terça-feira, 25 de setembro de 2007

Cordel e repente II


DE JUAZEIRO DO NORTE A BRASÍLIA, CORDEL E REPENTE SEMPRE ENCONTRAM SEU ESPAÇO, QUALQUER QUE SEJA A TECNOLOGIA


Volto ao tema “Cordel e Repente” para dizer que o que, dentre os aspectos comuns dos do cordel e do repente, observa-se é que cordelistas e repentistas utilizam-se das mesmas formas, ou seja, decassílabos, sextilhas, sétimas e outras formas (O site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel - ABLC - relaciona as principais).


Além disso, assim como as cantorias, o cordel tem uma grande tradição oral, pois, em uma época na qual poucos tinham a habilidade da leitura, muitos decoravam os versos e repassavam declamando ou cantando, como testemunha o poeta Arievaldo Viana ao contar que a avó Alzira de Souza Lima costumava ler os folhetos em voz alta "para deleite de crianças e adultos" (Acorda Cordel, Editoras Tupinanquim e Queima Bucha, 2006, p. 15).


Leonardo Mota, em sua obra “Cantadores”, define estes como “poetas populares que perambulam pelos sertões, cantando versos próprios ou alheios; mormente os que não desdenham ou temem o desafio, peleja intelectual em que, perante o auditório ordinariamente numeroso, são postos em evidência os dotes de improvisação de dois ou mais vates matutos” (Cantadores, ABC Editora, 2002, 7ª Edição, p. 3).


De fato, o que se observa é que, mesmo os cantadores versados na arte da improvisação, costumam cantar versos “decorados”, ou seja, guardados na memória. Na medida em que esses versos são vertidos para o papel, nos já comentados folhetos, transformam-se em Literatura de Cordel.


Há quem diga, porém, que todo cordelista tem um pouco de repentista. O poeta Napoleão Maia Filho me disse isso certa vez, e não duvido, pois conheço cordelistas, como o já aqui citado Valdir Fernandes Soares, que, mesmo sem se declarar repentista, faz versos dos mais variados temas, em poucos minutos.


Eu mesmo, já tive algumas experiências bem interessantes, principalmente em abertura e encerramento de eventos, como na solenidade de Revitalização da Lira Nordestina, quando, ao receber a palavra, que me foi passada pelo amigo André Herzog, Reitor da Universidade Regional do Crato, me expressei assim:



É grande a alegria
Que me invade nesta hora,
Quando já se foi o dia
E a noite não fez demora.
Pois não fosse a poesia,
O que mais é que faria
Estarmos aqui, agora?

Porque os versos são mais
Que tinta sobre papel.
São emoções que abrandam
Todo esse mundo cruel.
Brilhando em nossa cultura,
Quem mais que a literatura,
Do nosso lindo cordel?

Por isso, caros amigos,
Aqui me faço presente,
Pra falar da emoção
Que todo poeta sente
Quando vê autoridades
Unirem suas vontades
Em favor da nossa gente.



Outra oportunidade interessante ocorreu em março de 2006, quando estive em Brasília, para participar de um programa de televisão. Chegando ao hotel onde iria ser gravada a entrevista, lá estava o ator cearense José Wilker, que estava na Capital Federal gravando a minissérie “JK”, na qual ele interpretava Presidente Juscelino. Ao vê-lo, a repórter Rafaela Vivas Cardoso, que me entrevistaria, perguntou se eu faria versos tendo o presidente como tema. Perguntei: “O presidente ou o ator?”; e ela respondeu: “Os dois”. Menos de uma hora depois que a entrevista terminou, estavam prontos os versos abaixo, os quais pus em um envelope e pedi ao rapaz de recepção que entregasse a José Wilker:



Eu estava em Brasília, outro dia,
Divulgando a poesia de cordel,
Quando, na recepção de um grande hotel,
Percebi que um artista ali havia,
Cuja arte não é bem a poesia,
Mas nos toca igualmente a emoção.
No teatro ou na televisão,
Era um grande ator que ali estava,
Sendo que, pelo seu jeito, aguardava
A equipe que faria a gravação.

Mas o fato que fez a situação
Se tornar ainda mais interessante
Foi sentir que, naquele mesmo instante,
Ocorreu-me a seguinte impressão:
Que, olhando para aquele cidadão,
Ao invés de ver apenas o artista,
Era como se eu pousasse a minha vista
Na pessoa desse grande personagem
Que o ator representa na filmagem
Para que, na TV, a gente assista.

De quem falo, já foi capa de revista,
Só novela já fez bem umas cinqüenta.
Hoje, numa minissérie, representa
Um mineiro que foi grande estadista;
Que na sua trajetória progressista
Nos mostrou como um homem competente
Fez o nosso Brasil andar pra frente,
Dirigiu o país com muito amor.
Olhei para José Wilker, o ator,
E enxerguei JK, o presidente.

Alguém tinha me falado, antigamente,
Que um grande ator é desse jeito.
Atuando de um modo assim perfeito,
Faz confusa dessa forma nossa mente.
Mesmo quando o ator, fisicamente,
Não parece tanto assim com o personagem,
Ele adota a postura e a linguagem
E mergulha na história com fervor.
Foi assim que José Wilker, o ator,
Se tornou de Juscelino a imagem.

Para ir finalizando essa homenagem
A Zé Wilker e também a Juscelino,
Eu aplaudo o sorriso de menino,
O sucesso, o trabalho e a coragem.
Quando eu iniciei essa viagem
Não pensei que estaria reservado
Um encontro assim, tão inusitado
Entre eu, o ator e o presidente.
José Wilker, parabéns pelo presente.
Juscelino, parabéns pelo passado.



Versos assim são feitos realmente em alta velocidade, mas nada que se compare aos repentes de Ivanildo Vilanova, Zé Luís (de Mossoró), ou dos Nonatos, que já fizeram repente até com o mote “O planeta movido à Internet/ É escravo da tecnologia”, criando maravilhas como:


O visor como tela de TV,
O teclado acessível como book
Pra maiúsculo ou minúsculo é Caps "Look" (Lock)
Pra mandar imprimir é Control P
Com o micro'' Sansung e LG
e os programas que a Apple financia
A indústria da datilografia
nunca mais vai fazer máquina Olivetti
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia



Quem se pluga em milésimo de segundo
E se conecta ao portal e seus asseclas
Basta apenas tocar numa das teclas
que o visor nos transporta a outros mundos
Desde a terra dos solos mais fecundos
Ao espaço onde o vácuo se inicia
Quem formata depois cola, copia
e prende o mundo na grade de um disquete
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

A indústria se auto-destruindo
Descartou o compacto e LP
Veio o surto da febre do CD
e DVD mal chegou e já está saindo
MD não há mais ninguém pedindo
Nu''a DAT gravar ninguém confia
Fita BASF tem pouca serventia
e ninguém quer mais nem ver videocassete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Brasil SAT é mais uma criação
que nos nossos vizinhos deu insônia
O Sivam espiona a Amazônia
evitando que haja outro espião
É por via satélite a transmissão
que não tem transmissão por outra via
Uma antena seqüestra a sintonia
pra DirecTV, Sky e Net
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Transatlânticos no mar fazem cruzeiros
E pelos micros das multinacionais
Hoje tem conferências virtuais
com os executivos estrangeiros
O email é correio sem carteiros,
tanto guarda mensagem como envia
Os robôs usam chip e bateria
e videogame é brinquedo de pivete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Cibernética na prática e no papel
deixa os seres online e ganham IBOPE
Com Word tem Palm e laptop
e ainda mais PowerPoint e Excel
É possível quem mora em Israel
pelo Messenger teclar com a Bahia
Se os autômatos ganharem rebeldia
tenho medo que a máquina nos delete
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Pra prever terremotos e tufões
os sismógrafos têm números numa escala
E o trem-bala é veloz como uma bala
numa linha arrastando dez vagões
No Japão e na China as construções
já suportam tremor e ventania
Torre, ponte, edifício, rodovia
são perfeitos do jeito da maquete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Nosso pouso na lua foi suave,
um robô foi a Marte e se deu bem
Estão querendo ir ao Sol, mas o Sol tem
de calor um problema muito grave
Mas a NASA não tem espaçonave
que suporte essa carga de energia,
Se for feita de fibra, se desfia,
e de alumínio o monstrengo se derrete
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Motorola trocou técnica e conselho,
Nokia e Siemens galgaram patamares
Já estão fora de moda os celulares
que têm câmera e visor infravermelho
Reduzindo o tamanho de aparelho,
a Pantech fez mais do que devia
Que a memória de um chip não podia
ser mais grossa que a lâmina de um Gillete
E o planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

Hoje a Bombardier não fere as leis
e a Embraer mãe de Sênecas e Tucanos
Invísivel aos radares há dois anos,
já existe avião que a Sukhoi fez
É da Nasa o XA-43
que voando tem mais autonomia
Um piloto automático opera e guia
o Airbus e o 747
O planeta movido a internet
é escravo da tecnologia

6 comentários:

  1. esse cordel eu ñ entendi nada

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  2. Gostaria muito de ajudar vocês, mas não entendi a pergunta e, como você postou o comentário como anônimo, não tenho como lhe localizar.

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  3. devia ter poesias e repente , naõ é o que esperava CADE AS DITAS POESIAS

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