quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Cordel e repente III


A OPINIÃO DE CRISPINIANO NETO

Ainda no tema “Cordel e Repente”, lembrei de uma entrevista que Crispiniano Neto deu à Revista Preá, em sua edição de março de 2004, número 5 da revista, e aborda, ainda que levemente a questão.

É interessante ver também a opinião dele acerca de Zé Luís e Ivanildo Vilanova, também citados no post anterior como grandes repentistas.

Quem quiser ver a entrevista inteira,
clique aqui e acesse a Revista Preá. Segue o trecho:

Preá – Quem são os grandes nomes do Nordeste em
cantoria de viola?
Crispiniano Neto – O nome mais completo da
cantoria nordestina é Ivanildo Vilanova. Eu acho que ele
continua imbatível. Ele não é o maior poeta, agora é o
maior cantador. Mas temos vários grandes nomes: Pedro
Bandeira, Otacílio...
Preá – E “Louro Branco”?
Crispiniano Neto – “Louro Branco” é o maior
repentista. Existem umas distinções sutis entre poeta,
cantador, repentista e violeiro. É tudo a mesma coisa, mas
tem suas diferenças. Quem são os cantadores poetas? É
Diniz Venturino, Manoel Xudu, Zé Luís, João Paraibano,
foi Severino Ferreira...
Preá – E Luís Sobrinho?
Crispiniano Neto - Luís foi um cantador bom, mas
não se enquadraria nos que citei acima. Cantoria tem um
problema sério. Seja Luís Sobrinho, eu, Apolônio Cardoso
- se você dividir com outra profi ssão, não progride. Ela
exige dedicação exclusiva e pós-doutorado. É uma
atividade intelectual extremamente exigente. Ivanildo
Vilanova passou no vestibular de Direito e optou por não
fazer a faculdade, porque achava que seria um advogado
fraco. Já meu irmão fez o contrário, acho até porque ele
levou uma “surra” de Ivanildo e fi cou meio frustrado. Mas
Ivanildo disse a mim e a ele que ou dava aquela “surra”, ou
apanhava e se acabava.

(Zé Luís e Ivanildo Vilanova, em Mossoró, junho de 2006, no lançamento de meu livro "Uma sentença, uma aventura e uma vergonha")

Preá – Tem um diálogo acerca de música clássica, que é
mais ou menos o seguinte: Quem foi Mozart? Mozart foi
o maior gênio da música clássica. Quem foi Beethoven?
Beethoven foi o maior compositor da música clássica.
Quem foi Bach? Bach foi a música. Há condições de se
fazer esse tipo de comparação com relação à cantoria de
viola?
Crispiniano Neto – Sim. Você pode dizer que Manoel
Xudu foi a poesia. Já Ivanildo é o mais técnico, canta
bem, não tem uma voz bonita, mas é uma voz afi nada,
é perfeito na rima e na métrica. É muito difícil Ivanildo
cometer uma desmetrifi cação e desenvolve bem qualquer
assunto de cantoria, que são mais de cinqüenta. Tanto faz
você pedir a Ivanildo para cantar uma sextilha, um mote,
um gabinete, um galope à beira mar; ele canta todos os
estilos.
Preá – No gabinete o cantador tem de dizer aquele verso
“quem não canta gabinete não é cantador”?
Crispiniano Neto – Tem. Porque alguns estilos têm
uma parte fixa. O “gabinete”, o “mourão voltado”, o
“perguntado”, o “Brasil caboco”.
Preá – Quais as diferenças existentes entre o violeiro, o
cordelista, o repentista e o poeta?
Crispiniano Neto – O cantador é aquele que é bom
em tudo. Toca bem, pelo menos para o consumo, como
é o caso de Ivanildo. Canta bem, afinado, tem uma boa
dicção, canta qualquer assunto, qualquer estilo. Você
tinha, por exemplo, um Lourival Batista, irmão de Dimas
e Otacílio, que era um grande poeta, mas não sabia sequer
afi nar a viola e a voz era insuportável. Não me comparo
com ele como poeta, mas do lado fraco dele, de voz ruim
e de não saber afi nar a viola eu era igual. Uma vez tive a
honra de cantar com ele. Eu terminei dizendo um verso,
que ele parou a viola para decorar. Eu disse: “Comigo e
com Lourival o destino foi perverso/Entre o verso e a voz
aconteceu o inverso/Dois urubus na toada/Dois Castro
Alves no verso”. Você tinha um Severino Ferreira, aqui
do Rio Grande do Norte, que era um grande cantador,
além de ser poeta, porque ele tinha a voz boa, tocava
bem, inclusive era um dos maiores violeiros. Certa vez
eu assisti Severino Ferreira cantando sobre “Cancão”,
um poeta de São José de Egito, que morreu. Quase vi o
cinema de Patos vir abaixo. Ele terminou dizendo: “Pra ele
eu rezo novena/Morreu um ‘Cancão’ sem pena/Deixando
pena pra nós”. Ainda como bom cantador, poderia citar
Oliveira de Panelas, João Paraibano, esse é o que coloca
mais poesia... Manoel Xudu, este era tão poeta... é muito
difícil fazer verso de louvação, elogiar quem pagou a você,
na bandeja, se fazer um verso bom. Mas uma vez o pai de
uma moça muito bonita mandou a moça botar o dinheiro
na bandeja e Manoel Xudu terminou, eu não lembro a
estrofe toda, mas ele terminou dizendo assim: “É tão linda
essa mulata/Que a morte vindo matá-la/Volta chorando e
não mata”. Das mulheres que cantam, Mocinha de Passira
é aquela que é mais poeta, enfrenta qualquer cantador em
pé de igualdade. Entre os violeiros citaria ainda Edísio
Calixto, Zé Maria, do Ceará.

3 comentários:

  1. Prezados,

    Há algum tempo pretendo descobrir a afinação utilizada nas violas dos repentistas e cantadores, porém sem sucesso. Tenho um violão Del Vecchio, não uma viola, e gostaria de afiná-lo conforme os cantadores fazem.

    Agradeço a atenção e agradecerei novamente se puderem me ajudar.

    Obrigado,

    Eduardo (ebmacedo@yahoo.com).

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  2. na minha última aula de educação artística citei o baião de luiz gonzaga foi na segunda-feira

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