sábado, 13 de julho de 2013

Poesia de Severiano Batista

Recebi os versos abaixo por e-mail, com pedido de divulgação neste Mundo Cordel.
É uma das coisas que mais me alegra nesse trabalho de blogueiro: ajudar na divulgação da poesia popular, fazendo mais conhecido o autor dos versos e proporcionando momentos de deleite aos leitores.


O SOFRIMENTO DO SERTANEJO
Autor: SEVERIANO BATISTA


QUERO DIZER PRA VOCÊ
QUE CURTE LITERATURA
ESCREVER EM PROSA E VERSO
TAMBEM É ARTE É CULTURA
VOCÊ VAI LENDO PENSANDO
VENDO O POETA FALANDO
A VIDA VAI TE LEVANDO
ESQUECE DA  AMARGURA

ALGUMAS COISAS NA VIDA
SERÁ DIFICIL DE VER
RICO QUE GOSTE DE POBRE
TERRA BOA SEM CHOVER
ATEU QUE SEJA CRISTÃO
SEPULTAMENTO DE ANÃO
NEM MESMO NO EMPURRÃO
CAVALO MAGRO CORRER

AINDA TEM UMAS COISAS
FAÇO QUESTÃO DE FALAR
GENRO QUE FIQUE SORRINDO
QUANDO A SOGRA CHEGAR
UMA CRIANÇA FALAR
MESMO DEPOIS DE NASCER
SE ISSO ACONTECER
O MUNDO PODE ACABAR

EU PEÇO SUA LICENÇA
PRA MINHA APRESENTAÇÃO
SOU DA FAMILIA BATISTA
IRMÃO DE MUITOS IRMÃO
NÃO ANDO NA CONTRA-MÃO
PARA EU NÃO PADECER
NASCI CRESCI VOU MORRER
QUERO DE DEUS O PERDÃO

PARA MIM NÃO É PRAZER
RELATAR ESSA HISTÓRIA
MAIS CONFESSO NESSA HORA
QUE ME DOI O CORAÇÃO
QUEM VIVE A SITUAÇÃO
QUE VIVE O SERTANEJO
DA VIDA TEM O DESPEJO
DO MUNDO TEM ILUSÃO

PRA ESCREVER POESIA
PRECISA TER CONCIENCIA
POIS QUEM ESCREVE O QUE PENSA
DA VIDA É PENSADOR
SER UM POETA ESCRITOR
E ESCREVER UMA RIMA
O MUNDO É QUEM ENSINA
POIS ELE É PROFESSOR

DA VIDA PEGUEI O GOSTO
SEJA DA  NOITE OU DO DIA
ESCREVO COM ALEGRIA
LITERATURA EM CORDEL
EXERÇO ESSE PAPEL
MOSTRANDO O MEU PENSAMENTO
E VOU FALAR NO MOMENTO
DE UM DESTINO CRUEL

MEU LEITOR ME DÊ LICENÇA
PRA FALAR DESSE COITADO
UM POUCO DESAJEITADO
QUE VIVE A PADECER
TUDO QUE EU VOU DIZER
É UMA REALIDADE
PARECE QUE  NA VERDADE
ELE NASCEU PRA SOFRER

SOU SERTANEJO NATIVO
CONHEÇO ESSE LUGAR
AQUILO QUE PLANTA DÁ
SE HOUVER CHUVA NA TERRA
SE O TEMPO SE ENCERRA
NÃO CHEGA CHUVA POR LÁ
TUDO COMEÇA A SECAR
PARECE UM CAMPO DE GUERRA

SERTÃO É CAMPO DE GUERRA
E O SERTANEJO É GUERREIRO
QUEM BUSCA SER O PRIMEIRO
TERÁ QUE  SE PREPARAR
PRA QUEM  DESEJA GANHAR
E SE TORNAR VENCEDOR
PRECISA SER LUTADOR
NÃO DESISTIR DE LUTAR

O SERTANEJO É VISTO
PELO USO DO CHAPEU
E O SOFRIMENTO CRUEL
QUE A VIDA LHE OFERECE
LOGO QUE O DIA AMANHECE
ELE SEGURA A ENCHADA
PRA ENFRENTAR A JORNADA
ATÉ QUE TUDO ESCURECE

QUEM PENSA QUE SERTANEJO
É HOMEM DE COVARDIA
DESCONHECE A VALENTIA
QUE TEM ESSE CAMARADA
PRA ENFRENTAR A JORNADA
DEBAIXO DO SOL TAO QUENTE
SÓ MESMO QUE É VALENTE
E TEM A PELE QUEIMADA

A CABRA BOA DÁ LEITE
O BOM CABRITO NÃO BERRA
DIZEM QUE HOMEM  NÃO CHORA
NEM HÁ VITÓRIA SEM GUERRA
A CHUVA SÓ MOLHA A TERRA
QUANDO SE ESPALHA NO CHÃO
E O VERDE DA PLANTAÇÃO
É A BELEZA DA TERRA

A FOLHA SÊCA DA ARVORE
LOGO COMEÇA A CAIR
O FRUTO PARA SAIR
É PRECISO FLORESCER
MAIS PARA ELE CRESCER
E MOSTRAR SUA BELEZA
TÁ  N A LEI DA NATUREZA
NO TEMPO CERTO CHOVER

QUANDO A CHUVA NÃO VEM
CAUSA MUDANÇA NO CLIMA
O HOMEM SE DESANIMA
AO VER AS FOLHAS SECAR
SEM CHUVA PARA MOLHAR
A TERRA E A PLANTAÇÃO
NESSE PEDAÇO DE CHÃO
TUDO COMEÇA A MURCHAR

O SERTANEJO É SOFRIDO
NEM SEMPRE É MERECEDOR
DA AGONIA QUE PASSA
NO FRIO OU NO CALOR
MESMO SENDO LUTADOR
ESSA POBRE CRIATURA
SÓ CONHECE AMARGURA
SENDO REFEM DESSA DOR

O POBRE DO SERTANEJO
É TODO DESARRUMADO
CARREGA NO PEITO A DOR
E O SOFRIMENTO DO LADO
E ESSE POBRE COITADO
QUE DORME EM UMA REDE
QUANDO NÃO MORRE DE SEDE
CHEGA A MORRER AFOGADO

OS DOSE MESES DO ANO
TAMBEM CHAMADO ESTAÇÃO
SEJA O OUTONO OU INVERNO
A PRIMAVERA OU VERÃO
MÁI S PARA O POBRE SERTÃO
O SOL É PRA CASTIGAR
E QUANDO CHOVE POR LÁ
PROVOCA DESTRUIÇÃO

O SOFRIMENTO NÃO CESSA
NESSE PEDAÇO DE CHÃO
QUANDO NÃO VEM O INVERNO
O TEMPO TODO É VERÃO
E ESSA POBRE NAÇÃO
QUE GOSTA DESSE LUGAR
SÓ VÊ O SOL CASTIGAR
QUEIMANDO A VEGETAÇÃO

QUANDO CHEGA O VERÃO
É GRANDE A AGONIA
DO SERTANEJO QUE CRIA
NESSE PEDAÇO DE CHÃO
SETEMBRO PASSA DEPRESSA
OUTUBRO VAI SEM DEMORA
E ELE NÃO VÊ A HORA
DE OUVIR A VOZ DO TROVÃO

NOVEMBRO JÁ VAI EMBORA
DEZEMBRO PASSA DEPRESSA
AO SERTANEJO SÓ RESTA
A CHAMA ACESA DA FÉ
MENINO HOMEM E MULHER
SABE DIZER SUA DOR
MESMO COM ESSE AMARGÔ
AINDA FICA DE PÉ

QUANDO JANEIRO COMEÇA
A BARRA DO AMANHECER
DESPERTA NO SERTANEJO
ESPERANÇA DE VIVER
REZANDO PARA CHOVER
FAZ PARTE DA SUA CRENÇA
SE ALCANÇAR  ESSA BENÇÃO
ACABARAR O SOFRER

TERMINA O MÊS DE JANEIRO
E FEVEIRO PASSOU
AUMENTA O FORTE CALOR
SECANDO A VEGETAÇÃO
E TODA A PLANTAÇÃO
QUE ERA VERDE MURCHOU
NÃO FICOU RAMA NEM  FLOR
SOBROU DA TERRA O TORRÃO

O SERTANEJO É FORTE
E NÃO DESISTE JAMAIS
NINGUEM  É FORTE DEMAIS
QUE NUNCA POSSA CHORAR
AO VER O GADO BERRAR
PASSANDO FOME SOFRENDO
FALTANDO FORÇA E MORRENDO
O FORTE TEM  QUE CHORAR

JÁ DESCAMBOU FEVEREIRO
E MARÇO  TÁ TERMINANDO
E O CALOR  AUMENTANDO
NÃO ALIVIA O SOFRER
SEM  AGUA PARA BEBER
VAI ACABANDO A RAÇÃO
LHE CORTA O CORAÇÃO
AO VER O GADO MORRER

O SOL NO MEIO DO CEU
LHE DIZ QUE É MEIO DIA
NÃO NECESSITA DE GUIA
PRA CHEGAR AO HORIZONTE
FALTANDO AGUA NA FONTE
ACABA A PALMA E O CAPIM
A TERRA SECA É RUIM
NÃO NASCE NADA QUE PLANTE

PRISIONEIRO DA SECA
O SERTANEJO É REU
NA NOITE QUENTE E ESCURA
ATÉ O VENTO É CRUEL
NÃO SENTE GOSTO DE MEL
É GRANDE O SOFRIMENTO
SEU PALADAR NO MOMENTO
É O AMARGO DO FEU

NO MEIO DA NOITE ESCURA
O SERTANEJO A PENSAR
DEITADO EM UMA REDE
SOZINHO A SE BALANÇAR
OUVINDO O GADO BERRAR
LHE CORTA O CORAÇÃO
SABENDO QUE A RAÇÃO
TÁ PRESTES DE ACABAR

A NOITE VAI E O SONO
JÁ NÃO CONSEGUE CHEGAR
LEVANTA DE SUA REDE
E COMEÇA A CAMINHAR
ANDA PARA LÁ E PRA CÁ
ATÉ O AMANHECER
É MAIS UM DIA A SOFRER
SEM TER A QUEM RECLAMAR

OLHANDO PRA TODO LADO
NÃO ACHA UMA SAIDA
ESPERA QUE DEUS DO CEU
POSSA MUDAR SUA VIDA
DAS FLORES A MARGARIDA
DESTACA-SE NA BELEZA
MAIS AQUI  A NATUREZA
MALTRATA NOSSA BARRIGA

O SOL ARDENTE E O CALOR
LHE CORTA O CORAÇÃO
QUANDO SE OLHA PRO CHÃO
BATE NO PEITO UMA DOR
NÃO VENDO NENHUMA FLÔR
NEM AGUA PARA BEBER
SEM RELVA PARA COMER
RASGA SEU PEITO ESSA DOR

A MOÇA QUE É BONITA
NÃO NECESSITA DE ENFEITE
A VACA NUNCA DÁ ELITE
SE ELA ESTIVER COM FOME
PRODUZ DAQUILO QUE COME
SEM AGUA E SEM RAÇÃO
PIORA A SITUAÇÃO
MORRE DE SEDE E DE FOME

SEM CHUVA MORRE DE SÊDE
CHOVENDO MORRE AFOGADO
O SOFRIMENTO DO GADO
É TRISTE PARA QUEM VÊ
SENTENCIADO A MORRER
DEIXANDO MUITA TRISTEZA
É ASSIM QUE A NATUREZA
FAZ INOCENTES SOFRER

O GADO QUE VAI CAINDO
NÃO PODE DEIXAR PRA LÁ
É COLOCADO NA REDE
FEITA DE SACO E CROÁ
PRECISA SE ALIMENTAR
PRA GANHAR A RESISTENCIA
SÓ MESMO A  PACIENCIA
DE QUEM GOSTA DE CRIAR

OS DIAS VÃO SE PASSANDO
E O GADO SE CONSUMINDO
ALGUNS DE FOME CAINDO
SEM JEITO DE SOCORRER
SEM AGUA PARA BEBER
NÃO RESISTE TANTA SEDE
NEM MESMO QUEM TÁ REDE
CONSEGUE SOBREVIVER

E CADA DIA QUE NASCE
É UM NOVO AMANHECER
SE NESSE DIA CHOVER
IRAR TRAZER  ESPERANÇA
E PEDE COM  CONFIANÇA
PRA DEUS DO CÉU LHE OUVIR
FAZENDO A CHUVA CAIR
PRA LHE TRAZER ABUNDANCIA

A TARDE QUE VEM CHEGANDO
FAZ ELE PRO CEU  OLHAR
SENTINDO O VENTO SOPRAR
AINDA É FORTE O CALOR
MAIS DIMINUI SUA DOR
SE NESSA TARDE CHOVER
A RELVA PODE NASCER
E A TERRA TERÁ VALOR

O VENTO SOPRA TÃO FORTE
FAZ A POEIRA SUBIR
ARVORE GRANDE CAIR
A TELHA RODOPIAR
COM ESSA FORÇA DO AR
PATO GUINÉ PASSARINHO
SERÁ TIRADO DO NINHO
E NÃO CONSEGUE VOAR

A FORÇA VEM DE GRANDEZA
SEM LADO E SEM DIREÇÃO
PARECE ATÉ FURACÃO
QUE A TUDO QUER DESTRUIR
SEM SABER PRA ONDE IR
O SERTANEJO AFLITO
PEDE PARA JESUS CRISTO
QUE VENHA LHE ACUDIR

OH MEU SENHOR NESSA HORA
QUERO PEDIR PROTEÇÃO
A MINHA SITUAÇÃO
O SENHOR SABE QUAL É
PERDOE SE MINHA FÉ
É POUCA NESSA GRANDEZA
É TUA A NATUREZA
O SENHOR FAZ COMO QUER

MAIS VEJA SENHOR MEU DEUS
O QUANTO EU JÁ SOFRI
O GADO QUE JÁ PERDI
DE FOME E SEDE A MORRER
EU SEI QUE O SENHOR VÊ
POIS TU ÉS ONIPOTENTE
E SABE QUE SOU CARENTE
QUE SÓ NASCI PRA SOFRER

TE PEÇO MISERICORDIA
PRO POUCO QUE ME RESTOU
A AGUA JÁ ACABOU
NÃO TENHO MAIS NEM RAÇÃO
EU SINTO NO CORAÇÃO
UMA TRISTEZA BATER
TE PEÇO VEM  SOCORRER
A ESSE POBRE SERTÃO

AO TERMINAR SUA PRECE
COMEÇA A TROVEJAR
O RAIO A CLAREAR
E MUITA CHUVA DESCER
PRA QUEM  DUVIDAVA VÊ
CHOVENDO NUM SERTÃO QUENTE
PRA SALVAR QUEM É CARENTE
SÓ DEUS COM  O SEU PODER

O SOL LOGO SE ESCONDE
POR TRÁZ DA NÚVEM ESCURA
CANSADO DE AMARGURA
JÁ PENSA NO SEU ROÇADO
OLHANDO PARA O TELHADO
LHE CORTA O CORAÇÃO
O VENTO JOGA NO CHÃO
DEIXANDO TODO QUEBRADO

A CHUVA FORTE CAINDO
O VENTO FORTE SOPRANDO
RAIO NO CEU CLAREANDO
FAZ UM BARULHO NO AR
COMO QUEM VAI DESABAR
AO SOM DE UMA CANÇÃO
A AGUA CORRE NO CHÃO
COM O TROVÃO A CANTAR

COM TANTA CHUVA CAINDO
PROVOCA UMA ENCHURRADA
SE OUVE LÁ NA BAIXADA
A CACHOEIRA DESCENDO
AQUELA AGUA CORRENDO
VAI ENCHENDO A BARRAGEM
E MELHORANDO A IMAGEM
DO QUE ESTAVA MORRENDO

O DIA DESAPARECE
ANTES DO ANOITECER
COM TANTA CHUVA A DESCER
E TANTO VENTO A SOPRAR
SEM  TER AONDE FICAR
SE EXPOE NO MEIO DO TEMPO
E CONTRA A FORÇA DO VENTO
O GADO TEM QUE LUTAR

LUTANDO PRA NÃO CAIR
O POBRE DO ANIMAL
SE ESCONDE  NO CURRAL
PARA TENTAR SE SALVAR
PENSANDO NO SEU JANTAR
SÓ RESTA POUCA FARINHA
NEM MESMO SUAS GALINHAS
FICAM LIVRE  MOLHAR

COM O TELHADO NO CHÃO
E TUDO QUE JÁ PERDEU
ELE AGRADECE A DEUS
POR TUDO QUE TÁ VIVENDO
COM TANTA CHUVA DESCENDO
O SOLO FICA MOLHADO
NASCE CAPIM PARA O GADO
SALVANDO QUEM TÁ MORRENDO

NAQUELA NOITE CHUVOSA
ELE NÃO PODE DORMIR
TAMBEM NÃO PODE SAIR
PARA OLHAR A MALHADA
A TERRA TODA ENCHARCADA
SÓ LHE RESTA UM LUGAR
SE ELE QUIZER SE DEITAR
É SUA REDE MOLHADA

AO SERTANEJO QUE SOFRE
COM A SECA NO SERTÃO
CHOVER ASSIM NO VERÃO
DESPERTA SUA ALEGRIA
A CHUVA PODE SER FRIA
QUANDO PASSAR FAZ CALOR
MAIS ALIVIA A DOR
DE QUEM DE FOME MORRIA

PRA QUEM PASSOU TANTAS NOITES
OLHANDO PARA A PAREDE
DEITADO EM UMA REDE
PENSANDO NA CRIAÇÃO
VÊ TANTA CHUVA E TROVÃO
NÃO PENSA NEM EM DORMIR
A CHUVA PODE CAIR
ELA É A SAUDE DO CHÃO

JÁ SENDO TARDE DA NOITE
A CHUVA JÁ VAI PARANDO
O SERTANEJO PENSANDO
QUANDO CESSA DE CHOVER
SÓ QUANDO AMANHECER
POIS TÁ ESCURO DEMAIS
VOU VÊ OS MEUS ANIMAIS
E A AGUA A ESCORRER

DAÍ A CHUVA TERMINA
E   DEIXA UM A BRISA FINA
OLHANDO PARA A CAMPINA
NA LUZ DO RELAMPEJAR
ENCHERGA NO CLAREAR
COMO LUZ DE LAMPIÃO
MOSTRANDO QUE O SERTÃO
PARECE QUE VIROU MAR

COM O CESSAR DO TROVÃO
E A FORÇA DA TROVOADA
NA TERRA TODA MOLHADA
SÓ QUEM CAMINHA É  O PATO
A ALEGRIA DO SAPO
É UMA SATISFAÇÃO
OUVIR A SUA CANÇÃO
QUANDO ELE ENCHE O PAPO

O SOM VAI CONTAGIANDO
O RESTO DOS ANIMAIS
LOGO NA PORTA DE TRÁZ
O GALO A COCORICAR
O JEGUE A RELINCHAR
O BOI TAMBEM NO CURRAL
FAZ PARTE DESSE CORAL
DE TANTA VOZ A CANTAR

A NOITE PASSA DEPRESSA
AO SOM  DAQUELA CANÇÃO
LOGO O SOL DO VERÃO
JÁ ILUMINA O DIA
A CHUVA TRÁZ ALEGRIA
SEM  ELA NÃO HÁ RIQUEZA
ÀS VEZES A NATUREZA
PARECE TER COVARDIA

PARECE QUE OS ANIMAIS
ESTÃO A  AGRADECER
AO DEUS DE TODO PODER
PELA CHUVA QUE DESCEU
LOGO O DIA AMANHECEU
E A FORÇA DESSA  CLAREIRA
LHE MOSTRA A BAGACEIRA
POR ONDE A AGUA CORREU

DE LONGE O QUE SE VÊ
É UM TERRENO  ALAGADO
UM POBRE BOI ATOLADO
QUE NÃO PARA DE BERRAR
SEM PUDER SE LEVANTAR
UM A VACA QUE CAIU
A AGUA QUANDO SUBIU
FEZ ELA SE AFOGAR

O POBRE DO ANIMAL
 QUERIA AGRADECER
TAMBEM QUERIA DIZER
AO HOMEM SEU SOFRIMENTO
NÃO ENTENDEU NO MOMENTO
O QUE LHE ACONTECEU
VIU QUE DESAPARECEU
CAVALO BOI E JUMENTO

O SERTANEJO CAMINHA
EM  SUA PROPRIEDADE
E TEM A SIMPLICIDADE
DE CONTAR O QUE PERDEU
DE TUDO QUE ACONTECEU
AUMENTA SUA TRISTEZA
MAIS SABE QUE A NATUREZA
É CONTROLADA POR DEUS

A AGUA CAIU NA TERRA
CAUSANDO DEVASTAÇÃO
E TODA A PLANTAÇÃO
DE PALMA SE ACABOU
DA CASA O QUE SOBROU
FOI APENAS AS PAREDES
ONDE ARMAR SUA REDE
PARA CHORAR SUA DOR

A ALEGRIA DA CHUVA
AUMENTA SUA TRISTEZA
OLHANDO PRA  NATUREZA
NAQUELE TRISTE MOMENTO
CRESCE O SEU SOFRIMENTO
COMO NA VIDA DE JÓ
QUEM VÊ ATÉ SENTE DÓ
DEPOIS DA CHUVA E DO VENTO

NÃO SÓ A VACA ATOLADA
NEM O COITADO DO BOI
ATÉ O JEGUE SE FOI
NO MEIO DA ENCHURRADA
E AS GALINHAS COITADAS
AO VER O PATO NADAR
TENTOU LHE ACOMPANHAR
MORRERAM TUDO AFOGADA

ENCHE DEMAIS A BARRAGEM
PARTINDO O PAREDÃO
VARRENDO TUDO DO CHÃO
MATANDO OS ANIMAIS
A POUCO TEMPO ATRÁZ
MORRIA DE FOME O GADO
AGORA MORRE AFOGADO
É SOFRIMENTO DEMAIS

O SERTANEJO PENSANTE
CARREGA A SUA DOR
EM BUSCA DO QUE SOBROU
ELE PROCURA O GADO
QUEM NÃO MORREU NO CERCADO
DE FOME SEDE E CALOR
NÃO É POUPADO DA DOR
PARA MORRER AFOGADO

O SERTANEJO NÃO SEI
SE TEM DESTINO TRAÇADO
PARACE QUE FOI LAÇADO
PELO LAÇO DO SOFRER
QUEM NASCE TEM QUE MORRER
MAIS TINHA QUE SOFRER TANTO
SÓ JESUS CRISTO O SANTO
CONSEGUE LHE ENTENDER

PARECE QUE SUA SINA
AQUI NA TERRA É SOFRER
NASCER VIVER E MORRER
COMO QUEM PAGA PECADO
MAIS SE PENSAR PELO GADO
QUE PECADO COMETEU
DA SECA SOBREVIVEU
NA CHUVA MORRE AFOGADO

SEM  CHUVA MORRE DE SEDE
CHOVENDO MORRE TAMBEM
QUEM PERDE AQUILO QUE TEM
TERMINA POBRE NA TERRA
PARA VENCER UMA GUERRA
SERÁ PRECISO LUTAR
O MEDO DE ACERTAR
NÃO JUSTIFICA QUEM ERRA

NOSSO BRASIL SÓ É RICO
POR CAUSA DESSE NORDESTE
TERRA DE CABRA DA PESTE
QUE DESAFIA A DOR
NASCE PRA SER LUTADOR
E ENFRENTAR O PERIGO
E O SEU MAIOR INIMIGO
E A FOME SEDE E CALOR

A FORÇA DO SERTANEJO
E A CORAGEM QUE TEM
PROVA QUE ELE É ALGUEM
QUE DESAFIA A RAZÃO
QUEM VIVE A SITUAÇÃO
DE PELEJAR CONTRA A FOME
MESMO SÓ TENDO O NOME
É UM HEROI  NO SERTÃO

CONHEÇO SUA CULTURA
RESPEITO SUA CORAGEM
NÃO FALO SUA LINGUAGEM
MAIS SEI LHE COMPREENDER
QUEM NASCE PARA VIVER
NESSE SERTÃO NORDESTINO
APRENDE QUANDO MENINO
COMO ENCARAR O SOFRER

O TRABALHADOR DO CAMPO
TEM MUITA DIFICULDADE
A NOSSA SOCIEDADE
PRECISA LHE AJUDAR
QUANDO O GOVERNO OLHAR
MELHOR PRO NOSSO SERTÃO
O SERTANEJO TEM PÃO
CAFÉ ALMOÇO E JANTAR

QUEM TEM A MESA SORTIDA
SUA BARRIGA SE FARTA
MAIS QUEM A FOME MALTRATA
MERECE MAIS ATENÇÃO
POR ISSO A POPULAÇÃO
PRECISA MAIS SE UNIR
E APRENDER DIVIDIR
COM QUEM PRECISA DE PÃO

EU NARRO ESSA HISTÓRIA
A ELA TENHO RESPEITO
PARA QUEM TEM PRECONCEITO
CONHEÇA O NOSSO SERTÃO
SINTA A SITUAÇÃO
DE QUEM CONHECE A SEDE
E DORME EM UMA REDE
MAIS TEM UM BOM CORAÇÃO

E ASSIM ESSA HISTÓRIA
PARECE NÃO ACABAR
EU TINHA QUE RELATAR
PARA VOÇE  CONHECER
QUERO DIZER PRA VOÇE
QUE TAMBEM SOU SERTANEJO
SÓ RELATEI  PORQUE VEJO
O SERTANEJO SOFRER

MEU DEUS POR QUE MANDAS TANTA SECA
E O SOFRIMENTO É TÃO GRANDE NO SERTÃO
PORQUE A CHUVA NÃO CHEGA NA NOSSA TERRA
E QUANDO CHEGA PROVOCA DESTRUIÇÃO
O SERTANEJO PRECISA DA TUA AJUDA
PRA VER SE MUDA A SUA SITUAÇÃO
A CRIAÇÃO NÃO MORRE DE SEDE E FOME
MORRE AFOGADA NAS  AGUAS NESSE SERTÃO

O SERTANEJO SÓ CONHECE A GRANDEZA
SE A NATUREZA MANTIVER A TRADIÇÃO
CHEGANDO CHUVA O SERTÃO TERÁ FARTURA
E A AMARGURA SE TRANSFORMA EM PLANTAÇÃO
NASCE FEIJÃO MILHO VERDE MELANCIA
NA TERRA FRIA SE PLANTANDO TUDO DAR
CHOVENDO LÁ TUDO VIRA UMA GRANDEZA
E A NATUREZA AGRADECE A QUEM PLANTAR

A PRIMAVERA NÃO COMBINA COM INVERNO
NEM O OUTONO SE COMBINA COM VERÃO
NECESSIDADE NÃO COMBINA COM FARTURA
MAIS AMARGURA SE COMBINA COM SERTÃO
O VERÃO SECO DO SERTÃO TIRA A BELEZA
SÓ DEIXA VERDE O XIQUE-XIQUE E O UMBÚ
A MORTE CERCA O SERTÃO COM TANTA FOME
ESSA TRISTEZA FAZ A FESTA DO URUBÚ    
   

2 comentários:

  1. GOSTEI MUITO DOS TRABALHOS QUI LI AQUI NESTE BLOG, E COM FRANQUEZA, DIREI A VOCÊ DONO DO BLOG PARABÉNS, O SEU TRABALHO É LINDO...

    OBRIGADO PELOS OS VERSOS QUE EU LI!!!

    JUNIOR DIAS...

    ResponderExcluir