma mulher não casada
Com mais de quarenta anos
Para ser sua empregada.

Uma parenta de Bruna,
Atendendo seu pedido
Lhe telefonou dizendo:
“Seu caso está resolvido,
Enviei uma mulher
Separada do marido”.

Tem quarenta e oito anos,
Não sai de casa pra festa,
Onde vai, dá-se ao respeito,
Não anda com quem não presta,
É muito trabalhadora,
Séria, humilde e honesta.

Depois de tudo acertado
Núbia dos Santos Vilela
Foi trabalhar para Bruna
Em São Paulo, com cautela,
Sem saber que o juiz
Era o próprio filho dela.

Ouviu Núbia, certo dia,
Na hora da refeição,
Mesquita dizer pra Bruna:
“Mandei para detenção,
Wladimir dos Santos Reis
Que assassinou o patrão.

Dei pra ele trinta anos
De reclusão numa cela”.
Quando findou o assunto,
Disse pra esposa bela:
“Vamos visitar mamãe,
Estou com saudade dela”.

Núbia também foi com eles
Passar o fim de semana.
Ao chegarem na mansão,
De porta veneziana,
Avistou Júnior Tabosa
Ao lado de Dona ana.

Ambos mudaram de cor
Quando se reconheceram...
De surpresa e emoção
Naquela hora tremeram.
Mas, Bruna e Mesquita Júnior
O porquê não entenderam.

Dona Ana perguntou:
“Anda procurando alguém?
O que é que faz aqui?”
Núbia disse: “Muito bem,
Trabalho na residência
De dona Bruna Salém”.

Nessa hora, uma pergunta,
O doutor Mesquita fez:
“Meus pais, vocês a conhecem?”
Falaram com timidez:
“Essa é a mulher do réu
Wladimir dos Santos Reis”.

Núbia, nessa hora pôs
Os joelhos sobre o chão.
Disse: “Eu sou sua mãe.
Filho, me dê seu perdão.
Lhe dei para não lhe ver
Sofrer tanta precisão”.

Seu pai me abandonou
Sem haver necessidade.
Ele é aquele homem
Que vossa autoridade,
Cumprindo as regras da lei,
O jogou por trás da grade.

Até a porta da cela,
Mesquita penalizado,
Foi com os pais adotivos
E a mãe legítima de lado
Olhar o pai verdadeiro
Por ele sentenciado.

Núbia disse: “Veja o filho
Que você deixou em mim.
Wladimir pediu perdão
E seu filho disse: “Assim,
Lhe condenei justamente
Mas não desejo seu fim”.

Núbia, na casa do filho,
Deixou de ser empregada.
Por Júnior Tabosa e Ana
E Bruna foi abraçada.
Mesquita sentiu remorso,
Da condenação pesada.
E Wladimir ficou preso
Cumprindo a sentença dada.

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