terça-feira, 17 de março de 2009
Enxofre no Domingão do Faustão
segunda-feira, 16 de março de 2009
Lançamento de livro
Havia duas lamparinas acesas. Minha mãe seguia na frente com uma, clareando o caminho, que era muito estreito e acidentado, enquanto a minha irmã mais velha vinha atrás de todo o comboio, com a outra, junto com meu pai. O resto da meninada seguia ao lado de minha mãe, aproveitando a luz da lamparina.
À medida que nos afastamos do povoado, uma jumenta que estava de cria nova começou a ficar inquieta. Mais adiante, não suportou a saudade do filhote e correu com a carga, que acabou caindo dentro de um buraco. Felizmente ela levava apenas roupas velhas, dentro de malas de couro, e o prejuízo foi pequeno.
Passado o susto, continuamos a viagem até chegarmos a um lugar conhecido como “Cabeça do Descansador”, de onde dava para ver a cidade de Sobral, embora esta fique a mais de quinze quilômetros dali. Os viajantes costumavam parar ali para descansar, o que deu origem ao seu nome. Nós também paramos, com a mesma finalidade, pois já havíamos andado cerca de quatro quilômetros, o que não é pouco naquelas condições, principalmente para as crianças.
Enquanto meus pais verificavam o estado das cargas e das crianças, eu olhei para o clarão das lâmpadas acesas na cidade distante e perguntei a meu pai o que era aquela coisa tão clara.
– Aquele clarão é Sobral, meu filho. A cidade onde vamos morar.
Naquele momento meu coração bateu mais forte e eu não tirei mais os olhos daquele lugar.
***
Meu pai já havia feito o ajuste nas cargas dos animais para descermos a serra. Eram seis quilômetros de descida, então os arreios dos animais precisavam estar bem apertados, para que os animais não caíssem com a carga.
Tomamos, então, o caminho da descida, que começava com dois quilômetros de estrada de chão muito molhada e escorregadia. Era preciso muito cuidado para não cair. Depois chegamos a uma estrada grande, feita de um calçamento muito ruim. Esse trecho tinha seis quilômetros.
Quando estávamos no meio da descida, o céu cobriu-se totalmente de nuvens escuras e, minutos depois, caiu um temporal como eu nunca tinha visto. As lamparinas apagaram-se e a chuva castigou sem dó nem piedade. Era um momento crítico. Tudo o que tínhamos estava ali, naquela pobre mudança, e estava sendo destruído pela chuva.
Mesmo assim, continuamos descendo a serra. De vez em quando a estrada era iluminada pelo clarão dos relâmpagos. O barulho dos trovões ecoando pela serra era assustador. Com toda aquela chuva, e seguindo na escuridão, tropecei e levei um grande tombo. Percebi que estava sangrando e comecei a chorar. Na queda eu havia cortado o ombro. Meus pais prestavam-me socorro como podiam, mas eu já estava bem ensangüentado.
Apesar de todas as dificuldades, seguíamos adiante. A chuva não parava, caindo impiedosamente sobre aquela família humilde, como se testasse a sua capacidade de continuar a sua busca por uma vida melhor. Prosseguindo até chegar ao pé da serra, continuamos a caminhada pelo sertão, e a chuva ficou ainda mais forte. Eu e meus irmãos tremíamos de frio, mas, àquela altura dos acontecimentos, já não tínhamos outra coisa a fazer a não ser continuar andando até chegar à cidade.
Às cinco horas da manhã ainda faltavam seis quilômetros para chegar a Sobral. Aqueles últimos seis quilômetros pareciam não acabar mais. Já estávamos muito cansados do trajeto tão acidentado e cheio de dificuldades.
Eram seis e meia da manhã quando chegamos na cidade, terminando uma das viagens mais complicadas dentre as muitas que eu ainda faria no decorrer da minha vida. Paramos em frente à pequena casa na Rua do Junco e ficamos olhando para a casa que meu pai havia alugado. Mesmo com toda a dureza da viagem, eu tinha uma sensação de vida nova e percebia que o dia acabava de nascer e nós acabávamos de chegar, como se, de alguma forma, tudo estivesse programado para ser assim.
Encostamos os animais em frente à casa e começamos a tirar sua carga. Enquanto meu pai cuidava desse trabalho, minha mãe foi à casa da vizinha e pegou a chave muito enferrujada que nos possibilitaria a entrar em nossa nova morada. Ela abriu a porta e todos nós entramos, fazendo um enorme barulho, rindo, pulando e até chorando. Nem acreditávamos no que estava acontecendo. Apesar de ainda ser muito cedo, alguns vizinhos já haviam acordado e puderam ver a nossa chegada. Logo nossas coisas estavam dentro de casa, e eu e meus irmãos estávamos gritando de alegria:
– Chegamos! Chegamos! Chegamos!
Foi assim a primeira viagem da minha vida, aos seis anos de idade.
terça-feira, 10 de março de 2009
Cordel na Universidade

Marcos Mairton
Traducción: Pedro Arenas
Yo sé que los niños de hoy
Temprano en la escuela aprenden
Sobre las cosas de la naturaleza
Y entonces ellos comprenden
Que los animales de la selva
No deven ser maltratados
Y ni tampoco cazados.
A pesar de esto, aún existen
Hombres mal acostumbrados,
Que capturam los animales
En la selva encontrados
Para llevarlos a la ciudad
Para vivir sin libertad,
Tristes y encadenados.
Debido a esta costumbre
Cierto dia aconteció
Una história interesante
Con un niño que yo
Conocí en la infancia
Todavia guardo en la memoria
De como esto sucedió.
Su nombre era Daniel,
Tenía diez años de edad,
Cuando su tio, Pedro,
Después de un largo viaje,
Llegó a nuestra ciudad
Trayendo una novedad
En las maletas de viaje.
El tio habló para él:
“Este es tu regalo
que yo traje de la selva,
solo alli pude encontrarlo,
y pensé: este animalito
llevaré a Danielito
para que él pueda cuidarlo.
El regalo era un mico
Muy peludo y muy pequeño.
El pelo, negro y suave,
Parecia de terciopelo.
Daniel, cuando lo vió
Se sentió feliz y sorrió.
Pensó: “Que suerte yo tengo”.
Guardó, entonces, el mico,
En una jaula que había
En el solar de su casa
Y era allí que todo dia
Daniel lo alimentaba,
Y con cariño cuidaba
Del animalito que crecía.
Después de algunos meses
Las vacaciones llegaran
Y Daniel y sus papás
Para lejos viajaran.
Pidieron a un vecino
Cuidar del animalito
Y en un avión embarcaron.
Ellos fueron para Manaus
Para hacer una visita
A la tía de Daniel
Llamada Maria Rita,
Que vivia desde pequeña
En esa ciudad brasileña
Moderna, grande y bonita.
Aprovecharan también
Para conocer los lugares
Que son puntos turísticos
Y fueran a los principales:
Al teatro, al mercado,
Al puerto muy agitado
Y a los centros culturales.
Para el dia siguiente
Planearan pasear
De barco en el Rio Negro,
Para por él navegar,
El rio estaba muy ancho
Y, con su oscuro color,
Él inspirava temor.
domingo, 8 de março de 2009
CORDEL E MULHERES

Poeta Gilbamar Bezerra
-
Como um boneco de barro
CORDEL & COTIDIANO

A poesia abaixo chegou ao Mundo Cordel em forma de comentário enviado pelo leitor Aluisio Dutra, de Patu-RN. Mas, uma obra dessas tinha que vir para a página principal!
VIAJAR EM "PINGA-PINGA"
Patu-RN
O ônibus é um transporte
Que no trânsito é referência
A maioria do povo
A ele dá preferência
Mas se é um "pinga-pinga"
É preciso paciência.
-
Ele para em todo canto
o seu trajeto é assim
Para na pista, no beco
Em rua, praça e jardim
Mesmo uma distância curta
Parece que não tem fim.
-
Em todo lugar que passa
Desce gente, sobe gente
Há uns que conversam muito
Outros dormem facilmente
E vez por outra de leve
Escapa um ar diferente.
-
Aqueles que roncam muito
Tendo o corpo adormecido
Ao se mexer na cadeira
Escapa um "pum" espremido
Cuja fragrância é igual
Desodorante vencido.
-
Um canta e outro aboia
Um assovia, outro grita
Um bêbado fala besteira
Uma criança vomita
E um velho ressona alto
Que o canto da boca apita.
-
Se vão dez ou doze em pé
Ao passar por um buraco
O solavanco é tão grande
Que desmaia quem é fraco
Mas o pior é o bafo
Da catinga de sovaco.
-
Precisa manter a calma
Sem pra nada está ligando
Procurar se entreter
Sem ver o tempo passando
Para aguentar o ônibus
Parando de vez em quando.
-
Quem não quer sofrer maçada
E por qualquer coisa xinga
Para evitar desconforto
De imprensado ou catinga
Vá direto em seu carrão
Ou viaje de avião
Mas não vá em "pinga-pinga"
quinta-feira, 5 de março de 2009
100 anos de Patativa Assaré

Um dia comprei uma secretária eletrônica, e logo veio a idéia de deixar a mensagem em versos. Comecei com o próprio número do telefone e fui distribuindo a mensagem pelos dez versos de sete sílabas, como até hoje gosto de fazer. E a mensagem ficou assim:
Você ligou dois, dois, nove,
Nove, oito, zero, sete.
Como não posso atender
Deixo esta fita cassete
Para gravar o seu nome
E também seu telefone
Nesse meio digital
Por favor dê seu recado
Falando bem compassado
Logo depois do sinal.
Só que, desde o dia em que gravei a mensagem, fiquei imaginando o que aconteceria se Patativa do Assaré me telefonasse e se deparasse com aquela gravação.
É claro que isso era mera fantasia, pois, embora ainda fosse vivo naquela época, Patativa não me conhecia, nem teria qualquer motivo para ligar para minha casa. Talvez nem gostasse de telefonar.
Mas, de tanto pensar no telefonema de Patativa, acabei imaginando sua resposta:
Amigo a sua mensagem
Ficou muito interessante
Deu vida à máquina fria
Fez dela um ser palpitante.
Vou lhe dizer o meu nome
E logo o meu telefone
Você vai saber qual é.
Falando bem compassado
Como foi recomendado
Patativa do Assaré.
domingo, 1 de março de 2009
Mudanças no Blog
Os leitores mais assíduos e atentos devem ter percebido as mudanças de Mundo Cordel. As mais significativas foram a própria mudança do modelo, que, dentre outras coisas levou a barra lateral da esquerda para a direito e aumentou sua largura, permitindo maior mobilidade na inclusão de gadgets. Também incluí lista de seguidores e dei maior destaque aos vídeos. Espero que todos gostem das alterações.
Fecho o post deste domingo com a letra da música "Escravos do Sistema", de minha autoria, interpretada pelo Projeto Enxofre no vídeo acima.
ESCRAVOS DO SISTEMA
Falado: Não exija que eu tenha livre arbítrio. Não reclame se eu não tomo a decisão. E não me diga que você é que é forte, que você nunca temeu uma situação. Você reclama, achando que é independente, que você é diferente, que decide a sua sina. O que nós somos eu vou lhe dizer agora, por favor não fale nada antes que he chegue a hora.
Nós não temos o direito
De pensar nem de querer
Nem escolher nosso prazer.
Nós não podemos exercer nossa vontade,
Nós não temos nem vontade pra exercer.
Somos robôs, sujeitos alienados,
Animais domesticados, os escravos do sistema.
Representantes de uma classe em expansão
Que vê na televisão a solução pros seus problemas.
Nós não queremos nada! Não pensamos nada!
Ele pensa por nós!
Nós não queremos nada! Não pensamos nada!
O sistema, ele é quem manda em nós!