quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Poesia: O Casamento dos Velhos



Meu amigo Ricardo Morais, o Ricardo Piau, de Várzea Alegre-CE, me enviou essa poesia, cuja autoria desconheço. Ricardo só me disse que pegou em dos shows do Dilson Pinheiro, artista cearense que atualmente apresenta o Programa Ceará Caboclo, na TV Ceará, aos domingos, dez da manhã.

Dilson Pinheiro no Ceará Caboclo

Se algum leitor deste Mundo Cordel souber da autoria dos versos, gostaria de completar esta postagem com a informação.

ATUALIZAÇÃO ÀS 20:00 DE 23.01.2013: 
O leitor Cancão de Fogo, ou seja, nosso renomado cordelista Arievaldo Viana rapidamente trouxe a este Mundo Cordel o nome do autor do poema, no caso, o repentista Louro Branco.

Valeu, Ari!

Segue a poesia...


 O CASAMENTO DOS VELHOS


Tem certas coisas no mundo       
Que eu morro e num acredito      
Mas essa eu conto de certo       
Dum casamento bonito             
De um viúvo e uma viúva          
Bodoquinha Papaúva               
E Tributino Sibito               

O véio de oitenta ano            
Virado num estopô                
A véia setenta e nove            
Maluca por um amor               
Os dois atrás de esquentar       
Começaram a namorar               
Porque um doido ajeitou          

Um dia o véio comprou            
Um corpete pra bodoquinha        
Quando a véia foi vestir         
Nem deu certo, coitadinha        
De raiva quase se lasca          
Que o corpete tinha as casca     
Mas os miolo num tinha           

No dia três de abril             
Vêi o tocador Zé Bento           
Mataram trinta preá              
Selaram oitenta jumento          
Tributino e Bodoquinha           
Sairam de manhazinha             
Pra cuidar do casamento          

O veião saiu vexado              
Foi se arranchar na cidade       
Mandaram chamar depressa         
Naquela oportunidade             
O veião chegou de choto          
Inda deu catorze arroto          
Que quase embebeda o padre       

O padre ai perguntô:             
Seu Tributino, o que pensa,      
Quer receber Bodoquinha          
Sua esposa, pela crença?         
O veião dixe: eu aceito          
Tô tão vexado dum jeito          
Chega tô sem paciência           

 E preguntô a Bodoquinha:
 Se aceitar esclareça
 A véia lhe arrespondeu
 Dando um jeitim na cabeça
 Aceito de coração
 Tô cum tanta precisão
 Tô doida que já anoiteça

 Casaram, foram pra casa
 Comeram de fazer medo
 Conversaram duas horas
 Uns assuntos duns segredo
 E Bodoquinha dixe: agora,
 Meu pessoá, vão embora
 Que eu quero drumi mais cedo

 O véi vestiu um pijama
 Ficou vê uma raposa
 A véia de camisola
 Dixe: óia aqui sua esposa
 Cuma é, vai ou num vai?
 O veião dixe: ai, ai, ai
 Já  tá  me dando umas coisa

 A véia dixe me arroche
 Cuma se novo nóis fosse
 O véio dixe: ê minha véia
 Acabou-se o que era doce
 A véia dixe: é assim?
 Então se vai dar certim
 Que aqui também apagou-se

 Inda tomaram uns remédio
 Mas num deu jeito ao enguiço
 De noite a véia dizia:
 Mas meu véi, que diabo é isso?
 Vamo vendê essa cama
 Nóis sempre demo na lama
 Ninguém precisa mais disso

 A véia dixe: isso é triste
 Mas esse assunto eu esbarro
 Eu já bati o motor
 Meu véi estrompou o carro
 Ê, meu veião Tributino
 Nóis dois só tem um menino
 Se a gente fizer de barro


5 comentários:

  1. O poema é de autoria de LOURO BRANCO. Ouvi, muitas vezes, ser declamado magistralmente pelo meu saudoso amigo Ribamar Lopes.

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  2. Grande Arievaldo Viana,
    muito grato pela esclarecedora participação.

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  3. Tive a ousadia de publicar no meu blog PINTONEWS e peço desde já para sempre aos domingos estar divulgando o seu material.

    agradeço e um grande abraço.

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    1. Fique à vontade, caro amigo.
      É uma honra para mim saber do blog sendo replicado por você.

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