quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Trovas de Nealdo Zaidan



TROVAS
Nealdo Zaidan

Quem chuleia coração,
alinhava uma maldade.
Pesponta sempre ilusão
e costura uma saudade!

Grande é a bondade de Deus.
Tão grande que em sua lida,
não nega aos próprios ateus
o maior bem que é a vida!

Quanto ao peixe, não sou crítico,
moqueca, ensopado ou posta.
Preferência de político?
- É Robalo! Eis a resposta.

Não falo por picardia,
mas é verdade no duro.
Mulher e fotografia:
só se revela no escuro...

Sutil e de fino trato,
mas aranha quando quer.
Não é tigre. Nem é gato.
- É simplesmente – mulher!


sábado, 19 de novembro de 2011



19 de novembro é o DIA DO CORDELISTA 
A data foi criada em homenagem ao pioneiro 
LEANDRO GOMES DE BARROS, 
nascido no dia 19 de novembro de 1865.

Leandro Gomes de Barros nasceu em 1865, na Fazenda Melancia, município de Pombal, Estado da Paraíba. A Fazenda pertencia aos seus avós maternos Manuel Xavier de Farias e sua mulher Dona Antônia Xavier de Farias, por quem Leandro foi criado após a morte de seu pai, José Gomes de Barros Lima. Manuel e Antônia eram pais de dona Adelaide, mãe de Leandro e do Padre Vicente Xavier de Farias, que nasceu na mesma fazenda em 1822. Ordenado sacerdote, aos 24 anos de idade mudou-se para o Teixeira em 1846, tendo permanecido ali durante 61 anos. Faleceu em 13 de dezembro de 1907, com 85 anos de idade. Leandro foi para companhia do  Pe. Vicente, vigário da Vila do Teixeira, permanecendo naquela localidade até os 15 anos de idade, quando resolveu mudar-se para Pernambuco. 

No Teixeira, Leandro conviveu com violeiros da estatura de Inácio da Catingueira, Romano da Mãe d'Água, Bernardo Nogueira, Ungulino Nunes da Costa e Nicandro Nunes da Costa. Por eles nutriu admiração e deles adquiriu o estro da poesia popular. De Teixeira mudou-se para Vitória de Santo Antão e de lá para o Recife, onde viveu na rua Motocolombó, nº 87, em Afogados.

Leandro era casado com Dona Venustiniana Aleixo de Barros, união da qual nasceram 04 filhos, três mulheres e um rapaz. A mais velha, Raquel de Barros Batista casou-se com o poeta Pedro Batista (1890-1938). Os outros filhos eram Esaú Eloy, Julieta (ou Gilvanetta) e Herodias.

Sobre Leandro, Luiz da Câmara Cascudo in Vaqueiros e Cantadores nos dá o seguinte depoimento (pág. 264 - edições de ouro):

"Nasceu e morreu na Paraíba, viajando pelo Nordeste. Viveu exclusivamente de escrever versos populares inventando desafios entre cantadores, arquitetando romances, narrando as aventuras de Antônio Silvino, comentando fatos, fazendo sátiras. Fecundo e sempre novo, original e espirituoso, é o responsável por 80% da glória dos cantadores atuais. Publicou cerca de mil folhetos, tirando deles dez mil edições. Esse inesgotável manancial correu ininterrupto enquanto Leandro viveu. É ainda o mais lido dos escritores populares. Escreveu para sertanejos e matutos, cantadores, cangaceiros, almocreves, comboieiro, feirantes e vaqueiros. É lido nas feiras, nas fazendas, sob as oiticicas nas horas do "rancho", no oitão das casas pobres, soletrado com amor e admirado com fanatismo. Seus romances, histórias românticas em versos, são decoradas pelos cantadores. Assim Alonso e Marina, O Boi Misterioso, João da Cruz, Rosa e Lino de Alencar, O Príncipe e a Fada, o satírico Cancão de Fogo, espécie de Palavras Cínicas, de Forjaz de Sampaio, a Órfã Abandonada, etc constituem literatura indispensável para os olhos sertanejos do nordeste. Não sei se ele chegou a medir-se com algum cantador. Conheci-o na capital paraibana. Baixo, grosso, de olhos claros, o bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho, contador de anedotas, tendo a fala cantada e lenta do nortista, parecia mais um fazendeiro que um poeta, pleno de alegria, de graça e de oportunidade.

Quando a desgraça quer vir
Não manda avisar ninguém,
Não quer saber se um vai mal
E nem se outro vai bem,
E não procura saber
Que idade Fulano tem.


Não especula se é branco,
Se é preto, rico, ou se é pobre,
Se é de origem de escravo
Ou se é de linhagem nobre!
É como o sol quando nasce
O que acha na terra, cobre!


Um dia, quando se fizer a colheita do folclore poético, reaparecerá o humilde Leandro Gomes de Barros, vivendo de fazer versos, espalhando uma onda sonora de entusiasmo e de alacridade na face triste do sertão." O poeta João Martins de Ataíde, que comprou os direitos autorais de Leandro a Venustiniana Eulália de Barros, escreveu o seguinte no folheto A Pranteada Morte de Leandro Gomes de Barros:


Poeta como Leandro
Inda o Brasil não criou,
Por ser um dos escritores
Que mais livros registrou,
Canções, não se sabe quantas,
Foram seiscentas e tantas
As obras que publicou.


No dia de sua morte
O céu mostrou-se azulado,
No visual horizonte
Um círculo subdourado
Amostrava no poente
Que o poeta eminente
Já havia se transportado.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Cronistas Internautas



Caros amigos,
 
Convido a todos para o lançamento do livro Cronistas Internautas, que acontecerá no próximo sábado, 12 de novembro de 2011, pelas 19 horas, na Praça do Carmo, em Olinda, na VII Festa Literária Internacional de Pernambuco - FLIPORTO.
 
Trata-se de uma coletânea de textos produzidos por colunistas do site Jornal da Besta Fubana, do qual tenho a honra de participar, com a coluna "Contos, Crônicas e Cordéis". Aliás, estou muito feliz por ser um dos Cronistas Internautas selecionados.

A organização da obra ficou a cargo de Luiz Otávio Cavalcanti e a edição é da Bagaço. Pedi ao organizador para adiantar algumas palavras sobre Cronistas Internautas e ele disse o seguinte:
 
São 14 autores cronistas. Desde o compositor Jessier Quirino a Goiano Braga Horta. Passando pelo historiador Leonardo Silva e o deputado comunista Luciano Siqueira. E abrangendo também o gestor de comunicação Mauricio Melo Jr., o contista Fernando Portela, o professor Geraldo Pereira e a poeta Luciane Trevejo.
Os temas são o cotidiano das pessoas, histórias da vida urbana, drama diário de quem trabalha e ama, ama e trabalha.
A inspiração do projeto foi de continuar afirmando a palavra, tanto virtual quanto impressa. Afirmar a palavra na verdade dos fatos, vividos pela sociedade, encarando o poder. E refletindo, com graça e humor, a linha produzida pela Besta Fubana.
 

Finalizo, reforçando o convite e adiantando que estou pronto para ir ao lançamento. Pretendo chegar ao Recife sábado à tarde e seguir direto para a FLIPORTO, onde aguardo os amigos residentes em terras pernambucanas para um encontro de abraços e autógrafos.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cordel pelo Mundo




SEMINÁRIO SOBRE CORDEL 
EM WASHINGTON D.C.

Encontrei acidentalmente na Net a informação de que nos dias 26 e 27 de setembro de 2011 aconteceu seminário sobre Literatura de Cordel em Washington D.C.,  com o título "Literatura de Cordel: Continuity and Change in Brazilian Popular Literature", promovido pelo American Folklife Center.


Quem clicar no primeiro link acima vai encontrar uma página em inglês, a qual nosso amigo Zico fez o favor de traduzir para os leitores deste Mundo Cordel, assim:



Simpósio: 26 e 27 de setembro de 2011.
Local: Thomas Jefferson Building, Sala 119
10 First Street, SE
Washington, DC

O Centro Americano Folklife patrocinou, na Biblioteca do Congresso, um Simpósio de dois dias, grátis, intitulado “Literatura de Cordel: Continuidade e Mudança na Literatura Popular Brasileira”. As apresentações se concentraram na História da Literatura de Cordel, uma forma de literatura popular do nordeste do Brasil, assim como tradições correlatas. Estas abrangem composição de poemas, letras de músicas e estórias; a criação de imagens em blocos de madeiras e apresentações inspiradas na literatura de cordel. O evento teve como co-patrocinadores a Divisão Hispânica e o Escritório no Rio de Janeiro da Biblioteca do Congresso, assim como a Embaixada do Brasil em Washington – DC. O Escritório de Poesia e Literatura da Biblioteca do Congresso propiciou apoio e assistência adicionais.

“Literatura de Cordel Continuidade e Mudança na Literatura Popular Brasileira” atraiu atenção para as coleções de literatura de Cordel do Centro Americano Folklife, que está entre as mais extensas do mundo. O simpósio também explorou o talento artístico, a narrativa e a iconografia do cordel com o propósito de examinar a tradição no passado recente, assim como para estimular a pesquisa nestas imperativas (de atenção obrigatória) coleções. Estudiosos de renome marcaram presença, assim como o talento de poetas cordelistas, cantores, e artesãos de madeiras. As datas do Simpósio foram escolhidas para coincidir com a organização do Ano Interamericano de Cultura dos Estados Americanos.

Este site disponibilizará links de transmissão das apresentações via Web e as fotografias dos eventos serão adicionadas tão logo estejam disponíveis.

Isso mostra que não é por acaso a grande frequência de acessos a este blog a partir dos Estados Unidos, perdendo apenas para Brasil e Portugal.

Dentre os palestrantes, Manuela Maia, da Universidade Federal da Paraíba, o Presidente da ABLC, Gonçalo Ferreira da Silva, e Marli Gomes Soares.

Manuela Maia

Gonçalo Ferreira da Silva

Marli Soares

Fiquei todo contente quando vi que entre as fontes de pesquisa utilizadas na preparação do evento estava o nosso blog Mundo Cordel. Vejam vocês mesmos leitores:




Academia Brasileira de Literatura de Cordel, Rio De Janeiro. Brazilian society by and for authors, artists, and vendors of literatura de cordel. The site includes articles about cordel, images of covers, poetry, information about artists, and a blog about current events and issues. (In Portuguese.)

Brazilian Cordel Literature  (Research Guide). Alyson Williams and Paloma Celis Carbajal, compilers. University of Wisconsin Libraries. Includes lists of publications, websites, dissertations, and online videos. (In English.)

Câmara Brasileira de Jovens Escritores: Literatura de Cordel. Publisher's site. Includes articles and examples of poetry. (In Portuguese.)

Cordel: Literatura Popular em Verso. General information, bibliography, database of cordel with digital versions, and information about authors and block printers. Brazilian Ministério da Cultura website. (In Portuguese.)

Exposição: 100 Anos de Xilogravura na Literatura de Cordel. Articles and information on cordel block printing and printers related to a Brazilian exhibition that took place in 2000. Photos of the interior of the exhibition and of individual prints and of woodblocks used for printing are presented. (In Portuguese.)

Curran's Cordel Connection: 45 Years of Cordel Studies. Short articles and abstracts of books and monographs on literatura de cordel by Mark Curran. In English. Em Português.

Mundo Cordel. Blog by Marcos Mairton da Silva. Includes poetry by various authors, reviews of recordings, articles on cordel, and links to related websites and blogs. (In Portuguese.)

O Journal Do Nordeste / ONordeste.com. This publisher's website includes articles and a directory on northeastern Brazilian culture, including articles on cordel. Search on the names of authors and block print artists for specific entries. (In Portuguese.)

Projeto Cordel. Educational project to use cordel poetry to teach Brazilian language and culture in primary schools. This site by Francisco Ferreira Filho Diniz and Valentim Martins Quaresma Neto creates a venue for contemporary cordel-style poetry and provides information about events related to cordel. (In Portuguese.)

Tempo de Cordel. Blog of the Projeto Tempo de Cordel at the Universidade Estadual de Londrina Biblioteca Central, Paraná, Brazil. The site includes discussion about the project to organize and preserve the library's collection of literatura de cordel, posts about particular items in the collection, and an online exhibit of block prints. (In Portuguese.)

sábado, 29 de outubro de 2011

Trovas de Nealdo Zaidan



TROVAS
Nealdo Zaidan

Quem chuleia coração,
alinhava uma maldade.
Pesponta sempre ilusão
e costura uma saudade!

Grande é a bondade de Deus.
Tão grande que em sua lida,
não nega aos próprios ateus
o maior bem que é a vida!

Quanto ao peixe, não sou crítico,
moqueca, ensopado ou posta.
Preferência de político?
- É Robalo! Eis a resposta.

Não falo por picardia,
mas é verdade no duro.
Mulher e fotografia:
só se revela no escuro...

Sutil e de fino trato,
mas aranha quando quer.
Não é tigre. Nem é gato.
- É simplesmente – mulher!


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Uma rima para mãe


A EXCLUSIVIDADE DE MÃE

Recebi do meu amigo Ricardo Piau essa preciosidade, do Poeta Mundim do Vale, que é irmão de Ricardo e tem belos poemas publicados neste Mundo Cordel:

Certo dia eu conversava com o poeta do Crato,José Hélder França ( Dedé de Zeba ) E o assunto como não podia deixar de ser, era sobre poesia. Ele falava da dificuldade de encontrar rimas para as palavras: Tempo e Alegre. Eu lembrei ao grande poeta que para a palavra mãe também não era fácil encontrar rima. HÉLDER FRANÇA baixou a cabeça, fechou os olhos e improvisou essa pérola de sextilha:

UMA MÃE É TÃO DIVINA,
QUE A PRÓPRIA RIMA ENSINA
QUE SÓ EXISTE UMA MÃE.
UMA MÃE RIMA NÃO TEM,
POIS A MÃE SÓ RIMA BEM
SE A RIMA FOR MÃE COM MÃE


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Um comovente poema de Pedro Pinto Monteiro




PORQUE DEIXEI DE CANTAR

Recebi mais de um poema
Fazendo interrogação
Por que eu da profissão
Mudei de rumo e sistema
Resolverei um problema
De não poder tolerar
Muita gente a perguntar
Ansiosa pra saber
Em verso vou responder
Por que deixei de cantar.


Deixei porque a idade
já está muito avançada
A lembrança está cansada
O som menos da metade
Perdi a facilidade
Que em moço possuía
Acabou-se a energia
Da máquina de fazer verso
Hoje eu vivo submerso
Num mar de melancolia.


Minha amiga e companheira
Eu embrulhei de molambo
Pego nela por um bambo
Para tirar-lhe a poeira
Hoje não tem mais quem queira
Ir num canto me escutar
Fazer verso e gaguejar
Topar no meio e no fim
Canto feio, pouco e ruim
Será melhor não cantar.


Não foi por uma pensão
Que o governo me deu
Por que o eu do meu eu
Não me dá mais produção
Cantor sem inspiração
Tem vontade e nada faz
Eu hoje sou um dos tais
Que ninguém quer assistir
Nem o povo quer ouvir
Nem eu também posso mais.


Ando gemendo e chorando
E vendo a hora cair
O povo de mim fugir
E a canalha mangando
E eu tremendo e tombando
Sem maleta e sem sacola
Hoje estou nesta bitola
Por não ter outro recurso
Carrego a bengala a pulso
Não posso andar com a viola.


Com a matéria abatida
Eu de muito longe venho
Com este espinhoso lenho
Tombando na minha vida
Tenho a lembrança esquecida
Uma rouquice ruim
A vida quase no fim
A cabeça meio tonta
Quem for moço tome conta
Cantar não é mais pra mim.


Já pelo peso de oitenta
E uma das primaveras
Dezesseis lustros, oito eras,
E a carga me atormenta
O corpo não se sustenta
Quando anda cambaleia
Cantador de cara feia
Se eu for lhe assistir
Por isso deixei de ir
Para cantoria alheia.


Estes oitenta e um graus
Que acabei de subir
Foi só para distinguir
Quais são os bons e os maus
Por cima de pedra e paus
Tive atos de bravura
Hoje só tenho amargura
Tormento dor e cansaço
Passando de passo a passo
Por cima da sepultura.


Existe uma corriola
De sujeito vagabundo
Que anda solta no mundo
Pelintra e muito gabola
Compra logo uma viola
Da frente toda enfeitada
Só canta coisa emprestada
Mentir, fazer propaganda
Dizendo por onde anda
Que topa toda parada.


E ver em certos meios
Gente cantando iê-iê-iê
Arranjar dois LP
Tudo com versos alheios
Estou de saco cheio
De não poder tolerar
A muita gente escutar
Dizer viva e bater palma
Isso me doeu na alma
Faz eu deixar de cantar.


Fiz viagem de avião
A pé, a burro, a cavalo
De navio, outras que falo
De automóvel e caminhão
Cantando em rico salão
Muito moço, gordo e forte
Passei rampa, curva e corte
Para findar num retiro
E dar o último suspiro
Na emboscada da morte.


Corrente, fivela, argola,
Picinez, óculos, anel,
Livro, revista, papel,
Arame, bordão, viola,
Mala, maleta, sacola,
Perfume, lenço, troféu,
Roupa, sapato, chapéu,
Eu não posso conduzir
Quando for para eu subir
Na santa escada do céu.


Nunca pensei num tesouro
Que estava pra mim guardado
Quando fui condecorado
Com uma viola de ouro
O riso tornou-se um choro
O armazém em bodega
A cara cheia de prega
Ando tombando e tremendo
E as matutas dizendo:
Menino o velho te pega.


Não posso atender pedido
Que a mim fez muita gente
Porque estou velho e doente
Fraco, cansado, abatido,
De mais a mais esquecido
Sem som, sem mentalidade,
Ficou somente a vontade
Mordendo como formiga
Nunca mais vou em cantiga
Pra não morrer de saudade.


Vaquejada, apartação,
Futebol e carnaval,
Véspera de ano e Natal
De São Pedro e São João
Dança, novela e leilão
E farra em botequim
Passear em um jardim
De braço com a querida
Neste restinho de vida
Não chega mais para mim.


Por não poder mais beber
Com meus colegas de arte
Das festas não fazer parte
Perdi da vida o prazer
Estou vivendo sem viver
Na maior fragilidade
Pelo peso da idade
Prazer pra mim não existe
Vou viver num canto triste
Até a finalidade.