quinta-feira, 15 de março de 2012

Livro sobre Cordel



Antologia do Cordel Brasileiro
reúne antigos e novos autores


Um passeio pelo que de melhor foi – e é – feito por grandes
cordelistas brasileiros é o que se oferece neste livro


Arievaldo Viana


Desde que passou a despertar o interesse dos estudiosos, a chamada Literatura de Cordel (poesia popular narrativa impressa, na definição do estudioso Manoel Diégues Jr.), tem sido contemplada com a publicação de centenas de estudos e diversas antologias que buscam compreender melhor esse gênero literário tão presente na cultura do Nordeste brasileiro. Apesar disso, o cordel continua cercado por mitos infundados, definições equivocadas e total incompreensão por parte de algumas pessoas dos meios acadêmicos. Alguns (a maioria) torcem o nariz para a chamada poesia popular por considerarem-na uma subliteratura, coisa de pouco ou nenhum valor, de acordo com a definição corrente na maioria dos dicionários.


Cria-se, portanto, a imagem errônea que o cordel para ser “autêntico” tem que ser impresso em papel de baixa qualidade, tem que ter obrigatoriamente a capa em xilogravura e deve ser exposto pendurado em barbantes. Na verdade, o que deve ser levado em conta é o seu estilo inconfundível enquanto gênero textual e também as suas formas fixas, que são métrica, rima e oração. Entenda-se por “oração” que o cordel é essencialmente poesia narrativa (impressa) e consiste na arte de rimar histórias com começo, meio e fim.


O poeta e pesquisador baiano Franklin Maxado, em seu livro “Cordel Televivo – Futuro, presente e passado da Literatura de Cordel”, publicado em 1984 pela Editora Codecri (do Pasquim) trata, num dos capítulos, da “extrema unção” que foi dada ao cordel pela maioria dos pesquisadores na década de 1980 do século passado.  Eis um resumo da opinião de Maxado:


“Muitas universidades já estudam, colecionam, divulgam, editam e ditam influências aos autores da Literatura de Cordel. Também o surto de turistas estrangeiros, preferindo os de capas xilogravadas, cria normas. Em ambos os casos, o folheto é visto como uma coisa exótica. Uma peça de museu que deve ser conservada em sarcófagos, sem ter mais ação. Parado no tempo e espaço, morto e mumificado. E muitos pesquisadores decretam o seu falecimento, encerrados em seus gabinetes e bibliotecas.”



Em 1950, no Sudeste, o cordel foi descoberto como bom negócio e a editora Prelúdio (atual Editora Luzeiro) começou a publicar folhetos no formato 13x18 (um pouco maior que o tradicional), com capas coloridas, em papel de boa qualidade, tornando-se o alvo de críticas veementes de alguns pesquisadores desinformados, embora mantivesse um time de poetas de primeira linha como é o caso de Manoel D’Almeida Filho, Antônio Teodoro dos Santos, Manoel Pereira Sobrinho, Minelvino Francisco, só para citar alguns.  Esses poetas, geralmente, eram ignorados pelos organizadores de antologias de cordel, que levavam em conta não a qualidade do texto, mas a aparência do suporte no qual estava impresso. O escritor baiano Marco Haurélio, um dos grandes expoentes da nova geração de poetas de cordel, pesquisador de renome, com diversos livros publicados, repara essa injustiça com a publicação de “Antologia do Cordel Brasileiro” (Editora Global, 256 páginas). Ele coligiu os textos de maneira que o resultado mostrasse ao leitor quanto está apurada a literatura de cordel no Brasil, contemplando 15 autores de diferentes gerações. Pela primeira vez, uma antologia do gênero reúne num mesmo volume obras dos pioneiros Leandro Gomes de Barros e José Pacheco, dos geralmente esquecidos (e discriminados) Manoel D’Almeida Filho, Antônio Teodoro dos Santos, Manoel Pereira Sobrinho e Minelvino Francisco Silva e dos novos expoentes do cordel, dentre os quais destacam-se quatro autores cearenses: Rouxinol do Rinaré, Evaristo Geraldo da Silva, Klévisson e Arievaldo Viana. A obra reúne também trabalhos de Pedro Monteiro e do próprio Marco Haurélio, que fecha a relação dos 15 títulos enfeixados com o seu excelente romance “As três folhas da serpente”.


Poetas Klévisson Viana, Arievaldo e Rouxinol do Rinaré, presentes na Antologia do Cordel Brasileiro

Um dos fatores que levou muitos pesquisadores a decretar a morte do cordel foi um hiato na produção que durou entre 1975 a 1995, período em que morreram grandes expoentes da antiga geração de poetas cordelistas e as principais editoras de folheto do nordeste foram à falência. Disseram mesmo que o gênero “romance” estava extinto e que havia sobrevivido unicamente o folheto-reportagem de oito páginas. O que ninguém previa é que havia uma novíssima geração de poetas em formação, só aguardando o momento de publicar as suas obras, fato que verificou-se a partir da segunda metade da década de 1990. Todos os poetas contemplados nessa antologia, antigos e novos, cultivam o gênero “romance”, com sua narrativa cheia de encantamento, amores impossíveis, reis, princesas, fadas, duendes, gênios e gigantes, que são personagens frequentes da boa Literatura de Cordel.


O livro é totalmente ilustrado com xilogravuras de Erivaldo, um dos nomes mais representativos dessa arte e o responsável por mais de uma centena de ilustrações em livros e folhetos de cordel. No texto de apresentação da obra, os editores asseguram que “essa Antologia do Cordel Brasileiro” sinaliza com clareza a injustiça que seria classificar o cordel como arte a ser resgatada, como se ela tivesse caído em desuso e fosse necessário reabilitá-la”. Convém lembrar que, mesmo nos períodos mais críticos, nomes como José Costa Leite, Antônio Américo de Medeiros, Apolônio Alves e Gonçalo Ferreira da Silva, só para citar alguns, continuaram escrevendo e publicando folhetos regularmente, inclusive romances. O texto retromencionado conclui, de maneira enfática: “O que este livro aponta é a certeza – com beleza – de sua força inabalável. A criatividade flagrante dos cordéis aqui selecionados indica que o fio que os une ao longo do tempo não corre o risco de se partir e que esse gênero de nossa poesia popular, parafraseando o mestre Lourenço Capiba, é ‘madeira de lei que cupim não rói”.


Títulos e autores que integram a
Antologia do Cordel Brasilleiro:



O Soldado jogador, de Leandro Gomes de Barros


História do caçador que foi ao inferno, de José Pacheco


A guerra dos passarinhos, de Manoel D´Almeida Filho


A Sereia do Mar Negro, de Antônio Teodoro dos Santos


Os três irmãos caçadores e o macaco da montanha, de Francisco Sales Arêda


No tempo em que os bichos falavam, de Manoel Pereira Sobrinho


O valente Felisberto e o Reino dos Encantos, de Severino Borges Silva


O feiticeiro do Reino do Monte branco, de Minelvino Francisco Silva


João sem Destino no Reino dos Enforcados, de Antônio Alves da Silva


João Grilo, um presepeiro no palácio, de Pedro Monteiro


O reino da Torre de Ouro, de Rouxinol do Rinaré




O conde mendigo E a Princesa orgulhosa, de Evaristo Geraldo da Silva


Pedro Malasartes e o urubu adivinhão, de Klévisson Viana


As três folhas da serpente, de Marco Haurélio


Mais informações: www.globaleditora.com.br
Poeta Marco Haurélio, organizador da Antologia



Sobre o organizador: Marco Haurélio, poeta popular baiano, professor, folclorista e editor, é um dos nomes de maior destaque na literatura de cordel da atualidade. Ministra oficinas e palestras sobre cordel e cultura popular em todo o Brasil. É autor de vários livros para adultos e crianças. Pela Global Editora, publicou Meus romances de cordel, uma coletânea de suas melhores composições.



Título: ANTOLOGIA DO CORDEL BRASILEIRO


Organização: MARCO HAURÉLIO


Editor: Gustavo Henrique Tuna


Páginas: 256


Preço: R$ 37,00


Público-alvo: Público em geral, sobretudo estudiosos e pesquisadores da cultura popular



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