"PAULINHO NÓ CEGO" E O "DESERTOR DA POESIA"
Paulo Roberto Gomes Leite Vieira, resumindo é, Paulo Nó Cego. Jornalista, poeta e compositor. Nasceu em Pedreiras do Maranhão, terra de João do Vale, em 1º de maio de 1962. É Filho de “Seu” Diquinho Gomes e Dona Zefinha, casado com Carla Cantanhede e pai de Camila e Gabriel. Foi membro fundador da Akademia dos Párias e autor de várias poesias em cordel, onde a grande maioria o poeta não reconhece como suas, nem deve. Processado inúmeras vezes por políticos “sérios” e clero, divide hoje o seu tempo entre audiências e composições. Excluído da Academia Pedreirense de Letras, por divergências políticas e/ou perseguitivas, se prepara para lançar seu mais novo trabalho: “Um cordel para a Academia”, onde relata toda a saga dos “intelectuais” de Pedreiras para a formação da Academia, desde W. Brandão, passando pelo referencial Poronga, indo estudar a vasta bibliografia Tenoriana.
Em “O Desertor da Poesia”, nome inspirado pelo poeta Celso Borges, Nó Cego narra a incomodação entre os verbos calar e falar, e o perigo constante na vida do cordelista, e arremata: “Se escutássemos Gerô com certeza ouviríamos: Fui! Mas o poema ficou”.
Paulinho Nó Cego se insere na categoria de poetas que seguem e assumem a tradição da poesia satírica. Sua poética aponta para as mazelas causadas pela má gestão de políticos e governantes durante o cumprimento de seus mandatos, nos respectivos cargos que ocuparam ou ocupam. Seu canto de estilo jocoso ou às vezes grave, é sempre carregado de denúncia social e da crítica aos desmandos públicos.
Demonstrando intimidade com o verso o cordelista muda constantemente as terminações das rimas ao longo das estrofes, o que enriquece sua ourivesaria vérsica e dota-a de dinamismo e vida, libertando-a das cansativas repetições sonoras que saturam os versos de muitos cordelistas.
Em muitas ocasiões, sem dispor de nenhum arsenal metafórico, o cantador dispara contra seus adversários, numa demonstração de coragem e ousadia, chegando a, por vezes, nominá-los diretamente, ora assinalando-os e advertindo-os, ora ridicularizando-os antes de entregá-los definitivamente aos leitores. De fato, como todo cantor de inspiração social, Paulinho busca vivenciar seu canto cujo tom vibrante e empolgado acaba soando como sua vingança pessoal, ou como ele canta: “O cordel pra mim é vida/É a válvula de escape/Não tenho porte de arma/A rima é meu tacape/Depois do esqueleto feito/Não tem juiz de direito/Que dele corra ou escape/”.
Couto Correa Filho
(Poeta e Curador)
“O desertor da poesia”
Para Gerô, uma homenagem em rima.
Ninguém cala o poema
O fruto da inspiração
O sentimento do povo
Nem o pulsar do coração
O poema é o engate
É a válvula de escape
Voz que soa é direção.
Direção contra injustiças
É defensor do explorado
É o desejo da maioria
É sangria do indignado
É ferramenta perfeita
É a voz insatisfeita
É martelo agalopado.
O poema o acompanha
Se move é emocionante
O atrai pra terra firme
O leva a lugar distante
O poema não se cala
Com taca nem com bala
O poema vai avante!
O poema quando surge
Desce na veia da gente
Passa pelo coração
Depois é que vai pra mente
Onde ele é construído
Com tema já definido
É só seguir a corrente
O poema reivindica
Dá a dica, denuncia.
Pois o poder da palavra
Encrava vira poesia
Retrata história de amor
De esperança e de dor
De tristeza e de alegria.
O poeta e o poema
Andam com os pés no chão
No mesmo campo-minado
Dos desmandos do patrão
O seu grande objetivo
É pensar no coletivo
Ser solidário a um irmão.
O poema lhe sustenta
Serve como alimento
É usado como arma
Para ele é instrumento
Às vezes a sua caneta
Transforma-se em baioneta
Se lhe ferem o sentimento
Tem rima, quadra, sextilha;
Na de sete, agalopado;
Tem na de dez, na de doze.
Tem rima de pé quebrado
A rima só vale à pena
Quando resolve problema
Ou denuncia um safado!
Quando escrito em vermelho
O poema é censurado
Quando é escrito em verde
É livre, é elogiado.
O azul é a cor mansa
A rima nela descansa
Mas sempre leva o recado.
Um recado para àqueles
Que quando estão no poder
Esquecem dos compromissos
Do povo não quer saber
O poema tem sua meta
Ninguém cala um poeta
Quem nunca viu venha ver
A força do seu poema
Tem norte, tem precisão.
Se o “cabra” está em pé
É derrubado no chão
Pode até se levantar
E o poeta estará lá
Com a rima em construção
O poeta e o poema
Encenam do mesmo lado
Quando é pra falar de amor
Ou dor de um assassinado
A inspiração exala
O poeta não se cala
Não pode ficar calado.
Só covardia e injustiça
Da polícia temos tido
O Gerô, morto espancado.
Nonato Pudim, sumido!
Às vezes penso, não nego.
Será se agora é Nó Cego
O próximo, o escolhido?
Porque tanta violência
Para com nossos artistas
Vamos dar um basta nisso
Contra atitudes racistas
A coisa tá costumeira
Só resta Nobre e Teixeira
Ou tem alguém mais na lista?
O poema é a voz do povo
É porta voz da razão
O poema não se aquieta
É vivo tem coração
O poema é formado
Tem p.h.d, doutorado.
É especialista em refrão.
O poema pra ele é tudo
É sua válvula de escape
Não tendo porte de arma
A rima é o seu tacape
Depois do esqueleto feito
Não tem juiz de direito
Que dele corra ou escape
O poema é onde o povo
Nele pode se expressar
Lugar de cobrar direito
Poder de reivindicar
Contra toda exploração
Imposta pelo patrão
É o jornal popular
Nunca parar de lutar
Confrontar a covardia
Jamais deixar de sonhar
Amanhã será outro dia!
Ao poeta um dilema:
Ou continuar em cena
Ou desertar da poesia.
Caro Marco Mairton,
ResponderExcluirGostaria de pedir um favor especial: é possível corrigir a décima do poeta Antonio Barreto, em Cordel na Internet? Na veerdade apareceu com 11 versos... O poeta é dos bons e prometí-lhe pedir a ratificação. Veja a décima correta:
Com a chegada da Internet
O cordel ganhou mais vida.
Agora não tem saída
Nós vamos pintar o sete
Na TV, rádio, manchete
Em qualquer lugar fecundo
Nosso versejar profundo
Estará mais que presente
Alegrando a toda gente
No Brasil e além mundo.
(Antonio Barreto - BA)
www.barretocordel.wordpress.com
abarretocordel@hotmail.com
Forte abraço,
Rosário Pinto
Certa vez li um cordel de Paulinho Nó Cego para um conterrâneo dele, de nome João Melo Bentivi, por acaso, meu pai. Chamava-se "Fora de área ocupado". Já se vão muitos anos e eu não sei mais onde está minha cópia do hilário cordel. Queria saber como faço para entrar em contato com o artista e ler mais de seus escritos. Abraço.
ResponderExcluirJanaína Bentivi
janabentivi@yahoo.com.br
estive na quinta feira no chico discos e adorei até entao nao conhecia o trabalho do paulinho!!! os cordeis sao perfeitos adorei mesmo!!!
ResponderExcluirfabiana castro-aluna do cacem
Belíssimo cordel. De ler dá até arrepio. O cordel é a certeza de que a voz que foi calada a força, ecoa ao longe e alto, denunciando! Viva o cordel! Parabéns, Paulinho Nó Cego!
ResponderExcluirLindo
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