
terça-feira, 27 de maio de 2008
Cordel e educação

quinta-feira, 22 de maio de 2008
Poesia popular gaúcha

A um bochincho - certa feita,
Fui chegando - de curioso,
Que o vicio - é que nem sarnoso,
nunca pára - nem se ajeita.
Baile de gente direita
Vi, de pronto, que não era,
Na noite de primavera
Gaguejava a voz dum tango
E eu sou louco por fandango
Que nem pinto por quirera.
Atei meu zaino - longito,
Num galho de guamirim,
Desde guri fui assim,
Não brinco nem facilito.
Em bruxas não acredito
'Pero - que las, las hay',
Sou da costa do Uruguai,
Meu velho pago querido
E por andar desprevenido
Há tanto guri sem pai.
No rancho de santa-fé,
De pau-a-pique barreado,
Num trancão de convidado
Me entreverei no banzé.
Chinaredo à bola-pé,
No ambiente fumacento,
Um candieiro, bem no centro,
Num lusco-fusco de aurora,
Pra quem chegava de fora
Pouco enxergava ali dentro!
Dei de mão numa tiangaça
Que me cruzou no costado
E já sai entreverado
Entre a poeira e a fumaça,
Oigalé china lindaça,
Morena de toda a crina,
Dessas da venta brasina,
Com cheiro de lechiguana
Que quando ergue uma pestana
Até a noite se ilumina.
Misto de diaba e de santa,
Com ares de quem é dona
E um gosto de temporona
Que traz água na garganta.
Eu me grudei na percanta
O mesmo que um carrapato
E o gaiteiro era um mulato
Que até dormindo tocava
E a gaita choramingava
Como namoro de gato!
A gaita velha gemia,
Ás vezes quase parava,
De repente se acordava
E num vanerão se perdia
E eu - contra a pele macia
Daquele corpo moreno,
Sentia o mundo pequeno,
Bombeando cheio de enlevo
Dois olhos - flores de trevo
Com respingos de sereno!
Mas o que é bom se termina
- Cumpriu-se o velho ditado,
Eu que dançava, embalado,
Nos braços doces da china
Escutei - de relancina,
Uma espécie de relincho,
Era o dono do bochincho,
Meio oitavado num canto,
Que me olhava - com espanto,
Mais sério do que um capincho!
E foi ele que se veio,
Pois era dele a pinguancha,
Bufando e abrindo cancha
Como dono de rodeio.
Quis me partir pelo meio
Num talonaço de adaga
Que - se me pega - me estraga,
Chegou levantar um cisco,
Mas não é a toa - chomisco!
Que sou de São Luiz Gonzaga!
Meio na volta do braço
Consegui tirar o talho
E quase que me atrapalho
Porque havia pouco espaço,
Mas senti o calor do aço
E o calor do aço arde,
Me levantei - sem alarde,
Por causa do desaforo
E soltei meu marca touro
Num medonho buenas-tarde!
Tenho visto coisa feia,
Tenho visto judiaria,
Mas ainda hoje me arrepia
Lembrar aquela peleia,
Talvez quem ouça - não creia,
Mas vi brotar no pescoço,
Do índio do berro grosso
Como uma cinta vermelha
E desde o beiço até a orelha
Ficou relampeando o osso!
O índio era um índio touro,
Mas até touro se ajoelha,
Cortado do beiço a orelha
Amontoou-se como um couro
E aquilo foi um estouro,
Daqueles que dava medo,
Espantou-se o chinaredo
E amigos - foi uma zoada,
Parecia até uma eguada
Disparando num varzedo!
Não há quem pinte o retrato
Dum bochincho - quando estoura,
Tinidos de adaga - espora
E gritos de desacato.
Berros de quarenta e quatro
De cada canto da sala
E a velha gaita baguala
Num vanerão pacholento,
Fazendo acompanhamento
Do turumbamba de bala!
É china que se escabela,
Redemoinhando na porta
E chiru da guampa torta
Que vem direito à janela,
Gritando - de toda guela,
Num berreiro alucinante,
Índio que não se garante,
Vendo sangue - se apavora
E se manda - campo fora,
Levando tudo por diante!
Sou crente na divindade,
Morro quando Deus quiser,
Mas amigos - se eu disser,
Até periga a verdade,
Naquela barbaridade,
De chínaredo fugindo,
De grito e bala zunindo,
O gaiteiro - alheio a tudo,
Tocava um xote clinudo,
Já quase meio dormindo!
E a coisa ia indo assim,
Balanceei a situação,
- Já quase sem munição,
Todos atirando em mim.
Qual ia ser o meu fim,
Me dei conta - de repente,
Não vou ficar pra semente,
Mas gosto de andar no mundo,
Me esperavam na do fundo,
Saí na Porta da frente...
E dali ganhei o mato,
Abaixo de tiroteio
E inda escutava o floreio
Da cordeona do mulato
E, pra encurtar o relato,
Me bandeei pra o outro lado,
Cruzei o Uruguai, a nado,
Que o meu zaino era um capincho
E a história desse bochincho
Faz parte do meu passado!
E a china? - essa pergunta me é feita
A cada vez que declamo
É uma coisa que reclamo
Porque não acho direita
Considero uma desfeita
Que compreender não consigo,
Eu, no medonho perigo
Duma situação brasina
Todos perguntam da china
E ninguém se importa comigo!
E a china - eu nunca mais vi
No meu gauderiar andejo,
Somente em sonhos a vejo
Em bárbaro frenesi.
Talvez ande - por aí,
No rodeio das alçadas,
Ou - talvez - nas madrugadas,
Seja uma estrela chirua
Dessas - que se banha nua
No espelho das aguadas!
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Cordel e Clássicos da Literatura

Os dois livros da Coleção Clássicos em Cordel estarão à venda no Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens, no Rio de Janeiro. Os livros integram o estande da Editora Nova Alexandria.
Os Miseráveis, adaptação do cordelista e ilustrador Klévisson Viana do romance de Victor Hugo, narra as aventuras de Jean Valjean, um dos mais belos personagens da literatura universal.
O Corcunda de Notre-Dame, de João Gomes de Sá, também adaptado a partir de um romance do grande escritor francês, é a história de Quasimudo (Quasímodo no original), o corcunda da Catedral de Santana, pequena cidade do interior nordestino.
Os dois livros são magistralmente ilustrados pela dupla Murilo e Cíntia.
10º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens Local: MAM – Museu de Arte Moderna Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85 Parque do Flamengo RJ • Tel: (21) 2240-4944 Data: De 21 de maio a 1º de junho de 2008 Horário: Segunda a sexta, das 8h30 às 18h; sábados, domingos e feriado, das 10h às 20h. Ingresso: R$ 3,00 (gratuidade para maiores de 65 anos, portadores de deficiência e professores da Rede Municipal de Ensino) FNLIJ • Tel.: (21) 2262-9130 /
terça-feira, 20 de maio de 2008
Cordel e coisas antigas (Mundim do Vale)
Mundim do Vale
Um amigo me pediu
Pra fazer uma rima antiga,
E da cabeça saiu
Constipação e fadiga.
Forcei minha paciência
Me lembrei de saliência,
De apocada e sisuda.
Lembrei de moça falada,
De mulher amancebada,
De teúda e manteúda.
Me lembrei de taboada
Para ensinar a contar,
Lembrei quando era cobrada
A minha taxa escolar.
Lembrei revista Cruzeiro,
Papel almaço, tinteiro,
A pena e o mata-borrão.
Lembrei de aluno pescando,
E a professora brigando
Com a palmatória na mão.
Me lembrei de andajá,
De enganador de apito,
Bolo ligado, aluá,
E taboa de pirulito.
Puxei mais pela memória,
Lembrei de cigarro Astória,
Continental e Elvira.
Lembrei chiclete de bola,
Quebra queixo, mariola
E de mel de Jandaíra.
Lembrei roleto de cana
E papa de carimã,
De prato de porcelana
E pastilha de hortelã.
Falei em gripe asiática,
Em cola de goma arábica,
Jardineira e marinete.
Falei em réis e tostão,
Cueca samba canção,
Suco de uva e grapete.
Falei em fogão Jangada,
Em cepo de caminhão,
Isqueiro sete lapada
E na dança de feição.
Lembrei de bingo dançante,
De caixeiro viajante
E de bica jacaré.
Falei em vento caído,
Catapora, estalicido,
Pereba e bicho de pé.
Lembrei de blusa banlon,
De riri, de gigolé,
De música de Roni Von,
De frejo e de cabaré.
Sem perguntar a ninguém,
Lembrei foguista de trem,
Pastorinha e sacristão.
Lembrei de bola de meia,
Bingo de galinha cheia
E de jogo de gamão.
Das coisas que me lembrei
Teve sabão de tinguí,
Cana madeira de lei
E a velha T.V. Tupi.
Relógio de algibeira,
Espingarda socadeira,
Show de Tonico e Tinôco.
Caco de torrar café,
Frasco de guardar rapé,
Rosário feito de coco.
Não esqueci de lambreta
O transporte do Playboy,
Me lembrei de carrapeta,
De corrupio e rói rói.
Lembrei jogo de peteca,
De relancim e sueca,
De lu e cara ou coroa.
Também lembrei mina avó
Que fazia pão- de- ló,
Manzape, sequilho e broa.
Também lembrei Ludugero
Mandando Otrope calar,
A marcha “ Mamãe eu quero
Mamãe eu quero mamar. “
Da revista Luluzinha,
Das músicas de Emilinha,
E o livro Capivarol.
Lembrei de disco de cera,
De pingüim de geladeira,
De quartinha e urinol.
Eu me lembrei de frasqueira,
Bateria pra panela,
De bule, de cristaleira,
Colher de pau e sovela.
Perguntei a um beradeiro
Quem foi que nasceu primeiro
Se foi o pinto ou o ovo.
Quando mostrei esse verso,
Pensando ser um sucesso
Ele me disse: - È o novo!.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Cordel e Clássicos da Literatura (Arievaldo e Jô)

quinta-feira, 15 de maio de 2008
Cordel e Amazônia (Marcus Lucenna)

A AMAZÔNIA É NOSSA
A terra da promissão
Que hoje o mundo cobiça
Pela sua imensidão
A biodiversidade
E a riqueza do seu chão.
A sua maior porção
Pertence a nós brasileiros
Porém, Peru e Colômbia
Tem ela nos seus terreiros
Venezuela e Bolívia
Dela também são parceiros.
Lá também vivem os primeiros
Donos deste novo mundo
Os índios a quem devemos
O respeito mais profundo
E o brasileiro cabôclo
Povo mestiço e fecundo.
Precisamos ir bem fundo
Ao tratar dessa questão
Que mexe com nossa vida
Com a nossa imaginação
Com a história e o futuro
Da nossa grande nação.
Amazônia é equação
Que temos que resolver
Se será fácil ou difícil
O tempo é quem vai dizer
É nosso dever de casa
E vamos ter que fazer.
Nós precisamos dizer
Ao mundo com galhardia
Que os povos da Amazônia
Da sua rica bacia
São os seus únicos donos
Têm dela a soberania.
Dia e noite, noite e dia
Precisamos combater
Com idéias, com ações
Senão é fácil prever
Toda essa nossa riqueza
Haveremos de perder.
Todos precisam saber
Dessa grande orquestração
Que os poderosos do mundo
Vêm movendo desde então
Pra tomarem a Amazônia
Movidos pela ambição.
Debaixo daquele chão
Tem prata,tem gipsita
Tem diamantes, titânio
Ferro, ágata, malaquita
Citrinos, molibidênio
Tem tungstênio e bauxita.
Veios de ouro e pepitas
Urânio, gás, manganês
Tem petróleo, alumínio
Potássio e digo a vocês
Onde tem tanta riqueza
O gringo nunca é cortês.
Gringo não quer ser freguês
E também não quer ser sócio
Quer meter a mão em tudo
Ser o dono do negócio
Acham que somos otários
Que o nosso povo é beócio.
Mas o sol em equinócio
Na linha do equador
Ilumina o nosso povo
Com tanta luz e esplendor
Que um povo com esse brilho
Não pode ser perdedor.
Precisamos dar valor
As forças que a gente tem
Novo colonizador
Aqui não vai se dar bem
Nós não queremos ser mais
Escravos de mais ninguém.
Na Amazônia ainda tem
Tântalo, topázio e linhito
Fluor, zinco, tório, cromo
Um território bonito
Nióbio, ítrio e as águas
Do Amazonas bendito.
Porém tem muitos conflitos
Com grileiro, com posseiro
Tem também falsos pastores
À serviço do estrangeiro
Queimadas pra criar gado
Fazendeiro e madeireiro.
Mas cabe a nós brasileiros
Puxar o mote, o refrão
Chamar os nossos vizinhos
Com bom senso e união
Pra defender nossas pátrias
Patrimônio e rico chão.
Hoje com a concentração
Das furtunas pela terra
Com a riqueza em poucas mãos
Ou a gente grita e berra
Ou pra ter a Amazônia
Teremos que entrar em guerra.
O ronco da motoserra
Fumaça e poluição
As pastagens para o gado
Matando a vegetação
Mostra que estamos errando
Na forma de ocupação.
Damos ao gringo a visão
que não sabemos cuidar
Do que eles chamam pulmão
Do mundo a fábrica de ar
É com essa conversa mole
Que eles querem nos lezar.
Precisamos implantar
A auto-sustentação
Respeitando a natureza
Porém com convicção
Que a Amazônia é nossa
E gringo não põe a mão.
No futuro a geração
Que virá depois de nós
Vai poder se orgulhar
E dizer: nossos avós
Fizeram um grande país
Não nos deixaram a sós.
Então solto minha voz
Nesse momento presente
Em nome desse futuro
Onde estará nossa gente
Se a gente fortalecer
Os elos dessa corrente.
Do peão ao presidente
Chico, Mané e Antônia
Do Oiapoque ao Chuí
De Mossoró à Rondônia
Precisamos nos unir
Pra salvar a Amazônia.
Mas se o gringo é nossa insônia
Agiremos dando duro
Rumando na caminhada
Com ninguém deixando furo
Unidos pela Amazônia
Senão, adeus bom futuro.
Lutemos até no escuro
Unidos em harmonia
Com garra, força e coragem
Enfrentando a vilania
Não daremos o que é nosso
Não queiram o que não é vosso
A nossa soberania.